Bernardo Mascarenhas

Bernardo Mascarenhas (Curvelo, 30 de maio de 1847* — Juiz de Fora, 9 de outubro de 1899) foi um empreendedor brasileiro responsável, entre outros, pela fundação da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e, juntamente com Francisco Batista de Oliveira, da Companhia Mineira de Eletricidade e da Usina Hidrelétrica de Marmelos.[1]

Bernardo Mascarenhas
Bernardo Mascarenhas
Nome completo Bernardo Cândido Mascarenhas
Nascimento 30 de maio de 1846
Curvelo, MG
 Brasil
Morte 9 de outubro de 1899
Juiz de Fora, MG
Túmulo de Bernardo Mascarenhas no Cemitério Municipal de Juiz de Fora.

Origem da família Mascarenhas editar

Antonio Gonçalves Mascarenhas chegou ao Brasil em 1778, aos 16 anos. Viajava com um grupo de tropeiros pela Serra da Mantiqueira quando encontrou uma índia, morta, e uma criança a seu lado. Adotou-a, dando-lhe o nome de Joaquina Maria da Conceição. Casaram-se no ano de 1792, tendo três filhos. Em 1811, atravessavam novamente a Mantiqueira quando foram atacados pela varíola, morrendo em poucos dias. Os filhos do casal, no entanto, sobreviveram, sendo salvos pelo mesmo acaso que poupou a vida da mãe anos antes: foram encontrados e recolhidos por uma tropa que passava pela região.[2]

Antônio, o caçula, foi levado à fazenda Ponte Seca, onde serviu dois anos como guia de carros de bois. De lá seguiu para a fazenda da Vereda em Curral Del-Rei, nos limites de Sabará, onde aprendeu a ler, escrever e o ofício de caldeireiro, tornando-se capaz de montar alambiques e engenhos em fazendas. Casou-se mais tarde com Policena Gonçalves da Silva, filha de um fazendeiro das redondezas.[2]

Passou a administrar a propriedade do sogro, e em 1824 abriu por conta própria um armazém em Tabuleiro Grande (atual Paraopeba), então distrito de Curvelo. Estabeleceu intenso comércio, vendendo tecidos, sal e azeite, e comprando toucinho e açúcar para exportação para Portugal. Consolidou o monopólio do sal na província de Minas Gerais, fazendo fortuna com seu negócio. Acabou, no entanto, firmando-se como produtor rural.[3]

Infância e juventude editar

Antônio e Policena tiveram 13 filhos, sendo o décimo, Bernardo, nascido em 1846 na Fazenda São Sebastião, em Tabuleiro Grande. Aos doze anos, ele ingressou no Colégio Caraça, considerado à época um dos melhores, senão o melhor, de Minas Gerais. Poderia ter seguido um curso superior, mas preferiu uma vida prática.[2]

Aos 18 anos recebeu do pai, que fizera o mesmo a todos os filhos homens, a quantia de 26 contos de réis para começar sua vida adulta. Empregou a quantia em uma sociedade com seu irmão Caetano na compra de gado magro, que era posto a engordar na Fazenda São Sebastião, e depois revendido com lucro. O negócio provou-se próspero e, complementado com o comércio de sal, garantiu a subsistência dos irmãos por um tempo. Apesar de tentar seguir os passos do pai, o jovem Bernardo no entanto era inquieto demais para o comércio ou agropecuária. Em 1865 sugeriu à família que montassem uma fábrica de tecidos movida a energia hidráulica.[2]

Primeiros empreendimentos editar

A ideia foi considerada insensata. mas Bernardo não desistiu, desfazendo-se de sua parte no negócio de sal e convencendo dois de seus irmãos a completarem o capital necessário para a constituição, em 1868, de uma indústria têxtil. Pretendia estabelecer a fábrica em Juiz de Fora mas aceitou, a contragosto, que o empreendimento fosse instalado próximo às fazendas da família e ficasse sob os auspícios do irmão mais velho. Após quatro anos procurando o local ideal, finalizando a construção e importando equipamentos dos Estados Unidos (50 toneladas, transportadas de Juiz de Fora a Paraopeba em carros de boi), a fábrica Cedro foi finalmente inaugurada em agosto de 1872.[3]

O empreendimento representou um grande avanço em relação à produção artesanal vigente na época, inaugurando também o trabalho assalariado no interior de Minas Gerais. A fábrica dedicou-se a produzir tecidos baratos para conseguir competir com os importados e estabelecer-se no mercado nacional. O negócio foi um sucesso, o que motivou os demais irmãos Mascarenhas a entrarem no ramo industrial. Em 1877 foi constituída então a indústria têxtil Cachoeira, que correu paralelamente à Cedro até 1883, ano em que foram fundidas, formando a primeira sociedade anônima brasileira.[3]

Quando Antônio Gonçalves morreu em 1884, o patriarca da família era um dos homens mais ricos e influentes do estado, condição passada à maioria de seus filhos.[4]

Estabelecimento em Juiz de Fora editar

Por volta de 1885, Bernardo mudou-se para Juiz de Fora, onde tornou-se um dos fundadores do Banco de Crédito Real de Minas Gerais. Ele adquiriu então terrenos em diversas partes da cidade, construindo em um deles, próximo à Estação Ferroviária, a Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas, inaugurada em 1888. Buscando novas fontes de energia para sua fábrica, fundou no mesmo ano a Companhia Mineira de Eletricidade, responsável no ano seguinte pela inauguração da Usina Hidrelétrica de Marmelos, a primeira construção do tipo na América Latina.[5]

Morte editar

Bernardo Mascarenhas morreu no dia 9 de outubro de 1899 de um ataque cardíaco fulminante.[5]

Referências

  1. VAZ, Alisson Mascarenhas. Bernardo Mascarenhas: desarrumando o arrumado -  um homem de negócios do século XIX.
  2. a b c d Pioneiros e empreendedores: a saga do desenvolvimento no Brasil - Volume 3, págs. 95 a 124 - Jacques Marcovitch - EdUSP - ISBN 9788531410482 (2007)
  3. a b c O Novo Brasil, págs. 37-39 - Luiz Fernando Levy, Andrea Wolffenbütell - Nobel - ISBN 9788521312390 (2003)
  4. "O EMPRESÁRIO BRASILEIRO: UM ESTUDO COMPARATIVO" - Sérgio de Oliveira Birchal (Ibmec MG)
  5. a b "Museu Usina Marmelos Zero" - Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora