Células Autônomas de Revolução Imediata Práxedis G. Guerrero

Grupo de guerrilha urbana mexicana

As Células Autônomas de Revolução Imediata Práxedis G. Guerrero (CARI-PGG) foram uma federação anarquista insurrecionária e guerrilha urbana descentralizada ativa na Região Metropolitana do Vale do México entre 2008 e 2013.[1] Seus principais ataques consistiam em atentados incendiários ou com explosivos contra a propriedade privada e estatal como forma de propaganda pelo ato.[2]

Células Autônomas de Revolução Imediata Práxedis G. Guerrero (CARI-PGG)
Celulas Autonomas De Revolucion Inmediata Práxedis G. Guerrero (CARI-PGG)
Fundação 2008
Motivos Guerra ao Estado
Área de atividade Cidade do México
Ideologia Anarquismo Individualista, Anarquismo insurrecionário, Anarquismo pós-esquerda, Anarcoprimitivismo, ilegalismo
Espectro político Extrema-Esquerda
Principais ações Ataques explosivo-incendiários ou com uso de cartas-bomba
Status Dissolvida
Aliados Federação Anarquista Informal/Frente Revolucionária Internacional, Conspiração das Células de Fogo,

Núcleos Antagônicos da Nova Guerrilha Urbana, Célula Mariano Sánchez Añón, Comando Feminista Informal de Ação Antiautoritária

Inimigos Estado Mexicano

A organização foi um dos grupos considerados terroristas pelo Estado Mexicano e parte das chamadas “guerrilhas negras”, grupos insurrecionários que colaboravam entre si, incluindo a Célula Mariano Sánchez Añón, a Animal Liberation Front, a Frente de Libertação da Terra e o grupo ecoterrorista Individualistas que Tendem ao Selvagem antes do rompimento destes com o anarquismo. A organização também manteve fortes ligações com a Federação Anarquista Informal/Frente Revolucionária Internacional.[3]

História editar

Precedentes editar

Historicamente, diferentes movimentos anarquistas tiveram presença no México desde a metade do século XIX, e os ideais anarquistas influenciaram importantes líderes e participantes da revolução mexicana, como Emiliano Zapata e os irmãos Enrique e Ricardo Flores Magón, do Partido Liberal Mexicano.[4]

No século XXI, para além da influência anarquista em movimentos indígenas, como o Exército Zapatista de Libertação Nacional e a Assembleia popular dos Povos de Oaxaca, o México foi palco de uma notável expansão do anarquismo insurrecional e individualista, particularmente na Cidade do México.[5][6][7] Os grupos anarquistas armados vieram a ser chamados de “guerrilhas negras”, em contraste com as chamadas “guerrilhas vermelhas” de grupos comunistas como o Exército Popular Revolucionário.[8] A violência anarquista é considerada uma ameaça à segurança pública pelo governo mexicano.[2][9] Foi nesse terreno que se deu o desenvolvimento das CARI-PGG, cujo nome homenageia o militante anarquista histórico Práxedis Guerrero.[1]

Formação editar

As CARI-PGG enquanto grupo se formaram no final de 2008, e realizaram alguns ataques incendiários logo após sua formação.[1] Porém, não foi até o ano seguinte que a sigla reivindicou publicamente a realização de um ataque. Em 8 de setembro de 2009, as células assumiram responsabilidade pela explosão de uma bomba caseira em uma sucursal do Grupo Financiero BBVA, na demarcação de Tlalpan na Cidade do México.[10][11][12] Outro ataque foi realizado no dia 10 contra uma distribuidora da Renault na mesma demarcação.[13] Este ataque, segundo o grupo, seria uma resposta à construção de um novo presídio de alta segurança.[14][6]

Em 2010, o grupo explodiu uma bomba caseira em uma sucursal da Santander em solidariedade ao assassinato de dois ativistas de direitos indígenas em Oaxaca.[15][16] Em 13 de abril do mesmo ano, reivindicaram um ataque a bomba contra uma sucursal do Grupo Financiero Banamex.[17] Ainda em 2010, assumiram a responsabilidade pelo incêndio de dois carros de polícia em Chicoloapan.[18][19]

Intensificação das atividades editar

Em 24 de maio de 2011, as células assumiram responsabilidade pelo ataque a uma Starbucks em Paseo de la Reforma.[20] No dia seguinte, reivindicaram também o ataque a três sucursais da Santander, em Tlalpan, Benito Juárez e Iztacalco.[21][22][23] No aniversário do Assalto ao Quartel de Madera pelo Grupo Popular Guerrilheiro em 1965, o grupo realizou um ataque a uma sucursal da Comissão Federal de Eletricidade que causou sérios danos à estrutura em Iztacalco.[24][25] Em um comunicado, o grupo justificava que a eletricidade “além de constituir uma das maiores ameaças ao planeta, é peça chave para a manipulação e o controle social," e que o ataque teria função mais simbólica do que prática.

Em 3 de outubro do mesmo ano, as CARI-PGG reivindicaram duas explosões coordenadas, uma na casa do então deputado pelo Partido Revolucionário Institucional Manuel Cañedo e outra em uma sucursal da Santander.[26][27][28][29] Em 24 de novembro, a célula Núcleo Insurrecto Sole-Baleno, pertencente às CARI-PGG, realizou outro ataque a uma figura pública, na forma de uma carta-bomba destinada ao procurador da justiça Miguel Mancera acidentalmente entregue à procuradora Marisela Morales.[30][31] A carta foi, no entanto, interceptada e destruída. Cartas-bomba similares foram enviadas a Germán Guerrero Pavez, embaixador Chileno no México, no mesmo ano.[32] A Célula Anarquista Revolucionaria-Gabriella Segata Antolini, integrante das CARI-PGG, também realizou um atentado de carta-bomba contra o arcebispo Norberto Rivera Carrera, que foi interceptado antes que pudesse detonar.[33][3][34][35] Em 14 de novembro, outra célula reivindicou um ataque à sede do Istituto Italiano di Cultura, que danificou sua estrutura.[36][37][38][39]

Declínio e dissolução editar

As CARI-PGG diminuíram a frequência de seus atentados em 2012. Suas principais ações foram o envio de cartas-bomba à embaixada da Grécia no México, a representantes da Monsanto e a diretores de penitenciárias.[40][41][42] Em setembro, realizaram um ataque frustrado a bomba contra um banco, em protesto pela prisão de um membro da organização.[43][44]

Os últimos ataques realizados sob a sigla CARI-PGG ocorreram entre novembro de 2013 e janeiro de 2014, sendo estes as explosões de um banco e de um veículo da Guarda Federal.[45][46][47] Ambos os ataques, de acordo com o grupo, foram realizados em solidariedade com a greve de fome de Mario González, anarquista então preso.

Ideologia editar

Ainda que as CARI-PGG não se declarassem seguidoras de nenhuma vertente específica do anarquismo, suas produções teóricas e sua práxis se alinharam firmemente ao anarquismo insurrecionário, anarquismo individualista e anarquismo pós-esquerda.[48] A organização não defendia a tomada do poder estatal, e se considerava inimiga tanto da social-democracia quanto da esquerda revolucionária.[49] Ademais, ecoando outras organizações anarquistas insurrecionárias, as CARI-PGG se opuseram ao anarquismo social e a organizações indigenistas com inspirações anarquistas e comunistas, como o Exército Zapatista de Libertação Nacional (ao qual as CARI-PGG eram particularmente críticas).[1] Essas críticas e divergências não impediram as células de realizar ataques em solidariedade com ativistas destas correntes.[16]

A linha insurrecionária aproximou as CARI-PGG de outras organizações anarquistas pelo mundo, em particular da Federação Anarquista Informal/Frente Revolucionária Internacional. Isso levou certos quadros das CARI-PGG a também se considerarem parte da FAI/FRI, e a sigla desta segunda era adicionada à assinatura de alguns comunicados das CARI-PGG.[31][34]

Ver também editar

Referências

  1. a b c d Praxedis G. Guerrero, Células Autónomas de Revolución Inmediata (3 de junho de 2016). «México: Unas cuantas palabras, aclaraciones y posicionamientos de parte de algunxs compas que conformamos las CARI-PGG». ContraInfo (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  2. a b «Alarma por los anarquistas mexicanos». Europafocus (em espanhol). 21 de abril de 2013. Consultado em 23 de abril de 2022 
  3. a b «Se adjudican anarquistas atentado al Cardenal Rivera». MVS Noticias (em espanhol). 1 de dezembro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  4. Crawford, Richard W. (ed.) (inverno de 1999). «The Magonista Revolt in Baja California». Journal of San Diego History. 45 (1). Consultado em 22 de junho de 2013 
  5. Illades, Carlos (1 de dezembro de 2019). «El fuego y la estopa. El anarquismo insurreccional en México». nexos (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022. Cópia arquivada em 13 de março de 2021 
  6. a b Palacio, Raymundo Riva (1 de outubro de 2019). «La amenaza anarquista». El Financero. Consultado em 23 de abril de 2022 
  7. Nieto, Antonio (30 de maio de 2019). «Los grupos anarquistas que operan en la CDMX». La Silla Rota (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  8. Camacho, Zósimo (16 de outubro de 2016). «XI. 50 células anarquistas en guerra contra el capitalismo y el Estado». Contralínea (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  9. Barañano, Alejandro (8 de junho de 2020). «El Idioma de la Furia». alDía (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  10. Bolaños, Claudia (2 de setembro de 2009). «Explosión en sucursal bancaria». El Universal (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  11. «Explosión en banco de Tlalpan». planoinformativo.com (em espanhol). 1 de setembro de 2009. Consultado em 23 de abril de 2022 
  12. Torreón, El Siglo de (1 de setembro de 2009). «Investiga PGJDF a una mujer y 2 hombres por explosión». El Siglo de Torreón (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  13. «El Universal - - Explota artefacto en agencia automotriz de V. Carranza». archivo.eluniversal.com.mx. 8 de setembro de 2009. Consultado em 23 de abril de 2022 
  14. Laris, Claudia Álvarez; Salgado, Agustín (10 de setembro de 2009). «Supuesto grupo rebelde se atribuye ataque contra agencia automotriz». La Jornada (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  15. «Detonan explosivos en sucursal bancaria del DF». Proceso. 3 de maio de 2010. Consultado em 23 de abril de 2022. Cópia arquivada em 3 de fevereiro de 2021 
  16. a b Parxedis G. Guerrero, Células autónomas de revolución inmediata (4 de maio de 2010). «Comunicado de CARI-PGG reivindicando el ataque explosivo contra banco Santander en México D.F., mayo de 2010 (video)». guerra al poder en Mexico (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  17. Praxedis G. Guerrero, Células autónomas de revolución inmediata (15 de abril de 2010). «Comunicado del atentado explosivo contra Banamex en México». La Haine Liberación Total (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  18. «México – Las Células Autónomas de Revolución Inmediata – Praxedis G. Guerrero queman dos patrullas». culmine.noblogs.org (em espanhol). 18 de outubro de 2010. Consultado em 23 de abril de 2022 
  19. Praxedis G. Guerrero, Células Autónomas de Revolución Inmediata (16 de outubro de 2010). «Comunicados del ataque explosivo contra camión de la Secretaria de Seguridad Publica y de la quema de dos camionetas de la policía, México». La Haine Liberación Total (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  20. «Grupo anarquista se adjudica petardazos en el DF». Proceso (em espanhol). 24 de maio de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  21. Notimex (23 de maio de 2011). «Explotan 2 sucursales bancarias en DF». El Economista. Consultado em 23 de abril de 2022 
  22. «Grupo Anarquista Se Adjudica Ataque a Bancos». Hombres del Poder. 25 de maio de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  23. «Estallan artefactos explosivos en bancos del DF». Animal Politico. 23 de maio de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  24. «Atacan sucursal de la CFE en Iztacalco». Proceso (em espanhol). 23 de setembro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022. Cópia arquivada em 7 de maio de 2021 
  25. Praxedis G. Guerrero, Células Autónomas de Revolución Inmediata (23 de setembro de 2011). «Reivindicación de ataque a la Comision Federal de Electricidad (CFE) en DF, México». La Haine Liberación Total. Consultado em 23 de abril de 2022 
  26. «Atribuyen a grupos anarquistas explosión en cajero de Santander». Proceso (em espanhol). 3 de outubro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  27. Hernández, Mauricio (3 de outubro de 2011). «Estalla un artefacto en un banco en Tlalpan». Excelsior (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  28. «Explota artefacto en cajeros en Tlalpan». La Silla Rota (em espanhol). 3 de outubro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  29. Praxedis G. Guerrero, Células Autónomas de Revolución Inmediata (4 de outubro de 2011). «Comunicado de los ataques explosivos a un Banco Santander y a la casa de político del PRI, México». La Haine Liberación Total. Consultado em 23 de abril de 2022 
  30. «Paquete bomba dirigido al procurador del DF llega a la PGR». Proceso (em espanhol). 28 de novembro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022. Cópia arquivada em 1 de março de 2021 
  31. a b «Reivindicacion del paquete explosivo dirigido a las oficinas generales de la Procuraduria General de la Republica, México». La Haine Liberación Total (em espanhol). 24 de novembro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  32. «Oculta México atentado fallido contra embajador de Chile». Dossier Politico (em espanhol). 22 de dezembro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  33. «Rivera: Sembraremos paz ante bomba enviada al Arzobispado». Excelsior (em espanhol). 30 de novembro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  34. a b Praxedis G. Guerrero, Celulas Autonomas De Revolucion Inmediata (29 de novembro de 2011). «Reivindicación del paquete contra arzobispo Norberto Ribera, México». La Haine Liberación Total (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  35. «Norberto Rivera ya había recibido un paquete con explosivos». MARCA Claro México (em espanhol). 22 de outubro de 2018. Consultado em 23 de abril de 2022 
  36. «Se registra explosión en el Instituto Italiano de Cultura». MVS Noticias (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  37. Jiménez, Gerardo (13 de dezembro de 2011). «Atacan el Instituto Italiano de Cultura». Excelsior (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  38. «PGJDF investiga explosión en Coyoacán». El Economista (em espanhol). 12 de dezembro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  39. «Explosión en la oficina cultural de la embajada de Italia en México». Proceso (em espanhol). 12 de dezembro de 2011. Consultado em 23 de abril de 2022 
  40. Praxedis G. Guerrero, Células Autónomas de Revolución Inmediata (14 de junho de 2012). «Comunicado del envio de 2 paquetes explosivos a la Embajada de Grecia en Mexico». La Haine Liberación Total (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  41. «Reivindicación del envio de un paquete-bomba a Monsanto en México». La Haine Liberación Total (em espanhol). 18 de março de 2012. Consultado em 23 de abril de 2022 
  42. «Reivindicación del envio de paquetes-bomba a directores de Cárceles, México». La Haine Liberación Total (em espanhol). 8 de março de 2012. Consultado em 23 de abril de 2022 
  43. «Hallan artefacto explosivo en sucursal bancaria de la colonia Obrera». Excélsior (em espanhol). 18 de setembro de 2012. Consultado em 23 de abril de 2022 
  44. «Anarquistas se adjudican ataques a bancos por 'compañero' detenido». Aristegui Noticias. Consultado em 23 de abril de 2022 
  45. «Artefacto explota en sucursal bancaria de Coyoacán». Excélsior (em espanhol). 2 de dezembro de 2013. Consultado em 23 de abril de 2022 
  46. Servín, Mirna (3 de dezembro de 2013). «Estalla artefacto en sucursal de Banamex en Coyoacán». La Jornada (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  47. Praxedis G. Guerrero, Células Autónomas de Revolución Inmediata (5 de dezembro de 2013). «México DF: Comunicado de acciones directas en solidaridad con Mario González». ContraInfo (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  48. Praxedis G. Guerrero, Células Autónomas de Revolución Inmediata (8 de outubro de 2013). «México: Contra toda esperanza». ContraInfo (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022 
  49. Praxedis G. Guerrero, Células Autónomas de Revolución Inmediata (18 de novembro de 2013). «México: Las malignas carcajadas de unos espíritus muy libres o ¡No nos defiendas compadre que la Anarquía sabe defenderse sola!». ContraInfo (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022