Antônio Rebendoleng Szervinsk

Antoni Dołęga Czerwiński[1] ou Antônio Rebendoleng Szervinsk, foi um importante herói polonês e general que deixou prole numerosa no Brasil, que segundo Jan Magalinski, seria em território goiano “o primeiro imigrante que se tem notícias mais concretas [...] de nacionalidade polonesa e pertencente ao exército napoleônico”.[2] Esse lendário imigrante, no final da primeira metade do século XIX, "no interregno que vai do fim do império napoleônico às insurreições de 1830, expatriou-se de sua terra natal, vindo a exilar-se em terras brasileiras",[3] se estabeleceu na outrora Província de Goyaz, numa microrregião atualmente conhecida como Chapada dos Veadeiros, localizada no nordeste goiano, no Entorno do Distrito Federal. O personagem histórico perdurou e perdura na voz oral e na memória coletiva de seus descendentes sob o antropônimo, Antonio Rebendoleng Szervinsk, variante abrasileirada do nome polonês original. O arranjo mítico disposto e romantizado na memória familiar testemunha a existência histórico-literária do personagem que, obrigado a expatriar-se de sua terra natal e a viver no exílio, funda uma inumerável descendência em terras brasileiras, refundando no Brasil a Polônia, pois é com o topônimo de sua geografia natalícia que nomeia a "Fazenda Polônia",[4] a gleba de terras que ganhara em carta de sesmaria das mãos do Imperador Dom Pedro II em 1840.[5]

Histórico editar

Esse lendário europeu é fruto da emigração polonesa no período em que o seu país conviveu com o seu Estado desaparecido do mapa geopolítico da Europa. Como relata Wojciech Breowicz, um dos primeiros autores a falar do imigrante, “Há evidências de que, após a queda da Revolta de Novembro, a emigração política começou a fluir para o Brasil após a queda da Revolta de novembro na Polônia. Entre 1820 e 1830, um soldado do exército napoleônico – o general Antoni Dołęga-Czerwiński veio ao Brasil. Ele aceitou o serviço na guarda imperial de Pedro II, dedicando-se com todo zelo ao bem da pátria adotada. Em reconhecimento à sua contribuição para o Brasil, ele foi premiado com condecorações altas e uma milha quadrada de terra no estado de Goiás, que ele chamou de Polônia. Czerwiński estabeleceu uma fazenda agrícola e de criação, dedicando-se ao cultivo de terras e atividades de caridade para com os povos indígenas da região. Ele morreu cercado pelo respeito universal dos habitantes. Os filhos de Czerwiński se transformaram em uma grande árvore genealógica e - embora os bisnetos não falem mais polonês - eles orgulhosamente pronunciam seu nome de família”.[6]

A historicidade do personagem pode ser comprovada também nos apontamentos de Antoni Olcha que prefaciou o livro Moje życie w Brazylii (Minha vida no Brasil) de autoria de Władysław Wójcik, outra publicação de 1961. No prefácio, ao aludir à emigração, Olcha tece breves comentários sobre o ancestral: "Os primeiros emigrantes da Polônia procuravam no Brasil, sobretudo, abrigo ante as perseguições da Prússia e da Rússia tsarista. Logo após as Guerras Napoleônicas, no estado de Goiás assentou-se o soldado das legiões de Dąbrowski, participante da guerra na Espanha, o general Antoni Dolega Czerwiński.[7] O excerto historiciza tanto o nome quanto a origem do personagem histórico, aponta o motivo de sua expatriação, a busca por refúgio no território brasileiro, além de indicar que era ele um soldado de alta patente, um general, que tanto lutou nas guerras napoleônicas como também era integrante hierarquicamente bem posicionado no exército de Jan Henryk Dąbrowski, general considerado herói polonês por seus esforços na luta pela independência da Comunidade Polaco-Lituana. Ele teria emigrado junto de outros três irmãos Dołęga-Czerwiński também legionários.[8] Como pontua a autora Anna Dvorak, no território de sua Fazenda Polônia "promoveu a agricultura material e o trabalho de caridade entre a população local. Ele morreu como um objeto de respeito geral”.[9]

Ver também editar

Referências

  1. Braziliense, Correio; Braziliense, Correio (19 de fevereiro de 2017). «Conheça a história do soldado de Napoleão que povoou a Chapada» 
  2. Magalinski, Jan (23 de julho de 2008). «CONTRIBUIÇÕES DO ELEMENTO ALIENÍGENA NOS DIVERSOS CAMPOS DE ATIVIDADE HUMANA NO ESTADO DE GOIÁS». Boletim Goiano de Geografia. 4 (1). ISSN 1984-8501. doi:10.5216/bgg.v4i1.4412. Trecho original: “Pierwsi emigranci z Polski szukali w Brazylii przede wszystkim schronienia przed prześladowaniami prusactwa i caratu. Tuż po wojnach Napoleońskich w stanie Goias osiedlił się żołnierz legionów Dąbrowskiego, uczestnik wojny w Hiszpanii, gen. Antoni Dolega-Czerwiński” [não consta na fonte citada]
  3. SALES, Jucelino (20 de outubro de 2014). «Tessituras de memórias no interior de Goiás: a saga do Polonês Antonio Rebendoleng Szervinsk [des]fiada no tear do imaginário» (PDF). Universidade de Brasília (UnB). Consultado em 6 de abril de 2020 
  4. Malczewski, Zdzisław (2008). Marcas da presença polonesa no Brasil. [S.l.]: Biblioteka Iberyjska. p. 59 
  5. Malczewski, Zdzislaw (2015–2016). «Visita à "Fazenda Polônia"» (PDF). Polonicus - Revista de reflexão Brasil-Polônia 
  6. Breowicz, Wojciech (1961). «Ślady Piasta pod Piniorami : szkic z dziejów wychodźstwa polskiego w Brazylii - Podkrapacka Digital Library». p. 43 
  7. Wójcik, Władysław (1961). Moje życie w Brazylii. Olcha, Antoni (prefácio). Klidzio, Natalia, trad. Warszawa: Ed. LSW. p. 6 
  8. Kluza, Waldemar (2011). «Polônia-Brasil: 90 anos de relações diplomáticas» (PDF). Polonicus - Revista de reflexão Brasil-Polônia. 1 
  9. Dvorak, Anna (2013). «A Hidden Immigration: The Geography of Polish-Brazilian Cultural Identity» (em inglês): 96