Aquarela do Brasil
"Aquarela do Brasil" é uma das mais populares canções brasileiras de todos os tempos, escrita pelo compositor mineiro Ary Barroso em 1939. O samba foi gravado a primeira vez por seu parceiro Francisco Alves,[1] e depois por diversos artistas que vão de Carmen Miranda a Frank Sinatra, passando por João Gilberto, Tom Jobim, Caetano Veloso, Tim Maia, Gal Costa, Erasmo Carlos e Elis Regina.[2] Aquarela do Brasil foi considerada a décima segunda música maior do Brasil segundo a revista Rolling Stone Brasil e melhor canção do século XX de acordo com eleição da Rede Globo.[3].
"Aquarela do Brasil" | |
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Canção de Ary Barroso | |
Formato(s) | 78 rpm |
Gravação | 1939 |
Gênero(s) | Samba-exaltação |
Gravadora(s) | Odeon |
Composição | Ary Barroso |
Conforme dados de 2021, “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, era a segunda canção brasileira mais regravada de todos os tempos, de acordo com o ECAD, Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, que é o órgão responsável por captar e distribuir valores pagos pela execução de canções em eventos e nos mais diversos tipos de mídia.[4]
Antecedentes e produção
editarA canção "Aquarela do Brasil" recebeu esse título porque foi composta numa noite de 1939 na qual Barroso foi impedido de sair de casa devido a uma forte tempestade.[5] Naquela mesma noite, também compôs "Três Lágrimas" antes que a chuva acabasse.[6]
Antes de ser gravada, "Aquarela do Brasil", inicialmente chamada de "Aquarela Brasileira", foi apresentada pelo barítono Cândido Botelho no musical Joujoux e balangandans, espetáculo beneficente patrocinado por Darcy Vargas, a então primeira-dama.[6] A canção foi originalmente gravada por Francisco Alves, com arranjos e acompanhamento de Radamés Gnattali e sua orquestra, e lançada pela Odeon Records naquele mesmo ano.[7] Foi também gravada por Aracy Cortes e, apesar da popularidade da cantora, a canção não fez sucesso, talvez por não ter se adequado bem à voz dela.[6]
Popularidade
editarO sucesso de "Aquarela do Brasil" demorou a se perpetuar. Em 1940, não conseguiu ficar entre as três primeiras colocadas no concurso de sambas carnavalescos, cujo júri era presidido por Heitor Villa-Lobos, com quem Barroso cortou relações, que só foram retomadas quinze anos depois, quando ambos receberam a Comenda Nacional do Mérito. O sucesso só veio após a inclusão no filme de animação Saludos Amigos, lançado em 1942 pelos Estúdios Disney.[8] Foi a partir de então que a canção ganhou reconhecimento não só nacional como internacional, tendo se tornado a primeira canção brasileira com mais de um milhão de execuções nas rádios estadunidenses.
Devido à enorme popularidade conquistada nos Estados Unidos, a canção recebeu uma letra em inglês do compositor Bob Russell, escrita para Frank Sinatra em 1957.[9] Desde então, já foi interpretada por cantores de praticamente todas as partes do mundo.
Durante a ditadura militar, Elis Regina interpretou aquela que talvez seja a versão mais sombria da canção, acompanhada por um coral que reproduzia os cantos dos povos indígenas do Brasil.
Críticas
editarA canção, por exaltar as qualidades e a grandiosidade do país, marcou o início do movimento que ficaria conhecido como samba-exaltação. Este movimento, por ser de natureza extremamente ufanista, era visto por vários como sendo favorável à ditadura de Getúlio Vargas, o que gerou críticas a Barroso e à sua obra. No entanto, a família do compositor nega que ele algum dia tenha sido favorável à política de Vargas, destacando o fato de que ele também escreveu "Salada Mista" (gravada em outubro de 1938 por Carmen Miranda), uma canção contrária ao nazi-fascismo do qual Vargas era simpatizante. Vale notar também que antes de seu lançamento, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) vetou o verso "terra do samba e do pandeiro", por entender que era "depreciativo" para o Brasil. Barroso teve de ir ao DIP para convencer os censores da preservação do verso.[8]
Outra crítica feita à obra de Barroso, na época, foi que usava termos pouco usuais no cotidiano, tais como "inzoneiro", "merencória" e "trigueiro", e que abusava da redundância nos versos "meu Brasil brasileiro" e "esse coqueiro que dá coco". O autor se defendeu, dizendo que estas expressões são efeitos poéticos indissolúveis da composição.[6] Na gravação original, Francisco Alves canta "mulato risoneiro" no lugar de "inzoneiro" por não ter compreendido a caligrafia ilegível de Barroso.[9]
Gravações famosas
editar- 1939: Francisco Alves (primeira gravação, feita em 18/08/1939, com arranjos e acompanhamento de Radamés Gnattali e sua Orquestra)
- 1942: Xavier Cugat and His Waldorf-Astoria Orchestra (Columbia 36651-A)
- 1942: Jimmy Dorsey e sua Orquestra, vocais de Bob Eberly e Helen O'Connell (Decca, 18460-B; Nova York, 14 de julho de 1942)
- 1943: Carmen Miranda em Entre a Loura e a Morena
- 1957: Frank Sinatra em Come Fly with Me
- 1958: Bing Crosby em Fancy Meeting You Here
- 1960: Ray Conniff em Say It with Music (A Touch of Latin)
- 1963: Paul Anka em Our Man Around the World
- 1970: Antonio Carlos Jobim em Stone Flower[10]
- 1970: Erasmo Carlos em Erasmo Carlos & Os Tremendões
- 1974: Made in Brazil em Made in Brazil
- 1974: Wilson Simonal - Full Album / Vinilo completo - 1974
- 1975: Elis Regina em A Arte de Elis Regina
- 1976: Chet Atkins em Guitar Monsters
- 1980: Simone em Ao Vivo
- 1980: Gal Costa em Aquarela do Brasil
- 1981: João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, e Maria Bethânia em Brasil
- 1985: Cláudya em Luz da Vida (Ao Vivo)
- 1986: João Gilberto em Live at the 19th Montreux Jazz Festival
- 1987: Ney Matogrosso em Pescador de Pérolas
- 1988: Emílio Santiago em Aquarela Brasileira Vol. 1
- 1990: Harry Belafonte em Around the World with the Entertainers
- 1991: Deborah Blando em A Different Story
- 1994: Os Três Tenores em The Three Tenors in Concert 1994
- 1995: Tim Maia em Nova Era Glacial
- 1995: Dionne Warwick em Aquarela do Brazil
- 1997: Pink Martini em Sympathique
- 1998: Vengaboys em To Brazil
- 2000: Daniel Barenboim em Brazilian Raphsody
- 2002: Metrô em Déjà Vu
- 2004: Martinho da Vila em Apresenta Mané do Cavaco
- 2005: Arcade Fire em Rebellion (Lies) (Lado B)
- 2005: Daniela Mercury em Balé Mulato
- 2005: Plácido Domingo em Lo Essencial de
- 2006: Beirut em Live at The Flying Anvil
Usos na cultura popular
editarCinema
editar- 1940: Laranja da China
- 1942: Aquarela do Brasil
- 1942: Saludos Amigos (segmento Aquarela do Brasil)
- 1943: Entre a Loura e a Morena[11]
- 1943: Gals, Incorporated
- 1943: Popular Science
- 1944: The Three Caballeros
- 1944: Brazil
- 1944: Jam Session
- 1948: Sitting Pretty
- 1955: La Culpa de los Hombres
- 1956: The Eddy Duchin Story
- 1965: Samba
- 1972: Os Inconfidentes
- 1976: Silent Movie
- 1980: Stardust Memories
- 1985: Brazil, o filme
- 1998: There's Something About Mary
- 1999: Being John Malkovich (trailer)
- 1999: Three to Tango
- 2000: Woman On Top
- 2002: Carandiru
- 2003: Something's Gotta Give
- 2004: The Aviator
- 2004: Millions
- 2006: Sicko
- 2007: Bee Movie (trailer)
- 2008: Wall-E (trailer)
- 2009: Embarque Imediato
- 2009: Austrália
- 2014: Mr. Peabody and Sherman
- 2017: Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi[12]
Televisão
editar- Meados da década de 90: Cadeia Alborghetti
- 1996: O Laboratório de Dexter (episódio: "Dimwit Dexter")
- 2000: Aquarela do Brasil (tema de abertura)
- 2002: The Simpsons (episódio: "Blame It on Lisa")
- 2007: Vidas Opostas (tema de abertura)
- 2007: Eterna Magia (tema do Rio de Janeiro)
- 2008: Eli Stone (tema de abertura)
- 2013: Carrossel
Referências
- ↑ Gabriel Daher (27 de setembro de 2012). «O adeus de Francisco Alves: seis décadas que choram». Brasileiros (Terra). Consultado em 24 de novembro de 2016. Cópia arquivada em 24 de novembro de 2016
- ↑ Jornal da Globo (30 de agosto de 2013). «Música Aquarela do Brasil se tornou uma das joias da MPB». Rede Globo. Consultado em 26 de junho de 2014
- ↑ Cavalcanti, Paulo (Outubro de 2009). «Nº 1 - Construção». Revista Rolling Stone. Consultado em 21 de junho de 2020
- ↑ Poder360 (19 de abril de 2021). «"Carinhoso" é a música brasileira mais gravada no país, diz Ecad». Poder360. Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ «A história do samba ufanista Aquarela do Brasil, de Ary Barroso». cbn.globoradio.globo.com. Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ a b c d Teles, José (14 de outubro de 2019). «Aquarela do Brasil nasceu numa noite de temporal». JC. Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ «Aquarela do Brasil completa 80 anos». EBC Rádios. 29 de agosto de 2019. Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ a b «As canções brasileiras mais regravadas de todos os tempos». Tudo sobre o concurso da carreira de diplomata. 17 de setembro de 2020. Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ a b «Original versions of Aquarela do Brazil written by Bob Russell | SecondHandSongs». secondhandsongs.com. Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ «Música e afins. Stone Flower – um Adeus à Bossa Nova. Por Edu Pedrasse». Blog do Amstalden. 4 de fevereiro de 2014. Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ The Gang's All Here (Original Sound Track - 1943) por Vários intérpretes, 20 de junho de 1943, consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ «Trilha sonora de Star Wars: Os Últimos Jedi tem trecho de Aquarela do Brasil - NerdBunker». Jovem Nerd. Consultado em 6 de dezembro de 2018