Órgão de Diamantina

Órgão de Diamantina ou Órgão Histórico Almeida e Silva / Lobo de Mesquita - o instrumento, pertencente à Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo de Diamantina, cidade Patrimônio Mundial segundo a UNESCO, foi integralmente construído no antigo Arraial do Tejuco entre 1782 e 1787 pelo padre Manoel de Almeida e Silva, em resposta às demandas de uma sociedade culta, sensível em dotar o culto divino de um de seus mais prestigiosos ornamentos: o órgão. Segundo instrumento erigido no seio da Igreja do Carmo do antigo arraial, atual cidade de Diamantina, o mesmo esteve sob as ordens do eminente compositor José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (Serro, 1746? - Rio de Janeiro, 1805), desde a sua conclusão até 1794. É bastante provável que o grande músico do Serro tenha influenciado diretamente a concepção do instrumento, único órgão remanescente utilizado por Lobo de Mesquita, cujo nome tornou-se indissociável à sua própria história.[1]

Projeto de Restauro editar

Respondendo aos anseios da comunidade diamantinense e, em particular, da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, o projeto de restauro do órgão histórico Almeida e Silva / Lobo de Mesquita veio cumular várias tentativas anteriores de restauração do instrumento. Sob a proponência da Mitra Arquidiocesana de Diamantina, ao abrigo da Lei Rouanet - Federal de Incentivo à Cultura, o projeto contou com o apoio do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tendo sido integralmente financiado com fundos do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A gestão executiva do mesmo correu a cargo da empresa Lira Cultura. O restauro da caixa do instrumento foi realizado pela empresa mineira Anima – Conservação e Restauro, ao passo que a restauração da parte instrumental do órgão foi executada pelo Ateliê de Organaria Hermanos Desmottes (ESP).[2]

Restauro do órgão histórico Almeida e Silva / Lobo de Mesquita editar

O restauro da parte instrumental do órgão histórico Almeida e Silva / Lobo de Mesquita realizou-se em três etapas. Na primeira, concluída em novembro de 2008, a equipe técnica, sob direção do mestre organeiro Frédéric Desmottes, desmontou o instrumento, cujo material histórico foi minuciosamente inventariado e acondicionado em caixas confeccionadas expressamente para tal fim pelo Grupo Oficina de Restauro, sob a direção da restauradora Rosângela Costa. Tal intervenção, ademais de contribuir a uma melhor preservação do material histórico do instrumento, permitiu o restauro em profundidade da caixa do mesmo, realizado pelos restauradores da empresa Anima – Conservação e Restauro.

​A segunda etapa foi realizada a partir de uma visita de estudos da equipe técnica à Diamantina, coordenada por Marco Brescia e dirigida pelo mestre organeiro Frédéric Desmottes. A mesma se pautou pela identificação de todas as inscrições originais de Almeida e Silva presentes no material histórico do órgão, o que permitiu uma reconstituição fidedigna do plano sonoro original do instrumento, que conserva cerca de 90% de seu material original. Tal intervenção possibilitou, ainda, a reconstrução no Ateliê de Organaria Hermanos Desmottes na Espanha de todos os elementos em substituição ao material irrecuperável ou incorporado ao instrumento em intervenções posteriores, realizadas em 1877, 1904 e 1941, em desacordo com a estética original do órgão e comprometendo, em certa medida, o seu pleno funcionamento. Todo o material confeccionado nessa etapa foi exportado ao Brasil para a sua devida incorporação ao material histórico do instrumento.

A terceira e última etapa do projeto consistiu no restauro in situ de todo o material histórico original do órgão, realizado na Casa de Chica da Silva, cedida pelo IPHAN - 13.a Regional / Diamantina, para montagem do ateliê provisório no Brasil. A pré-reinauguração e apresentação do instrumento à comunidade ocorreu nos dias 20, 21 e 22 de dezembro de 2013. A inauguração oficial, com benção solene seguida de concerto teve lugar no dia 29 de março de 2014, quando o órgão Almeida e Silva / Lobo de Mesquita, esse bem cultural de valor inestimável no contexto do patrimônio organeiro brasileiro e ibero-americano, foi devolvido plenamente em funções e de volta a seu estado original à sua principal depositária: a coletividade diamantinense, cujo imaginário, nas quase sete décadas em que esteve completamente emudecido, nunca deixou de povoar.[3]

Informações mais detalhadas acerca do restauro do órgão histórico Almeida e Silva / Lobo de Mesquita podem ser consultadas no Relatório final acerca do restauro do órgão de Diamantina.[4]

Festival Internacional de Música Antiga de Diamantina editar

A programação do I Festival Internacional de Música Antiga de Diamantina, realizado entre os dias 20 de fevereiro e 1 de março de 2015, teve no órgão histórico Almeida e Silva / Lobo de Mesquita o seu elo articulador, o que é sintetizado na epígrafe que revela a unidade conceitual do mesmo: “Patrimônio Imaterial / Patrimônio Material: um diálogo necessário”. No que respeita à música, coube a primazia à obra de Lobo de Mesquita, que tem no órgão do Carmo o único instrumento remanescente sobre o qual foi originalmente composta e executada. A a música de Joaquim José Emerico foi assim revisitada em seu contexto luso-brasileiro, ibero-americano e ítalo-ibérico, ampliando os horizontes de percepção da obra de uma das figuras de proa da Música Colonial Ibero-Americana, através do fomento ao diálogo com as principais escolas do pensamento e da práxis musical que a envolveram e/ou secundaram.

 
Órgão histórico Almeida e Silva / Lobo de Mesquita (1787) da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, Diamantina, Minas Gerais, Brasil

Além dos concertos, abriu-se igualmente um espaço de discussão integrado por especialistas em contato próximo e direto com o público, no qual foram suscitadas e discutidas problemáticas inerentes à interface dialética entre os patrimônios imaterial e material, bem como às políticas de salvaguarda, revitalização e uso dos órgãos históricos brasileiros,[5] perspectiva na qual Diamantina vem consolidando um notável e válido modelo desde a recente conclusão do restauro do órgão de Almeida e Silva em dezembro de 2013, reinserido plenamente na vida religiosa e cultural da cidade após quase sete décadas de emudecimento. As escolas de Diamantina contaram igualmente com atividades teatrais especialmente dedicadas ao público mais jovem, futuro depositário do riquíssimo patrimônio imaterial/material da cidade. E por fim, foi a própria coletividade diamantinense quem assumiu o discurso, produzindo em seu seio um cortejo conformado por manifestações ancestrais do legado cultural afro-brasileiro, para além do evento de encerramento do festival, um concerto de sinos, tradição imemorial da cidade, que repercutiu por toda a sua legendária paisagem urbana, celebrando o seu legado histórico, artístico e, sobretudo, humano.[6]

Concertos e Cursos junto ao órgão histórico Almeida e Silva / Lobo de Mesquita de Diamantina editar

Para além do uso litúrgico do instrumento, a partir de abril de 2015 passou a ter lugar uma série de concertos ao órgão histórico da Igreja do Carmo, idealizada e regida pelo organista diamantinense Evandro Archanjo, em parceria com a Ordem 3ª do Carmo e a Minhas Gerais Turismo. As informações podem ser encontradas no site www.minhasgerais.com.br juntamente com a oferta dos cursos e concertos didáticos, realizados periodicamente.

Diamantina

Referências

  1. «Site do órgão de Diamantina». Consultado em 1 de maio de 2015 
  2. http://www.orgaodiamantina.com/#!projeto/cjg9
  3. http://www.orgaodiamantina.com/#!passo-a-passo/criv
  4. Marco Brescia. «Relatório final acerca do restauro do órgão histórico de Diamantina» (PDF). Consultado em 1 de maio de 2015 
  5. «Festival Internacional de Música Antiga de Diamantina - palestras». Consultado em 1 de maio de 2015. Arquivado do original em 29 de maio de 2015 
  6. «Cópia arquivada». Consultado em 31 de maio de 2015. Arquivado do original em 29 de maio de 2015