Baptista Pereira

nadador português

Joaquim Baptista Pereira (Alhandra, 7 de março de 192122 de junho de 1984) foi um nadador internacional português de fundo. Representava o Alhandra Sporting Club. Por a sua terra ser localizada à beira do Rio Tejo, Baptista Pereira, desde muito novo, fez do rio o seu lugar de brincadeira preferida.

Baptista Pereira
Baptista Pereira
Natação
Nome completo Joaquim Baptista Pereira
Alcunha
  • "Homem-Peixe"[1]
  • "Herói de Alhandra"[2]
Nascimento 7 de março de 1921
Alhandra, Portugal
Nacionalidade Portugal Portugal
Morte 22 de junho de 1984 (63 anos)
Clube Alhandra SC

O Quim, como era conhecido, filho de pessoas humildes, era aquele garoto traquina que desde muito cedo começou a acompanhar na faina o seu pai, pescador, onde além de aprender a profissão, aprendeu a nadar, passando a ser a sua distração eleita. Para desespero dos pais, a pouco e pouco, sozinho, começou a aventurar-se no rio a nadar cada vez maiores distâncias. Quando os seus pais se zangavam com ele era frequente nadar até aos mouchões do Tejo e, nessa altura permanecia até as coisas acalmarem. Rapidamente se começou a conhecer as proezas do jovem e todos os seus conterrâneos começaram-lhe a augurar um futuro brilhante na Natação e não descansaram enquanto não obtiveram autorização dos pais para o inscreverem no clube local.

Aos 13 anos já era o garoto mais popular da sua terra. Os seus êxitos em piscina e nas clássicas travessias rapidamente se foram avolumando, tornando num dos melhores nadadores nacionais da época. Um dia travou conhecimento com um nadador argentino que se deslocara a Lisboa e a sua vida mudou passando a dedicar-se a tempo inteiro às provas de fundo. Após várias provas de fundo com assinaláveis sucessos recebe o convite mais desejado: participar na prova da Travessia do Canal da Mancha. Para tal, o seu treino aponta para conseguir esse desiderato. Para tal, Baptista Pereira, começa a percorrer longas distâncias a nado como de Lisboa a Vila Franca de Xira, do Barreiro a Alhandra e de Peniche às Berlengas. A 21 de agosto de 1954, finalmente, foi dada a partida para a clássica prova e para espanto de todos, saiu vencedor.[3] Foi um dos maiores feitos desportivos portugueses até essa data. A população de Alhandra recebeu-o em festa e em gratidão para o seu conterrâneo construíram-lhe e ofereceram-lhe uma casa onde ele habitou com a sua família.

Palmarés desportivos editar

  • Em 1936, com 15 anos efetua a primeira Travessia do Tejo ficando em 3.º Lugar;
  • Nesse mesmo ano, em piscina, bate o seu primeiro recorde dos 400 metros livres, principiantes, com o tempo de 5 minutos e 59 segundos;
  • Em 1937, baixa o seu recorde dos 400 metros livres para o tempo de 5 minutos e 5 segundos;
  • Em 1938, consegue vencer a Travessia do Tejo, a clássica prova de fundo da natação portuguesa;
  • Foi o recordista nacional dos 1500 metros livres juniores;
  • Foi vencedor da Travessia de Sesimbra e da Meia-Milha da Foz;
  • Em 1950, nadou 35 km de Alhandra até Lisboa, em 5 horas e quatro minutos;
  • Bateu o recorde da Europa de Longa Distância e Permanência na água com 26 horas e 12 minutos, tendo percorrido 166 600 metros;
  • Em 1953, bateu o recorde mundial da Travessia do Estreito de Gibraltar;
  • Em 1954, fez a Travessia do Canal da Mancha, o primeiro português a conquistar esse feito.

Homenagem da Vila de Alhandra a Baptista Pereira editar

 
Capa do prospecto comemorativo

Para comemorar o 1.º aniversário da morte de Baptista Pereira, a Vila de Alhandra organizou um conjunto de atividades que tiveram lugar nos dias 20, 21 e 22 de setembro de 1985. Para tal, foi realizado um prospeto que teve uma tiragem de 1500 exemplares a promover o acontecimento e a dar a conhecer a vida e os feitos Nacionais e Internacionais do filho prodígio da terra, Joaquim Baptista Pereira, imortalizado na obra Esteiros de Soeiro Pereira Gomes, na personagem de "Gineto".[4]

Memorial editar

Joaquim Batista Pereira nasceu a 7 de março de 1921, em Alhandra.' Teria sido no Tejo, ao largo, ou na bateira acostada a um cais, ou ainda, no remanso de um dos esteiros.

Filho de Júlio Pereira e de Adelaide Batista, era um dos rapazes que pontuavam as ruas da Vila e que nunca foram à Escola. A vida destes rapazes foi transmitida magistralmente por um artista da literatura de ficção: Soeiro Pereira Gomes.

Neles, um fator comum mais os reunia: o nadar no Tejo, atravessando-o, ou ao longo das suas margens, em liberdade plena; nadar nos esteiros na hora da sesta, em desafio e brincadeira com Os "patos-bravos" dos telhais, usar o grande rio nas fugas aos castigos e à sanha dos adultos. O futuro nadador desmentia o Gineto ao banhar-se com prazer no Tejo e ser um dos mais velozes a nadar. A aprendizagem fazia-se chafurdando nas margens e nos esteiros lodosos.

Com a charca que deu origem à Piscina, na década de 30, os dirigentes do Alhandra Sporting Club começaram por recrutar os nadadores adultos e aqueles rapazes que iam banhar-se na charca e que, por sua vez, miravam com algum gozo os adultos e os meninos bem-comportados que nadavam "à cão", ou boiavam com coletes, ou presos aos cintos de aprendizagem. Que figurão eles faziam, os rapazes da rua, perante aqueles autênticos "patos marrecos”.Mas criava-se o Baptista Pereira, e uma nova imagem surgiu nas competições de Piscina e de rio, ao lado do seu mais próximo rival, companheiro e amigo também de Alhandra e do A.S.C.: Jofre de Carvalho. Jofre foi o primeiro nadador do seu Clube a distinguir-se em piscina — 1.º nos 400 metros livres em 17/8/1936, com o tempo de 6min., 19s. e 4/10 — 4.º na travessia do Tejo em 28/9/36, em 38 m., onde Baptista Pereira obteve o 9.º lugar.

 
Baptista Pereira Memorial

Baptista Pereira revolucionou a natação competitiva de piscina em Portugal. A supremacia incontestada, há muitos anos, do Sport Algés e Dafundo, com as suas piscinas de verão e inverno, e grandes nadadores que tinham contribuído, a alto nível, para o progresso da natação no País — Alberto Azinhais dos Santos e os Bessones — foi em grande parte ultrapassada por este Gineto que, na Piscina e no Rio, "comia" distância e adversários.

Ele pulverizou os recordes nacionais dos 200, 400, 500, 800, 1000 e 1500 metros livres. O seu estilo especial, e apesar das lições do húngaro Tarok no Estoril, onde muitas vezes no inverno foi levado por Ernesto Júlio Galamba — Crawl quando nos arranques ou nos pontos finais, Trudgen para um andamento certo, implacável, levou-o a ser a figura de primeiro plano da natação portuguesa, de 1938 a 1949. Ou seja, dos 17 aos 28 anos, com mais esta qualidade para um nadador invulgar: começou tarde, mas deixou um rasto imperecível.

 
Programa de Homenagem

Deixada a natação pura, a de piscina, a força e a paixão do grande atleta levaram-no às maiores façanhas no mar e no rio, que culminariam com a vitória da travessia do Canal da Mancha, em 21 de agosto de 1954, com os recordes, por duas vezes estabelecidos, na Travessia do Estreito de Gibraltar, em 25 de outubro de 1953 e em 22 de setembro de1956, e com o recorde da Europa de distância (206 km) e permanência na água (28h43min), estabelecido no Tejo a 8 de setembro de 1959.

Passou a ser, e pela primeira vez na história do desporto português, um atleta com notícia em jornais e revistas a nível internacional, tendo sido em virtude dos seus grandes feitos, galardoado com a medalha de mérito Desportivo Nacional.

Casado com Maria A. de C. M. Pereira, a sua companheira de toda a vida, dessa união nasceram três filhos: Lucília, Natércia e Tito.

Faleceu em Alhandra, a 22 de junho de 1984, e está sepultado no cemitério da Vila, sobranceiro aos horizontes desafogados do Tejo.

Homenagem póstuma editar

Batista Pereira, o "Gineto" que Soeiro Pereira Gomes imortalizou nas páginas do seu romance "Esteiros", dedicado "aos filhos dos Homens que nunca foram meninos", foi alvo de merecida e justificada homenagem póstuma, em Alhandra, nos dias 20, 21 e 22 de setembro de 1985.

Provas Nacionais editar

Piscina vitórias em campeonatos nacionais
Distância Ano Estilo Tempo
200 m. 1939 Livres 2m 36s
400 m. 1938 5m 45s e 4/10s*
1939 5m 31s
1940 5m 36s e 2/10s
1941 5m 28s e 2/10s
1942 5m 31s e 8/10s
1943 5m 34s e 3/10s
1944 5m 34s e 5/10s
1945 5m 22s e 6/10s
1949 5m 40s e 2/10s
1.500 m. 1938 22m 32s e 2/10s
1939 22m 40s
1940 22m 40s e 4/10s
1941 21m 58s e 4/10s
1942 22m 46s
1943 22m 31s
1944 23m 49s e 5/10s
1945 22m 07s e 2/10s
1949 23m 04s e 8/10s

*Recorde Nacional

Piscina recordes de portugal (fora dos campeonatos)
Categoria Distância Data Estilo Tempo
Júniores 1.500 m. 10-07-1938 Livres 23m 11s e 6/10s
Séniores 400 m. 17-09-1945 Livres 5m 21s
500 m. 05-08-1943 7m 02s e 4/10s
800 m. 06-09-1942 11m 21s e 2/10s
1.000 m 28-08-1948 14m 34s
1.500 m. 09-09-1945 21m 25s
Mar
Ano Trajecto Classificação Tempo
1948 Travessia da Baía de Sesimbra 1.º 25m 27s
1954 Peniche-Berlengas-Peniche - 4h 38m 11s
Rio Tejo
Ano Trajecto Classificação Tempo Distância
1942 Travessia do Tejo 1.º 56m e 24s -
1943 Travessia Tejo–Trafaria–Pedrouços 1.º 31m e 22s -
1948 Junqueira–Meia Milha 1.º 8h 55m e 05s -
Travessia Tejo–Mouchão de Alhandra–Alhandra 1.º 27m e 53s -
1949 Cruz Quebrada–Belém 1.º 50m e 32s -
1953 30.ª Travessia Tejo–Mouchão da Póvoa–PS Iria 5.º 25m e 20s -
1954 Lisboa (P.Comércio)–Vila F. Xira - 7h 02m e 00s 4,549 Km
1955 Alhandra–Salvaterra de Magos - 5h 00m e 06s 5,098 Km
Salv.Magos–Alhandra - 4h 34m e 00s 5,693 Km
Alhandra–Lisboa–Cacilhas–Alfeite–Seixal - 12h 54m e 00s 5.077 Km
Alhandra–Lisboa–Cacilhas–Barreiro–Montijo - 9h 10m e 00s 5,411 Km
Alhandra–Azambuja (Obras) - 4h 10m e 00s 4,390 Km
Azambuja (Obras)–Alhandra - 3h 15m e 00s 5,714 Km
1956 Alhandra–Lisboa (Sta. Apolónia)–Alhandra - 10h 15m e 00s 5,073Hm
Volta do Mouchão de Alhandra - 3h 22m e 00s 3,564 Km
Alhandra–Salv. Magos–Alhandra - 11h 06m e 00s 4,684 Km
Alhandra–Marinha–Póvoa Sta Iria - 7h 37m e 00s 4,748 Km
Alhandra–Doca de Acântara (ao fundo) - 5h 35m e 00s 5,552 Km
Alhandra–Azambuja - 5h 10m e 00s -
Azambuja–Alhandra - 3h 55m e 00s -
1957 Póvoa Sta Iria–Doca de Belém - 5h 24m e 00s 5,387 Km
1959 Alhandra–Rocha Conde d'Obidos - 5h 19m e 00s 6,401 Km
Alhandra–Lisboa (Beato) - 4h 05m e 00s 5,632 Km
Alhandra–Casa Branca - 5h 00m e 00s 4,600 Km
Praça do Comércio–Cascais - 6h 20m e 00s 4,500 Km
Alhandra–Conchoso–Vila F. Xira - 7h 38m e 00s 4,716 Km
Praça do Comércio–Cascais - 6h 08m e 00s 4,664 Km
Alhandra–Azambuja - 3h 54m e 00s -
Azambuja–Alhandra - 3h 09m e 00s -
Vala da Azambuja–Santa Iria–Casa Branca–Mouchão da Póvoa–Casa Branca–Alhandra - 28h 43m e 00s * 206,000 Km

* Recorde da Europa

Provas Internacionais editar

Rio
Data Trajecto Distância Clas. Tempo Observações
23/12/53 Nilo (Egipto) 42 Km Desistiu - 1.º Raphael Morand (França)
26/07/54 Atlantic City (EUA) 41 Km 9.º - 1.º Abdel Heif (Egipto)
8/06/56 Auvers-sur-Oise (França) 18,5 Km 3.º 4h 33m
1/07/56 Paris (França) 30 Km 4.º 6h 42m 1.º Abdel Heif (Egipto)
14-15/7/56 AngersAncenisNantes (França) 100 Km 3.º 14h 29m e 30s 1.º Helge Jensen (Dinamarca)
Mar
Data Trajecto Clas. Tempo Observações
25/10/53 Travessia do Estreito Gibraltar - 5h 4m Novo Recorde
21/08/54 Travessia do Canal da Mancha 1.º 12h 00m e 25s
22/09/56 Travessia do Estreito Gibraltar - 4h 34m e 6s Novo Recorde
27/08/59 Travessia do Canal da Mancha 3.º 13h 12m e 13s 1.º A. Camarero (Argentina)

Referências

  1. «Baptista Pereira, o Homem-Peixe». www.fpnatacao.pt. Consultado em 5 de novembro de 2023 
  2. Portugal -, RTP, Rádio e Televisão de. «O HERÓI DE ALHANDRA II por Rui Alves - Replay, RTP Memoria - Canais TV - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 5 de novembro de 2023 
  3. «Baptista Pereira, o campeão do povo». Avante.pt. Consultado em 5 de novembro de 2012 
  4. Panfleto realizado em 1985 para promover a homenagem a Baptista Pereira. Autor desconhecido.

Ligações externas editar