C Tamandaré (C-12)
O Cruzador Tamandaré (C-12) foi um navio de guerra da Marinha do Brasil. Fora adquirido, junto com o Cruzador Barroso (C-11), nos Estados Unidos, em 1951, onde o mesmo era denominado USS St. Louis (CL 49). Juntamente com o USS Helena (CL 50), possuía modernizações na parte de armamento antiaéreo e configuração do sistema de propulsão, em relação à classe Brooklyn (a qual pertencia o Cruzador Barroso).
Tamandaré | |
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O então USS St. Louis em 1944. | |
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Construção | 1936-1938 |
Estaleiro | Newport News Shipbuilding |
Comissionamento | 19 de maio de 1939 |
Descomissionamento | 28 de junho de 1976 |
Patrono | Almirante Tamandaré |
Período de serviço | 1939–1946 (marinha dos Estados Unidos) 1951–1976 (marinha do Brasil) |
Renomeado | USS St. Louis (CL-49) |
Características gerais | |
Tipo de navio | Cruzador |
Deslocamento | 10 000 ton (padrão), 12 900 ton (carregado) |
Comprimento | 185,4 m |
Velocidade | 32,5 nós |
Tripulação | 868 |
Em serviço da Armada EstadunidenseEditar
O Cruzador Ligeiro USS St.Louis - CL 49, foi construído pelo estaleiro Newport News Shipbuilding & Drydock Co. Teve sua quilha batida em 10 de dezembro de 1936, foi lançado ao mar e batizado em 15 de abril de 1938, tendo como madrinha a Sra. Nancy Lee Morrill. A sua prontificação foi concluída em 10 de fevereiro de 1939 na Base Naval de Norfolk (Virginia), onde foi incorporado em 19 de maio de 1939. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-de-Mar-e-Guerra (USN) Charles H. Morrison, que por coincidência era natural da cidade de St. Louis.[1]
Durante a Segunda Guerra Mundial operou na costa oeste e estava em Pearl Harbor durante o Ataque a Pearl Harbor, saindo praticamente ileso do mesmo. Depois de um período de reparos, esteve novamente operacional e participou com destaque das campanhas no pacífico durante a 2ª Guerra, sobretudo contra os japoneses. Pelo seu serviço na 2º Guerra Mundial, o St.Louis recebeu 11 Estrelas de Combate e 3 vezes a Citação Presidencial a Unidade (Presidential Unit Citation).
Em fevereiro de 1946, foi transferido para a Frota do Atlântico e, em 20 de junho, chegou à Philadelphia, para ser desativado e incorporado à 16º Esquadra (Reserva). Permaneceu atracado na Ilha de League até 1951, quando seu nome foi riscado da Lista de Navios da USN, sendo selecionado para transferência para a Marinha do Brasil, onde foi incorporado em 29 de janeiro de 1951, recebendo o nome de Cruzador Tamandaré – C 12.
A serviço da Marinha do BrasilEditar
O navio foi transferido sob os Termos da Lei de Assistência Mútua, sendo submetido a Mostra de Armamento em 29 de janeiro de 1951 e incorporado 6 de fevereiro de 1952, em cerimônia realizada na Base Naval da Philadelphia.[2] Naquela ocasião, assumiu o comando o então Capitão-de-Mar-e-Guerra Paulo Bosísio.[3]
Participação no movimento de 11 de Novembro (1955)Editar
Este episódio ficou marcado devido aos tiros efetuados a partir de fortes do exército no Rio de Janeiro contra a embarcação, notadamente o Forte de Copacabana, na então Capital Federal, e a Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói. Entretanto, nenhum tiro oriundo dos fortes atingiu o Tamandaré. O navio, em resposta, apontou suas cinco baterias de canhões principais (153 mm) para os fortes sem no entanto realizar nenhum tiro. A bordo estavam autoridades importantes como o próprio presidente Carlos Luz, e outros como Carlos Lacerda, Prado Kelly e os coronéis Jayme Portella e Jurandir Mamede, além da tripulação do navio.
Ao sair da Baía de Guanabara, ainda dentro da mesma, a artilharia do exército, por ordem do General Henrique Teixeira Lott, responsável pelo "golpe preventivo", abriu fogo contra o Cruzador. A bordo estavam o então presidente Carlos Luz entre outras autoridades. As bases do exército, e sua artilharia, por pouco não acertaram o Cruzador, que efetuando manobras evasivas no mar fez com que não fosse atingido.
Ressalte-se que os tiros direcionados da artilharia do exército para o Cruzador Tamandaré caíram a pouca distância da embarcação. Sendo um dos maiores Cruzadores da época, caso o navio revidasse o fogo da artilharia do exército, haveria um grande número de baixas de civis e militares localizados em terra. Tal decisão de não revidar partiu do presidente em exercício a bordo, Carlos Luz.
Foi o último tiro de guerra ocorrido na Baía da Guanabara até os dias de hoje.
A história que antecedeu o episódio foi quando Juscelino Kubitschek e João Goulart venceram as eleições em outubro de 1955, respectivamente para presidente e vice-presidente da República, houve uma divisão das Forças Armadas, pró e antigetulistas. A facção antigetulista, com o apoio do principal partido político de direita do país, a UDN, procurou invalidar a eleição, sob a alegação de que JK tinha a simpatia dos comunistas, e não tivera maioria absoluta dos votos.
O general Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, Ministro da Guerra nomeado por Café Filho, desencadeou o movimento militar, dito "de retorno ao quadro constitucional vigente". Houve então a declaração do impedimento do presidente em exercício, Carlos Luz (Café Filho havia sofrido enfarte e afastado da presidência). Lott determina o cerco ao Palácio do Catete durante a madrugada do dia 11, além da ocupação dos quartéis da polícia e da sede da companhia telefônica. Ao perceber a movimentação das tropas sediadas na capital federal, Carlos Luz, parte de seu ministério e outros, embarcam no Cruzador Tamandaré, comandado pelo então Comandante Sílvio Heck.
É importante salientar que tal missão, inicialmente, seria cumprida pelo Cruzador Barroso, pelo fato de que, na época, o navio era o capitânia da esquadra; porém, o mesmo encontrava-se em reparos em sua praça de máquinas e não ficaria pronto a tempo da hora marcada para a desatracação, na manhã do dia 11. Devido a esta circunstância, foi decidido de última hora que a comitiva embarcaria no Tamandaré.
Entretanto, o navio também encontrava-se em reparos na sua praça de máquinas; ainda que em fase final, apenas duas de suas oito caldeiras de propulsão encontravam-se disponíveis, tornando possível o funcionamento de apenas um eixo, limitando a velocidade do navio a 5 nós.
O cruzador Tamandaré ruma para Santos, uma vez que o governador de São Paulo, Jânio Quadros, acenou com a possibilidade de resistência e utilização das tropas militares do estado para garantir a permanência de Luz frente à presidência, sob a liderança do brigadeiro Eduardo Gomes. Porém, o prometido apoio de Jânio não vinga, uma vez que o governador paulista declara-se a favor do movimento organizado por Lott. Carlos Luz não encontra outra saída senão regressar com o navio para o Rio de Janeiro. Antes de regressar, entretanto, foram realizados exercícios de tiro com a munição de 153 mm que encontrava-se engajada na bateria principal desde o episódio do dia 11, uma vez que não era possível retirar manualmente a munição da referida bateria.
Participação na Guerra da LagostaEditar
Em 1963, o Cruzador Tamandaré, e seu irmão, o Cruzador Barroso, juntamente com outros navios da Esquadra brasileira, foi mobilizado para o nordeste brasileiro devido ao episódio denominado Guerra da Lagosta, envolvendo meios da Marinha Francesa. Entretanto, o Tamandaré não chegou ao seu destino, sendo rebocado para Salvador devido a pane em sua praça de máquinas.[4]
AfundamentoEditar
Em 28 de junho de 1976, depois de 24 anos servindo à Marinha do Brasil, onde atingiu a marca 220 000 milhas navegadas, foi realizada a cerimônia de Mostra de Desarmamento e baixa, obedecendo ao Aviso Ministerial de 12 de abril de 1976. Numa rápida cerimônia que durou aproximadamente 15 minutos, presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) Almirante-de-Esquadra Gualter Maria Menezes de Magalhães, e que contou com a presença de dois ex-comandantes do navio, os ex-Ministros da Marinha Almirantes Paulo Bosísio (1º Comte.) e Sílvio Heck. Depois de ler o aviso de baixa, o Chefe do Estado-Maior da Armada procedeu aos arriamentos da bandeira e da flâmula de comando do navio. Em seguida foi lida a ordem do dia, rememorando o lançamento do cruzador ao mar e as missões de que participou.
Em 5 de agosto de 1980, o casco do ex-Tamandaré foi arrematado em leilão, pelo valor de US$ 1 100 000, pela empresa Superwinton Enterprises Inc., com sede no Panamá que declarou que o destino do mesmo seria o porto de Hong Kong. No entanto, provavelmente por questões de mercado, a empresa proprietária contratou o reboque para Formosa, onde seria feito o desmonte. O cruzador saiu da Baía da Guanabara a reboque do Rebocador "Royal" de bandeira filipina, da Luzon Stevedores Corp.
Em 23 de agosto, ao se aproximar do sul da "Royal" encontrou mau tempo, apresentando o casco do cruzador uma banda, que foi se acentuando apesar do reboque seguir a boa velocidade. Aproveitando as melhores condições de tempo, com sacrifício, o navio foi visitado por uma turma de reparos que, utilizando-se de um lanchão, atracaram a contrabordo do cruzador no dia seguinte. Verificou-se haver muita água no segundo convés, mas não se pôde ir mais abaixo por falta de luz e por medo do forte balanço, que fazia bater muito o liquido existente na terceira coberta.
Contudo, foram feitos os consertos até onde foi possível alcançar sem risco de perder a vida. Feito isso, decidiram arribar em Capetown, rumando para aquele porto. Na noite de 24 de agosto de 1980, por volta das 22h22, na posição de 38º48's e 0lº24'w, o cruzador começou a submergir, sendo então largado o cabo de reboque. Por fim, afundou no Atlântico, repousando para sempre no fundo do mar.
CaracterísticasEditar
Com um comprimento de 185,42 metros e velocidade máxima de 32,5 nós, possuía:
- Quinze canhões de 153 mm, calibre 47, semi-automáticos, telecomandados, montados em cinco torres tríplices no sentido axial, três avante e duas à ré;
- Oito canhões de 127 mm, 38 calibres, semi-automáticos, duplo emprego, montados em quatro torretas e em seis reparos duplos, distribuídos em igual quantidade, de cada bordo;
- 28 canhões de 40 mm, 56 calibres, automáticos, montados em quatro reparos quádruplos, dois a boreste e dois a bombordo;
- Oito metralhadoras automáticas Oerlikon de 20 mm, 72 calibres, montadas em reparos singelos, quatro por bordo, seis à vante e dois à ré;
- Dois canhões de salva de 3 libras.
Possuía também sensores:
- Um radar de vigilância aérea tipo SK;
- Dois radares de vigilância de superfície SG;
- Dois sistemas de direção de tiro Mk-34, para os canhões de seis polegadas;
- Dois radares de direção de tiro Mk-25, acoplados a dois sistemas de direção de tiro Mk-37 para os canhões de cinco polegadas;
- Catorze diretoras óticas Mk 51, acopladas ao sistema de direção de tiro Mk 51;
- Um conjunto de CME contendo um transmissor de bloqueio e um receptor para interceptação de radar;
- Radiogoniometros, LORAN e ecossonda.
Sua tripulação era composta por 1 070 homens, sendo 58 oficiais, 35 suboficiais, 168 sargentos 809 cabos e marinheiros. A tripulação incluía um destacamento de Fuzileiros Navais (7a Divisão). Foi um dos maiores cruzadores na época.
Ver tambémEditar
Referências
- ↑ Paul R. Yarnall. «USS Saint Louis (CL 49)». NavSource Naval History. Consultado em 30 de abril de 2014
- ↑ «Incorporado à Armada o cruzador "Tamandaré"». Folha da Manhã, Ano XXVII, edição 8546, seção Economia e Finanças, página 4. 7 de fevereiro de 1952. Consultado em 30 de abril de 2014
- ↑ «C Tamandaré - C 12/Classe Brooklyn/St. Louis-Classe Barroso»
- ↑ «Itamarati:cabe à França a tarefa de reabrir negociações». Folha de S. Paulo, ano XLII, edição 12324, página 10. 14 de março de 1963. Consultado em 30 de abril de 2014