Robert Baden-Powell

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Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, o Barão de Gilwell (Londres, 22 de fevereiro de 1857Nieri, 8 de janeiro de 1941) foi um tenente-general do Exército Britânico, fundador do escotismo e[3] do Movimento Bandeirante (especifico para meninas) juntamente com sua irmã Agnes Baden-Powell e a esposa Olave Baden-Powell em 1909.

O Muito Honorável Barão de Gilwell
Robert Baden-Powell
Robert Baden-Powell
Nome completo Robert Stephenson Smyth Baden-Powell
Outros nomes B-P
Conhecido(a) por Fundador e patrono do escotismo.
Nascimento 22 de fevereiro de 1857
Londres, Reino Unido
Morte 8 de janeiro de 1941 (83 anos)
Nieri, Quênia
Nacionalidade Britânico
Progenitores Mãe: Henrietta Grace Smyth
Pai: Baden Powell
Parentesco Agnes Baden-Powell
Cônjuge Olave Baden-Powell
Filho(a)(s) Olave Clair Soames
Betty St. Clair Baden-Powell
Heather Grace Baden-Powell
Educação Escola Charterhouse
Ocupação militar, escoteiro, escritor, nobre
Serviço militar
País Royal Navy
Anos de serviço 1876–1910
Patente Tenente-General
Comando Inspetor Geral de Cavalaria (1903)
Quinta Guarnição de Dragoons (1897)
Conflitos Guerras Anglo-Ashanti
Segunda Guerra de Matabele
Cerco de Mafeking
Segunda Guerra dos Bôeres
Condecorações

Brasão do Barão Baden-Powell e Gilwell

Filho do reverendo Baden Powell, professor catedrático em Oxford. O avô materno foi almirante inglês W. T. Smyth, o bisavô, Joseph Brewer Smyth, foi colonizador de Nova Jersey (Estados Unidos).

Biografia editar

O seu pai era o reverendo Baden Powell, professor catedrático em Oxford, que faleceu quando Robert Baden-Powell tinha apenas 3 anos, deixando a sua mãe com sete filhos. Esta era filha do almirante inglês W. T. Smyth. Seu bisavô, Joseph Brewer Smyth, tinha ido como colonizador para Nova Jersey (Estados Unidos) mas faleceu em naufrágio durante o retorno ao Reino Unido.

Carreira militar editar

Aos 19 anos, Baden-Powell terminou os estudos na Escola Charterhouse.

No serviço militar chegou a capitão aos vinte e seis anos e, também ganhou o troféu desportivo mais desejado na Índia, o troféu de "sangrar o porco", caça ao javali selvagem a cavalo, tendo como única arma uma lança curta. Um desporto perigoso, pois o javali selvagem é habitualmente citado como "o único animal que se atreve a beber água no mesmo bebedouro com um tigre".

Em 1887, B-P participou da campanha contra os Zulus na África. Foi ascendido a Major em 1889, e em Abril de 1896 dirigiu uma expedição contra os matabele em Rodésia.[1]

Dias depois de uma revolta de negros que massacraram 300 colonos britânicos, o coronel cercou o chefe dos guerreiros chamado Uwini com mais de 350 soldados.

Os ingleses prometeram poupar a vida aos guerreiros em troca da rendição. As autoridades civis pediram que ele fosse entregue para ser preso, porém Baden, recusou e mandou-o executar com o argumento de que ameaçava os britânicos. Em 2009, Robin Clay, neto de Baden-Powell, desculpou-o no Times: "Todos cometemos erros. Na guerra as emoções estão ao rubro. Faz-se o que se pensa estar certo".[2]

Esta era um época formativa para B-P não só porque ele tinha a época da vida dirigindo missões como chefe do reconhecimento no território inimigo na Rodésia, mas também porque muitas das suas ideias mais recentes do escotismo se enraizaram aqui.[3] Foi nesta guerra que ele começou uma amizade com o escoteiro americano Frederick Russell Burnham, que o introduziu ao ponto de ebulição a maneira do Oeste americano e do woodcraft (escotismo), e aqui que ele usou seu chapéu Stetson pela primeira vez.[4] Mais tarde B-P participou na campanha contra a tribo dos Ashantís. Os nativos temiam-no tanto que lhe davam o nome de "Impisa" ("lobo-que-nunca-dorme") , devido à sua coragem, à sua perícia como explorador e à sua impressionante habilidade em seguir pistas.

As promoções de B-P na carreira militar eram quase automáticas tal a regularidade com que ocorriam até que, subitamente se tornou famoso.

"Baden-Powell é um scout maravilhosamente capaz e rápido em esboços. Não conheço outro que poderia ter feito o trabalho em Mafeking se as mesmas circunstâncias fossem impostas. Todos os bocados do conhecimento que recolheu estudiosamente foram utilizadas na protecção da comunidade".
Extrato O sitio de Mafeking abandonado pelos Boeres, Frederick Russell Burnham entrevistado por o jornal Times of London, 19 Maio 1900).

Corria o ano de 1899 e Baden-Powell tinha sido promovido a Coronel. Na África do Sul começava uma agitação e as relações entre a Inglaterra e o governo da República de Transval tinham chegado ao ponto do rompimento. B-P recebeu ordens de organizar dois batalhões de carabineiros montados e marchar para Mafeking,[4] uma cidade no coração da África do Sul. "Quem tem Mafeking tem as rédeas da África do Sul", era um dito corrente entre os nativos, que se verificou ser verdadeiro.

Veio a guerra dos Boers, e durante 217 dias (a partir de 13 de Outubro de 1899) B-P defendeu Mafeking cercada por forças esmagadoramente superiores do inimigo, até que tropas de socorro conseguiram finalmente abrir caminho lutando para auxiliá-lo, no dia 18 de maio de 1900.

B-P, promovido agora ao posto de major-general, tornou-se um herói aos olhos de seus compatriotas. Foi como um herói dos adultos e das crianças que em 1901 ele regressou da África do Sul para a Inglaterra e descobriu, surpreso, que a sua popularidade pessoal dera popularidade ao livro que escrevera para militares: Aids to Scouting (Ajudas à Exploração Militar). O livro estava sendo usado como um compêndio nas escolas masculinas. B-P viu nisto um desafio. Compreendeu que estava aí a oportunidade de ajudar a juventude.

Escotismo editar

 
Burnham, Chefe dos Escoteiros, desenhado por Baden-Powell, Matabeleland, 1896.

Em 1887, Baden-Powell participou da campanha contra os Zulus na África. Logo após foi promovido a Major em 1889, e em Abril de 1896 dirigiu uma expedição contra os Matabele em Rodésia. Esta era uma época formativa para Baden-Powell, pois muitas das ideias fundamentais do escotismo têm sua origem aqui. Nesta guerra Baden-Powell iniciou uma amizade com o escoteiro americano Frederick Russell Burnham, conhecido pelos serviços prestados no exército colonial britânico, que mostrou a ele a maneira do Oeste americana do woodcraft (escotismo), e foi aqui que ele usou seu chapéu Stetson como Burnham (chapéu comumente usado pro Baden-Powell) pela primeira vez.[5] a Baden-Powell, sendo esta uma das influências mais notáveis do fundador do escotismo. A amizade entre os dois resultou anos depois na formulação didática do escotismo.[6]

Pôs-se então a trabalhar, aproveitando e adaptando sua experiência na Índia e na África entre os Zulus e outras tribos do sul da África. Reuniu uma biblioteca especial e estudou nestes livros os métodos usados em todas as épocas para a educação e o adestramento dos rapazes, desde jovens espartanos, os antigos bretões, os peles-vermelhas, até os nossos dias. Lenta e cuidadosamente, B-P foi desenvolvendo a ideia do escotismo. Queria estar certo de que a ideia podia ser posta em prática, e por isso, no verão de 1907 foi com um grupo de 20 rapazes separados por 4 patrulhas (Maçarico, Corvo, Lobo, Touro) para a Ilha de Brownsea, no Canal da Mancha, para realizar o primeiro acampamento escoteiro que o mundo presenciou. O acampamento teve um completo êxito.

Nos primeiros meses de 1908, lançou em seis fascículos quinzenais o seu manual de adestramento, o "Escutismo para Rapazes" sem sequer sonhar que este livro iria por em ação um movimento que afetaria a juventude do mundo inteiro.

Mal tinha começado a aparecer nas livrarias e nas bancas de jornais e já surgiram patrulhas e escotistas não apenas na Inglaterra, mas em muitos outros países. O movimento cresceu tanto que em 1910,B-P compreendeu que o Escotismo seria a obra a que dedicaria a sua vida. Teve a visão e a fé de reconhecer que podia fazer -mais pelo seu país adestrando a nova geração para a boa cidadania do que preparando meia-dúzia de homens para uma possível futura guerra.

 
Robert Baden-Powell e o Comandante da tropa em Mafeking.

Pediu então licença do Exército onde havia chegado a tenente-general e ingressou na sua "segunda vida", como costumava chamá-la, sua vida de serviço ao mundo por meio do Escotismo.

Em 1912, fez uma viagem à volta do mundo para contactar os escoteiros de muitos outros países. Foi este o primeiro passo para fazer do Escotismo uma fraternidade mundial.

A Primeira Guerra Mundial momentaneamente interrompeu este trabalho, a 27 de Junho de 1919 foi feito Comendador da Ordem Militar de Cristo,[7] mas com o fim das hostilidades foi recomeçado, e em 1920 escoteiros de todas as partes do mundo reuniram-se em Londres para a primeira concentração internacional de escoteiros: o Primeiro Jamboree Mundial. Na última noite deste Jamboree, a 6 de Agosto, Baden Powell foi proclamado "Escoteiro-Chefe-Mundial" sob os aplausos da multidão de rapazes.

O Movimento Escoteiro continuou a crescer. No dia em que atingiu a "maioridade" completando 21 anos contava com mais de 2 milhões de membros em praticamente todos os países do mundo. Nesta ocasião, Baden Powell recebeu do rei Jorge V a honra de ser elevado a barão, recebendo o estilo de Lorde Baden-Powell of Gilwell.

Quando suas forças afinal começaram a declinar, depois de completar oitenta anos de idade, regressou à sua amada África com a sua esposa, Olave Baden-Powell, que fora uma entusiástica colaboradora em todos os seus esforços, e que era a Chefe-Mundial das Bandeirantes, movimento também iniciado por Baden-Powell.

Olave St. Clair Soames nasceu no dia 22 de fevereiro de 1889 na Inglaterra. Seus pais, Harold Soames e Katharine Hill, tinham já um casal de filhos. Olave gostava muito de animais, de caminhar ao ar livre, de musica e esportes. Mas foi a bordo de um navio pelo atlântico que a vida da jovem Olave Soames mudou radicalmente e entrou para a História bandeirante. Em janeiro de 1912, Olave e seu pai embarcaram no navio “Arcadian”, para um cruzeiro turístico, no qual também estava a bordo, o famoso herói de guerra e fundador do Escotismo chamado Robert Baden-Powell. Ali conheceu Baden e também a Chefa americana Juliette Low, velha amiga dele, que fundara a Associação de Girl Scouts nos Estados Unidos da America. O namoro entre os dois iniciou-se naquele cruzeiro de 20 dias e no qual eles puderam se conhecer, descobrir muitas coisas em comum, inclusive que, seus aniversario caiam no mesmo dia, 22 de fevereiro. Na época Powell tinha 55 anos e Olave, 23 anos. Em outubro daquele mesmo ano, Powell e Olave casam em uma cerimônia simples na igreja de São Pedro, em Londres. Desde então Olave passou a ser reconhecida pelo nome de Olave Baden-Powell.

Últimos dias editar

 
Estátua de Robert Baden-Powell na cidade do Rio de Janeiro.

Fixaram residência no Quênia, num lugar tranquilo e com um panorama maravilhoso: florestas de quilômetros de extensão tendo ao fundo montanhas de picos cobertos de neve. Onde morreu Baden-Powell, em 8 de Janeiro de 1941, faltando um pouco mais de um mês para completar 84 anos de idade. Encontra-se sepultado na Saint Peter's Churchyard, Nyeri, no Quénia.[8]

Carta aos guias de patrulha (monitores) editar

"Quero que vocês, guias de patrulha, entrem em ação e adestrem as vossas Patrulhas inteiramente sozinhos e ao vosso jeito porque, para vocês, é perfeitamente possível pegar em cada rapaz da Patrulha e fazer dele um bom camarada, um verdadeiro Homem. De nada vale ter um ou dois rapazes admiráveis e o resto não prestar para nada. Vocês devem fazer deles inteiramente bons.
Para conseguir isso, a coisa mais importante é o próprio exemplo, porque, o que vocês fizerem, os vossos Escoteiros farão. Mostrem a todos eles que vocês sabem obedecer às ordens dadas, sejam elas ordens verbais, ou sejam regras que estejam escritas ou impressas; e que vocês cumprem as ordens, esteja ou não o Chefe escoteiro presente. Mostrem que conseguem conquistar distintivos de Especialidades e, com um pouco de persuasão, os vossos rapazes seguirão o vosso exemplo. Mas, lembrem-se que vocês devem guiá-los, e não empurrá-los."

Carta de despedida editar

"Escoteiros: Se vocês tiverem visto a peça "Peter Pan", deverão estar lembrados de que o chefe-pirata estava sempre fazendo o seu "discurso de moribundo", porque receava que, possivelmente, quando chegasse a hora de ele morrer, não tivesse mais tempo para dizer tais coisas.
Acontece quase a mesma coisa comigo e, assim, e embora neste momento eu não esteja morrendo - qualquer dia destes eu morrerei - , quero enviar a vocês uma palavra de despedida. Lembrem-se de que será a última vez que vocês ouvirão minhas palavras. Portanto, pensem bem nelas. Eu tenho tido uma vida muito feliz e quero que cada um de vocês também tenha uma vida feliz. Acredito que Deus nos colocou neste mundo alegre para que sejamos felizes e para aproveitarmos a vida. A felicidade não provém do fato de ser rico, nem meramente de ter sido bem sucedido na carreira; e, tampouco, de sermos indulgentes para com nós mesmos. Um passo na direção da felicidade é o de tornar-se saudável e forte enquanto se ainda é jovem, de sorte que possa vir a ser útil e aproveitar a vida quando for homem.
O estudo da natureza mostrará a vocês quão repleto de coisas belas e maravilhosas Deus fez o mundo para vocês aproveitarem. Alegrem-se com o que receberam e façam bom proveito disso. Olhem para o lado bom das coisas, ao invés do lado ruim delas. Contudo, a melhor maneira de obter felicidade é proporcionar felicidade a outras pessoas. Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram e, quando chegar a vez de morrerem, possam morrer felizes com o sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas fizeram o melhor que puderam. Estejam preparados, desta maneira, para viverem e morrerem felizes, sempre fiéis à Promessa Escotista, até mesmo depois que deixarem de ser jovens - e que Deus os ajude a cumpri-la. Vosso amigo, Baden-Powell."

Livros editar

  • Aids to Scouting
  • Escotismo para rapazes (1908)
  • Rovering to success (A Caminho do Triunfo em Portugal e tem o nome de "Caminhos para o Sucesso" no Brasil)
  • Educação pelo amor em substituição à educação pelo medo
  • A Escola da vida (Autobiografia de Baden-Powell)

Notas editar

 
Wikiquote
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Ver também editar

 
Commons
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Referências

  1. S.T. Ferrán, Baden Powell: Héroe del Imperio Inglés consultado el 1 de marzo de 2007.
  2. [1]
  3. Proctor, Tammy M. (julho de 2000). «A Separate Path: Scouting and Guiding in Interwar South Africa». Compartive Studies in Society and History. 42 (3). ISSN 3548-1356 Verifique |issn= (ajuda) 
  4. Jeal, Tim (1990). The boy-man : the life of Lord Baden-Powell. New York: Morrow. ISBN 0688048994 
  5. Robert Baden-Powell (1908). Scouting for Boys: A Handbook for Instruction in Good Citizenship. London: H. Cox. pp. xxiv. ISBN 0-486457-19-2 
  6. Fagundes, Ernani, Mestres em sobrevivencia: treinados para sobreviver em pleno territorio inimigo, os scouts eram peritos em rastrear indios e sair de 'roubadas' em diversas situacoes., Aventuras na História (2010): 76+. 9 Mar. 2011
  7. [2]
  8. Robert Baden-Powell (em inglês) no Find a Grave