A Barca do Sol

uma banda brasileira de rock

A Barca do Sol foi uma banda brasileira de rock progressivo e MPB formada em 1973 na cidade do Rio de Janeiro, e desfeita em 1981, após o lançamento de três álbuns de estúdio - A Barca do Sol, de 1974; Durante o Verão, de 1976; e Pirata, de 1979. O grupo fez grande sucesso de crítica enquanto esteve em atividade, embora tenha permanecido restrito a nichos de público. Seu estilo musical diferenciado dentro do panorâma da música popular no Brasil - valendo-se majoritariamente de instrumentos de sopro como solistas e mantendo a composição de canções e não de temas instrumentais - garantiram para o conjunto um lugar único na música popular brasileira, tornando-o de difícil classificação.

A Barca do Sol
Informação geral
Origem Rio de Janeiro
País Brasil
Gênero(s)
Período em atividade 1973 - 1981
Gravadora(s)
  • GEL, através do selo Continental
  • Verão (selo independente)
Integrantes

Carreira editar

A banda começou a ser formada quando Nando Carneiro e Muri Costa - colegas de um curso pré-vestibular de arquitetura, em Copacabana - passaram a se encontrar nas tardes, após as aulas, para estudar. Nos intervalos, tocavam violão e o irmão caçula de Maurício, Marcelo Costa, fazia percussão para os dois. No fim do ano, foram convidados para uma apresentação no auditório das Faculdades Bennett (hoje, Centro Universitário Bennett), já adotando o nome pelo qual a banda ficaria conhecida. No ano seguinte, o compositor e multi-instrumentista Egberto Gismonti - que era amigo da família de Nando, sendo parceiro de seu irmão, Geraldo Carneiro - consegue bolsas de estudo para os rapazes no VII Festival e Curso de Música de Curitiba (atualmente, Oficina de Música de Curitiba). Assim, deslocam-se para aquela cidade onde passam todo mês de janeiro tendo aulas com, entre outros professores, o cantor e compositor Dori Caymmi que, ao ouvir o trio tocando, apresenta para eles outros quatro músicos: Beto Rezende, também violonista, mas que entrou no grupo ajudando na percussão; Jaques Morelenbaum, que tocava violino e violoncelo; Marcelo Bernardes, flautista; e Marcos Stul, baixista.[1][2][3]

Com esta formação, voltam para o Rio de Janeiro e passam a ensaiar, além de realizarem apresentações, bem como a acompanhar, como banda de apoio, alguns artistas, como o cantor Piry Reis. Em meados do ano, são convidados a gravarem uma fita demo para o selo Continental, da gravadora GEL, conseguindo um contrato de gravação. Assim, gravam o seu álbum de estreia, A Barca do Sol, com Egberto Gismonti produzindo e, também, participando como instrumentista em duas faixas: "Arremesso" e "Alaska".[4][5] Neste álbum, começam parcerias com a chamada "Geração Marginal", com diversos dos poetas do movimento trabalhando como letristas nas canções do disco, especialmente, Geraldo Carneiro, Cacaso, João Carlos Pádua, Afonso Carlos Costa e Daniel Mendes Campos.[6] Antes do lançamento do álbum, em dezembro daquele ano, o grupo perde dois integrantes: Marcos Stul sai por não concordar com o espírito de coletividade do grupo, e Marcelo Bernardes recebe uma proposta para ingressar no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris. Assim, entram no grupo Alain Pierre, baixista, e Ritchie, flautista. Com estes membros, o grupo faz o lançamento do disco de estreia no Teatro Galeria, em dezembro de 1974.[1][2][3] Logo no início do ano seguinte, Ritchie também sai do grupo - para ingressar no conjunto Vímana - e, em seu lugar, entra David Ganc.[7]

Em 1975, trabalham com Gismonti na trilha sonora do filme Nem os Bruxos Escapam. Graças ao sucesso de canções como "Lady Jane", "O Brilho da Noite" e "Fantasma da Ópera" do primeiro disco, garantem a gravação de um segundo álbum de estúdio da banda, Durante o Verão, que, com produção de Geraldo Carneiro, sai em 1976. Neste disco, passam a utilizar, também, instrumentos eletrificados, como guitarra e baixo, além de utilizarem bateria em adição à percussão já utilizada no álbum anterior.[8][9] Em 1978, a banda gravou o álbum Corra o Risco, que marcou a estréia fonográfica da cantora Olivia Byington. O disco contém sucessos do grupo, como "Lady Jane", "Fantasma da Ópera" e "Brilho da Noite", regravados pela cantora, além de canções inéditas que viriam a compor o próximo disco do conjunto, como "Cavalo Marinho" e "Jardim da Infância".[10] Novamente, antes da turnê do disco de Byington, perdem um membro: Jaques Morelenbaum muda-se para Boston, estudando violoncelo por dois anos no New England Conservatory of Music. Assim, fazem a turnê do álbum como um sexteto. No ano seguinte, o grupo lança de forma independente - saindo pelo selo Verão - o álbum Pirata, coproduzido pela própria banda juntamente com Afonso Carlos Costa, ainda como um sexteto.[11][12] Em 1980, fazem uma participação especial na faixa "Mais Clara, Mais Crua", do disco Anjo Vadio, de Olivia Byngton, vindo a dissolver-se no ano seguinte.[1][6][2][3]

Reunião editar

Após 38 anos de sua dissolução, a banda voltou a se reunir para a apresentação de dois shows em setembro de 2019, em São Paulo.[13] Ainda, em 18 de fevereiro de 2020, foi relançado o último álbum da banda, Pirata, em formato de streaming.[14]

Estilo e legado editar

Na época em que estava em atividade, o grupo foi classificado sempre, pela crítica especializada, como um grupo de rock progressivo.[5][9] Realmente, estão presentes na obra do grupo diversas das características comumente associadas a este estilo, como: partes instrumentais pronunciadas, mudanças de andamento e mistura de música clássica e folk com rock. Entretanto, análises posteriores passaram a contestar estas primeiras críticas sob o argumento de que, embora existisse uma base comum sobre a qual diversos grupos se expressassem - o rock ou o samba, nos anos 1970, os diversos grupos não formavam uma unidade estilística. Desse modo, mais recentemente, prefere-se destacar as semelhanças estilísticas do grupo com artistas da MPB - como o Som Imaginário - ou com o movimento Clube da Esquina. Ainda, alguns aproximam o grupo do Jazz brasileiro pela sua proximidade com Egberto Gismonti.[2][15]

Após o término do grupo, seus membros tornaram-se importantes músicos na cena da música popular brasileira, cantada ou instrumental, dos anos seguintes.[2][15][3]

Integrantes editar

Última formação editar

Outros integrantes editar

Linha do tempo editar

Discografia editar

Discografia dada pelo IMMuB[16] e pelo Discogs.[17]

Álbuns de estúdio editar

Ano Título Gravadora
1974 A Barca do Sol Continental
1976 Durante o Verão Continental
1979 Pirata Verão

Coletâneas editar

Ano Título Gravadora
1995 Sucessos Warner Music Brasil
2000 A Barca do Sol / Durante o Verão[nota 1] Warner Music Brasil

Participações editar

Ano Título Gravadora
1976 Som Tropical[nota 2] Continental
1978 Corra o Risco[nota 3] Continental
1980 Anjo Vadio[nota 4] Som Livre
1981 Rosa Baiana[nota 5] Bandeirantes discos

Notas

  1. Lançamento dos dois primeiros álbuns reunidos em um único CD, parte da série Dois Momentos.
  2. Coletânea de artistas da gravadora. Participa com a faixa 5: "Durante o Verão".
  3. Álbum de estreia da cantora Olivia Byington.
  4. Segundo álbum de estúdio da cantora Olivia Byington. Participam na faixa 10: "Mais Clara, Mais Crua".
  5. Trilha sonora da novela Rosa Baiana. Participa com a faixa 9: "Desencontro".

Referências

  1. a b c Behr Kimizuka & Tiné 2018, pp. 3-4
  2. a b c d e Rohr 2018, pp. 51-54
  3. a b c d «A Barca do Sol - dados artísticos». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Consultado em 2 de dezembro de 2014 
  4. Gouvêa 1975
  5. a b Kubrusly 1975
  6. a b Behr Kimizuka & Tiné 2018, pp. 4-5
  7. Braulio Lorentz e Guilherme Miquelutti (n.d.). «Ritchie Beggins». Pílula Pop. Consultado em 16 de janeiro de 2012 
  8. Revista Música 1976
  9. a b Bahiana 1977
  10. Soares 1978
  11. Sérgio 1980
  12. Souza 1980
  13. Mauro Ferreira (27 de agosto de 2019). «A Barca do Sol volta a navegar 38 anos após a dissolução da banda». G1. Consultado em 20 de maio de 2020 
  14. Mauro Ferreira (19 de fevereiro de 2020). «Último álbum da Barca do Sol, 'Pirata' aporta em mares digitais com inédita faixa-bônus». G1. Consultado em 20 de maio de 2020 
  15. a b Behr Kimizuka & Tiné 2018, pp. 5-9
  16. «A Barca do Sol». IMMuB. N.d. Consultado em 20 de maio de 2020 
  17. «A Barca do Sol - discography». Discogs. N.d. Consultado em 20 de maio de 2020 

Bibliografia editar

  • Revista Música (1976). Uma aula de criatividade. Rio de Janeiro: Revista Música, dezembro de 1976. 
  • Bahiana, Ana Maria (1977). Durante o Verão. Rio de Janeiro: Jornal de Música, janeiro de 1977. 
  • Behr Kimizuka, Yuri; Tiné, Paulo (2018). O banquete musical d'A Barca do Sol Revista Per Musi ed. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais. pp. 1–16 
  • Gouvêa, Carlos (1975). Barca do Sol. São Paulo: Folha de S.Paulo, 6 de janeiro de 1975, p. 28. 
  • Kubrusly, Maurício (1975). Crítica. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 11 de janeiro de 1975. 
  • Rohr, Raquel (2018). O violoncelo de Jaques Morelenbaum: uma investigação acerca da performance do instrumento na música popular brasileira Tese de doutorado ed. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais 
  • Sérgio, Paulo (1980). Aventura da Barca. Rio de Janeiro: Jornal Canja, outubro de 1980. 
  • Soares, Dirceu (1978). Olívia prefere o risco da MPB. São Paulo: Folha de S.Paulo, 5 de dezembro de 1978, p. 36. 
  • Souza, Okky de (1980). Quando nem talento compensa a técnica que ficou faltando. Rio de Janeiro: Revista Somtrês, março de 1980. 

Ligações externas editar