Beeldenstorm (literalmente "tempestade das estátuas") designa o evento histórico que teve seu ápice em 1566, evento costumeiramente ligado à Guerra dos Oitenta Anos, caracterizado pela destruição iconoclasta oriunda dos movimentos reformistas e que se passou em Flandres.

Imagens destruídas numa igreja de Utrecht, durante o Beeldenstorm.

Pressupostos editar

Em 1500 Carlos V nasceu em Gante. Foi herdeiro das Dezessete Províncias (em 1506), da Espanha (1516) com suas colônias e, em 1519, foi eleito Imperador do Sacro Império Romano-Germânico.[1]

A Pragmática Sanção de 1549, assinada pelo Imperador, declarou os Países Baixos com as Dezessete Províncias (ou, em sentido mais amplo, a Holanda Espanhola) como uma entidade separada do Sacro Império e também de França. Em 1565 Carlos V abdicou por motivos de saúde (sofria de gota incapacitante).[2] passando assim a Espanha e as Dezessete Províncias ao seu filho, o rei Filipe II da Espanha.

A este tempo, o protestantismo já tinha atingido os Países Baixos. Entre os ricos comerciantes da Antuérpia as crenças luteranas difundidas pelos alemães da Liga Hanseática encontraram larga aceitação, provavelmente por razões econômicas.[3]

A propagação do protestantismo na cidade foi auxiliada pela presença de um mosteiro agostiniano, fundado em 1514 no Bairro de Santo André. Martinho Lutero, um ex-agostiniano, havia ensinado a alguns daqueles monges, e seus trabalhos foram impressos em 1518. Os primeiros mártires luteranos vieram da Antuérpia.

A Reforma ocorreu ali em ondas consecutivas mas sobrepostas de reformismo: a luterana, protagonizada por um militante anabatista; em seguida, a menonita e, finalmente, o movimento calvinista. Esses movimentos existiram independentes uns dos outros.

A reação real editar

Filipe II era um devoto católico, autoproclamado protetor da Contra-Reforma, e procurou suprimir o calvinismo em Flandres, em Brabante e na Holanda (onde hoje é a região belga de Limburgo era parte do Bispado de Liège e era, portanto, católica de facto).

Habituado à perseguição como modo de combate aos insurgentes, que já impusera na Espanha conquistada aos mouros, o rei obtém ali efeito inverso ao pretendido, com a população flamenga ampliando a excitação que culminou na revolta iconoclasta.[4]

O Beeldenstorm editar

 
Mapa dos eventos em 1566

No ano de 1566 os protestantes reagem a Filipe II. Tem início o Beeldenstorm, que foi a destruição de imagens e pinturas representando os santos. A revolta é comumente associada à guerra religiosa que se seguiu, entre católicos e protestantes, especialmente os anabatistas.

O Beeldenstorm começou no que hoje é o distrito de Dunquerque, na Flandres francesa, com sermões ao ar livre (em neerlandês: hagepreken). O primeiro ocorreu num lugar chamado Cloostervelt, próximo a Hondschoote. O primeiro grande sermão, entretanto, ocorrera em 12 de julho de 1562, próximo a Boeschepe. Esses sermões ao ar-livre, principalmente dos anabatistas e dos menonitas, espalharam-se por todo o país.

Em 10 de agosto de 1566, ao final de uma peregrinação que partira de Hondschoote até Steenvoorde, a capela de Sint-Laurensklooster (Monastério de São Lourenço) foi desfigurada pelos protestantes. Não apenas os objetos de culto católico foram alvo da iconoclastia - vários padres também perderam a vida.

A onda destruidora espalhou-se para os lados da Antuérpia e, em 22 de agosto, atingiu Gante. Ali foram atacadas uma catedral, oito igrejas, vinte e cinco mosteiros, dez hospitais e sete capelas. De Gante os ataques se propagaram para leste e norte, durando pouco menos de um mês.

Consequências editar

Filipe II mandou um exército, sob comando do Duque de Alba, para reprimir os rebeldes. Novamente a reação foi o oposto do que pretendia o rei, pois o povo se uniu, proclamando a independência das Províncias Unidas.[4]

Derivam, portanto, desses fatos, as invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco, já que Portugal e suas colônias estavam sob domínio espanhol.[4]

Referências

  1. William Robertson, The History of the Reign of the Emperor Charles V (NY, 1874), p 116
  2. William Robertson, op. cit., pp 456
  3. «Hagepreken» (em holandês). Consultado em 5 de abril de 2010 
  4. a b c SILVA, Joaquim; J. B. Damasco Penna. «A Reforma e a Contra-Reforma (conclusão)». In: Companhia Editora Nacional. História Geral. 1972 6ª ed. São Paulo: [s.n.] 264 páginas 
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