António Isidoro da Fonseca

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António Isidoro da Fonseca foi um tipógrafo português que em 1747 estabeleceu uma tipografia no Brasil, no Rio de Janeiro. A tipografia foi fechada ainda no mesmo ano por ordem da Corte Portuguesa.[1] As poucas obras que ele chegou a produzir constituem os mais antigos livros impressos no Brasil que chegaram até nós. (Acredita-se que outra tipografia tenha funcionado no Recife cerca de 40 anos antes, em vista de uma Carta Real de 8 de junho de 1706 proibindo e confiscando o material impresso; mas desconhece-se o nome desse tipógrafo, e nenhuma de suas obras — alguns sermões e letras de câmbio — sobreviveu.[2])

Atuação em Portugal editar

António Isidoro era reconhecido tipógrafo em Lisboa, tendo sido considerado um dos dez maiores editores portugueses da "fase esplendorosa" do reinado de Dom João V (1707-1750). [3] Porém, ele teve problemas com a inquisição, por ter sido o editor de Antônio José da Silva, "o Judeu".

Mudança para o Rio de Janeiro editar

Por receio da Inquisição ou outras razões,[4] em 1746 António Isidoro vendeu sua gráfica de Lisboa e mudou-se para o Brasil a convite do governador do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, Gomes Freire de Andrade, futuro Conde de Bobadela, que estava interessado em estimular a vida intelectual da cidade do Rio. Ele chegou à cidade em 1º de dezembro de 1746.[3]

Obras impressas no Brasil editar

A primeira obra impressa por António Isidoro no Brasil foi um folheto relatando as homenagens e andanças do recém-nomeado bispo do Rio De Janeiro, Antonio do Desterro Malheyro, desde sua chegada até sua "entrada" oficial — isto é, seu traslado cerimonial, "pontificalmente vestido" do Mosteiro de São Bento onde estava hospedado até a do bispado. É possível que o bispo tenha chegado ao Brasil no mesmo navio que António Isidoro.[3] O folheto foi escrito por Luiz Antonio Rosado da Cunha, Juiz de Fora e Provedor de Defuntos e Ausentes [5]

O texto da "Entrada" foi examinado por um padre de nome Christovão Cordeiro,[4] e a impressão da "Entrada" foi autorizada pelo próprio bispo Malheyro em 18 de janeiro de 1747.[3] Os exemplares impressos foram conferidos e achados "conforme o seu original" pelo padre Christovão em 7 de fevereiro, em vista do que o bispo concedeu nesse mesmo dia a autorização para distribuição.[3]

Outras obras impressas por António Isidoro no Rio foram dois conjuntos de poemas: um "Aplauso" sob a forma de "romance heróico", e uma coleção de "Epigramas", ambos em homenagem ao mesmo bispo Malheyro. Ele imprimiu também uma tese "Hoc est Conclusiones metaphysicae de ente reali" do padre jesuíta Francisco de Faria.

A produção da tipografia de António Isidoro talvez inclua mais dois livros-textos, o "Exame de Artilheiros" e o "Exame de Bombeiros", de autoria do Sargento-mor José Fernandes Pinto Alpoim, professor da Escola de Artilharia do Rio de janeiro e auxiliar próximo do governador Gomes Freire de Andrade. Embora seus frontispícios afirmem que esas obras foram impressas por outras tipografias espanholas entre 1748 e 1750, semelhanças tipográficas levaram pesquisadores a propor que elas foram impressas com o mesmo equipamento de António Isidoro, talvez depois de sua volta a Portugal, com atribuições falsas para evitar problemas legais.[3]

Fechamento editar

A tipografia de António Isidoro foi fechada ainda no mesmo ano de sua abertura, por uma ordem da Corte portuguesa de 10 de maio de 1747. A ordem determinava que quaiquer equipamentos tipográficos nas colônias fossem despachados para Portugal, "por conta e risco de seos donnos, a entregar a quem elles quiserem", e proibia autoridades locais de autorizar a impressão de livros sob pena de prisão e deportação.[6][7]

O fechamento da gráfica de António Isidoro enquadrava-se dentro de uma política geral de proibição de atividades fabris nas colônias, e das regras específicas para publicação de livros vigentes. Na época, a impressão de um livro exigia o exame prévio do Santo Ofício, atestando que o texto a ser impresso não continha nada contra a fé ou bons costumes; e a verificação da fidelidade de impressão por oficiais civis do Desembargo do Paço.[4] Não está claro se o bispo do Rio de Janeiro e os oficiais locais, que autorizaram os primeiros livros de António Isidoro, tinham autoridade para exercitar essas funções; em todo caso a ordem de maio de 1747 desautorizou-os explicitamente nesse sentido.[3] O fechamento também atendia às corporações de livreiros e tipógrafos da Metrópole, que defendiam zelosamente seus privilégios contra a concorrência de gráficas estrangeiras.[3]

De volta a Portugal editar

Em 1750, três anos depois de retornar a Portugal, António Isidoro solicitou licença a D. João V para instalar novamente sua impressora na colônia, no Rio de Janeiro ou em Salvador, prometendo jamais imprimir sem as devidas licenças civis e eclesiásticas.[1] Em sua petição, António alegou dificuldades financeiras para se estabelecer novamente em Lisboa já que tinha se desfeito de sua casa e oficina para pagar credores.[4] Porém, a licença não lhe foi concedida. [1]

Ver também editar

Referências editar

  1. a b c Laurence Hallewell (1985) "O livro no Brasil: Sua história". Editora da USP, ISBN 85-85008-24-5
  2. Universidade Brown, O Código Brasiliense na John Carter Brown Library: Impressão Régia Acessado em 2012-03-11
  3. a b c d e f g h Bragança Aníbal (2011), "António Isidoro da Fonseca, um precursor na história do livro brasileiro." Acessado em 2012-03-11
  4. a b c d Laura Benseñor Lotufo (), "A oficina tipográfica de Isidoro da Fonseca e a impressão da 'Relação da entrada (...)'". Acessado em 2012-03-11.
  5. Luiz Antonio Rosado da Cunha (1747), "Relação da Entrada que fez o Excellentissimo, e Reverendisssinho Senhor D. F. Antonio do Desterro Malheyro, Bispo do Rio de Janeiro, em o primeiro dia deste prezente Anno de 1747, havendo sido seis Annos Bispo do Reyno de Angola, donde por nomiação de Sua Magestade, e Bulla Ponficia, foy promovido para esta Diocesi." António Isidoro da Fonseca, Rio de Janeiro
  6. Corte de Portugal (1747), "Resolução do Conselho Ultramarino e Ordem Régia pela qual se manda fazer o sequestro de todas as letras de imprensa que fossem encontradas no estado do Brasil" Arquivo Histórico Ultramarino, Rio de Janeiro, cat. 14763.
  7. Paulo Heitlinger (2007), "A primeira imprensa no Brasil." Acessado em 2012-03-11