Ariadne (imperatriz)

Élia Ariadne (em latim: Aelia Ariadne) ou simplesmente Ariadne foi uma imperatriz-consorte bizantina, esposa dos imperadores Zenão e de seu sucessor Anastácio I Dicoro.

Ariadne
Imperatriz-consorte bizantina
Ariadne (imperatriz)
Baixo relevo em marfim de Ariadne.
Reinado 474475
476515
Consorte Zenão
Anastácio I Dicoro
Antecessor(a) Élia Verina
Élia Zenonis
Sucessor(a) Élia Zenonis
Eufêmia
Nascimento Antes de 457
Morte 515 (58 anos)
  Constantinopla
Sepultado em Igreja dos Santos Apóstolos
Nome completo Aelia Ariadne
Dinastia Leonina
Pai Leão I, o Trácio
Mãe Élia Verina
Filho(s) Com Zenão:
Leão I, o Trácio

Família editar

Ariadne era filha de Leão I, o Trácio e Élia Verina, uma irmã de Basilisco. Ela tinha uma irmã caçula, Leôncia, que primeiro foi noiva de Júlio Patrício, um filho de Áspar. O compromisso foi provavelmente anulado quando Áspar e outro filho dele, Ardabúrio, foram assassinados em 471. Leôncia então se casou com Marciano, um filho do imperador Antêmio. O casal liderou uma fracassada revolta contra Zenão em 478-479 e terminaram exilados para a Isáuria após a derrota final.[1]

Um irmão mais novo, cujo nome não se sabe, nasceu em 463 e morreu cinco meses depois. As únicas fontes sobre são um horóscopo feito por Retório e uma hagiografia de Daniel, o Estilita.[1]

Casamento editar

Ariadne nasceu antes da morte de Marciano (r. 450-457).[2] Em janeiro de 457, Marciano finalmente cedeu à sua enfermidade, supostamente uma gangrena. Ele deixou uma filha, Márcia Eufêmia, e o marido dela, Antêmio.[3] Leão era, nesta época, o tribuno dos maciários, um regimento que portava a mattea (latim para a maça) como arma principal. Ele foi proclamado imperador com o apoio de Áspar, o mestre dos soldados (magister militum). Em 7 de fevereiro de 457, Leão foi coroado pelo patriarca de Constantinopla Anatólio na primeira coroação a envolver o patriarca desta forma.[2] Assim começou a participação de Ariadne na família imperial.

Em 461, Leão fundou os excubitores como um contrapeso aos soldados germânicos de Áspar. Ele recrutou a maioria de seus membros entre os robustos guerreiros isauros. Em 466, Tearasicodissa, um oficial isauro dos excubitores apresentou evidências de que Ardabúrio, um filho de Áspar, seria culpado de traição.[4] O escândalo provocou uma ruptura nas relações entre Áspar e Leão, o que aumentou a dependência do imperador em relação aos excubitores. Em 467, a aliança entre Leão e Tarasicodissa foi selada com o casamento de Ariadne ao oficial. Para se tornar mais palatável para a conservadora hierarquia romana e para a população que falava majoritariamente o grego, o marido de Ariadne trocou seu nome para Zenão. O filho único do casal, Leão, nasceu logo no primeiro ano do casamento.

Reinado de Leão editar

Em 471, Áspar e Ardabúrio foram assassinados dentro do Grande Palácio de Constantinopla por ordens de Leão, que recebeu a alcunha de "Macelles" ("Carniceiro") pela crueldade das mortes.[1] Zenão então se tornou, involuntariamente, o único aliado de Leão no exército bizantino.[2]

Leão II foi proclamado césar em outubro de 473 e efetivamente se tornou o herdeiro-aparente ao trono por ser o parente masculino mais próximo de Leão I. Em 18 de janeiro de 474, Leão I morreu de disenteria e seu neto imediatamente o sucedeu.[5] Ariadne se tornou então a imperatriz-mãe.

Uma vez que Leão II era muito jovem para reinar sozinho, Ariadne e sua mãe, Verina, o convenceram a coroar Zenão como co-imperador, o que aconteceu em 9 de fevereiro de 474. Quando Leão adoeceu em morreu em 17 de novembro, Zenão se tornou o único imperador com Ariadne como sua imperatriz-consorte.

Consorte editar

O novo imperador não era particularmente popular por conta das origens bárbaras de Zenão, que atraía a antipatia da população de Constantinopla. Além disso, a forte facção germânica entre os militares, lideradas por Teodorico Estrabão, não gostava dos oficiais isauros que Leão I havia trazido para reduzir sua dependência em relação aos germânicos ostrogodos. Finalmente, Zenão alienou seu general e companheiro Ilo.

Basilisco e Élia Verina aproveitaram-se da situação para articular uma conspiração contra seus parentes por casamento. Em 475, uma revolta popular contra o imperador irrompeu na capital e, com o apoio militar de Teodorico Estrabão, Ilo e Armato, tomou o controle de Constantinopla. Verina convenceu seu genro a deixar a cidade e Zenão fugiu para sua terra natal, levando consigo alguns dos oficiais isauros que viviam na capital imperial e também o tesouro bizantino. Basilisco foi então proclamado "augusto" em 9 de fevereiro de 475[6] no Palácio Hebdomo pelos ministros do palácio e o Senado Bizantino.[7] A horda que se formou em Constantinopla conseguiu se vingar de Zenão executando quase todos os isauros que permaneceram na cidade.[8][9]

Porém, Basilisco conseguiu se afastar de quase todos os aliados mais importantes. Patrício, o mestre dos ofícios e amante de Verina, foi executado para controlar as aspirações dela de elevá-lo ao trono. Como consequência, Verina posteriormente armou contra Basilisco para se vingar.[10] Teodorico e Armato foram promovidos a mestre dos soldados e mestre dos soldados na presença (magister militum praesentialis), mas eles queriam mais. Finalmente, o apoio de Ilo estava também, com grande probabilidade, minguando por causa do massacre ao isauros que Basilisco permitiu que ocorresse.[9][11]

Em 476, tanto Ilo quanto Armato desertaram para o lado de Zenão, o que permitiu que ele, em agosto, cercasse Constantinopla. O líder dos godos da Panônia, Teodorico, o Amal (e que futuramente seria conhecido como Teodorico, o Grande), se aliou com Zenão. Suas ordens eram que ele atacasse Basilisco e os seus godos federados da Trácia, liderados por Teodorico Estrabão. Sua recompensa seria receber o título de mestre dos soldados mantido por Estrabão e todos os pagamentos antes devidos aos godos trácios. Já se sugeriu que Constantinopla estaria então indefesa durante o cerco de Zenão por que Teodorico Estrabão teria marchado para o norte para conter a ameaça de seu homônimo. O Senado então abriu os portões da cidade para o isauro e permitiu que Zenão retomasse o trono. Ariadne era a sua imperatriz.

Em 479, Ariadne entrou em conflito com o marido sobre o destino da mãe dela, pois Verina tinha tentado assassinar Ilo e acabou presa por ele. Ela também tinha apoiado a revolta do seu outro genro, Marciano, mesmo durante o seu cativeiro. Mesmo assim, Ariadne tentou obter a libertação dela, primeiro com Zenão e, em seguida, com o próprio Ilo, a pedido do imperador. Ele não somente recusou-se a atender o pedido dela como a acusou de querer colocar outra pessoa no trono do marido dela, o que a irritou e fez com que ela, assim como a mãe, tentasse assassinar Ilo. Jordanes atribuiu o ódio dela a uma diferente causa: ele afirma que Ilo teria enchido a cabeça de Zenão com suspeitas maliciosas, o que teria impelido Zenão contra ela. Os assassinos contratados por ela falharam na tarefa, mas conseguiram cortar uma orelha de Ilo antes de serem presos. Apesar de saber do caso, Zenão parece ter sido incapaz de salvar-lhes a vida.[12][13]

A briga parece não ter tido efeitos duradouros sobre o casamento deles. Ela permaneceu casada com Zenão até a morte dele em 9 de abril de 491. A augusta conseguiu escolher o sucessor do marido no trono e, ao mesmo tempo, um novo marido para si na pessoa de Anastácio I Dicoro, um oficial palaciano (silenciário), em detrimento de Longino, o irmão de Zenão. Anastácio foi proclamado imperador em 11 de abril e eles se casaram em 20 de maio do mesmo ano.[12] Porém, o casamento não teve filhos.

Ariadne morreu em Constantinopla em 515 e foi enterrada na Igreja dos Santos Apóstolos. Anastácio foi enterrado ao lado dela em 518.[12]

Ver também editar

Ariadne (imperatriz)
Nascimento: c. 450 Morte: 515
Títulos reais
Precedido por:
Élia Verina
Imperatriz-consorte bizantina
474–475
Sucedido por:
Élia Zenonis
Precedido por:
Élia Zenonis
Imperatriz-consorte bizantina
476–515
Sucedido por:
Eufêmia

Referências

  1. a b c Prosopografia do Império Romano Tardio, vol. 2
  2. a b c Hugh Elton, "Leo I (457-474 A.D.)"
  3. Geoffrey S. Nathan, Marcian (450-457 A.D.)
  4. Hugh Elton, Zeno (AD 474-491)
  5. Hugh Elton, Leo II (AD 474)
  6. Existe um horóscopo feito no dia da coroação de Basilisco - 12 de janeiro de 475 às 9 da manhã - feito provavelmente por um aliado de Zenão. O horóscopo, preservado com os horóscopos de outros dois usurpadores de Zenão em fontes árabes, corretamente prediz o final do reinado de Basilisco dentro de dois anos. Veja Barton, Tamsyn (2002). Power and knowledge: Astrology, physiognomics, and medicine under the Roman Empire. [S.l.]: University of Michigan Press. pp.  60. ISBN 0-472-08852-1 
  7. A tradição permitia que o Senado reconhecesse um usurpador, assim Basilisco se tornou o governante legal. Porém, esta foi sem dúvida a primeira sucessão via golpe militar em pelo menos cem anos (Friell).
  8. Bury, John Bagnall (1958) [1923]. «XII.1 The Usurpation of Basiliscus (A.D. 475‑476)». History of the Later Roman Empire. [S.l.]: Dover Books. pp.  389–395. Consultado em 23 de agosto de 2006 
  9. a b Friell, Gerard; and Stephen Williams (1998). The Rome That Did Not Fall. [S.l.]: Routledge. pp. 184–186. ISBN 0-415-15403-0 
  10. Bury. De acordo com Cândido (P.G. 85), após a morte de Patrício, Verina teria se articulado a favor de Zenão, mas seu plano foi descoberto e somente pela intervenção de Armato que a vida de Verina foi poupada.
  11. Smith, William (1870). Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology. Boston: C. Little and J. Brown. pp.  466. Consultado em 23 de agosto de 2006 
  12. a b c Hugh Elton, "Anastasius (AD 491-518)"
  13. «Smith, Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology, v. 1, page 569-570». Consultado em 8 de julho de 2013. Arquivado do original em 4 de maio de 2008 

Bibliografia editar

Ligações externas editar

 
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