Agmate[1][2] (em árabe: أغمات; romaniz.:(A)ghmat; em francês: Ghmate ou Rhmate) foi uma importante cidade berbere do sul de Marrocos durante a Idade Média, que atualmente é um sítio arqueológico conhecido como Juma Agmate (Joumâa Aghmat). Situa-se a cerca de 30 km a sudeste de Marraquexe, a um quilómetro em linha reta do leito do rio Ourika, nas montanhas do Alto Atlas. Atualmente não é mais do que uma aldeia de nome Ghmate, cuja população em 2004 era de 856 habitantes,[3] a qual é sede da comuna rural homónima, da província de al Haouz e da região de Marraquexe-Tensift-Al Haouz.

Agmate
أغمات • Aghmat • Ghmate • Rhmate • Juma AgmateJoumâa Aghmat
Agmate
Túmulo de Almutâmide em Agmate. Almutâmide nasceu em Beja e foi poeta e rei de Sevilha e Córdova. Acabou a sua vida exilado em Agmate, onde em 1970 foi construído um mausoléu para abrigar a sua sepultura.
Localização atual
Agmate está localizado em: Marrocos
Agmate
Localização de Agmate em Marrocos
Coordenadas 31° 25' 21" N 7° 48' 4" O
País Marrocos
Região Marraquexe-Tensift-Al Haouz
Província Al Haouz
Comuna rural Ghmate
Altitude 760 m
Dados históricos
Era Idade Média
Notas
Site www.minculture.gov.ma

De acordo com uma lenda berbere, Agmate era povoada por berberes cristãos quando foi tomada[carece de fontes?] pelo conquistador muçulmano do Norte de África Uqueba ibne Nafi em 683.[4] No entanto, esta história só surgiu quase 700 anos depois daquela data, e muitos historiadores não lhe dão qualquer crédito.[5] Além disso, é diretamente contradita por um dos mais antigos historiadores persas, Baladuri, que relata que Muça ibne Noçáir conquistou o Suz e erigiu uma mesquita em Agmate.[6]

História primitiva editar

Depois da morte de Idris II em 828, Marrocos foi dividido entre os seus filhos. Agmate tornou-se a capital da região do Suz sob o príncipe idríssida Abedalá.[7] Quando se deu a invasão dos almorávidas, vindos do deserto do Saara liderados por Abedalá ibne Iacine, Agmate foi defendida por Lacute ibne Iúçufe, o chefe da tribo dos Magrauas. Lacute foi derrotado e o exército almorávida entrou na cidade a 27 de junho de 1058.[8] Uma das pessoas mais ricas de Agmate era a viúva de Lacute, Zainabe, que casou com com o emir almorávida Abu Becre ibne Omar e colocou a sua considerável riqueza à disposição dele. Depois de Abu Becre ter voltado para o Saara em 1071, Zainabe casou com o seu sucessor Iúçufe ibne Taxufine.[9]

Cerca de 1068-1069, a população de Agmate tinha aumentado consideravelmente e Abu Becre decidiu construir outra capital; fundou então Marraquexe em 1070, o que fez com que Agmate declinasse. Os almorávidas passaram a usá-la como lugar de exílio, nomeadamente dos reis depostos do Alandalus. Entre esses exilados conta-se Almutâmide, o antigo rei de Sevilha e Córdova e célebre poeta natural de Beja. O seu túmulo é local de peregrinação até aos dias de hoje. Agmate foi também o local de exílio onde Abedalá ibne Bologuine, antigo rei de Granada, escreveu as suas memórias.

Nos anos de 1126, 1127 e novamente em 1130, a cidade assistiu a diversas batalhas entre o emir almorávida Ali ibne Iúçufe e o exército almóada comandado por ibne Tumarte e Abde Almumine. Após a derrota generalizada das forças almorávidas por todo o Marrocos e Argélia, Almumine entrou em Agmate sem luta a meio do dia 27 de junho de 1146.[7][8]

Segundo Beaumier escreveu em 1860, a cidade ainda tinha então 5500 habitantes, 1000 dos quais eram judeus.[10] A 18 de novembro de 1950, durante o período colonial do protetorado francês de Marrocos, Agmate foi palco de um dos eventos célebre da luta pela independência: membros do partido nacionalista Istiqlal organizaram uma manifestação diante do túmulo de Almutâmide, a qual foi duramente reprimida pela polícia às ordens Bujane, o caide da tribo local. O incidente acabou por agravar de sobremaneira as tensões entre o poderoso paxá de Marraquexe, Thami El Glaoui, superior hierárquico de Boujane, e o sultão Maomé V, simpatizante da causa nacionalista. O conflito entre El Glaoui e o sultão acabaria por resultar no destronamento de curta duração de Maomé V.[11]

Economia primitiva editar

Albacri, escreveu que no século XI, pouco antes da subida ao poder dos almorávidas, Agmate era uma cidade florescente, onde todos os domingos se matavam 100 bovinos e 1000 carneiros para serem vendidos no soco (mercado) semanal. Os habitantes escolhiam o seu próprio líder. Em rigor existiam duas Agmate: o centro comercial e político era conhecido como Agmate Urica e a 12 km deste situava-se Agmate Ailane, a qual era interdita a forasteiros.[12] O cidade era servida pelo porto de Cuz (Aguz ou, oficialmente, Suira Guedima), na costa atlântica a sul de Safim, que ficava a três dias de viagem, a oeste.

Atualidade editar

Atualmente pouco mais resta da cidade medieval do que as ruínas do hamame e de algumas casas, um trecho da muralha em taipa e pedra que se estendem por uma centena de metros e vestígios de grandes obras hidráulicas. Estas são constituídas por uma grande canal de irrigação ("La grande séquia" ou "La séquia tassoltante"), que dividia a cidade em duas partes, três depósitos de forma quadrada (sarije) e várias galerias subterrâneas (khettara) que atestam o desenvolvimento urbano.[9] Foi também descoberta uma antiga mesquita que apresenta duas particularidades; o mimbar era amovível numa das partes e a parede da quibla foi objeto doutra orientação na outra parte.[necessário esclarecer][carece de fontes?] A prospeção geológica indica a presença de importantes estruturas arqueológicas soterradas.[9]

Em 1970 foi construído em Agmate um mausoléu a Almutâmide, onde este está sepultado com a sua esposa Iîtimad Rmiqia e a filha de ambos. A cúpula do mausoléu está decorada com versos compostos pelo rei poeta.

Notas e referências editar

  1. GEPB 1950s, p. 167.
  2. Silva 2009.
  3. «Recensement général de la population et de l'habitat 2004». www.hcp.ma (em francês). Royaume du Maroc - Haut-Comissariat au Plan. Consultado em 17 de janeiro de 2012 
  4. Lévi-Provençal, Évariste (1954). «Un nouveau récit de la conquête de l'Afrique du Nord». Arabica (em francês) (1): 17-43 
  5. Benabbès, A. Les premiers raids arabes en Numidie byzantine: questions toponymiques. [S.l.: s.n.]  In Briand-Ponsart, Claude (2005). Identités et Cultures dans l'Algérie Antique (em francês). [S.l.]: Publications de l'Université de Rouen et du Havre. ISBN 978-2877753913. Consultado em 17 de janeiro de 2012 
  6. al-Baladhuri (1916). Kitab Futuh al-Buldan (The Origins of the Islamic State) (em inglês). Traduzido por Hitti, Phillip. [S.l.]: Cosimo. 532 páginas. ISBN 978-1616405342. Consultado em 17 de janeiro de 2012 
  7. a b Ibne Abi Zar (1964). Miranda, Ambrosio Huici (trad.), ed. Rawd al-Qirtas (em espanhol). Valência: [s.n.] 
  8. a b Ibne Idari (1312). Al-Bayan al-Mughrib. [S.l.: s.n.]  Traduzido e anotado em castelhano por Huici Miranda, Ambrosio (1963). (em espanhol). Valência: [s.n.]  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  9. a b c «Sites Islamiques - Aghmat et Mausolée d'Al Mouâtamid Ibn Abbad». www.minculture.gov.ma (em francês). Ministério da Cultura de Marrocos. Consultado em 17 de janeiro de 2012. Cópia arquivada em 17 de janeiro de 2012 
  10. Beaumier, A (1860). Notas da tradução francesa de 'Rawd al-Qirtas» (em francês). Paris: [s.n.] 
  11. El Glaoui, Abdessadeq (2004). Le Ralliement. Le Glaoui, Mon Père (em francês). Casablanca: Editions Marsam. pp. 157–160; 393. ISBN 978-9981149793. Consultado em 17 de janeiro de 2012 
  12. Albacri (século XI). Kitab al-Masalik wa'l-Mamalik. [S.l.: s.n.]  Traduzido em francês por Slane, M., Paris

Bibliografia editar

  • Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira Vol. XXXVIII. Lisboa: Editorial Enciclopédia. 1950s 
  • Silva, Alberto da Costa (2009). «9 - Gana». A Enxada e a Lança - A África Antes dos Portugueses. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira Participações S.A. ISBN 978-85-209-3947-5 

Ligações externas editar

 
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