Adolf Bastian
Philipp Wilhelm Adolf Bastian (Bremen, 26 de junho de 1826 — Port of Spain, hoje Trinidad e Tobago, 2 de fevereiro de 1905) foi um etnólogo alemão, bem como o diretor fundador do Museu de Arte Popular em Berlim. Foi o polímata do século XIX mais lembrado por suas contribuições para o desenvolvimento da Etnografia e o desenvolvimento da Antropologia como uma disciplina. A Psicologia moderna tem com ele uma grande dívida, devido à sua teoria do Elementargedanke, que levou ao desenvolvimento da teoria dos arquétipos por Carl Jung.[1]
Adolf Bastian | |
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Nascimento | Philipp Wilhelm Adolf Bastian 26 de junho de 1826 Bremen |
Morte | 2 de fevereiro de 1905 (78 anos) Port of Spain |
Sepultamento | Südwestkirchhof Stahnsdorf |
Cidadania | Bremen |
Alma mater | |
Ocupação | antropólogo, escritor, psicólogo, professor universitário, explorador |
Distinções |
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Empregador(a) | Universidade Humboldt de Berlim, Museu Etnológico |
Obras destacadas | Zeitschrift für Ethnologie |
Vida
editarBastian nasceu em Bremen, na Confederação Germânica em uma próspera família burguesa alemã de comerciantes. Sua carreira na universidade foi ampla, quase a ponto de ser excêntrico. Estudou Direito na Universidade de Heidelberg Ruprecht Karl, e Biologia, no que é hoje a Universidade Humboldt de Berlim, a Universidade Friedrich Schiller de Jena e a Universidade de Würzburg.[2] Foi nesta última universidade que frequentou aulas de Rudolf Virchow e desenvolveu interesse pelo que era então conhecida como "Etnologia". Finalmente firmou estudos em Medicina e formou-se em Praga em 1850.
Bastian tornou-se médico de navio e começou uma viagem de oito anos que o levou ao redor do mundo.[3] Esta foi a primeira do que seria um quarto de século de viagens fora da Confederação Germânica. Retornou à Confederação em 1859 e escreveu um relato popular de suas viagens, juntamente com um ambicioso trabalho de três volumes intitulado Der Mensch in der Geschichte (O Homem na História), que tornou-se uma de suas obras mais conhecidas.[4]
Em 1861 realizou uma viagem de quatro anos ao Sudeste asiático e seu relato desta viagem, Die Völker des östlichen Asien (O povo do leste da Ásia), compõem seis volumes.[4] Nos oito anos seguintes, Bastian permaneceu no território da Confederação da Alemanha do Norte, onde envolveu-se na criação de várias importantes instituições etnológicas de Berlim.[4] Foi sempre um ávido colecionador, e suas contribuições para o museu real de Berlim, foram tão abundantes, que um segundo museu, o Berliner Gesellschaft für Anthropologie, Ethnologie und Urgeschichte, foi fundado em grande parte como resultado das contribuições de Bastian. Sua coleção de artefatos etnográficos tornou-se uma das maiores do mundo nas décadas que se seguiram. Trabalhou também com Rudolf Virchow para organizar a Sociedade Etnológica de Berlim. Durante este período, foi também chefe da Real Sociedade Geográfica da Alemanha. Entre os que trabalharam com ele no museu estava o jovem Franz Boas, que mais tarde fundou a Escola Americana de Etnologia.[4]
Na década de 1870 Bastian deixou o Império Alemão e começou a viajar extensivamente pela África, bem como pelo Novo Mundo. Morreu em Port of Spain, Trinidad e Tobago durante uma dessas viagens, em 1905.
Trabalhos e ideias
editarBastian é lembrado como um dos pioneiros do conceito de "unidade psíquica da humanidade" - a ideia de que todos os seres humanos compartilham uma estrutura psíquica básica.[5] Esta tornou-se a base de outras formas de estruturalismo do século XX , e influenciou as ideias de Carl Jung do inconsciente coletivo. Argumentou também que o mundo era dividido em diferentes "províncias geográficas" e que cada uma destas províncias passava pelos mesmos estágios de desenvolvimento evolutivo. De acordo com Bastian, as inovações e os traços da cultura não tendem a difundir-se em todas as áreas. Ao contrário, cada província toma a sua forma única, como consequência de seu ambiente. Esta abordagem foi parte de um interesse maior do século XIX, o "método comparativo", tal como praticado pelos antropólogos, como Edward Burnett Tylor.[5]
Bastian considerava-se extremamente científico, é importante notar que ele emergiu da tradição naturalista, que foi inspirada por Johann Gottfried Herder e exemplificada por figuras como Alexander von Humboldt. Para ele, o empirismo significa uma rejeição da filosofia em favor das observações escrupulosas. Como resultado, era extremamente hostil à teoria da evolução de Darwin, porque a transformação física das espécies nunca havia sido empiricamente observada, apesar do fato de que postulou um desenvolvimento evolucionário similar para a civilização humana. Além disso, estava muito mais preocupado com a documentação incomum das civilizações antes que elas desaparecessem (provavelmente como consequência do contato com a civilização ocidental) do que com a aplicação rigorosa da observação científica. Como resultado, alguns têm criticado as suas obras por serem coleções desorganizadas de fatos e não coerentemente estruturadas ou estudos empíricos cuidadosamente pesquisados.[5]
A unidade psíquica da humanidade em maior detalhe
editarAo defender a "unidade psíquica da humanidade", Bastian propôs um projeto simples para o desenvolvimento em longo prazo de uma ciência da cultura humana e da consciência baseada neste conceito. Argumentou que os atos mentais de todas as pessoas em todos os lugares do planeta são produtos dos mecanismos fisiológicos característicos da espécie humana (o que hoje poderíamos chamar de carga genética sobre a organização e o funcionamento do sistema neuroendócrino humano). Cada mente humana herda um complemento específico da espécie "ideias elementares" (Elementargedanken) e, portanto, as mentes de todas as pessoas, independentemente da sua raça ou cultura, funcionam da mesma maneira.[6]
De acordo com Bastian, as contingências da sua localização geográfica e histórica criaram diferentes elaborações locais das "ideias elementares"; estas ele chamou de "ideias populares" (Volkergedanken). Bastian também propôs um "princípio genético" legal pelo qual as sociedades desenvolvem-se ao longo de sua história exibindo desde instituições sócio-culturais simples até tornarem-se cada vez mais complexas na sua organização. Através da acumulação de dados etnográficos, pode-se estudar as leis psicológicas do desenvolvimento mental como elas se manifestam em diversas regiões e sob diferentes condições. Embora se esteja falando com informantes individuais, Bastian defende que o objeto da investigação não é o estudo do indivíduo em si, mas sim das ""ideias populares" ou "mente coletiva" de um povo em particular.[6]
Quanto mais se estuda vários povos, Bastian achava, mais se percebe que as "ideias populares" historicamente condicionadas são de importância secundária em comparação com as "ideias elementares" universais. O indivíduo é como a célula de um organismo, um animal social, cuja mente - suas "ideias populares" - é influenciada pelo seu contexto social, e as "ideias elementares" são o fundamento de onde essas "ideias populares" se desenvolvem. A partir desta perspectiva, o grupo social tem um tipo de espírito de grupo, uma "alma" social (Gesellschaftsseele), no qual a mente individual é incorporada.[6]
Bastian acreditava que as "ideias elementares" são cientificamente reconstruídas a partir das "ideias populares", como várias formas de representações coletivas (Gesellschaftsgedanken).[6]
Notas
- ↑ Campbell, Joseph. The Masks of God: Primitive Mythology, p. 32. Londres: Secker & Warburg: 1960. "A ideia de Jung sobre os arquétipos" é uma das principais teorias, hoje, no campo do nosso tema. É um desenvolvimento da teoria anterior de Adolf Bastian..."
- ↑ Kösener Korps-Listen 1910, 122, 128; 127, 335
- ↑ Andreas Sawall: Atlantis: Das Mysterium von Angkor, ZDF/arte-Sendung vom 14. Juli 2012
- ↑ a b c d Encyclopædia Britannica (1911) entrada para Bastian, Adolf.
- ↑ a b c «1860AD 'Psychic unity of mankind' discussed»
- ↑ a b c d C. Jason Throop, Charles D. Laughlin. «Anthropology of Consciousness». Biogenetics Structuralism
Referências
- Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
- Chisholm, Hugh, ed. (1911). «Bastian, Adolf». Encyclopædia Britannica (em inglês) 11.ª ed. Encyclopædia Britannica, Inc. (atualmente em domínio público)
Fontes e leituras adicionais
editar- Buchheit, Klaus Peter: "Die Verkettung der Dinge. Seu und Diagnose im Schreiben Adolf Bastians" (A concatenação das coisas. Estilo e diagnose métodos nos escritos de Adolf Bastian), Lit Verlag Münster 2005
- Buchheit, Klaus Peter; Klaus Peter Koepping: "Adolf Philipp Wilhelm Bastian", em: Feest/Kohl (Hg.) "Hauptwerke der Ethnologie", Kröner Stuttgart 2001:19-25
- Buchheit, Klaus Peter: "The Concatenation of Minds" (an essay on Bastian's conception of lore), em: Rao/Hutnyk (Hg.) "Celebrating Transgression. Method and Politics in Anthropological Studies of Culture", Berghahn Oxford New York 2006:211-224
- Buchheit, Klaus Peter: The World as Negro and déjà vue (an essay on Adolf Bastian and the self-deconstructing infringements of Buddhism, jargon, and racism as means of intercultural diagnosis), em: Manuela Fischer, Peter Bolz, Susan Kamel (eds.), Adolf Bastian and his universal archive of humanity. A origem da antropologia alemã. Georg Olms Verlag, Hildesheim, Zürich, Nova Iorque, 2007:39-44
- Koepping, Klaus-Peter (1983) Adolf Bastian and the Psychic Unity of Mankind: The Foundations of Anthropology in Nineteenth Century Germany. St. Lucia: University of Queensland Press.
- Lowie, Robert (1937) The History of Ethnological Theory. Holt Rhinehart (contém un capítulo sobre Bastian).
- Tylor, Edward B. (1905) "Professor Adolf Bastian." Man 5:138-143.
Ligações externas
editar- Media relacionados com Adolf Bastian no Wikimedia Commons