Bienal da Bahia

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A Bienal da Bahia ou I Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia foi promovida pelo Estado da Bahia e já recebeu duas Bienais em 1966 e 1968, sendo a última abruptamente fechada pelo Regime Militar no Brasil (1964-1985).[1][2]

História editar

A movimentação artística na capital baiana começou a se evidenciar ainda na década de 1930, com exposições coletivas que discutiam a arte moderna nos Salões da ALA (Ala de Letras e Artes), que eram organizados por Carlos Chiacchio de 1937 à 1948. Concomitantemente, em 1944, Manuel Martins coordenou a primeira Exposição de Arte Moderna, na Biblioteca Pública e Wilson Lins realizou a Exposição Ultramoderna. Na década de 1940, o Brasil viu surgir o Museu de Arte de São Paulo (MASP), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) e a Sociedade de Arte Moderna de Recife, hoje Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM). À época, Salvador sediou outra Exposição de Arte Contemporânea, em 1948, agora organizada por Marques Rebelo e idealizada pelo Secretário da Educação e Saúde - Anísio Teixeira. Ainda no final da década, em 1949, após constantes mostras e debates sobre a arte moderna, surgiu o I Salão Baiano de Belas Artes. No mesmo ano, a revista Cadernos da Bahia foi criada para divulgar e defender o modernismo, sendo instalada no Bar Anjo Azul e com decoração dos murais de Carlos Bastos, os primórdios do gênero muralista no Estado. No início dos anos de 1950, os soteropolitanos começaram a comercialização das suas artes plásticas com a fundação da Galeria Oxumarê, no Passeio Público, que funcionou até 1961. A Galeria promoveu o II Salão Baiano de Belas Artes, agora com participação de artistas mulheres. Com o último Salão Baiano, em 1955, a Bahia se projetou nacionalmente na área cultural, especialmente com a fundação da Universidade da Bahia e do Museu de Arte Moderna da Bahia. Um expoente de artistas baianos se formava com Carlos Bastos, Genaro de Carvalho e Mário Cravo Júnior. O ateliê de Mario Cravo reunia outras personalidades das áreas artística e cultural, como Anísio Teixeira, Jorge Amado, José Valadares, Wilson Rocha, entre outros. Além desses representantes locais, obtiveram importância na Bahia, especialmente na aproximação da arte moderna com a cultura popular e o candomblé, o argentino Carybé e o francês Pierre Verger, que habitaram Salvador até o falecimento de ambos. Esses fatos contribuíram para o nascimento da I Bienal, em 1966.

I Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia ou I Bienal da Bahia editar

A I Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia ou I Bienal da Bahia, trouxe reconhecimento ao cenário artístico local através de uma interação com o que estava sendo produzido nacionalmente. Salvador passou a ser o centro da região Nordeste para a discussão e a produção de arte, sob tutela de uma trajetória que vinha desde a década de 1930.

E foi no contexto acima descrito que surgiu, em 1966, a I Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, ou simplesmente I Bienal da Bahia, capitaneando uma segunda geração de artistas modernos. A I Bienal deu ênfase às propostas abstracionistas, privilegiando as produções que se afastavam do regional e da caricatura da cultura local. O Convento do Carmo de Salvador foi reformado e se tornou o ponto de encontro para debate e produção da arte brasileira, descentralizando a atividade artística do eixo Rio-São Paulo e colocando Salvador e o Nordeste na rota dos principais artistas e obras, revelando algumas joias da casa. Os primeiros convidados para a Bienal da Bahia vinham da Galeria Relevo, no Rio de Janeiro. O artista baiano Chico Liberato participava da Galeria quando foi contatado por Juarez Paraíso para ajudá-lo na organização do evento. O artista francês Ivan Freitas, que expunha na “cidade maravilhosa”, também quis participar da Bienal. Com apoio indireto do Governo do Estado da Bahia, a I Bienal foi dirigida e liderada por Juarez Paraíso, Chico Liberato e Riolan Coutinho. Além de artistas renomados, que advinham principalmente do sudeste, como Frans Krajcberg, João Câmara, Nicolas Vlavianos, Rubens Gerchman e Walter Smetak, estiveram presentes reconhecidos artistas locais, como Calasans Neto, ‘Mestre’ Didi Deoscóredes, Emanoel Araújo e Mario Cravo Neto. Os idealizadores reuniram um rol de artistas e obras com diversas procedências regionais e estéticas, o que pode ser percebido também através dos premiados: Hélio Oiticica, Lygia Clark, Rubem Valentim e Rubens Gerchman. Entre os membros de júri, estavam Clarival do Prado Valladares, Mário Schenberg e Riolan.

II Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, ou II Bienal da Bahia editar

O Regime Militar no Brasil iniciou em 1964 e endureceu ainda mais em 1968, com o Ato Institucional Nº 5, aumentando a censura e perseguindo artistas e intelectuais. Neste mesmo ano, acontecia a II Bienal da Bahia, ou II Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, no Convento da Lapa, reformado com o apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia. O regime autoritário se fez presente imediatamente: a Bienal foi fechada e dez obras confiscadas por serem “subversivas”. Diferente da primeira, a Bienal de 1968 enfatizava a produção artística baiana, entendendo que a discussão sobre os rumos estéticos “estrangeiros” deveria ser preterida, linha de raciocínio que causou desconforto em alguns artistas. A Bienal era para ser uma oportunidade de trazer a produção nacional, de maneira crítica, para contribuir com a formação e a afirmação do circuito artístico no Norte e no Nordeste brasileiro. Não apenas o regime político fez com que a Bahia não prosseguisse com o projeto da Bienal, algo que deve ocorrer apenas 46 anos depois, em 2014.

A vida sem as Bienais editar

O regime político no Brasil fez a Bahia silenciar-se artística e culturalmente, ao menos em grandes proporções, até o fim da ditadura. O respiro de alívio veio em 1988, com o Salão Baiano de Artes Plásticas, que aconteceu no Museu de Arte Moderna da Bahia. Com algumas edições, o Salão contribuiu para a reestruturação do circuito das artes visuais no Estado. Se a Bahia não esbouçava planos para produzir uma nova Bienal, em 1991, o Centro Cultural Dannemann de São Fêlix promoveu a primeira Bienal do Recôncavo, que segue até hoje sem nenhuma interrupção. O evento conta com a participação de Chico Liberato como membro do júri desde a primeira edição e se consolidou como uma afirmação da produção artística do Nordeste, mesmo sem uma repercussão comparável às antigas Bienais. Em 1992, a Fundação Cultural do Estado da Bahia criou os Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia, com ênfase na produção do interior do Estado. Os dois eventos ainda existem e premiam artistas através da seleção com chamadas públicas. O Salão Baiano, que teve algumas edições antes das Bienais, retorna em 1994 com uma nova proposta, agora, de alcance nacional e renomeado para Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas, ou Salão da Bahia. Os Salões aconteceram até 2006 com os premiados dispondo suas obras para a constituição do acervo do MAM.

III Bienal (Internacional) da Bahia – 46 anos depois editar

O ano de 2014 não marca um recomeço, mas uma continuidade para a arte baiana e nacional.[3][4] No Brasil, existem hoje somente duas Bienais, de ampla repercussão, em atividade: a Bienal de São Paulo, criada em 1951 é a segunda mais antiga no mundo, e a Bienal do Mercosul, formulada desde 1997. Após tudo o que aconteceu na arte baiana antes e após as duas Bienais, a próxima não pode ser considerada um reinício, mas uma progressão do que estava sendo realizado. A III Bienal da Bahia, ou III Bienal Internacional da Bahia, deve acontecer durante cem dias de 2014, 46 anos após o fechamento prematuro da segunda edição, em 1968. O evento ocorrerá em variados dispositivos culturais do Estado da Bahia, não apenas em Salvador, e espaços privados que estejam dispostos a colaborar, desde galerias até estabelecimentos comerciais e residências. Existem previsões de residências artísticas, com os participantes permanecendo aproximadamente três meses na Bahia. A nova Bienal possui uma obrigação não só de resgatar e trazer à memória os artistas, intelectuais, público e demais agentes envolvidos nas primeiras Bienais, mas também suas principais intenções: estabelecer um campo alternativo e um contra discurso propício à criação e ao fomento de pesquisas, propostas e ações artísticas, sem necessidade de legitimação por centros nacionais e internacionais. Ainda assim, há uma atualização dessas metas, tendo em vista a mudança no contexto histórico, social, político, econômico e cultural brasileiro e mundial. Parte-se para uma Bienal Internacional a partir de um olhar baiano e brasileiro, pois os conceitos de centro e periferia se encontram em processo de redefinição. O Nordeste ganha uma nova abordagem econômica, diferente das décadas passadas, sendo, por exemplo, no primeiro trimestre de 2013, a região responsável por sustentar o crescimento da economia nacional.[5] O Nordeste cria novos laços e relações com as outras regiões brasileiras, culturas locais e condições globais. Dois nordestes se encaram, um estereotipado no imaginário nacional e mundial, outro vivo e em constante modificação. A Bahia integra a região oficialmente desde 1959, com a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). E é a partir desse momento que o Brasil se vê na posição de definir quem está ou não no Nordeste. Desse modo, É tudo nordeste? é a questão proposta para essa III Bienal, que pode ser apresentada pela definição de “o nordeste como experiência humana”, formulada por Juarez Paraíso. Com exibições audiovisuais, exposições, instalações, palestras, performances e outras atividades, o assunto será destrinchado por seis subtemas:

  1. Imateriais (construções de identidade e investigações sobre a realidade);
  2. Tropicalidades (experiências sensoriais a partir de condições climáticas);
  3. Brincantes (atividades lúdicas, coreográficas e corporais);
  4. Formas de orientalismo (construções do imaginário);
  5. Naturalismo integral (relações com o natural e a natureza);
  6. Psicologia do testemunho (arquivos pessoais e públicos para micronarrativas).[6]

A III Bienal da Bahia tem em seu projeto cinco estruturas curatoriais editar

  1. Estrutura particular – dedicada aos trabalhos comissionados específicos preparados para a Bienal;
  2. Estrutura de alta intensidade – viabiliza os diversos projetos educativos da Bienal, de forma a estimular a participação;
  3. Estrutura relacional – projeta a Bienal para a rua e para a experiência cotidiana, com ações de caráter público, envolvendo arte e intervenção urbana em comunidades;
  4. Estrutura de reencenação – trabalha os conceitos de reprise, retomada e reencenação, através de projetos executados no passado e não totalmente explorados. Para tal, três exposições são novamente realizadas: II Bienal da Bahia – fechada abruptamente pelo Regime Militar; Bahia no Ibirapuera, projeto de Lina Bo Bardi em São Paulo nos anos de 1950, no qual apresentava ao sudeste a potência da cultura e da experiência baiana; Exposição Cadastro, promovida por Chico Liberato na década de 1980, aberta para todos os artistas através de uma inscrição;
  5. Estrutura museológica – abertura para exposições temáticas de diversas ordens e intensidades através da criação, durante a Bienal, do Museu Imaginário do Nordeste, embora se trate não somente da produção realizada no Nordeste. O acervo desse Museu será formado por arquivos pessoais, artesanatos, memórias orais, objetos, publicações e obras com qualquer expressão artística. As seções serão articuladas a partir da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, em função da sua experiência com Canudos: o contato com um “Outro Brasil”. Agora temos “Outros Brasis/Outros Mundos”.

O Museu de Arte Moderna da Bahia promoveu diversas ações e atividades preparatórias para a III Bienal da Bahia. O MAM Discute Bienal ocorreu quinzenalmente de março a agosto de 2013, buscou um conhecimento mais aprofundado sobre os modelos de Bienais existentes no Brasil e no mundo, ampliando a discussão sobre o formato mais propício para o cenário baiano atual. As experiências dos Salões da Bahia até o surgimento das duas Bienais também foram enfatizadas.

O MAM Discute Processos Curatoriais criou um programa de pesquisa e desenvolvimento curatorial por meio de um edital para curadores em início de carreira, no qual as propostas selecionadas são trabalhadas e acompanhadas pelo Núcleo de Pesquisas Curatoriais do MAM. O MAM Discute o Circuito e o Sistema da Arte consiste em um programa de debates em torno dos processos artísticos, sociais e econômicos envolvidos na produção da arte e sua circulação econômica e simbólica.

O MAM, em parceria com a Universidade Federal da Bahia, promoveu os Cursos Livres – Como ser feliz no século 21, que propuseram uma reflexão pela via da ciência sobre o contexto no qual vive a humanidade neste novo século, a partir dos exemplos da Universidade de Todos os Saberes (França) e da Universidade Livre (Alemanha). Professores de diferentes campos oferecem cursos em suas áreas de especialização a fim de aproximar o público geral de uma forma de resposta possível. Por fim, a Revista Contorno é uma publicação do MAM que continha as ideias trabalhadas na Bienal. Com ensaios, entrevistas, perfis e projetos artísticos, o periódico documentou os processos envolvidos na realização da III Bienal da Bahia.[7][8][9][10][11]

Referências

  1. https://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento81697/1-bienal-nacional-de-artes-plasticas
  2. «Acervo : I Bienal de Artes Plásticas da Bahia, 1ª Bienal de Artes Plásticas da Bahia». Lygia Clark. Consultado em 24 de julho de 2023 
  3. «Aviso de redirecionamento». www.google.com. Consultado em 24 de julho de 2023 
  4. «Bienal da Bahia | Modos de Usar by Bienal da Bahia - Issuu». issuu.com (em inglês). 24 de fevereiro de 2014. Consultado em 24 de julho de 2023 
  5. Secom, Administração (2 de abril de 2013). «Encontro no Museu de Arte Moderna aborda as bienais baianas de 66 e 68». Portal Gov Bahia. Consultado em 24 de julho de 2023 
  6. «Bienal da Bahia». Vimeo. Consultado em 24 de julho de 2023 
  7. “Bienal da Bahia”. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=marcos_texto&cd_verbete=3749>.
  8. “Bienal da Bahia: um resgate necessário”, texto de Alejandra Muñoz.
  9. Blog do MAM-BA. Disponível em: <http://bahiamam.org/>.
  10. “Marcelo Rezende: ‘A Bienal da Bahia discutirá o Brasil’”, entrevista do Diretor do MAM-BA Marcelo Rezende ao repórter do jornal A Tarde Eron Rezende. Disponível em: <http://atarde.uol.com.br/muito/materias/1502998-marcelo-rezende-a-bienal-da-bahia-discutira-o-brasil>.
  11. Secom-BA. Notícia: <http://www.secom.ba.gov.br/2014/05/119102/Cem-dias-de-manifestacoes-artisticas-marcam-o-retorno-da-Bienal-da-Bahia.html>

Ligações externas editar

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