Carmem Jacomini

pessoa morta na ditadura brasileira

Carmen Monteiro dos Santos Jacomini (São Paulo, 19 de Maio[1] de 1940), também conhecida como Coelhinha, foi estudante de artes cênicas e militante da ALN (Ação Libertadora Nacional), VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro).

Carmem Jacomini
Carmem Jacomini
Nascimento 19 de maio de 1940
São Paulo
Morte abril de 1977 (36–37 anos)
Aix-en-Provence
Cidadania Brasil
Progenitores
  • Abmar Monteiro dos Santos
  • Luzia Reis Monteiro
Ocupação estudante

Morta em um acidente de carro em Abril de 1977, na comuna francesa Aix-en-Provence. Não constam informações sobre a sua morte no Relatório da Comissão Nacional da Verdade pois não é possível caracterizá-la como responsabilidade do Estado.[2]

Biografia editar

No dia 19 de Maio de 1940[3] nasceu Carmem Monteiro dos Santos Jacomini, na cidade de Campinas, sendo filha de Abner Monteiro dos Santos e Luzia Reis Monteiro dos Santos. Carmen casou-se muito jovem, teve uma filha aos 18 anos, mas aos 21 Carmen partiu para a cidade de São Paulo.

Vivendo em São Paulo, Carmen tornou-se estudante de artes cênicas e conheceu Luiz Almeida Araújo na Escola de Teatro Leopoldo Froés no ano de 1966. Foi logo na montagem de uma das peças que começaram a se envolver. Luiz era estudante de ciências sociais da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras São Bento da PUC-SP, além disso era militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e já havia se envolvido em outras diversas ocorrências antes de entrar para o teatro, conciliando os dois oficios.

Neste período o casal se filiou a ALN e continuou militando até 1968 quando o casal foi para Cuba participar de um treinamento de guerrilha urbana e rural.[4]

Em 1968 Carmem se separou de Luiz e se filiou a outra organização clandestina: a VPR, onde começou a se envolver com Roberto Menkes entre meados de 1968 e 1969, chegando a se declarar casada em seus documentos. O casal em diversas acusações recebeu o codinome de "coelhinho e coelhinha". Mas nota-se que era recorrente a mudança do apelido.[5]

Em meados de 1969 a Vanguarda Popular Revolucionária adquiriu o Sitio Palmital, localizado na BR 116, São Paulo-Curitiba. Lá foram feitos duas bases de alojamento onde o casal fez parte como alunos da Base Eremias Delizoikov.

Após a morte de Carlos Lamarca, um dos encabeçadores da VPR o grupo sentiu a pressão dos militares brasileiros e pouco a pouco eles foram se exilando em outros países. Carmem, junto a Roberto, foi para o Chile em 1971 onde permaneceu até o inicio da ditadura chilena em 1973. Vale dizer que há registros no CIEX (Centro de Informações do Exterior) de que ela estava junto a outros militantes na pensão Michangelo, localizada em na cidade de Santigo[6]

Ocorrências editar

Carmem esteve presente em diferentes assaltos e crimes quando era integrante dos grupos de guerrilha contra a ditadura militar. São mais de 40 menções no compilado de documentos feito pelo Projeto Brasil Nunca Mais.[7] Em alguns momentos seu nome é citado como colaboradora, em outros seguem algumas de suas sentenças, além dos relatórios de ocorrência. Alguns momentos emblemáticas em que ela participou:

  1. No dia 11 de Junho de 1969 Carmem participou do assalto ao Banco do Bradesco localizado na rua Turiassu, no bairro de Perdizes, localizado na cidade de São Paulo. Junto a mais 11 pessoas do grupo MR8, foram roubados cerca de sete milhões de cruzeiros. A ação terminou com a morte do soldado da Força Pública do Estado de São Paulo, Aparecido dos Santos de Oliveira. Ele havia sido baleado e ainda no chão recebeu mais quatro tiros. Carmen foi indiciada, mas fugiu após o ocorrido.
  1. No dia 29 de Maio de 1971, Carmem junto a mais 13 pessoas do grupo VPR assaltaram uma filial da Distribuidora de Cosméticos DISCO S.A em Copacabana. Foram roubados cerca de 42.400 cruzados. Para realizar a ação eles usaram disfarces, como perucas e bigodes. Entretanto foram pegos pela polícia dentro do carro de fuga. Devido as circunstâncias foi averiguado que não eram apenas bandidos e sim subversivos. Os rostos dos mesmos foram identificados pelos trabalhadores presentes na hora da ação. Carmem conseguiu fugir, mas foi denunciada como infratora do artigo 27 do decreto de lei nº898 pelo Procurador Humberto Augusto da Silva Ramos.[8]

Circunstâncias da Morte editar

Carmem se manteve no exilada no Chile até o golpe militar que ocorreu no país em 1973. Seu destino depois do ocorrido foi a França, país onde faleceu no final de Abril de 1977 em consequência de um acidente com seu automóvel na comuna francesa Aix-en-Provence.[9] Não se tem mais informações sobre o ocorrido.

Devido sua morte ter sido no exterior, não há provas de que seu falecimento foi em culpa do Estado, mas sim que ele aconteceu em decorrência do banimento dela no país. Sendo assim, o nome de Carmem aparece na listagem das pessoas que morreram durante a ditadura militar brasileira, mais uma das vitimas do regime ditatorial.[10]

Ver também editar

Referências

  1. Predefinição:Citar filha de Abner Monteiro dos Santos e Luiza Reis Monteiro dos Santos web
  2. Verdade, Comissão da (Dezembro de 2014). «Relatório Comissão da Verdade» (PDF). Comissão da Verdade. p. 27. Consultado em 23 de Novembro de 2019 
  3. Pública, Secretária de Segurança (2 de Setembro de 1972). «Relatório de Vida Regressa». Projeto Brasil Nunca Mais. p. 95. Consultado em 19 de Novembro de 2019 
  4. Brasil, Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Politicamente no. «Mortos e Desaparecidos Luiz A. Araújo». PUC SP. Consultado em 17 de novembro de 2019 
  5. Política, Delegacia de Ordem (6 de julho de 1971). «Projeto Brasil Nunca Mais». Projeto Brasil Nunca Mais. p. 38. Consultado em 17 de Novembro de 2019 
  6. CIEX (2 de dezembro de 1971). «Secreto» (PDF). Comissão da Verdade. Consultado em 17 de novembro de 2019 
  7. Mais, Projeto Brasil Nunca. «Brasil Nunca Mais». Brasil Nunca Mais. Consultado em 17 de novembro de 2019 
  8. Militar, Procuradoria-Geral da Justiça (8 de Maio de 1973). «Denuncia Assalto». Brasil Nunca Mais. p. 7. Consultado em 17 de Novembro de 2019 
  9. Dal Piva, Juliana (14 de Novembro de 2014). «Lisa de vítimas abre crise entre Comissão da Verdade e familiares». Comissão da Verdade da Reforma Sanitária. Consultado em 23 de Novembro de 2019 
  10. Dal Piva (14 de Novembro de 2011). «Lista de Vítimas abre crise entre Comissão da Verdade e Familiares». Comissão da Verdade da Reforma Sanitária. Consultado em 19 de Novembro de 2019