Anexação da Metrópole de Kiev ao Patriarcado de Moscou

A anexação da Metrópole de Quieve ao Patriarcado de Moscou  foi um processo histórico que durou de 1654 a 1659 e finalmente terminou com a adoção, em 1686, da decisão do Patriarca Dionísio IV e do Sínodo do Patriarcado de Constantinopla de transferir a Metrópole de Quieve da Igreja Ortodoxa de Constantinopla para a jurisdição da Igreja Ortodoxa Russa.[1] Em 11 de outubro de 2018, o Sínodo do Patriarcado de Constantinopla cancelou esta decisão.[2] A abolição não é reconhecida pela Igreja Ortodoxa Russa e nem pela Igreja Ortodoxa Ucraniana.[3]

Ficheiro:Київська митрополія станом на 1683.png
Metrópole de Kiev e o Patriarcado de Moscou na véspera da adesão

História editar

 
Metropolita Gedeão (Svyatopolk-Chetvertinski). Retrato do século XVII

Atendendo aos pedidos persistentes do futuro Metropolita de Kiev, Gedeão (Svyatopolk-Chetvertinski), e do Hetman Ivan Samoilovich, o embaixador grego Zakhari Ivanov (Sofir) foi enviado de Moscou a Constantinopla ao predecessor do Patriarca Dionísio, o Patriarca Tiago, a fim de receber um certificado de transferência da Metrópole de Quieve para o Patriarcado de Moscou. O Patriarca Tiago de Constantinopla recusou-se a dar consentimento sem a permissão do vizir otomano.[1] Em 8 de novembro de 1685, o Arcebispo Gedeão de Lutsk foi elevado, pelo Patriarca de Moscou Joaquim, à Sé Metropolitana de Quieve sem a permissão do Patriarca de Constantinopla. Ao mesmo tempo, os embaixadores de Hetman, Ivan Pavlovich Lisitsa e o Diácono Nikita Alekseev, foram para Constantinopla com cartas do Patriarca de Moscou Joaquim e dos Czares Ivã V e Pedro I com um pedido para aprovar a transferência da Metrópole de Quieve para a jurisdição de Moscou e confirmar a nomeação do Metropolita Gedeão.[1] Os embaixadores apelaram ao grande vizir que estava em Adrianópolis, que, esforçando-se para manter boas relações com Moscou, concordou com a transferência do Metropolita de Quieve para a autoridade do Patriarca de Moscou.[1] Ao saber disso, o Patriarca Dositeu II de Jerusalém concordou com esta decisão e contribuiu para o recebimento das cartas de Dionísio IV, que veio a Adrianópolis para confirmar sua eleição como Patriarca pelo vizir.[4]

Em 5 de junho de 1686, o Patriarca Dionísio IV entregou aos embaixadores cartas[5] endereçadas aos Czares, ao Patriarca de Moscou, ao Hetman e ao Metropolita de Quieve, segundo as quais ele transferiu a Metrópole de Quieve para o Patriarcado de Moscou, confirmando antes disso a nomeação do Metropolita Gideão para a Sé Metropolitana de Quieve.[1] E o Diácono Nikita deu a Dionísio 200 moedas de ouro.[carece de fontes?]

As cartas expedidas por Dionísio IV falam da subordinação da Metrópole de Quieve ao Patriarca de Moscou.[6]

Possíveis razões para a adesão editar

De acordo com o historiador e teólogo[7] K. Vetoshnikov,[8] em relatório elaborado em 24 de agosto de 2016 no XXIII Congresso Internacional de Estudos Bizantinos em Belgrado, a Metrópole de Quieve pode ter sido subordinada ao Patriarcado de Moscou devido à distância e às guerras russo-turcas. Este motivo está diretamente indicado no texto da Carta Patriarcal. O texto grego da lei também afirma que a transferência é feita por motivos de economia (gr. Κατ'οἰκονομίαν).[9]

Além disso, uma possível razão para a transferência da Metrópole de Quieve para o Patriarcado de Moscou poderia ser a preservação da Ortodoxia, que estava sob ameaça devido ao desejo das autoridades polonesas de persuadir a população local a se unir com a Igreja Católica Romana.[1][10][11]

Ao mesmo tempo, as razões mais óbvias para a anexação da Metrópole de Quieve à Igreja Ortodoxa Russa estão associadas ao processo histórico objetivo de anexação dos territórios do sul da Rússia do Hetmanato à Moscóvia, que começou em 1654.

Referências editar

  1. a b c d e f «Reunification of the Kiev Metropolitanate With the Russian Church: How Did it Happen and Why. Sergei Kravets». OrthoChristian.Com. Consultado em 23 de março de 2022 
  2. «Константинополь отменил решение о переходе Киевской митрополии к Московскому патриархату». ТАСС. Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  3. «Заявление Священного Синода Русской Православной Церкви в связи с посягательством Константинопольского Патриархата на каноническую территорию Русской Церкви / Официальные документы / Патриархия.ru». Патриархия.ru (em russo). Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  4. Kulchynskyy, Оles; Kul, Ömer (16 de julho de 2019). «Kyiv Metropolia and Moscow Diplomacy: an Ottoman Viewpoint». Scrinium (em inglês) (1): 256–276. ISSN 1817-7530. doi:10.1163/18177565-00151P17. Consultado em 26 de junho de 2021 
  5. Архив Югозападной России, издаваемый Временною коммиссиею для разбора древних актов: высочайше учрежденною при Киевском Военном, Подольском и Волынском генералгубернаторе. Акты, относящиеся к дѣлу о подчинении киевской митрополии московскому патриархату (1620-1694 г.). Часть первая, том В (em russo). [S.l.]: Временная Коммиссия для разработки древних актов. 1872 
  6. «Грамоты Вселенского патриарха и Синода о Киевской митрополии 1686 года — Викитека». ru.wikisource.org. Consultado em 11 de janeiro de 2021 
  7. «Комментарии к документу «Вселенский престол и Украинская Церковь. Говорят тексты» / Православие.Ru». pravoslavie.ru (em russo). Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  8. Vetochnikov, Konstantinos. «La «concession» de la métropole de Kiev au patriarche de Moscou en 1686 : Analyse canonique». LES FRONTIÈRES ET LES LIMITES DU PATRIARCAT DE CONSTANTINOPLE (em inglês). Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  9. «Грамоты Вселенского патриарха и Синода о Киевской митрополии 1686 года/I — Викитека». ru.wikisource.org. Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  10. Tchentsova, Vera. «В. Г. Ченцова, Синодальное решение 1686 г. о Киевской митрополии, in: Древняя Русь. Вопросы медиевистики 2 (68), 2017, с. 89-110» (em inglês). Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  11. Guerini, Cristina. «'Foi uma assembleia de cismáticos. Nada mudou". A Igreja Ortodoxa Ucraniana ligada ao patriarcado de Moscou sobre o Concílio da unificação». www.ihu.unisinos.br. Consultado em 26 de junho de 2021 

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