Antônio Dexheimer

Antônio Carlos Dexheimer Pereira da Silva (Erechim, 17 de abril de 1944), é um médico e político brasileiro; formado pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, mestrado e residência pela USP/Hospital das Clínicas em São Paulo; ex-presidente do clube de futebol Ypiranga de Erechim (1980); eleito deputado estadual nas eleições de 1986 e 1990, prefeito de Erechim (1993-1996), diretor-presidente da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (1997-1998); atua como cirurgião vascular e médico pericial do INSS, em consultório próprio, na cidade de Erechim; presta serviço através do sistema público de saúde como cirurgião nos hospitais Santa Terezinha e Caridade, ambos na mesma localidade.

Antônio Dexheimer
Nascimento 17 de abril de 1944 (80 anos)
Erechim
Cidadania Brasil
Ocupação Médico, Político

Carreira médica editar

Em 1964, Antônio Dexheimer é aprovado na UFPEL (Universidade Federal de Pelotas), logo no primeiro ano de funcionamento do curso de medicina.[1]

Após 2 anos em Pelotas, consegue aprovação no vestibular da UFCS (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), e assim volta a morar em Porto Alegre.

Forma-se como médico no ano de 1970. Então com 24 anos, ele já tinha optado pela carreira de cirurgião e aguardava encerrar o curso para iniciar sua residência. Posteriormente, durante 2 anos, adiou planos de continuar sua formação e trabalhou nos hospitais Ernesto Dorneles, Hospital das Clinicas e Hospital Santo Antônio.

Em 1973, Dexheimer foi aprovado no mestrado/residência da USP/Hospital das Clínicas e se mudou para São Paulo. Neste período de estudos, teve contato com a aprimorada técnica de cirurgia vascular. Ramo da medicina que tomaria como atividade para o decorrer da carreira.

Em 1975, assumiu como médico cirurgião do Hospital São Roque, localizado em Seara, Estado de Santa Catarina. Foi em Seara que ganhou o título de “milagreiro”. Um jovem funcionário do frigorífico local tropeçou e caiu com a faca de abrir frango cravada nas artérias do entorno do coração. No hospital não havia equipamento que pudesse separar o conjunto ósseo do peito para que o médico efetuasse a cirurgia. Sem alternativa viável, solicitou que o frigorífico trouxesse o trabalhador mais forte, o homem encarregado de abater bois a machado. O operário, a força de braço, abriu o peito do jovem, pelo tempo que Antônio Dexheimer retirou a faca e restaurou o dano. O jovem viveu e se iniciou uma romaria de curiosos em torno do consultório para conhecer o médico .[2]

Convidado pelo diretor do Hospital de Caridade Tulio Masquinham, volta a Erechim e assume como cirurgião no ano de 1976. Desde então se dedica a medicina nos hospitais da cidade – Caridade[3] e Santa Terezinha[4] - e também atende em seu consultório particular.

Presidente do Ypiranga editar

Durante o ano de 1980, foi presidente do Ypiranga Futebol Clube de Erechim, em fase de reconstrução das finanças do clube que, no final dos anos 70, deixou de disputar competições profissionais e se manteve atuante em ligas amadores locais.[5]

Carreira política editar

Exerceu mandatos como dirigente partidário, deputado estadual, prefeito, diretor-presidente de fundação de saúde e presidente da AMAU - associação de municípios do Alto Uruguai (1993-1995).[6]

Deputado estadual (1987-1990) editar

Ainda que desde 1978 estivesse filiado ao MDB, partido de oposição à ditadura militar, Antônio Dexheimer relutou em se aventurar em pleitos políticos. A partir de 1981 assumiu a coordenação política do PMDB no Alto Uruguai. No ano seguinte, nesta região, comandou a campanha derrotada do então Senador Pedro Simon ao governo do Estado do Río Grande do Sul.

Por insistência de Pedro Simon, novamente candidato a governador nas eleições de 1986, Dexheimer lançou candidatura a deputado estadual. Foi eleito com 26411 votos, sendo o deputado estadual melhor votado de Erechim e região.[7]

Assumiu o mandato 31/01/1987 e logo recebeu indicação para vice-liderança do governo Simon na Assembleia Legislativa.[8] Destacou-se como habilidoso articulador político, com trânsito fácil em sua bancada e também junto de parlamentares opositores.

Suas pautas preferenciais eram a saúde pública e o agronegócio, com destaque à veementemente defesa do produtor de trigo.[9]

Na constituinte estadual de 1989, Dexheimer foi escolhido como presidente da Comissão de Defesa do Cidadão, Saúde e do Meio Ambiente.[10]

Suas principais contribuições acolhidas naquele processo constituinte foram a criação do instituto geral de perícias (IGP) e do Detran/RS, em cisão à policia civil; contributos à normatização ambiental e, sobretudo, no procedimento de legislação constitucional quanto à regionalização do direito à saúde.[11]

Deputado estadual (1991-1992) editar

Reeleito deputado estadual em 1990, com 14864 votos,  consolida-se novamente como candidato ao parlamento estadual mais votado em Erechim e região.[12]

Assumiu o mandato em 31/01/1991, porém seu período de legislatura não perdurou até o fim, por decorrência do acolhimento de ação judicial de Antônio Lorenzi, primeiro suplente de deputado estadual do PMDB, que contestava votos de urna manual não computados a ele.

Dexheimer deixa o mandato em 05/05/1992, e fora então declarado primeiro suplente da bancada do PMDB.[13]

Prefeito de Erechim (1993-1996) editar

Eleito na eleição municipal de 1992,[9] em pleito que derrotou Narciso Paludo (PFL) e Waldomiro Fioravante (PT), obtidos 50,13%, Antônio Dexheimer destronou sequência de 3 mandatos da coalizão política[14] que governava Erechim.[15]

Dexheimer teve governo marcado principalmente pela realização social, administração fiscal responsável e melhorias de infraestrutura urbana e rural.

O principal legado do mandato de prefeito fora a municipalização, através de compra, em 1994,[16] da fundação hospitalar Santa Terezinha.[17] Antes hospital privado, a casa de saúde tornou-se referência em atendimento gratuito para toda região do Alto Uruguai.

Outras de suas principais realizações passam pela construção da Escola Municipal Caras Pintadas,[18] a criação da feira do produtor rural de Erechim, reforma e revitalização do prédio histórico do Castelinho,[19] a criação do festival gaúcho de teatro amador,[20] o destacado projeto "Mil Estrelhas Brilham em Erechim" para ornamentação do Natal de 1994, construção da usina municipal de asfalto, melhorias urbanas de infraestrutura, investimento em saúde que fez Erechim alcançar a meta de ter unidades básicas em todos os bairros e, junto à Corsan, a obra da barragem que propiciou melhor abastecimento de água à cidade.[9]

Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (1997-1998) editar

Entre 1997 e 1998, foi diretor-presidente da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS), na gestão do secretário de saúde Germano Bonow (PFL), no governo de Antônio Britto Filho (PMDB).

Em referência ao ano de 1997, a gestão de Antônio Dexheimer bateu o recorde desta instituição de pesquisa na produção de medicamentos, com 117 milhões de unidades produzidas.

Em 1998, a FEPPS inicia a produção do AZT, com a fabricação de 2 milhões de caixas do medicamento referência no tratamento da epidemia de AIDS.[21]

Absolvição no Caso Daudt editar

O chamado Caso Daudt trata do homicídio do jornalista e deputado estadual José Antônio Daudt. Assassinado a tiros, em 05/06/1988, na cidade de Porto Alegre/RS.[22]

Logo nas primeiras horas, após confirmado o falecimento do deputado Daudt, amigos levaram à política civil suspeita de que o autor do homicídio poderia ser Antônio Dexheimer - colega de parlamento e também amigo de Daudt. O motivo apontado seria suposto ciúmes de sua ex-esposa com Daudt. O casamento se encerrara recente, havia 3 meses.[23]

Durante 30 dias de investigações policiais, 4 suspeitos foram investigados: um executivo do extinto Banco Meridional, um procurador do Estado do Rio Grande do Sul, um motorista do jornal Zero Hora e o próprio Antônio Dexheimer. Depois da  fase de inquérito, um tenente da Brigada Militar também foi alvo de investigações.[24]

Todos foram descartados e Dexheimer indiciado em 05/07/1988. Posteriormente, em 15/07/1988, é denunciado pelo Ministério Público e levado a julgamento ao pleno do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em razão do foro privilegiado por sua condição de deputado.[25]

Enquanto a acusação sustentava que o crime ocorrera por ciúmes de Dexheimer com ex-esposa e Daudt, acompanhada de fatos como Dexheimer ser exímio atirador e praticante de caça; ter estado fora de casa próximo a hora que Daudt foi baleado; ter em sua posse veículo Monza assemelhado ao do autor dos disparos e armas de calibre idêntico as do crime (Espingarda Calibre 12).[23] A defesa, patrocinada pelo escritório do afamado advogado criminalista Oswaldo de Lia Pires,[26] pontuava sobre a condição de amizade de réu e vítima, sabida por todos; a orientação homossexual de Daudt; o álibi da cronometragem do tempo de chegada em casa se dar anterior a dos disparos que vitimaram Daudt; e a carência de provas técnicas que ligassem efetivamente Dexheimer ao crime.[23]

No dia 23/08/1990, Antônio Dexheimer foi absolvido, pelo pleno do TJ/RS, por larga maioria de 14 votos pela absolvição (5 por não reconhecimento da autoria e 9 votos por falta de prova) e 7 votos que pediriam a condenação.[23]

Nas palavras do paradigmático voto do eminente Desembargador Alaor Terra:

"Assim, resumidamente, embora reconheça que há elementos indicativos indiciários, esbarro na aceitação desses elementos naquelas duas dificuldades: a impossibilidade, para mim, de ter sido o réu quem esteve naquele auto, pelos argumentos já expostos, e porque o réu tem ainda aquele álibi, para mim, provável, se achar exagerado dizer provável,  possível. Mas também as provas, os elementos, melhor dito, de que se vale, de que se dispõe a acusação, estão no mero grau de possibilidade, também. Então, na mesma categoria, anulam-se." [27]

O Caso Daudt é um crime refletido em livros e vários trabalhos acadêmicos de todo tipo. Comumente, apontado como exemplo de sensacionalismo jornalístico[28] pela postura ativista[29] que determinados meios de comunicação e profissionais de imprensa tiveram frente ao crime e fatos do entorno.[30]

Em 05/06/2008,[31] o Caso Daudt prescreveu, tornando-se notório exemplo de impunidade, atestada a incapacidade das instituições do Estado do Rio Grande do Sul em encontrar o autor de crime de tamanha comoção social.

Referências

  1. PAZ, Wálmaro (17 de setembro de 2009). «Pertenci à geração da mordaça». Assembleia legislativa do Rio Grande do Sul. Consultado em 12 de abril de 2024 
  2. COIMBRA, David (1992). Dexheimer: 800 noites de junho. Porto Alegre: Artes e Ofício 
  3. Hospital de Caridade Erechim, Hospital de Caridade Erechim. Site do Hospital de Caridade de Erechim https://www.hce.com.br/. Consultado em 12 de abril de 2024  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  4. FINARDI, Rodrigo (12 de março de 2024). «A importância do Hospital Santa Terezinha em números». Bom Dia. Consultado em 12 de abril de 2024 
  5. Site do Ypiranga de Erechim, Site do Ypiranga de Erechim. «História do Ypiranga de Erechim». Site do Ypiranga de Erechim. Consultado em 12 de abril de 2024 
  6. Site da AMAU, Site da AMAU. «Galeria dos ex-presidentes da Associação dos Municípios do Alto Uruguai». Consultado em 12 de abril de 2024 
  7. TRE RS, TRE RS. «Eleições gerais de 1986» (PDF). Site do TRE RS. Consultado em 12 de abril de 2024 
  8. KONRAD, Alceno Diorge (2013). Política e Poder Legislativo Republicano. In: Livro Assembleia e suas legislaturas Débora Dornsbach Soares, Juliane Erpen (org.). Porto Alegre: Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. p. 196 
  9. a b c LOCH, Salus (2023). Erechim 105 anos: um bom lugar para investir, viver e ser feliz (PDF). Erechim: Prefeitura Municipal de Erechim. p. 152 
  10. AXT, Gunter (1999). A Constituinte de 1989: história da Constituição dos gaúchos. Porto Alegre: Assembleia Legislativa do Estado do RS. p. 39 
  11. «Dexheimer e o retorno de um líder à política de Erechim». RS Agora. 20 de outubro de 2023. Consultado em 12 de abril de 2024 
  12. Site do TRE RS, Site do TRE RS. «Eleições gerais 1990». Site do TRE RS. Consultado em 12 de abril de 2024 
  13. Memorial Assembleia Legislativa RS, Memorial Assembleia Legislativa RS. «48 legislatura». Consultado em 12 de abril de 2024 
  14. Prefeitura Municipal de Erechim, Prefeitura Municipal de Erechim. «Intendentes e Prefeitos». Site da Prefeitura de Erechim. Consultado em 16 de abril de 2024 
  15. Site do TRE RS, Site do TRE RS. «Eleições muncipais de 1992». Site do TRE RS. Consultado em 12 de abril de 2024 
  16. Prefeitura Municipal de Erechim, Prefeitura Municipal de Erechim (3 de dezembro de 2013). «Hospital Santa Terezinha comemora seus 86 anos nesta quarta-feira». Consultado em 12 de abril de 2024 
  17. LAZZAROTTO, Egídio (26 de fevereiro de 2024). «Santa Terezinha ultrapassa o São Vicente e torna-se o maior hospital do interior do estado em entrega de serviços pelo SUS». Jornal Boa Vista. Consultado em 12 de abril de 2024 
  18. Prefeitura Municipal de Erechiim, Prefeitura Municipal de Erechim. «E.M.E.F Caras Pintadas». Consultado em 12 de abril de 2024 
  19. FINARDI, Rodrigo (22 de novembro de 2023). «Associação dos Amigos do Castelinho: solução para salvar o patrimônio histórico». Jornal Bom Dia. Consultado em 12 de abril de 2024 
  20. Prefeitura de Erechim, Prefeitura de Erechim (27 de outubro de 2008). Site da Prefeitura de Erechim https://www.pmerechim.rs.gov.br/noticia/1859/festival-gacho-de-teatro-amador-inicia-na-quarta-feira. Consultado em 16 de abril de 2024  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  21. Assembleia Legislativa RS, Assembleia Legislativa RS (3 de dezembro de 1997). «Notas Taquigráficas - Sessão ordinária 94». Site da assembleia legislativa RS 
  22. Jornal Zero Hora (2 de junho de 2018). «Áudios, datas e números: caso Daudt completa 30 anos sem solução». Zero Hora. Consultado em 12 de abril de 2024 
  23. a b c d CHAVES, De Aguiar (1990). A morte a procura de um autor. Porto Alegre: Sulina. pp. 23–76 
  24. p. 42 (3 de junho de 2008). «Especial Caso Daudt». Zero Hora. Zero Hora 
  25. ERPEN, Décio Antônio (Agosto de 1990). «Relatório do Desembargador Relator Décio Antônio Érpen, Julgamento do Caso Daudt». Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Revista de jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (141): 73 
  26. Correio do Povo (26 de dezembro de 2010). «Morre advogado Lia Pires em Porto Alegre». Correio do Povo. Consultado em 12 de abril de 2024 
  27. TERRA, Alaor (Agosto 1990). «Voto do Desembargador Alaor Terra, Julgamento do Caso Daudt». Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Revista de jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (141): 205 
  28. RAUSCH, Fabio Antônio Flores (29 de março de 2011). «O jornalismo sensacionalista na imprensa sul-rio-grandense : uma proposta de codificação de genêro». Biblioteca digital de teses e dissertações PUC/RS. Consultado em 12 de abril de 2024 
  29. FERRARETTO, Luiz Arthur (5 de junho de 2008). «Os 20 anos do Caso Daudt». Uma história do rádio no Rio Grande do Sul. Consultado em 12 de abril de 2024 
  30. DA SILVA MOREIRA, Renan (12 de agosto de 2014). «JUDICIÁRIO E MÍDIA: ESTADO E JORNALISMO EM LUTA POR LEGITIMIDADE NA ESFERA PENAL» (PDF). Biblioteca Digital de Teses e Dissertações PUC/RS. Consultado em 12 de abril de 2024 
  31. Zero Hora (1 de julho de 2008). «Especial Caso Daudt». Zero Hora. Zero Hora: 42 
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