Artrose, osteoartrose ou osteoartrite é um tipo de doença das articulações que resulta da degeneração da cartilagem e do osso subjacente.[5] Os sintomas mais comuns são rigidez e dor nas articulações. Numa fase inicial, os sintomas podem-se manifestar apenas a seguir ao exercício, mas ao longo do tempo podem-se tornar constantes. Entre outros possíveis sintomas estão a acumulação de líquido seroso numa articulação, diminuição da amplitude de movimentos e, quando as costas são afetadas, fraqueza ou perda de sensibilidade nos braços e pernas. As articulações afetadas de forma mais comum são as das extremidades dos dedos, a da base do polegar, do pescoço, do fim das costas, do joelho e da anca. Geralmente as articulações de um dos lados do corpo são mais afetadas do que as do outro lado. Os sintomas desenvolvem-se gradualmente ao longo de vários anos. A doença pode afetar o trabalho e as atividades do dia-a-dia. Ao contrário de outros tipos de artrites, geralmente a artrose afeta apenas as articulações.[1]

Artrose
Artrose
Uma característica comum de artrose nas mãos é a formação de nódulos de Bouchard nas articulações intermédias dos dedos e de nódulos de Heberden das articulações distais.
Sinónimos Artrite degenerativa, doença degenerativa das articulações, osteoartrose
Especialidade Reumatologia, ortopedia
Sintomas Dor nas articulações, rigidez, articulações inchadas, diminuição da amplitude de movimentos[1]
Início habitual Ao longo de anos[1]
Causas Antecedentes de lesões nas articulações, anomalias no desenvolvimento das articulações, fatores hereditários[1][2]
Fatores de risco Excesso de peso, pernas de diferente comprimento, emprego que provoque stresse nas articulações[1][2]
Método de diagnóstico Baseado nos sintomas[1]
Tratamento Exercício, diminuição do stress nas articulações, grupos de apoio, analgésicos, próteses[1][2][3]
Frequência 237 milhões / 3,3% (2015)[4]
Classificação e recursos externos
CID-10 M15-M19, M47
CID-9 715
CID-11 558562409
OMIM 165720
DiseasesDB 9313
MedlinePlus 000423
eMedicine med/1682 orthoped/427 pmr/93 radio/492
MeSH D010003
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As causas mais comuns são lesões anteriores nas articulações, anormalidades no desenvolvimento das articulações ou dos membros e fatores hereditários. O risco é maior em pessoas com sobrepeso, com diferença de comprimento entre as pernas e com empregos que impliquem esforços intensos nas articulações.[1][2] Acredita-se que a artrose seja causada por stresse mecânico na articulação e processos inflamatórios de baixo grau.[6] A doença vai progredindo à medida que a cartilagem se degenera e o osso subjacente vai sendo afetado.[1] Uma vez que a dor dificulta a realização de exercício físico, pode ocorrer atrofia muscular.[2][7] O diagnóstico geralmente baseia-se nos sinais e sintomas, podendo por vezes ser complementado por exames imagiológicos para o confirmar ou excluir outras doenças. Ao contrário da artrite reumatoide, que é essencialmente uma condição inflamatória, na artrose as articulações não ficam quentes ou vermelhas.[1]

O tratamento consiste em exercício, na diminuição do stresse nas articulações, em medicamentos analgésicos e em grupos de apoio.[1][3] A diminuição do stresse nas articulações inclui repouso e a utilização de uma bengala. A perda de peso pode ajudar as pessoas com excesso de peso. A medicação pode incluir paracetamol.[1] Quando estas medidas não apresentam resultados podem ser usados anti-inflamatórios não esteroides como o diclofenaco, embora estes medicamentos estejam associados a um risco acrescido de efeitos adversos.[1][8] No caso de serem usados opioides, não é recomendado o seu uso a longo prazo devido ao risco de dependência.[1] Quando, mesmo com tratamento, a dor interfere com a vida quotidiana, pode ser considerada cirurgia de substituição das articulações. No entanto, uma articulação artificial tem uma duração limitada.[2] Com tratamento, o prognóstico de maior parte das pessoas é favorável.[1]

A artrose é a forma mais comum de artrite. Em 2010, a artrose do joelho e da anca afetava 3,8% da população mundial.[1][9] Entre as pessoas com mais de 60 anos, 10% dos homens e 18% das mulheres são afetados por artrose.[2] A doença é a causa de 2% dos anos vividos com incapacidade.[9] Antes dos 45 anos de idade, a doença é mais comum entre homens, enquanto depois dessa idade é mais comum entre mulheres. À medida que a idade avança, a doença vai-se tornando mais comum em ambos os sexos.[1]

Sinais e sintomas editar

Ao chegar aos 40 anos de idade, muitas pessoas manifestam sinais de artrose nas radiografias, especialmente nas articulações que sustentam mais peso (como o quadril), mas relativamente poucas apresentam sintomas. A idade dos primeiros sintomas e articulações atingidas tem um significativo fator genético.[10] Em geral, os sintomas desenvolvem-se gradualmente e afetam inicialmente uma ou várias articulações (as dos dedos, a base dos polegares, o pescoço, a zona lombar, o dedo grande do pé (hálux), o quadril e os joelhos). A dor é o primeiro sintoma, que aumenta em geral com a prática de exercício. Em alguns casos, a articulação pode ficar rígida depois de repouso prolongado; contudo, a rigidez costuma desaparecer 30 minutos depois de se iniciar o movimento da articulação.

A articulação pode perder a mobilidade e inclusive ficar completamente rígida numa posição incorreta à medida que piora a lesão provocada pela artrose. O novo crescimento da cartilagem, do osso e outros tecidos pode aumentar o tamanho das articulações. A cartilagem áspera faz com que as articulações ranjam ou crepitem ao mover-se. As protuberâncias ósseas desenvolvem-se com frequência nas articulações das pontas dos dedos (nódulos de Heberden). Em algumas articulações (como o joelho) os ligamentos que rodeiam e sustentam a articulação distendem-se de tal maneira que esta se torna instável. Tocar ou mover a articulação pode ser muito doloroso. Em contraste, o quadril se torna rígido, perde o seu raio de ação e provoca dor ao mover-se. A artrose afeta com frequência a coluna vertebral. A dor de costas é o sintoma mais frequente. As articulações lesadas da coluna costumam causar apenas dores leves e rigidez.

A artrose segue um desenvolvimento lento na maioria dos casos depois do aparecimento dos sintomas. Muitas pessoas apresentam alguma forma de incapacidade, mas, em certas ocasiões, a degeneração articular detém-se. Contudo, se o crescimento ósseo comprime os nervos, a artrose do pescoço ou da zona lombar pode causar entorpecimento, sensações estranhas, dor e fraqueza num braço ou numa perna. Em raras ocasiões, a compressão dos vasos sanguíneos que chegam à parte posterior do cérebro. Originam-se então problemas de visão, sensação de enjoo (vertigem), náuseas e vômitos. Por vezes o crescimento do osso comprime o esôfago, dificultando a deglutição.

Causas editar

As articulações normalmente têm um nível tão pequeno de fricção que não se desgastam. Apenas quando excessivamente utilizadas ou danificadas ocorrem lesões à cartilagem hialina das articulações móveis (diartroses). Uma regeneração ineficiente pode agravar o prejuízo no movimento. Defeitos genéticos, congênitos ou patológicos também podem ser uma das causas, especialmente em jovens. Outros componentes como o osso, a cápsula articular (tecidos que envolvem algumas articulações), a membrana sinovial (tecido que reveste a articulação), os tendões musculares e bolsas com líquido sinovial (bursas) também podem ser afetados.[11]

Quando a causa é outra doença, como a de Paget, uma infeção, uma deformidade, uma ferida ou o uso excessivo da articulação passa a ser considerada uma artrose secundária. São especialmente vulneráveis os indivíduos que forçam as suas articulações de forma reiterada, como digitadores e trabalhadores de indústrias, especialmente aqueles com sobre-peso. Já praticar exercícios sem indícios de lesão não aumenta o risco de artroses.[12]

Diagnóstico editar

O diagnóstico é predominantemente clínico, pois alterações radiológicas podem ser identificadas em 52% dos maiores de 50 anos, mas apenas 20% deles possuem sintomas moderados ou graves o suficiente para buscarem tratamento.[13]

Tratamento editar

Fisioterapia específica é recomendado para fortalecer os músculos próximos, condicionamento físico e flexibilidade. Órteses, próteses e equipamentos de auxílio à marcha também podem ser usados para diminuir o estresse na articulação e melhorar uma função. Palmilhas anti-varo associadas à estabilização de tornozelo também são eficientes em melhorar a dor e a função do joelho em caso de osteoartrite do compartimento medial/interno do joelho[14] além de fortalecimento do quadríceps,[15] podendo ser feito com eletroestimulação,[16] ou, em casos mais dolorosos, com oclusão parcial da artéria utilizando esfigmomanômetro.[17] A cinesioterapia é um dos principais métodos de tratamento fisioterapêutico, pois proporciona redução do quadro doloroso, melhora da mobilidade articular e do condicionamento muscular, favorecendo assim a melhora da capacidade funcional do indivíduo.[18] Joelheiras contínuas parecem melhorar a estabilização do joelho, diminuindo dor e melhorando a função desses indivíduos, no aspecto de caminhar, subir e descer escadas.[19] Estudos demonstram que um programa de exercícios domiciliares é fundamental no controle da doença.[20]

Medicamentos editar

Sulfato de glucosamina e cloroquina são recomendados para o tratamento dos sintomas da osteoartrite de joelhos e mãos a longo prazo. É importante ressaltar que o sulfato de glucosamina tem benefício comprovado, mas o glucosamina cloridrato não é melhor que placebos.[14]

Pomadas com capsaicina são eficientes, mas podem irritar a pele. Pomadas com analgésico e anti-inflamatórios não-esteroides, como cetoprofeno, ibuprofeno, felbinaco e piroxicam são eficientes tanto para dor aguda quanto dor crônica.[14]

Cirurgia editar

Os pacientes com osteoartrite moderadas ou graves (grau II e III) e com comprometimento significativo e progressivo de sua independência nas atividades de vida diária e que não tiveram bons resultados com tratamentos mais conservadores podem precisar de tratamento cirúrgico. As cirurgias indicadas são[14]:

  • Desbridamento artroscópico (correção das lesões parciais de meniscos ou do labrum e retirada de corpos livres);
  • Osteotomias profiláticas (correção dos desvios de eixos articulares);
  • Osteotomia terapêutica (modificar o eixo de alinhamento do membro afetado e deslocar a carga para outra região da superfície articular);
  • Artroplastias (reparar as articulações);

Em último caso pode ser feita uma artrodese, um procedimento para fusão óssea intencional que imobiliza o local.[14]

Tratamentos alternativos editar

Tanto acupuntura quanto terapias manuais não são mais eficientes que placebo nem a longo nem a curto prazo, não sendo recomendadas.[21][22]

Epidemiologia editar

 
É mais problemática na Europa oriental, Ásia e África, principalmente pelo histórico do excesso de horas de trabalho físico nessas regiões.

Estima-se que no mundo entre 3 e 4% da população (mais de 250 milhões) tem artrose nos joelhos.[23] No Sul do Brasil, cerca de 15% das mulheres com mais de 50 anos e 8% dos homens tem artrose nas mãos.[24]

Atinge cerca de 5% da população com menos de 30 anos, 20% da população com mais de 50 anos, 70% a 80% daqueles com mais de 65 anos e quase todos após os 80 anos. É mais comum nas mulheres pós-menopausa, nos diabéticos e nos obesos.[13]

Em outros animais editar

A artrose ocorre em quase todos os vertebrados, inclusive peixes, anfíbios e aves. Os animais aquáticos como os golfinhos e as baleias podem sofrer de artrose, contudo, esta não afeta animais que permanecem pendurados com a cabeça para baixo, os morcegos e as preguiças. A doença está tão amplamente difundida no reino animal que provavelmente o método de reparação da cartilagem ineficiente responsável por essa doença surgiu nos primeiros vertebrados há muitos milhões de anos.[carece de fontes?]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q «Osteoarthritis». National Institute of Arthritis and Musculoskeletal and Skin Diseases. Abril de 2015. Consultado em 13 de maio de 2015 
  2. a b c d e f g Glyn-Jones, S; Palmer, AJ; Agricola, R; Price, AJ; Vincent, TL; Weinans, H; Carr, AJ (3 de março de 2015). «Osteoarthritis.». Lancet. 386: 376–87. PMID 25748615. doi:10.1016/S0140-6736(14)60802-3 
  3. a b McAlindon TE, Bannuru RR, Sullivan MC, Arden NK, Berenbaum F, Bierma-Zeinstra SM, Hawker GA, Henrotin Y, Hunter DJ, Kawaguchi H, Kwoh K, Lohmander S, Rannou F, Roos EM, Underwood M (março de 2014). «OARSI guidelines for the non-surgical management of knee osteoarthritis». Osteoarthritis and Cartilage. 22 (3): 363–88. PMID 24462672. doi:10.1016/j.joca.2014.01.003 
  4. GBD 2015 Disease and Injury Incidence and Prevalence Collaborators (outubro de 2016). «Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 310 diseases and injuries, 1990-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015». Lancet. 388 (10053): 1545–1602. PMC 5055577 . PMID 27733282. doi:10.1016/S0140-6736(16)31678-6 
  5. Atlas of Osteoarthritis. [S.l.]: Springer. 2015. p. 21. ISBN 9781910315163 
  6. Berenbaum F (2013). «Osteoarthritis as an inflammatory disease (osteoarthritis is not osteoarthrosis!)». Osteoarthritis and Cartilage. 21 (1): 16–21. PMID 23194896. doi:10.1016/j.joca.2012.11.012 
  7. Conaghan P (2014). «Osteoarthritis — Care and management in adults». Consultado em 31 de agosto de 2016. Arquivado do original em 22 de dezembro de 2015 
  8. Bartlett, C; Doyal, L; Ebrahim, S; Davey, P; Bachmann, M; Egger, M; Dieppe, P (Outubro de 2005). «The causes and effects of socio-demographic exclusions from clinical trials.». Health technology assessment (Winchester, England). 9 (38): iii-iv, ix-x, 1–152. PMID 16181564 
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