Arte tumular

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Arte tumular ou arte funerária, é um termo usado para designar obras feitas para permanecerem em cima ou envolverem as sepulturas nos cemitérios e igrejas. É uma forma de representação que está ligada à cosmovisão de determinado contexto histórico, ideológico ou socioeconômico. Interpretando a vida e a morte. Essa interpretação pode ser feita através de um conjunto de símbolos ou de uma obra narrativa, utilizando-se materiais variados como o mármore, o granito, o ferro fundido e o bronze.

Uma rua do cemitério do Père-Lachaise, em Paris

A arte tumular atingiu seu apogeu nos séculos XVIII e XIX, sendo hoje menos utilizada em virtude do avanço do cemitério-jardim.

Simbologia editar

No caso dos símbolos, a representação remete a um significado diferente do objeto construído e colocado no túmulo, como, por exemplo, uma tocha com fogo, que remete à purificação da alma após a morte, ou seja, a tocha tem seu significado real transformado em um símbolo de purificação.

Com relação à obra narrativa o significado dos objetos construídos é literal e não metafórico, como no caso de muitos imigrantes que têm suas epopeias narradas desde a partida da terra natal com o navio até o final da vida como industrial no Brasil.

Nessas duas formas de representações podemos distinguir duas linhas: a nobreza e a burguesia industrial; a primeira utilizava mais o símbolo aliado a seus brasões e a segunda tinha a necessidade de demonstrar a sua importância através da suntuosidade.

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    Arte tumular: Cemitério do Caju, Campos dos Goytacazes
    Material: antigamente era usado o mármore de Carrara. Cada vez mais raro, passou a ser substituído pelo mármore comum, granito ou bronze;
  • Pietá: a escultura de Maria com Jesus recém crucificado nos braços representa o desejo de que a alma seja bem recebida;
  • Anjos: É o que cuida da alma da pessoa e garantirá também uma boa travessia. Muitas vezes são representados mais eroticamente na forma de mulheres voluptuosas ou com aspectos mais andróginos.[1] Anjo que aponta: quando a mão indica o céu, significa que o falecido era considerado uma pessoa boa e espera-se que ela vá direto para o paraíso. Anjo pensativo: quando o anjo está pensativo, com a mão no queixo, significa que está refletindo sobre a vida do falecido e não existe certeza sobre a absolvição de seus atos em vida;
  • Anjinhos e crianças: Presentes em túmulos de crianças ou natimortos. As balinhas e brinquedos são deixadas como homenagens ao falecido vez ou outra. Botões de rosa também são usados nesses casos de mortes prematuras;
  • Guirlanda: simboliza o triunfo da vida sobre a morte;
  • Pata do felino: patas esculpidas nas quinas, são usadas para lembrar que o falecido era o responsável pelo sustento da família;
  • Coluna partida: representa o túmulo do último membro de uma família tradicional;
  • Escada: intervalada em degraus finos e largos, representa a vida de altos e baixos que o morto teve;
  • Cruz: representa a interseção do plano material com o transcendental em seus eixos perpendiculares;[2]
  • Vaso: geralmente representado vazio, representa o corpo separado da alma;[2]
  • Ampulheta: remete à utilização e fim do tempo de vida terrestre, e seu reinício em outro plano;[2]
  • Globo: remete à utilização e fim do tempo de vida terrestre;[2]
  • Flores, folhas e frutos: representam a vitória da alma humana sobre o pecado e a morte. São associados com frequência à nobreza, à beleza e à precocidade;[2]
  • Crisântemo: É a margarida dos mortos. As flores também são usadas para serem uma representação de nós que nascemos, florescemos e morremos como as flores.
  • Coroa de flores: É a concretização do círculo da vida até a morte;[1]
  • Mulher velada: É uma alegoria do luto, da saudade ou da tristeza. Pode representar a viúva sentindo a morte do amado ou apenas a dor da ausência do falecido. Muitas vezes estão com um véu cobrindo o rosto;[1]
  • Chama acesa: Simboliza a imortalidade, algo que não irá se apagar nem com a chegada da morte;
  • Simbologia cristã: A via crucis de Jesus Cristo, Maria chorando pela morte do filho. Tudo isso é uma forma de mostrar a devoção, já que grande parte dos jazigos são de famílias cristãs. No Brasil há uma preferência pela Nossa Senhora Aparecida por causa da localização;
  • Caveira: É um clássico do século XIX, segundo Vanessa Beatriz. É o Memento Mori ("lembre-se de que você vai morrer"), ou seja, nós que aqui estamos por vós esperamos;[1]
  • Cobra: Símbolo da medicina que foi usado para homenagear a morte de um médico;[1]
  • Galo: É um animal do amanhecer que espanta a escuridão e que anuncia um novo dia, uma nova vida;[1]
  • Papoula: Flor do sono e da morte, é a planta que dá o ópio e pode simbolizar o esquecimento da dor;[1]
  • Oferendas: Não é necessariamente parte da arte tumular, mas representa um patrimônio imaterial brasileiro. É onde o sincretismo encontra um espaço para se concretizar;[1]
  • Família unida representada nos jazigos: Mostra que houve uma união familiar forte. Se as mulheres estão segurando filhos também é um símbolo de fertilidade;[1]
  • Portas, Cristo abrindo uma porta ou indicando uma abertura: É a passagem da vida para a morte, mostrando que a morte não é apenas o fim mas também o começo, uma travessia;[1]
  • Fotografias: São a alternativa mais barata para famílias que não podem pagar por esculturas. Muitas fotografias tumulares são a única que o falecido tirou em vida, dependendo da época. O gosto pelo retrato fotográfico demonstra tanto uma nova cultura da época, quanto uma forma mais acessível de se registrar visualmente o rosto do defunto. É assim que vemos vários retratos diminutos engastados em molduras de porcelana. A memória se readéqua ao gosto fotográfico;[1]
  • Cruz de madeira com raízes fincadas na terra: A fé cristã consolidada que surge da terra onde estão os restos da pessoa enterrada.
  • Rosa: É a pureza e também representa o caminho espinhoso traçado durante a vida até a glória maior;
  • Urna funerária: É a separação do corpo e do espírito, mostra que há uma custódia desse corpo velado e passa a mensagem de segurança.
  • Alpha e ômega: é o começo e o fim representado pela primeira e a última letra do alfabeto grego;
  • Borboleta: Ressurreição;
  • Esfinges: Os egípcios davam grande importância à morte, então é uma forma de prestar respeito à morte sem necessariamente recorrer à simbologia cristã;
  • Bigorna: É a forja do universo, representa a construção do universo e que tudo pertence a ele. Também pode ser usada por famílias ligadas à indústria;
  • Sol: Vida nova, luz;
  • Coração: Significa saudades, amor;
  • XP: É o Chi Ro, símbolo de Cristo usado desde os primeiros anos da Era Cristã.

Simbologia dos túmulos românticos em Portugal editar

Embora os símbolos usados na arte tumular sejam, muitas vezes, comuns a outras artes, essa simbologia utilizada nos túmulos só pode ser interpretada correctamente tendo em conta a época e o contexto social e cultural em que foram utilizados, pelo que, qualquer chave de interpretação pré-definida, pode redundar em conclusões erradas. Assim, nos túmulos erguidos nos cemitérios portugueses durante o Romantismo, os símbolos mais utilizados foram determinadas flores e coroas vegetalistas, figuras alegóricas (nomeadamente as que representavam virtudes cristãs), certos animais (como o cão, para demonstrar fidelidade), a cruz (como símbolo da fé cristã), tochas invertidas, ampulhetas e génios da morte (inspirados nos túmulos da Antiguidade Clássica), anjos (de diversos tipos), entre muitos outros.[3]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k «Catalogando a simbologia da morte nos cemitérios de São Paulo». www.vice.com. Consultado em 18 de agosto de 2020 
  2. a b c d e «A MORTE E O MORRER EM JUIZ DE FORA: Transformações nos costumes fúnebres, 1851-1890» (PDF). Universidade Federal de Juiz de Fora. 2007. pp. 82–84. Consultado em 15 de outubro de 2011. A cruz, como um símbolo, teve seu significado associado a questões de natureza transcendental, em diferentes sociedades. Exercendo variadas funções (síntese, medida, ponte, pólo do mundo, entre outros), a cruz exerce um papel mediador entre o mundo terrestre imanente e o mundo supratemporal transcendente, através de seus dois eixos cruzados. [...] Na arte tumular, os vasos são geralmente representados vazios, simbolizando o corpo separado da alma. [...] Tidos como símbolos escatológicos, a ampulheta e o globo também foram encontrados nos túmulos [...]. Ambos os símbolos remetem à consumação e escoamento do tempo terrestre. No entanto, a ampulheta possibilita a reversão, ou seja, recomeçar em outro plano. [...] Tanto as flores, quanto folhas e frutos são exemplos de signos fitomórficos. Estes símbolos denotam a alegria divina, representando a vitória da alma humana sobre o pecado e a morte. São freqüentemente associados com nobreza e beleza, e também à precocidade: a expressão "morto em flor", por exemplo, significa morte prematura. 
  3. QUEIROZ, José Francisco Ferreira - Os Cemitérios do Porto e a arte funerária oitocentista em Portugal. Consolidação da vivência romântica na perpetuação da memória. Tese de Doutoramento em História da Arte, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto, 2002. Sumário e prefácio consultáveis em http://dited.bn.pt/31118/2105/2598.pdf. Elenco de fontes e bibliografia consultável em http://dited.bn.pt/31118/2105/2599.pdf

Bibliografia editar

  • REZENDE, Eduardo Coelho Morgado. Cemitérios. Editora Necrópolis. 2007
  • Códigos do Além. Revista Super Interessante #274. P.46,47. Editora Abril. Janeiro de 2010.
  • QUEIROZ, José Francisco Ferreira - Os Cemitérios do Porto e a arte funerária oitocentista em Portugal. Consolidação da vivência romântica na perpetuação da memória. Tese de Doutoramento em História da Arte, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto, 2002. Sumário e prefácio consultáveis em http://dited.bn.pt/31118/2105/2598.pdf. Elenco de fontes e bibliografia consultável em http://dited.bn.pt/31118/2105/2599.pdf