Baanes (general de Heráclio)

 Nota: Para outras pessoas de mesmo nome, veja Baanes.

Baanes (em grego: Βαάνης; romaniz.:Baánes; em armênio/arménio: Վահան; romaniz.:Vahan; m. 636) ou Boanes (em grego: Βοάνης; romaniz.:Boánes) segundo Teófanes, o Confessor, também citado como Maã (Mahan),[1] foi um oficial bizantino de origem armênia do século VII, ativo sob o imperador Heráclio (r. 610–641). É citado pela primeira vez no final da Guerra bizantino-sassânida de 602-628, quando liderou tropas na invasão de Heráclio à Pérsia. Mais tarde, participou na defesa do Oriente contra as invasões árabes, mas morreu durante a Batalha de Jarmuque de 20 de agosto de 636.

Baanes
Morte 636
Nacionalidade Império Bizantino
Etnia armênia
Ocupação general
Religião cristianismo

Etimologia editar

Baanes (Βαάνης) é a helenização do teofórico armênio Vahan (Վահան), que derivou de Vahagn (Վահագն). Vahagn, por sua vez, foi um deus da mitologia armênia que derivou seu nome do parta *Warhragn / *Warθagn, do persa antigo Vṛθragna e do avéstico vərəθraγna, que era o nome de um dos deuses do panteão iraniano. Como teofórico ainda foi citado sob a forma armênia Vrām, persa média Warahrān e Wahrām, grega Βοάνης (Boanes), Βαρανης (Baranes), Βαανιος (Baanios), Ουαρράμης (Uarrames), Βαραμ (Baram), Βάραμος (Baramos) e Βαραμ(a)άνης (Baram(a)anes),[2][3] georgiana ბარამ (Baram),[4] latina Vararanes[5] e persa nova Bahram.[3]

Vida editar

 
Dinar de ouro de Cosroes II (r. 590–628)
 
Tremisse de Heráclio (r. 610–641)

Baanes foi citado pela primeira vez no fim de 627, quando acompanhou Heráclio em sua invasão final à Pérsia. Em dezembro, de acordo com Teófanes, o Confessor,[6] Heráclio enviou-o com soldados selecionados para derrotar uma força enviada pelo general Razates. Baanes encontrou os persas, matou o comandante e levou ao acampamento bizantino sua cabeça e sua espada, que era toda feita de ouro. Conseguiu matar muitos persas e capturou 26, dentre eles o porta-espada (espatário) de Razates, que informou que Razates atacaria as forças de Heráclio com 3 000 reforços enviados pelo Cosroes II (r. 590–628).[7][8]

Após a derrota de Teodoro, irmão de Heráclio, em Gabita em 30 de julho de 634, foi nomeado mestre dos soldados do Oriente, com Teodoro Tritírio como seu colega;[9][10] para Kaegi era comandante supremo das tropas na Síria,[11] mas para Stratos era Tritírio.[12] Seus movimentos seguintes são desconhecidos, mas em 635 defendeu, junto com Tritírio, a área entre Emessa e Damasco e infligiu várias derrotas aos árabes.[6] Segundo Amade ibne Atã, diferente de Abu Ubaidá que adotou uma política justa com os habitantes de territórios ocupados por tropas muçulmanas, Baanes, após retomar Pela, amaldiçoou os locais, interrogou-os sobre porque decidiram se render e repreendeu-os por não lutarem.[13]

Em 636, Tritírio e ele marcharam de Emesa[14] e uniram-se a Nicetas, filho do general persa Sarbaro, e o rei gassânida Jabalá. De acordo com as fontes gregas, suas tropas, descontes com a situação no Oriente, rebelaram e proclamaram-no imperador. Embora a veracidade deste fato seja bastante questionável, sobretudo porque aparenta tratar-se de uma tentativa de desresponsabilização do plano do imperador, a verdade é que do lado árabe e do bizantino houve inúmeras deserções, confirmadas por fontes árabes.[15][16]

 
Vista sobre o local da Batalha de Jarmuque

O exército combinado perseguiu as tropas árabes lideradas por Calide ibne Ualide até próximo ao Hieromiax (atual rio Jarmuque). Heráclio deu instruções para que se esgotasse primeiro os meios diplomáticos antes de Baanes confrontá-los.[17] Talvez isto devia-se ao fato das tropas do Isdigerdes III (r. 632–651) ainda não estarem prontas para levar a cabo a ofensiva no Sauade (atual Iraque). Baanes enviou Gregório, e depois Jabalá, para entabular negociações com os muçulmanos que, no entanto, se revelaram infrutíferas. O próprio Calide deslocou-se ao acampamento bizantino a convite de Baanes para negociar os termos de paz, mas mais uma vez as negociações falharam. Estas negociações atrasaram o início dos combates por um mês.[18] Na batalha seguinte (15–20 de agosto), os bizantinos foram fragorosamente derrotados. De acordo com algumas fontes, Baanes foi morto em combate. Porém, segundo os Anais de Eutíquio, sobreviveu e fugiu ao monte Sinai e tornou-se monge.[6]

Vários foram os motivos que levaram os bizantinos a sofreram uma derrota fragorosa em Jarmuque. Os principais foram o atrito entre os comandantes que estiveram na batalha[19] e a consequente desordem dos soldados sob seu comando.[20] O imperador, de certo, supervisionou as operações na Síria a partir de Antioquia, enquanto era aconselhado por um pequeno grupo de oficiais, dentre eles seu irmão Teodoro e Nicetas. Era esse grupo que traçava todas as estratégias a serem seguidas contra os invasores. No entanto, é sabido mediante relatos preservados nas fontes que Baanes não possuía um bom relacionamento com seus cocomandantes, sobretudo Nicetas e Tritírio, e isso se traduziu na condução desastrosa do conflito com os árabes.[21]

Avaliação editar

Walter Kaegi considerou que Baanes era um oficial muito engajado e, tal como Heráclio, parece ter devotado seus esforços para conseguir a vitória contra os invasores árabes e reter os territórios recém-reconquistados dos persas.[22]

Referências

  1. Finlay 1884, p. 453.
  2. Justi 1895, p. 363.
  3. a b Múltiplos Autores 1988.
  4. Rapp 2014, p. 203.
  5. Martindale 1971, p. 945.
  6. a b c Martindale 1992, p. 161.
  7. Greatrex 2002, p. 213.
  8. Kaegi 2003, p. 160.
  9. Kajdan 1991, p. 2039.
  10. Kaegi 2003, p. 260–261.
  11. Kaegi 1992, p. 119.
  12. Stratos 1980, p. 65.
  13. Shoshan 2016, p. 63.
  14. Kaegi 2003, p. 242.
  15. Kaegi 2003, p. 244; 280; 295.
  16. Kaegi 1992, p. 120; 132-133; 186.
  17. Kaegi 1992, p. 130.
  18. Nicolle 1994, p. 64.
  19. Kaegi 2003, p. 244.
  20. Kaegi 1992, p. 186.
  21. Kaegi 1992, p. 129; 132.
  22. Kaegi 1992, p. 263.

Bibliografia editar

  • Finlay, George (1884). Greece Under the Romans: A Historical View of the Condition of the Greek Nation, from the Time of Its Conquest by the Romans Until the Extinction of the Roman Empire in the East, B.C. 146-A.D. 717. Oxônia: William Blackwood 
  • Greatrex, Geoffrey; Lieu, Samuel N. C. (2002). The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars (Part II, 363–630 AD). Londres: Routledge. ISBN 0-415-14687-9 
  • Kaegi, Walter E. (1992). Byzantium and the Early Islamic Conquests. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Justi, Ferdinand (1895). «Werepraghna 24». Iranisches Namenbuch. Marburgo: N. G. Elwertsche Verlagsbuchhandlung 
  • Kajdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 0-19-504652-8 
  • Martindale, J. R.; A. H. M. Jones (1971). «Vararanes I». The Prosopography of the Later Roman Empire, Vol. I AD 260-395. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambrígia e Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 0-521-20160-8 
  • Múltiplos Autores (1988). «Bahrām». Enciclopédia Irânica Vol. III, Fasc. 5. Nova Iorque: Universidade de Colúmbia 
  • Rapp, Stephen H. Jr. (2014). The Sasanian World through Georgian Eyes: Caucasia and the Iranian Commonwealth in Late Antique Georgian Literature. Farnham: Ashgate Publishing, Ltd. ISBN 1472425529 
  • Shoshan, Boaz (2016). The Arabic Historical Tradition and the Early Islamic Conquests - Folklore, tribal lore, Holy War. Londres e Nova Iorque: Routledge