Pompa circense (em latim: pompa circensis; lit. "parada do circo"), na Roma Antiga, foi uma procissão que precedeu os jogos oficiais (jogos) realizados no circo como parte dos festivais religiosos e outras ocasiões. Similar à procissão triunfal, presume-se que teve correlações com esta, embora é igualmente plausível a teoria de uma criação por meio da congregação de elementos romanos, gregos e etruscos. Iniciando no Capitólio, perpassou um rota pré-determinada em direção ao Circo Máximo, local onde os Jogos Circenses eram realizados. Durante o Império Romano, seu trajeto foi alterado inúmeras vezes e elementos novos foram incorporados a ela, incluindo as imagens da família real júlio-claudiana.

O magistrado presidente da pompa circense cavalga em uma carroça de dois cavalos. Atrás dele estão os nobres jovens que lideram a parada em cavalos (opus sectile do século IV da Basílica de Júnio Basso)
Aclive Capitolino

Descrição

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A descrição mais detalhada da pompa circense durante a República Romana é dada por Dionísio de Halicarnasso, baseado em observação ocular, e pelo historiador Quinto Fábio Pictor,[1][2] que disse que estava descrevendo os Jogos Romanos originais; Fábio pode, contudo, ter sido mais influenciado pelo que viu na pompa dos Jogos Seculares em 249 a.C..[3] A procissão começava do Capitólio, embora o Aclive Capitolino viesse do Fórum Romano. Ela então prosseguiu ao longo da Via Sacra e passou através do Vico Toscano até chegar ao Circo Máximo.[4]

A procissão foi liderada por dois rapazes da nobreza (nobiles) andando a cavalo, seguido por garotos a pé que seriam futuros infantes. Próximo a eles veio os cocheiros e atletas que competiam nos jogos.[3] Grupos de dançarinos seguiram o acompanhamento musical realizado em aulos, um tipo de instrumento de madeiras, e a lira. Os dançarinos eram divididos em duas classes por idade (homens, jovens e crianças). Trajando túnicas púrpura, eles empunhavam espadas e pequenas lanças em danças de guerra similares aos pírricos cretenses. Os dançarinos adultos também trajavam elmos de bronze[5] com "cristas e asas conspícuas."[6]

Um coro vestido como sátiros e silenos seguiu os dançarinos armados e arremedou-os. Eles estavam vestidos em túnicas de lã, guirlandas de diferentes tipos de flores e tangas de pele de cabra, com seus cabelos dispostos fora da cabeça em tufos.[7] A aparência dos satiristas nos Jogos Romanos originais é a referência mais antiga conhecida de sátiros na cultura romana.[8] Embora Dionísio sugira que tanto os dançarinos de guerra como os dançarinos báquicos eram imitações dos gregos, os dançarinos armados tinham o precedente romano dos sacerdotes sálios, que dançaram com espada e escudo, e o papel dos sátiros parece basear-se no costume etrusco.[7][9]

 
Circo Máximo

A procissão concluía-se com homens portando tigelas douradas e perfumes, e então as estátuas dos deuses carregados em liteiras (fércula), com seus atributos (exúvias) transportados separadamente em bigas ou carroças especiais (tensas). As tensas foram puxadas por garotos cujas mães e pais ainda estavam vivos.[10] As imagens e exúvias eram dispostas no circo, provavelmente sobre a plataforma de madeira chamada pulvinar.[11]

O magistrado que presidia os jogos cavalgava em uma biga de dois cavalos e trajava o tradicional vestuário do general triunfante (triunfador).[12] De acordo com Theodor Mommsen, a pompa circense era simplesmente uma redefinição da procissão triunfal, à qual a apresentação dos jogos eram originalmente ligados. Após os jogos começarem a ser apresentados em separado do triunfo, o magistrado presidente tomou o lugar do triunfador na parada.[13] H. S. Versnel considera a pompa como uma mistura de elementos gregos, romanos e etruscos.[5] Frank Bernstein argumentou que a tradição da origem etrusca é essencialmente sólida, e que os jogos do circo e suas procissões de abertura foram estabelecidos durante o período régio sob os reis etruscos como parte do culto de Júpiter Capitolino.[14]

Durante o império

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Denário cunhado ca. 18 a.C. com efígie de Augusto (r. 27 a.C.14 d.C.)
 
Áureo com efígie de Tibério (r. 14–37)

A pompa circense passou por uma mudança significativa durante a ditadura de Júlio César, quando sua imagem e carroça foram adicionadas à procissão. Durante os reinados de Augusto (r. 27 a.C.14 d.C.) e Tibério (r. 14–37), outros membros da família imperial foram representados por imagens e selas (sellae; assentos especiais ou tronos; ver assento curul). Então tornou-se costumeiro no século I ter as imagens da família imperial junto daquelas das deidades.[15] Pelo tempo de Tibério, foi incorporado à rota da parada o Templo de Marte Vingador, construído por Augusto, que absorveu várias cerimônias formalmente realizadas no Templo de Júpiter Capitolino. A nova rota estendida teria que passar ao lado do Fórum de Augusto.[4]

O sacerdócio dos irmãos arvais realizou um sacrifício quando estes Jogos Circenses eram realizados em conjunção com várias celebrações do culto imperial. Até o reinado de Nero (r. 54–68), os sacrifícios arvais foram feitos no Capitólio, onde a procissão tradicional começou. Contudo, em algum momento durante o início do império, os arvais fizeram seus sacrifícios no novo Templo do Divino Augusto na ocasião dos Jogos Marciais, dos Jogos Augustais e o aniversário de Augusto. Nestas épocas, a procissão começou lá. A topografia coberta pela rota da parada podia variar de acordo com o desejo simbólico da ocasião.[16]

Uma rota mais tradicional da parada foi restaurada sob a dinastia flaviana. O Capitólio foi novamente o foco, e os templos mais explicitamente conectados aos júlio-claudianos foram menos centrais, embora as imagens da família imperial continuou a ser exibida. A rota foi expandida para passar pelo Campo de Marte no tempo de Domiciano (r. 81–96), que construiu um grande templo para os divinizados Vespasiano (r. 69–79) e Tito (r. 79–81) lá. Durante o século II, a rota da pompa circense provavelmente tornou-se similar àquela do triunfo.[17] A pompa circense então desenvolveu-se como um meio altamente visível para expressar a nova ordem política e religiosa do império.[18]

Referências

  1. Dionísio de Halicarnasso século I a.C., p. 7.72.1–13.
  2. Quinto Fábio Pictor século III a.C., FRH2 1 frg. 20.
  3. a b Versnel 1970, p. 96-97.
  4. a b Arena 2009, p. 86.
  5. a b Versnel 1970, p. 97.
  6. Slater 1993, p. 202.
  7. a b Slater 1993, p. 203.
  8. Wiseman 1988, p. 7.
  9. Wiseman 1988, p. 11.
  10. Versnel 1970, p. 98; 260.
  11. Fishwick 1990, p. 481.
  12. Versnel 1970, p. 102, 104, 129–130.
  13. Versnel 1970, p. 101f.
  14. Bernstein 2007, p. 223ff.
  15. Arena 2009, p. 78ff.
  16. Arena 2009, p. 87ff.
  17. Arena 2009, p. 91-92.
  18. Arena 2009, p. 92-93.

Bibliografia

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  • Arena, Patrizia (2009). «The pompa circensis and the domus Augusta (1st–2nd c. A.D.)». Ritual Dynamics and Religious Change in the Roman Empire. Proceedings of the Eighth Workshop of the International Network Impact of Empire. [S.l.]: Brill 
  • Bernstein, Frank (2007). Complex Rituals: Games and Processions in Republican Rome in A Companion to Roman Religion. [S.l.]: Blackwell 
  • Dionísio de Halicarnasso (século I a.C.). Das antiguidades romanas. [S.l.: s.n.] 
  • Fishwick, Duncan (1990). «Prudentius and the Cult of Divus Augustus». Historia. 39.4 
  • Slater, W. J. (1993). «Three Problems in the History of Drama». Phoenix. 47.3 
  • Versnel, H. S. (1970). Triumphus: An Inquiry into the Origin, Development and Meaning of the Roman Triumph. [S.l.]: Brill 
  • Wiseman, T. P. (1988). «Satyrs in Rome? The Background to Horace's Ars Poetica». Journal of Roman Studies. 78