1.ª Divisão de Exército

divisão do Exército Brasileiro
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A 1.ª Divisão de Exército (1.ª DE) é um comando operacional do Exército Brasileiro sediado no Rio de Janeiro, e subordinado ao Comando Militar do Leste. Ela comanda uma Artilharia Divisionária e duas brigadas, o Grupamento de Unidades-Escola - 9.ª Brigada de Infantaria Motorizada, também no Rio de Janeiro, e a 4.ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha, em Juiz de Fora, Minas Gerais.

1ª Divisão de Exército

Brasão
País  Brasil
Corporação Exército Brasileiro
Subordinação Comando Militar do Leste
Denominação Divisão Mascarenhas de Morais
Sigla 1ª DE
Criação 1908
Logística
Efetivo 11 mil (2018)[1]
Sede
Sede Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ
Página oficial http://www.1de.eb.mil.br

A divisão foi criada juntamente com a Vila Militar do Rio de Janeiro, onde está sediada. A Vila Militar continua a ter a maior concentração de unidades operacionais do Exército no Rio de Janeiro, e é historicamente uma das guarnições mais importantes nas crises políticas brasileiras. A 1.ª DE é também considerada o “berço” da Força Expedicionária Brasileira, e sua denominação de “Divisão Mascarenhas de Moraes” homenageia o comandante da 1.ª Divisão de Infantaria Expedicionária.

Organização editar

A atual divisão tem suas origens na 1.ª Brigada Estratégica,[2] criada nas reformas militares de Hermes da Fonseca. A Reforma Hermes situou essa inovação na ordem de batalha dentro de um conjunto de novos quartéis, a Vila Militar do Rio de Janeiro. Planejava-se repetir esse modelo no restante do país, mas o orçamento só permitiu sua construção na então capital federal. A Vila Militar carioca integrava um complexo de instalações militares às margens da Estrada de Ferro Central do Brasil, juntamente com o campo de instrução de Gericinó, onde se realizariam manobras militares. No século XXI, o bairro continua a sediar o maior número de unidades operacionais do Exército no Rio de Janeiro.[3][4] O comandante da 1.ª DE é também referido como o “comandante da 1.ª Divisão de Exército e da Guarnição da Vila Militar” (Gu VM).[5][a]

A 1.ª Brigada Estratégica tornou-se a 3.ª Divisão de Exército (DE) em 1915.[2] Esta divisão e a 5.ª, no Rio Grande do Sul, eram as únicas efetivamente organizadas, refletindo a concentração do Exército na fronteira e nos centros populacionais.[6] A 3.ª DE tornou-se a 1.ª DE em 1919 e 1.ª Divisão de Infantaria (DI) em 1921.[2] Ela era composta, em 1922, pela 1.ª e 2.ª Brigadas de Infantaria, a 1.ª Brigada de Artilharia e unidades menores.[7] Até 1946, seu comando era unido ao da 1.ª Região Militar (1.ª RM).[8] As brigadas foram extintas em 1938, dando lugar à Infantaria Divisionária (ID/1) e Artilharia Divisionária (AD/1) da 1.ª DI.[9]

 
Posto de Comando montado pela Companhia de Comando da divisão, 2014

Com um efetivo de 6.868 praças em 1961,[10] a divisão era a unidade mais forte do I Exército (atual Comando Militar do Leste), e seu comandante chegava a ter uma rivalidade com o ministro da Guerra. A Vila Militar era “a guarnição mais poderosa do país”.[11] Nas reformas militares na ditadura, em 1968 a ID/1 foi transformada na 2.ª Brigada de Infantaria (2.ª Bda Inf) e a 1.ª Bda Inf, antigo Grupamento de Unidades-Escola (GUEs), foi subordinada à divisão. Em 1971 a 1.ª DI adotou seu atual nome, sendo reorganizada com a 1.ª Bda Inf, 2.ª Bda Inf, 9.ª Bda Inf (Escola), que era uma recriação do GUEs, 5.ª Brigada de Cavalaria Blindada (5.ª Bda C Bld), derivada da antiga Divisão Blindada, e AD/1.[10]

A partir dos anos 90, a desconcentração de unidades no Rio de Janeiro levou à transferência da 1.ª e 2.ª Brigadas de Infantaria para o Comando Militar da Amazônia, respectivamente em 1991 e 2004.[12] Por outro lado, após a desativação da 4.ª Divisão de Exército em 2007,[13] a 4.ª Brigada de Infantaria Motorizada, de Minas Gerais, foi subordinada à 1.ª DE.[14]

Organizações subordinadas à 1.ª Divisão de Exército[15]

Operações editar

Conforme Elio Gaspari, até os anos 1960, “salvo em 1961, o grosso da tropa carioca decidira ou consumara todos os levantes militares da história nacional”.[11] Em 1922, nos seus primeiros anos, a sublevação da Vila Militar era ponto importante na conspiração para impedir a posse de Arthur Bernardes na Presidência da República. Devido à indiscrição dos conspiradores, o governo pôde afastar com antecedência os oficiais pouco confiáveis que serviam no local. Deflagrada a Revolta dos 18 do Forte, em 5 de julho, a vizinha Escola Militar do Realengo foi sublevada, mas ficou desprovida de seus elementos de ligação na Vila. Após algumas horas de combate com a 1.ª Divisão de Infantaria, contra a qual não teriam chance, os cadetes revoltosos encerraram suas operações.[16] Dois anos depois, a Vila Militar entrou em prontidão em resposta à Revolta Paulista de 1924, e as tropas embarcaram em trens para combater em São Paulo.[17]

O general Azeredo Coutinho, comandante da divisão durante a Revolução de 1930, permaneceu leal ao governo. Entretanto, os conspiradores dominavam o 3.º Regimento de Infantaria, sediado na Praia Vermelha. No golpe militar que depôs Washington Luís, concluindo a revolução, esse regimento ocupou o Palácio Guanabara, onde estava o presidente. Um avião sobrevoou a Vila Militar para verificar quais unidades haviam aderido.[18] Na Revolução Constitucionalista de 1932, a 1.ª DI barrou a ofensiva da 2.ª Divisão de Infantaria no vale do Paraíba.[19] A Intentona Comunista de 1935 começou no Rio de Janeiro pela sublevação do 3.º Regimento de Infantaria. Os revoltosos esperavam o apoio da tropa da Vila Militar, mas esta deslocou-se para suprimir a insurreição.[20]

 
Treinamento da Força Expedicionária Brasileira em Gericinó, 1944

A divisão é chamada de “berço da Força Expedicionária Brasileira”;[1] desde 1969 ela tem a denominação de “Divisão Mascarenhas de Moraes” em homenagem ao comandante da 1.ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1.ª DIE), formada para combater na Segunda Guerra Mundial.[2] A lista de comandantes da divisão inclui uma seção própria para a 1.ª DIE. Paralelamente à campanha da 1.ª DIE, a 1.ª DI continuou tendo comandantes no Rio de Janeiro.[21] O general Renato Paquet, comandante de sua Infantaria Divisionária, foi um dos últimos a permanecer leal ao governo durante a deposição de Vargas em 1945, mas foi ordenado pelo próprio presidente a não oferecer resistência, evitando o derramamento de sangue.[22][23]

Á época do golpe de Estado de 1964, a divisão era comandanda pelo general Oromar Osório,[21] integrante do dispositivo militar governista.[11] O general Luís Tavares da Cunha Melo, comandante da Infantaria Divisionária, foi encarregado de enfrentar a Operação Popeye, que vinha de Minas Gerais para derrubar o governo. Cunha Melo estava otimista, mas a adesão de uma de suas unidades ao golpe, o 1.º Regimento de Infantaria, desequilibrou os cálculos. Cunha Melo ainda preparou uma defesa em Areal, mas a cadeia de comando legalista já estava desintegrando, e ele retornou ao Rio de Janeiro sem oferecer resistência.[24][25]

A 1.ª DE é chamada a diversas operações internacionais, humanitárias e de garantia da lei e da ordem.[2] Ela contribuiu a maior parte das tropas do Comando Conjunto das Operações na intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018[1] e ordenou a Operação Muquiço, na favela do mesmo nome, em 2019.[26]

Notas

  1. Um comando de guarnição abrange várias organizações na mesma localidade, não necessariamente subordinadas a ele. Vide o Regulamento Interno e dos Serviços Gerais - R-1 (RISG) (PDF). Brasília: Secretaria-Geral do Exército. 2003 . p. 92-93.

Referências

  1. a b c Nitahara, Akemi (20 de março de 2018). «General Mauro Sinott deixa 1ª DE e assume chefia do Gabinete da Intervenção». Agência Brasil. Consultado em 18 de novembro de 2023 
  2. a b c d e «Histórico da 1ª DE». 1ª Divisão de Exército. 10 de novembro de 2020. Consultado em 18 de novembro de 2023 
  3. Corrêa-Martins, Francisco José (2011). «"Conquistar e manter"?: a cartografia da presença do Exército Brasileiro no Rio de Janeiro nos últimos cinquenta anos» (PDF). Anais do I Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica . p. 8-9, 15.
  4. Bonates, Mariana Fialho; Moreira, Fernando (2016). «The Vila Militar of Rio de Janeiro: the genealogy of a modern design». International Planning History Society Proceedings. 17 (5) . p. 224, 232.
  5. «1ª Divisão de Exército e Guarnição da Vila Militar comemoram o Dia da Pátria». 1ª Divisão de Exército. 6 de setembro de 2023. Consultado em 18 de novembro de 2023 
  6. McCann, Frank (2009). Soldados da Pátria: história do Exército Brasileiro, 1889–1937. Traduzido por Motta, Laura Pereira. Rio de Janeiro e São Paulo: Biblioteca do Exército e Companhia das Letras . p. 263.
  7. Savian, Elonir José (2020). Legalidade e Revolução: Rondon combate tenentistas nos sertões do Paraná (1924/1925). Curitiba: edição do autor . p. 223.
  8. AHEx (2019). «Catálogo de destino dos acervos das Organizações Militares do Exército Brasileiro» (PDF). Rio de Janeiro: Arquivo Histórico do Exército . p. 342.
  9. BRASIL, Decreto-lei nº 609, de 10 de agosto de 1938. Organiza os Comandos das Armas e dá outras providências.
  10. a b Pedrosa, Fernando Velôzo Gomes (2018). Modernização e reestruturação do Exército brasileiro (1960-1980) (Doutorado em História). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cópia arquivada em 15 de janeiro de 2021 . p. 163, 177, 180-181, 213, 292.
  11. a b c Gaspari, Elio (2002). A ditadura envergonhada. Col: As Ilusões Armadas. São Paulo: Companhia das Letras . p. 52, 119-120.
  12. Kuhlmann, Paulo Roberto Loyolla (2007). Exército brasileiro: estrutura militar e ordenamento político 1984-2007 (PDF) (Tese). São Paulo: Universidade de São Paulo . p. 123, 191.
  13. «Histórico da Criação da 4ª Região Militar». 4ª RM. 27 de maio de 2022. Consultado em 5 de outubro de 2022 
  14. «Histórico». 4ª Bda Inf L Mth. Consultado em 5 de outubro de 2022 
  15. «Organograma». 1ª Divisão de Exército. 13 de novembro de 2020. Consultado em 19 de novembro de 2023 
  16. Marcusso, Fernandes; Ferreira Jr, Amarílio (maio–agosto de 2013). «Escola militar do realengo, educação militar e juventude (1913-1922)». EccoS Revista Científica (31) . p. 38-42.
  17. Meirelles, Domingos João (2002). As noites das grandes fogueiras: uma história da Coluna Prestes 9ª ed. Rio de Janeiro: Record . p. 102.
  18. Roesler, Rafael (2021). Marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque: vida e trajetória militar (PDF) (Doutorado em História). CPDOC FGV . p. 282-283, 330.
  19. Jowett, Philip (2018). Latin American Wars 1900–1941: "Banana Wars", Border Wars & Revolutions. Col: Men at Arms, 519. [S.l.]: Osprey Publishing . p. 33.
  20. Vianna, Marly de A.G. (2003). «As rebeliões de novembro de 1935» (PDF). Novos Rumos (34) . p. 18-19.
  21. a b «Galeria dos Eternos Comandantes». 1ª Divisão de Exército. 5 de abril de 2023. Consultado em 19 de novembro de 2023 
  22. Zilio, Sergio Augusto da Silva (1985). «Marechal Renato Paquet». A Defesa Nacional (721) . p. 112.
  23. Hilton, Stanley E. (fevereiro de 1987). «The overthrow of Getúlio Vargas in 1945: diplomatic intervention, defense of democracy, or political retribution?». Hispanic American Historical Review. 67 (1) . p. 36.
  24. Silva, André Gustavo da (2014). Um estudo sobre a participação da PMMG no movimento golpista de 1964 em Belo Horizonte (PDF) (Mestrado em História). São João del Rei: Universidade Federal de São João del Rei . p. 209-210.
  25. Faria, Fabiano Godinho (2013). João Goulart e os militares na crise dos anos de 1960 (PDF) (Doutorado em História). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cópia arquivada (PDF) em 10 de novembro de 2021 . p. 395-396, 423-427, 435.
  26. Natália, Viana (1 de maio de 2020). «A desastrosa Operação do Exército que levou à morte de Evaldo Rosa». El País. Consultado em 18 de novembro de 2023 

Ligações externas editar

  • Portal da FEB Site com histórias, biografias, fotos, vídeos, depoimentos de veteranos da 1ª DIE (Divisão de Infantaria Expedicionária).