Amaryllis belladonna

espécie de planta
 Nota: Se procura a planta tóxica conhecida como beladona, veja Atropa belladonna.

Amaryllis belladonna L., comummente conhecida como amarílis,[1] é uma planta perene, bolbosa, pertencente à família das amarilidáceas e ao tipo fisionómico dos geófitos.[2] É nativa do Cabo Ocidental, África do Sul,[3] distinguindo-se pelas vistosas flores atrombetadas que lhe aparecem sazonalmente, logo após as primeiras chuvas depois da estiagem e antes das folhas.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaAmaryllis belladonna
beladona-falsa, amarílis

Classificação científica
Reino: Plantae
Sub-reino: Tracheobionta
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Subclasse: Liliidae
Ordem: Asparagales
Família: Amaryllidaceae
Tribo: Amaryllideae
Género: Amaryllis
Espécie: A. belladona
Nome binomial
Amaryllis belladonna
L.
Sinónimos
  • Amaryllis blanda Ker Gawl.
  • Amaryllis pallida Delile
  • Amaryllis pudica Ker Gawl.
  • Belladonna blanda (Ker Gawl.) Sweet
  • Belladonna pallida (Delile) Sweet
  • Belladonna pudica (Ker Gawl.) Sweet
e muitos outros.
Amarílis no início da floração (Parque Sinkyone Wilderness State, California)
Flores de amarílis.

Introduzida na Europa no século XVIII, a planta é cultivada em regiões livres de geadas intensas para fins ornamentais, geralmente em bermas de caminhos e estradas e em taludes. Também é utilizada como planta envasada para decoração de interiores.

Apresenta fortes semelhanças com diversas espécies do género Hippeastrum, da América tropical, cujas flores são comercializadas sob o nome comum de amarílis.

Nomes comuns editar

Além de «amarílis», esta espécie dá ainda pelos seguintes nomes comuns: beladona-falsa[4], beladona-bastarda[5] e amarílide.[6]

Descrição editar

A planta desenvolve-se a partir de um bolbo arredondado, semelhante a uma cebola, de 5 a 10 cm de diâmetro, revestido por escamas acastanhadas. O bolbo instala-se próximo da superfície do solo e apresenta taxa de crescimento moderada, mantendo-se activo durante múltiplos anos. O bolbo permanece em dormência durante o verão, perdendo as folhas e escapos florais logo que se desenvolvem condições de secura no solo. O bolbo é tóxico quando ingerido por humanos devido à presença de diversos alcalóides, entre os quais licorina, o qual afecta o coração, pelo que se os bolbos forem ingeridos em quantidade podem ser fatais.[7]

As folhas são simples, de coloração verde a verde-escuro, baças, lineares a sublanceoladas, paralelinervadas, com 30 a 50 cm de comprimento e 2 a 3 cm de largura, com desenvolvimento basípeto, agrupadas em duas filas opostas. As folhas surgem no final do outono, após o fim da estiagem, e secam no final da primavera, o que marca a entrada em dormência do bolbo. O bolbo permanece em dormência até às primeiras chuvas, quebrando a latência com a emissão do escapo floral, o que precede em algumas semanas o aparecimento das folhas.

As flores surgem numa inflorescência umbeliforme instalada sobre um escapo floral com até 60 cm de altura a partir do solo, de consistência herbácea, oco, liso e de cor castanho-avermelhado brilhante. Cada inflorescência pode conter até 9-12 flores, agrupadas em trímeros rodeados por brácteas, e tende a orientar-se na direcção em que recebe mais radiação solar.

As flores têm formato de trombeta, com até 10 cm de comprimento e corola com 8 cm de diâmetro, exibindo uma alargada paleta de colorações que vai desde o rosa, o branco e o vermelho até ao lilás ou ao alaranjado. Embora a maioria das flores apresente cores pálidas, inicialmente tendendo para o rosa-claro, escurecem para o rosa-escuro ou vermelho com o envelhecimento. Existem cultivares com coloração floral mais acentuada, incluindo tons de lilás e de alaranjado. A flor emite um odor agradável, mais intenso ao anoitecer. As flores são hermafroditas, com os 6 estames e estilete fortemente encurvados para cima.

O fruto é uma cápsula loculicida, ligeiramente carnosa, com sementes aplanadas, de coloração castanho-escura, sem asa.

O género foi considerado monotípico, tendo como única espécie a A. belladonna, até ser descrita a a espécie Amaryllis paradisicola[8]

Cultivo editar

A forma mais comum de cultivo é através do transplante de bolbos, o que deve ser feito na primavera, quando estes iniciam a sua fase de dormência. O plantio é feito em covetas estreitas e profundas para facilitar o enraizamento. O solo ideal para o crescimento desta planta é uma mistura de terra de jardim e solo mineralizado.

A cultura não necessita de quaisquer cuidados, podendo manter-se indefinidamente sem qualquer intervenção humana. Contudo, em regiões sujeitas a geadas, há que ter em atenção a sensibilidade das gemas dos bolbos à congelação, pois se esta danificar a gema o bolbo degenera e morre. Nessas regiões, para evitar os danos pelo frio, os bolbos devem ser recobertos com palhas, manta morta ou detritos vegetais.

A planta é resistente à secura, permanecendo dormente atá a humidade no solo permitir o seu desenvolvimento. Por essa razão apenas necessita de rega em situações de secura extrema ou quando ocorram secas outonais ou invernais após chuvas que tenham quebrado a dormência.

As necessidades de luz variam segundo a época do ano, mas a espécie prefere locais bem expostos ao sol, preferencialmente em taludes voltados para o equador ou em zonas bem drenadas e despidas de vegetação de grande porte que possa causar ensombramento. Apesar disso tolera alguma sombra, embora perca vigor e reduza a floração.

Toxicidade editar

Todas as partes da planta contêm alcalóides tóxicos, sendo que a maior concentração ocorre no bolbo e nas sementes. O principal alcalóide presente é a amelina, mas também estão presentes em concentração significativa os alcalóides licorina (o principal tóxico para os humanos), caranino, acetilcaranino e undulatin. Algumas fontes apontam a licorina como o principal alcalóide. Poderão existir diferenças regionais e sazonais na concentração relativa dos diversos alcalóides. As espécies do género Hippeastrum contêm alcalóides similares.

Dada a sua toxicidade, extractos da planta foram utilizados como veneno, incluindo para envenenar flechas e outras armas perfurantes.

Em humanos, os sintomas de envenenamento incluem náuseas, vómitos, tonturas e sudorese. Também pode ocorrer diarreia e insuficiência renal. Na intoxicação grave, a morte ocorre por insuficiência respiratória. Os alcalóides presentes em A. belladonna são citotóxicos, razão pela qual são classificados como «muito tóxicas» (classe de toxicidade Ib). Já foi documentada a morte de crianças africanas após o consumo de bolbos. O LD50 para ratos é de 5 mg/kg de peso corporal quando em aplicação intraperitoneal. Foi demonstrado que a ingestão de 200 g de material fresco do bolbo é letal para ovelhas. Para pessoas uma dose de 2-3 g de material fresco do bolbo pode ser mortal.[9]

Para cães, o LD50 da licorina pura é de 41 mg/kg de peso corporal, sendo o alcalóide citotóxico, com efeito emético e diurético.

A amelina tem uma eficácia analgésica comparável à morfina, mas o alcalóide é considerado demasiado tóxico para utilização em medicina.

A acetilcaranina estimula a útero e tem actividade anti-leucémica. Estudos em animais demonstraram que a caranina causa paralisia respiratória e morte.

Em caso de intoxicação, como medida imediata de primeiros socorros e terapia clínica deve ser induzido o vómito, a que se deve seguir a a administração de carvão activado e sulfato de sódio, acompanhado de abundante ingestão de líquidos, especialmente chá. Ao mesmo tempo deve ser realizada a profilaxia necessária para evitar a entrada em choque.

No tratamento clínico é usada a lavagem gástrica, possivelmente recorrendo a uma solução de permanganato de potássio. Além disso, é aconselhável a administração de um electrólito de reanimação e o tratamento da acidose com bicarbonato de sódio. Além disso, é necessário o controlo da função renal. Caso ocorram cólicas pode ser administrado um diazepam. Em caso de intoxicação grave é necessária a intubação e a ventilação mecânica.

Sinonímia editar

A espécie, dada a variabilidade da coloração das suas flores, foi repetidamente descrita, resultando numa extensa sinonímia:[10]

  • Amaryllis blanda Ker Gawl.
  • Amaryllis longipetala Lem.
  • Amaryllis obliqua L.f. ex Savage
  • Amaryllis pallida Delile
  • Amaryllis pudica Ker Gawl.
  • Amaryllis regalis Salisb.
  • Amaryllis rosea Lam.
  • Belladonna blanda (Ker Gawl.) Sweet
  • Belladonna pallida (Delile) Sweet
  • Belladonna pudica (Ker Gawl.) Sweet
  • Belladonna purpurascens Sweet
  • Brunsvigia blanda (Ker Gawl.) L.S.Hannibal
  • Brunsvigia major Traub
  • Brunsvigia rosea (Lam.) L.S.Hannibal
  • Brunsvigia rosea var. blanda (Ker Gawl.) Traub
  • Brunsvigia rosea var. elata L.S.Hannibal
  • Brunsvigia rosea var. longipetala (Lem.) Traub
  • Brunsvigia rosea var. major L.S.Hannibal
  • Brunsvigia rosea var. minor L.S.Hannibal
  • Brunsvigia rosea var. pallida (Delile) L.S.Hannibal
  • Brunsvigia rosea var. pudica (Ker Gawl.) L.S.Hannibal
  • Callicore rosea (Lam.) Link
  • Coburgia belladonna (L.) Herb. ex Sims
  • Coburgia blanda (Ker Gawl.) Herb. ex Sims
  • Coburgia pallida (Delile) Herb.
  • Coburgia pudica (Ker Gawl.) Herb. ex Sims
  • Coburgia rosea (Lam.) Gouws
  • Imhofia rosea (Lam.) Salisb.
  • Leopoldia belladonna (L.) M.Roem.
  • Zephyranthes pudica (Ker Gawl.) D.Dietr.

A autoridade científica da espécie é L., tendo sido publicada em Sp. Pl.: 293. 175.[11]

Portugal editar

Trata-se de uma espécie presente no território português, nomeadamente no Arquipélago dos Açores e no Arquipélago da Madeira.

Em termos de naturalidade é introduzida nas duas regiões atrás referidas.

Protecção editar

Não se encontra protegida por legislação portuguesa ou da Comunidade Europeia.

Propriedades medicinais editar

Vários compostos foram encontrados em bulbos de A. belladonna, incluindo, 1,4-dihidroxi-3-metoxi powellan, que é um alcalóide. Observou-se que os alcalóides deste bulbo vegetal têm propriedades para combater a malária causada por P. falciparum.

Notas

  1. Infopédia. «amarílis | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  2. «Jardim Botânico UTAD | Espécie Amaryllis belladonna». Jardim Botânico UTAD. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  3. «Amaryllis belladonna». Real Jardín Botánico: Proyecto Anthos. Consultado em 24 de novembro de 2009 
  4. Infopédia. «beladona-falsa | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  5. Infopédia. «beladona-bastarda | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  6. Infopédia. «amarílide | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». infopedia.pt - Porto Editora. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  7. Plantes toxiques : Toxicité des Amaryllidaceae. Consultado em 30 de janeiro de 2013.
  8. Descrita em 1998 pela botânica Dierdre Snijman.
  9. Amaryllidaceae. Toxicité des Amaryllidaceae. Consultado a 10 de janeiro de 2009.
  10. Sinónimos no Catalogue of life.
  11. Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. 29 de setembro de 2014 <http://www.tropicos.org>

Bibliografia editar

Ligações externas editar

 
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