Carlinhos Cachoeira

 Nota: Se procura o pintor português com mesmo nome, veja Carlos Augusto Ramos.

Carlos Augusto de Almeida Ramos,[1] mais conhecido como Carlinhos Cachoeira, também denominado pela imprensa de Carlos Ramos (Anápolis, 3 de maio de 1963[2]), é um empresário brasileiro, preso sob acusações como envolvimento no crime organizado e corrupção.

Carlinhos Cachoeira
Carlinhos Cachoeira
Carlinhos Cachoeira durante depoimento na CPMI que investiga sua rede de influência
Nome Carlos Augusto de Almeida Ramos
Pseudônimo(s) Carlinhos Cachoeira
Data de nascimento 3 de maio de 1963 (60 anos)
Local de nascimento Anápolis, GO
Nacionalidade(s) brasileiro
Crime(s) envolvimento com jogo do bicho, crime organizado e corrupção política
Situação sob investigação

O nome de Carlinhos Cachoeira ganhou repercussão nacional em 2004 após a divulgação de vídeo gravado por ele onde Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil José Dirceu, lhe faz pedido de propina para arrecadar fundos para a campanha eleitoral do Partido dos Trabalhadores e do Partido Socialista Brasileiro no Rio de Janeiro. Em troca, Diniz prometia ajudar Carlinhos Cachoeira numa concorrência pública carioca. A divulgação do vídeo se transformou no primeiro grande escândalo de corrupção do governo Lula[3][4]

Escândalo em 2004: Caso Waldomiro Diniz editar

 Ver artigo principal: Escândalo dos bingos

Cachoeira ganhou notoriedade da imprensa e opinião pública brasileira e repercussão internacional, sendo chamado de "Charlie Waterfall", pelo New York Times)[5] em 2004, após a divulgação da fita gravada em 2002 por ele mesmo juntamente com outro empresário Waldomiro Diniz, divulgada pela Revista Época em 13 de fevereiro de 2004.[6] Na gravação, Waldomiro Diniz aparece extorquindo Augusto Ramos para arrecadar fundos para a campanha eleitoral do Partido dos Trabalhadores e do Partido Socialista Brasileiro no Rio de Janeiro. Em troca, Diniz prometia ajudar Carlinhos Cachoeira numa concorrência pública.[7]

No entanto, a ajuda de 2002 não ocorreu, e Cachoeira enviou a fita ao então senador Antero Paes de Barros. Este, por sua vez, a enviou ao Ministério Público Federal em Brasília. Após a divulgação da denúncia, Waldomiro Diniz foi exonerado no mesmo dia, provocando a primeira crise política no Governo Lula.[8] A oposição e até aliados do governo criaram a CPI dos Bingos,[9] que ao fim pediram o indiciamento de 79 pessoas e 4 empresas.[10]

Operação Monte Carlo e escândalo de 2012 editar

 Ver artigo principal: Operação Monte Carlo

Após sua prisão, surgiram denúncias pela imprensa, através de divulgações da Polícia Federal, em que Cachoeira tinha relação com o senador Demóstenes Torres, o governador Marconi Perillo (ambos de Goiás), cinco deputados federais (Sandes Júnior - PP, Carlos Alberto Leréia - PSDB, Stepan Nercessian - PPS, Leonardo Vilela - PSDB e Protógenes Queiroz - PCdoB) e a chefe de gabinete do governador Perillo, Eliane Pinheiro, que pediu demissão em razão das denúncias.[11] O deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB), que afirmou em discurso no plenário da Câmara ser amigo pessoal de Carlinhos Cachoeira, foi flagrado nas escutas feitas pela PF durante a Operação Monte Carlo recebendo o código de segurança do cartão de crédito de Cachoeira, para que o deputado pudesse fazer uma compra na Internet.[2]

Em 9 de abril, é a vez de Cláudio Monteiro, chefe de gabinete do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz pedir demissão após conversas suas aparecerem em gravações da PF.[12] Reportagens mostram ainda que a Polícia Federal relata a Construtora Delta, a maior empreiteira de obras do PAC do governo Federal e que teve José Dirceu como consultor, como provável envolvida com o esquema.[13]

Em 13 de abril, o blog do Paulinho, do jornalista Paulo Cezar Andrade Prado, afirmou que o comentarista e apresentador Jorge Kajuru, do TV Esporte Interativo, pediu dinheiro ao bicheiro em 2011. No mesmo dia, em defesa, Kajuru negou afirmando “se eu tivesse alguma relação com o Cachoeira, não teria dito semana passada publicamente em meu programa que já fui patrocinado por uma empresa dele (...). Fiz comercial de uma empresa da qual ele é proprietário, sem saber no que ele estava envolvido. Até porque se eu soubesse, não arriscaria meus 35 anos de carreira por um patrocínio de 5 mil” e acrescentou que se a Justiça prender todos que receberam patrocínio dele, “terão que prender a Globo, o SBT em Goiás e a própria IstoÉ, disse. Afirmou que o blogueiro o persegue há anos e diz que rompeu com ele, após publicar notícias ofensivas contra o ex-jogador, atual apresentador da Bandeirantes e amigo pessoal, Neto, no nome do blog no qual Prado era responsável pela publicação e que vai processar o blogueiro.[14]

Andressa Mendonça, companheira de Carlinhos Cachoeira, também foi citada na Operação Monte Carlo como sendo suposta laranja de Cachoeira na aquisição de uma fazenda de R$ 20 milhões entre Luziânia e Santa Maria (a cem quilômetros de Brasília). Diálogos interceptados na operação mostram que Cachoeira planejava fracionar e revender pequenos lotes da propriedade, rendendo até R$ 58 milhões ao bicheiro.[15]

Andressa Mendonça foi detida pela Polícia Federal por ter tentado intimidar o juiz federal Alderico da Rocha Santos, em seu gabinete, alegando estar de posse de um dossiê contra ele, o qual teria sido elaborado pelo jornalista Policarpo Júnior, chefe da revista Veja em Brasília, e que tal dossiê seria veiculado pela Veja, caso Cachoeira não fosse libertado.[16][17][18][19] Andressa foi liberada da PF após garantir fiança de R$ 100 mil. Andressa está sendo monitorada pela PF e está proibida de ter contato com Cachoeira ou pessoas vinculadas ao processo da Operação Monte Carlo. A PF apreendeu, na casa dela, computadores, tablets, celulares e documentos.[20]

CPMI editar

 Ver artigo principal: CPMI do Cachoeira

A gravidade e repercussão do caso levaram o Congresso Nacional a criar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, denominada CPMI do Cachoeira. Quando convocado da prisão a depor na Comissão em 22 de maio, por orientação de seus advogados, permaneceu calado.[21]

Prisões editar

2012 editar

Em 29 de fevereiro de 2012, Carlinhos Cachoeira foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo, operação que desarticulou a organização que explorava máquinas de caça-níquel no Estado de Goiás por 17 anos. Escutas da operação acabaram atingindo diretamente o senador da república Demóstenes Torres (DEM-GO), em conversas sobre dinheiro supostamente fruto de propina. Indiretamente, as investigações da PF atingiram também as administrações dos governos de Agnelo Queiroz (PT-DF) e Marconi Perillo (PSDB-GO).[22] Revelaram também as relações de Cachoeira com o jornalista Policarpo Júnior, da revista Veja.[23]

Em 1º de março, um dia depois da prisão, foi transferido para presídio federal de segurança máxima em Mossoró, no Rio Grande do Norte, mas só foi noticiado somente no dia seguinte.[24][25] Gerou polêmica a contratação do advogado Márcio Thomaz Bastos, que foi ex-ministro da Justiça no governo Lula, que entrou com pedido de Habeas Corpus para a soltura de seu cliente pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, mas foi negado. Em 9 de abril, Bastos entrou com segundo pedido de habeas corpus,[26] mas foi negado novamente. Em abril, foi transferido no Presídio da Papuda.[27]

2013 editar

Em 28 de abril de 2013, foi preso por dirigir embriagado, teve apreendida a sua carteira de habilitação e só foi liberado após pagar fiança de R$ 22 mil. Cachoeira disse à polícia que tinha saído de um show do cantor Gusttavo Lima antes de parar no bloqueio.[28]

2016 editar

 Ver artigo principal: Operação Saqueador

Em 30 de junho de 2016, Carlinhos Cachoeira voltou a ser preso pela PF na Operação Saqueador. O contraventor é um dos alvos da operação, que prendeu pessoas envolvidas em uma esquema de lavagem de R$ 370 milhões em verbas públicas. A ação foi realizada pelo Ministério Público Federal em parceria com a Polícia Federal. Também há mandados de prisão contra Adir Assad e Fernando Cavendish, que é dono da empresa Delta Construções. O ex-diretor da Delta Cláudio Abreu foi preso em um condomínio de luxo de Goiânia.[29]

Em 28 de julho de 2016, Cachoeira foi preso novamente após o Tribunal Regional Federal da 2º Região julgar o habeas-corpus, no dia anterior, 27 de julho. Por unanimidade o tribunal decidiu que Cachoeira, Fernando Cavendish e outros três acusados na Operação Saqueador fossem presos.[30] Durante a sessão, o presidente do tribunal, o desembargador Paulo Espírito Santo disse que "o país não suporta mais a corrupção, a impunidade, se não botar na cadeia os mais ricos".[31]

Ver também editar

Referências

  1. «Processo: HC 238338 (0069275-30-2012.3.00.0000)». Obs.: clicar em "PARTES E ADVOGADOS". STJ. Consultado em 10 de abril de 2012 
  2. a b «Carlos Leréia diz em plenário que é amigo de Cachoeira». Agência O Globo. Consultado em 3 de maio de 2012 
  3. «PF prende Carlinhos Cachoeira em operação contra jogos de azar». Portal Circuito MatoGrosso. 29 de fevereiro de 2012. Consultado em 5 de março de 2012 
  4. «Operação da PF prende pivô do caso Waldomiro Diniz». Portal iG São Paulo. 29 de fevereiro de 2012. Consultado em 30 de julho de 2012 
  5. «Escândalos - Caso Waldomiro Diniz». Revista Veja. Consultado em 30 de julho de 2012 
  6. «Waldomiro Diniz é condenado a 12 anos de prisão». Época. Globo.com. 2 de março de 2012. Consultado em 16 de fevereiro de 2017 
  7. «Dos bingos ao STF, saiba a ligação de Cachoeira com o mensalão». Terra. 2 de agosto de 2012. Consultado em 16 de fevereiro de 2017 
  8. Liz Batista (3 de fevereiro de 2014). «Escândalo Waldomiro Diniz completa 10 anos». Acervo Estadão. Consultado em 16 de fevereiro de 2017 
  9. Sergio Lirio (16 de maio de 2012). «A CPI dos Bingos e suas consequências». Carta Capital. Consultado em 16 de fevereiro de 2017 
  10. «Relatório final da CPI dos Bingos pede 83 indiciamentos». Consultor Jurídico. 8 de junho de 2006. Consultado em 16 de fevereiro de 2017 
  11. «Cachoeira chega a Perillo». Isto É. 5 de Abril de 2012. Consultado em 9 de abril de 2012 
  12. «Chefe de gabinete de Agnelo pede demissão após revelação de grampo». O Globo. 9 de Abril de 2012. Consultado em 11 de abril de 2012 
  13. «Polícia Federal vê elo entre construtora Delta e Cachoeira». Folha.com. 7 de Abril de 2012. Consultado em 11 de abril de 2012 
  14. Vanessa Gonçalves e Jéssica Oliveira (13 de abril de 2012). «Blog afirma que Kajuru pediu dinheiro para Carlinhos Cachoeira; comentarista nega». Portal Imprensa. Consultado em 24 de abril de 2012 
  15. Agência O Globo (27 de julho de 2012). «MP suspeita que Andressa é laranja de Carlinhos Cachoeira». Yahoo! Notícias. Consultado em 30 de julho de 2012 
  16. «Juiz acusa: Veja fez dossiê para soltar Cachoeira». Jornal Brasil 247. 31 de julho de 2012. Consultado em 31 de julho de 2012 
  17. «Atuação desastrada de Andressa Mendonça eleva prejuízo de Cachoeira e da revista Veja». Correio do Brasil. 31 de julho de 2012. Consultado em 31 de julho de 2012 
  18. «Mulher de Cachoeira é detida sob suspeita de tentar corromper juiz». Folha de S.Paulo. 31 de julho de 2012 
  19. a b «Suposto dossiê de Veja foi usado em chantagem para soltar Cachoeira, diz juiz». Portal de Notícias R7. 30 de julho de 2012. Consultado em 31 de julho de 2012 
  20. Estadão (30 de julho de 2012). «Mulher de Cachoeira sai da Polícia Federal». Yahoo! Notícias. Consultado em 30 de julho de 2012 
  21. «Cachoeira fica calado e CPI antecipa fim de sessão». Estadão. 22 de maio de 2012 
  22. Folha de S.Paulo (29 de Fevereiro de 2012). «PF prende Carlinhos Cachoeira em operação contra jogos de azar» 
  23. Luís Nassif Online (28 de abril de 2012). «Como Cachoeira utilizava a Veja» 
  24. «Carlinhos Cachoeira é transferido para presídio federal no RN». VNews. 2 de Fevereiro de 2012 
  25. Andrei Meireles e Marcelo Rocha (2 de março de 2012). «As ligações de Carlinhos Cachoeira com políticos». Revista Época. Consultado em 30 de julho de 2012 
  26. «Advogado de Carlinhos Cachoeira pede habeas corpus ao STJ». Bahia Notícias. 9 de Abril de 2012. Consultado em 11 de abril de 2012 
  27. «Cachoeira está no presídio da Papuda, em Brasília, diz Depen». G1. Globo. 18 de abril de 2012. Consultado em 30 de junho de 2016 
  28. «Carlinhos Cachoeira é preso por dirigir embriagado em Anápolis (GO)». R7. 28 de abril de 2013. Consultado em 30 de junho de 2016 
  29. «Carlinhos Cachoeira é preso em operação contra lavagem de dinheiro». G1. Globo. 30 de junho de 2016. Consultado em 30 de junho de 2016 
  30. Marcia Furlan (28 de julho de 2016). «Carlinhos Cachoeira é preso pela PF no Rio». Estadão. Consultado em 28 de julho de 2016 
  31. «Carlinhos Cachoeira é preso por agentes da Polícia Federal no Rio». G1. Globo. 28 de julho de 2016. Consultado em 28 de julho de 2016