Ajuste pós-glacial

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O ajuste pós-glacial (ou ajuste isostático) é a elevação das massas terrestres que tinham sido pressionadas pelo enorme peso da calotas glaciares durante a última glaciação, mediante um processo conhecido como depressão isostática. Afeta o norte da Europa (Fino-Escandinávia), Sibéria, Canadá e a região dos Grandes Lagos na América do Norte.

Modelo de ajuste pós-glacial: as zonas em cor vermelha estão em elevação devido à eliminação das camadas de gelo, enquanto as zonas em cor azul estão a baixar devido ao preenchimento das bacias oceânicas, uma vez que as camadas de gelo se fundem.

Recentemente, o termo "ajuste pós-glacial" (post-glacial rebound) tem vindo a ser substituído por "ajuste isostático glacial" (glacial isostatic adjustment), em reconhecimento da resposta da Terra à carga glacial, que pode funcionar nos dois sentidos e não apenas na subida, e também movimentos horizontais da crosta,[1][2] mudanças no nível do mar,[3] no campo gravítico terrestre,[4] na sismologia e ocorrência de sismos[5] e alterações no movimento de rotação do planeta.[6]

Introdução editar

Ao finalizar a última glaciação há cerca de 11000 anos, a maioria do norte da Europa e da América do Norte estava coberta de camadas de gelo de até 3 km de espessura. O enorme peso deste gelo fez como que a crosta terrestre se afundasse no manto. Ao finalizar a glaciação, quando os glaciares retrocederam, a eliminação deste peso motivou uma rápida elevação da crosta devido ao ajuste aerostático do material da crosta. Devido à extrema viscosidade do manto, são necessários muitos milhares de anos para que a Terra alcance um equilíbrio hidrostático.

Estudos demonstraram que a elevação teve lugar em duas fases distintas. A elevação inicial foi rápida, a cerca de 7,5 cm/ano. Esta fase durou uns dois mil anos, e desenvolveu-se à medida que o gelo desaparecia. Uma vez completada a deglaciação, o ritmo abrandou para 2,5 cm/ano, com uma redução exponencial desde então. Hoje, o ritmo de elevação é de aproximadamente 1 cm/ano e as investigações sugerem que o ajuste durará uns dez mil anos mais. A elevação total desde o final da idade do gelo será de uns 400 m.

Efeitos editar

O ajuste glaciar causou muitas mudanças significativas nas linhas costeiras e nas paisagens durante os últimos milhares de anos, e os seus efeitos ainda são significativos. Na Suécia, o lago Malar fez parte do mar Báltico, mas a elevação do terreno acabou por separá-lo e convertê-lo num lago de água doce no século XII. As conchas de animais marinhos encontradas em sedimentos do lago Ontário indicam um evento similar em tempos pré-históricos. Noutros portos nórdicos, como Tornio ou Pori, foi preciso modificar a localização do porto várias vezes ao longo dos últimos séculos.

Na Grã-Bretanha, a glaciação afetou a Escócia mas não o sul de Inglaterra, e o ajuste pós-glacial do norte de Grã-Bretanha causa um afundamento compensatório da parte meridional da ilha. Istlo contempla um risco maior de inundações, especialmente nas zonas que rodeiam o curso inferior do rio Tâmisa. Junto com o aumento do nível do mar causado pelo aquecimento global, este afundamento pós-glacial do sul da Inglaterra poderia comprometer a efetividade da Barreira do Tâmisa, a defensa anti-inundações mais importante de Londres, depois de 2030.

Os Grandes Lagos da América do Norte ficam aproximadamente no limite entre o terreno que se eleva e o que se afunda. O lago Superior fez parte no passado de um lago muito maior, juntamente com o lago Michigan e o lago Huron, mas o ajuste pós-glacial provocou a separação dos três lagos há cerca de 2100 anos. Presentemente, o nível do água sobe nas margens meridionais dos lagos e baixa nas setentrionais.

Na Suécia, podem-se ver alguns dos efeitos mais destacados na ilha de Öland que tem pouco relevo devido à presença da muito plana Stora Alvaret. A terra que se eleva fez com que a localidade da Idade do Ferro ficasse mais longe do mar Báltico, de modo que hoje em dia fica bastante longe da costa.

Em geral, o ajuste pós-glacial tenderia a tornar a Terra mais esférica ao longo do tempo. Mas este efeito foi invertido por outros fatores, como movimentos de grande magnitude de água oceânica causados por fenómenos como El Niño e outros similares.

História da exploração editar

Antes do século XVIII, na Suécia pensava-se que o nível do mar estava a baixar. Seguindo a iniciativa de Anders Celsius, fez-se uma série de marcas nas rochas de diferentes lugares da costa sueca. Em 1765 concluiu-se que não era o nível do mar que baixava, mas sim o terreno que se elevava de maneira desigual. Em 1865, Thomas Jamieson propôs a teoria de que a elevação do terreno está relacionada com a idade glacial que se tinha descoberto em 1837. A teoria foi aceite na sequência das investigações de Gerard de Geer sobre as antigas linhas de costa da Escandinávia, publicadas em 1890.

Estado jurídico editar

Em áreas onde a elevação do terreno é visível, há que definir os limites exatos das propriedades. Na Finlândia, o novo terreno pertence legalmente ao proprietário da zona aquática e não aos proprietários das zonas de terra.

Arqueologia editar

Devido ao ajuste pós-glacial, fazem-se descobertas arqueológicas quando são expostos materiais antigos, como o de um animal marinho em Vermont, nos Estados Unidos, descoberto em 1849.[7]

Ligações externas editar

Referências

  1. Johansson, J.M.; et al. (2002). «Continuous GPS measurements of postglacial adjustment in Fennoscandia. 1. Geodetic results». Journal of Geophysical Research. 107: 2157. Bibcode:2002JGRB..107.2157J. doi:10.1029/2001JB000400 
  2. Sella, G.F.; Stein, S., Dixon, T.H., Craymer, M., James, T.S., Mazzotti, S., Dokka, R.K. (2007). «Observation of glacial isostatic adjustment in "stable" North America with GPS». Geophysical Research Letters. 34 (2): L02306. Bibcode:2007GeoRL..3402306S. doi:10.1029/2006GL027081 
  3. Peltier, W.R. (1998). «Postglacial variations in the level of the sea: implications for climate dynamics and solid-earth geophysics». Reviews of Geophysics. 36 (4): 603–689. Bibcode:1998RvGeo..36..603P. doi:10.1029/98RG02638 
  4. Mitrovica, J.X.; W.R. Peltier (1993). «Present-day secular variations in zonal harmonics of the Earth's geopotential». Journal of Geophysical Research. 98: 4509–4526. Bibcode:1993JGR....98.4509M. doi:10.1029/92JB02700 
  5. Wu, P.; P. Johnston (2000). «Can deglaciation trigger earthquakes in N. America?». Geophysical Research Letters. 27 (9): 1323–1326. Bibcode:2000GeoRL..27.1323W. doi:10.1029/1999GL011070 
  6. Wu, P.; W.R.Peltier (1984). «Pleistocene deglaciation and the earth's rotation: a new analysis». Geophysical Journal of the Royal Astronomical Society. 76: 753–792. doi:10.1111/j.1365-246X.1984.tb01920.x 
  7. «Vermont's Mystery Monster». Consultado em 19 de junho de 2014. Arquivado do original em 7 de outubro de 2014