Água Azeda da Serreta

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Água Azeda, ou Água Azeda da Serreta, é uma nascente de água mineromedicinal, gaseificada e fortemente cloretada, existente na base da falésia litoral da costa oeste da ilha Terceira (Açores), freguesia da Serreta. A água, caracterizada como acídula e gazo-carbonatada por Charles Lepierre, foi utilizada durante vários séculos para fins medicinais e foi comercializada durante as primeiras décadas do século XX sob a marca Água da Serreta.[1] Um desmoronamento causado pelo sismo de 1980 impediu o acesso ao local de captação. O nome água azeda é comum a diversas nascentes de água gaseificada natural existentes nos Açores.[2]

Rótulo de uma garrafa de Água Azeda da Serreta.

Descrição editar

Água Azeda da Serreta brota no lugar da Fajã do Biscoito da Serreta, no limite entre as freguesias da Serreta e do Raminho. A nascente está na zona entremarés, na parte inferior da alta e escarpada falésia que constitui a costa oeste da ilha Terceira, num local de muito difícil acesso, particularmente dificultado pelas gigantescas derrocadas que ocorreram aquando do Sismo de 1 de Janeiro de 1980.

Conhecida das populações locais desde os tempos do povoamento, a nascente foi assinalada em 1855, e nesse mesmo ano analisada pelo médico o José Augusto Nogueira Sampaio, o qual caracterizou a água como rica em ácido carbónico, cloreto de cálcio, sulfato de cal, sais terrosos, alumina, magnésia e ácido hidrossulfúrico.[3]

As características da água despertaram grande interesse público e em 1858 foi completado um caminho de acesso mandado construir pela Câmara Municipal de Angra. Contudo, dada dificuldade de vencer com segurança uma escarpa com mais de 150 m de altura, o caminho desapareceu pouco depois por ter abatido parte da rocha. Apesar disso, o acesso precário manteve-se até que em 1889 a Câmara mandou restaurar a passagem, fazendo abrir na rocha uma escadaria com duzentos degraus, que nas décadas seguintes também se desmoronaram.[3]

Apesar de diversas tentativas de melhorar o estreito e perigoso trilho que existia cavada na falésia, o acesso manteve-se muito dificultado, o que contribui para o insucesso das diversas tentativas de comercializar aquela água como água mineromedicinal.

Caracterizada como «água acídula, gasocarbónica, cloretada sódica (50% da mineralização formada por cloretos), carbonetada cálcica e magnésica, silicatada» por Charles Lepierre, a água chegou a ser comercializada como "Água da Serreta" e classificada como «água de mesa», embora fosse popularmente conhecida como Água Azeda.

História editar

Suposto que de há muito já os moradores da Serreta lhe conheciam a existências, o interesse por esta fonte data de 1855, quando Álvaro Borges Cabral Fournier ali se deslocou e recolheu uma amostra. A partir daís foram realizados diversos estudos e obras destinadas a melhorar a acessibilidade. As conclusões foram variando ao longo dos tempos:[4]

  • O dr. Nicolau Caetano de Bettencourt Pitta negou-lhe qualquer propriedade, asseverando: Depois de muitas indagações vim no conhecimento, que a fonte sai por uma fenda de lava á beira-mar na Serreta, e qua a descida para ela é muito pior que a pena imediata. ... A água que eu analisei, e que veio muito bem engarrafada, segundo as direções que dei, não lhe dou importância alguma, tratada por vários reagentes; é de natureza salobra como a das Quatro Ribeiras, com a diferença de que esta nasce morna à beira-mar, e sai da boca de um vulcão extinto. A água da Serreta colhida no mesmo dia é fria, inodora, de sabor picante, o que é devido ao ácido carbónico que contém, e que a faz crepitante deitada em um copo, mas passados quatro dias apodrece e exala aquele cheiro que tem a águua a bordo dos navios.
  • O dr. José Augusto Nogueira Sampaio, emitiu parecer contrário, lendo-se em dado passo: A nascente desta água é impetuosa, e projeta-se longe; na sua vizinhança não se conhece cheiro algum que denote a sua origem vulcânica. … A altura excessiva da rocha, o mau talhe que oferece, tornam a descida quase impraticável. [...] Examinada a água pelo lado das suas propriedades físicas apresenta-se de uma limpidez e transparência expressivas, as quais ela conserva depois de muito tempo de recolhida. – A sua temperatura é igual à da ordinária. Encerrada em uma garrafa, bem tapada, ela produz no ato da sua abertura uma detonação igual à que produz uma garrafa de champanhe quando se abre. Lançada em um vaso qualquer transparente, nota-se que da parte inferior e laterais se levantam continuamente por espaço de algumas horas uma grande quantidade de bolhas semelhantes àquelas que se observam em qualquer líquido fermentado. O seu gosto, ao princípio ligeiramente ácido, mas deixando aperceber alguma coisa de sulfúreo, torna-se depois salina e desagradável; contudo não é o gosto característico e repugnante das águas sulfúreas. Por vezes, depois da sua ingestão, sobrevêm arrotos picantes semelhantes aos que aparecem com o uso das sodas gasosas. Enfim, a sua densidade é superior à da água destilada e da ordinária.
  • Monsenhor José Alves da Silva refere ser esta água muito usada para as doenças do estômago.
  • O Laboratório do Instituo Superior Técnico de Lisboa, de que era diretor o Professor Doutor Charles Lepierre, após a análise químico-higiénica, publicou em boletim datado de 15 de julho de 1920 a seguinte conclusão: mineralização de 1,266, g/litro. Foi entã caracterizada como água acídula, gasocarbónica, cloretada sódica (50% da mineralização formada por cloretos), carbonetada cálcica e magnésica, silicatada» . A água chegou a ser comercializada como Água da Serreta e classificada como «água de mesa», embora fosse popularmente conhecida como Água Azeda.
  • O Dr. Octávio da Veiga Ferreira, dos Serviços Geofísicos, chegou a preparar um esboço de anteprojeto para a captação da água mineromedicinal da Serreta.

Ao longo do tempo foram realizadas pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo diversas obras de acesso:

  • 1858 – abertura de vereda, torneando a rocha;
  • 1889 – abertura na rocha de uma escadaria de duzentos e dez degraus, a cerca de mil metros para leste do Farol da Serreta;
  • 1967 – limpeza e desobstrução do poço

Com o Terramoto de 1980 ocorreram derrocadas e o acesso desapareceu e o poço encontra-se entulhado.

Notas

  1. Boletim Fazendo, n.º 85, p. 14. Horta, 2013.
  2. "Água Azeda" na Enciclopédia Açoriana.
  3. a b Alfredo da Silva Sampaio, Memória sobre a Ilha Terceira. Angra do Heroísmo, 1904.
  4. Pedro de Merelim, As 18 Paróquias de Angra, pp. 690-692. Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira, 2017.

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