Celina Pereira

cantora, educadora e contadora de histórias

Celina Pereira (Ilha da Boa Vista, 10 de setembro de 1940 - Almada,17 de dezembro de 2020) foi uma cantora, escritora e educadora cabo-verdiana. Conhecida por ser uma embaixadora da cultura de seu país e usava sua música para em prol da preservação da memória coletiva do povo cabo-verdiano. Celina foi uma propulsora da campanha que fez com que a morna, género musical cabo-verdiano, se tornasse Património Imaterial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).[1][2][3]

Celina Pereira
Celina Pereira
Celina Pereira na Feira do Livro de Lisboa de 2012.
Nascimento 10 de setembro de 1940
Boa Vista,
Cabo Verde
Morte 17 de dezembro de 2020
Almada, Portugal
Ocupação cantora

Biografia editar

Natural da Ilha da Boa Vista em Cabo Verde, Celina mudou-se com a sua família numerosa para Ilha de São Vicente quando contava apenas seis anos de idade. Era a única ilha onde havia liceu e os pais queriam que a irmã mais velha continuasse os estudos. Já na época, Celina navegava entre duas línguas - o português e o criolo. Na escola que frequentava, durante o regime de Salazar, era proibido falar criolo e a geografia que se aprendia era a de Portugal Continental. Era sobrinha do político revolucionário Aristides Pereira, que em 1956, fundou com Amílcar Cabral o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e que viria a ser o primeiro presidente da república do país, permanecendo no cargo entre 1975 e 1991.

Aos oito anos começou a cantar como solista do orfeão, na igreja protestante. Seguiu-se o “Eden Parque”, no Mindelo, e os seus Serões para Trabalhadores, sempre às escondidas do pai. A sua primeira actuação profissional foi em 1968, com 25 anos, a convite do Grupo Ritmos Cabo-Verdianos. [4] Seguiram-se os convites de Bana para actuar nos saraus que organizava.[5][6]

Percurso editar

Estudou em Viseu na década de 1960 e em 1970 se mudou para Lisboa, onde viveu até o fim da vida, para continuar os estudos e onde rapidamente passou a ser uma referência da diáspora cabo-verdiana e da sociedade portuguesa, com presença permanente na televisão. Fruto do seu trabalho de investigação, recuperou boa parte da tradição cultura do arquipélago perdida no tempo, como mazurcas, cantigas de casamento e mornas, cantigas de roda, lunduns, choros, lenga-lengas e toadas rurais. Estreou-se na televisão no programa Arroz Doce, de Júlio Isidro, por ocasião do lançamento do disco Mar Azul - Cantá Mudjers, uma gravação a várias vozes resultante do Festival de Vozes Femininas, organizado pela Organização das Mulheres de Cabo Verde (OMCV), na Cidade da Praia, em Março de 1985. Foi a partir daí que a sua carreira teve maior impulso, não só na gravação de discos a solo como no trabalho com outros músicos, de várias nacionalidades.O seu primeiro single "Bobista, Nha Terra/Oh, Boy!" foi editado em 1979 pela etiqueta Discos Monte Cara do cantor Bana[7] mas só em 1986 lançou o primeiro disco "Força di Cretcheu" (Força do Meu Amor), que inclui histórias e cantigas de roda, brincadeira, casamento e trabalho.[8][9] [10]

Celina Pereira desenvolveu actividades em diversas áreas da comunicação, nomeadamente como jornalista de rádio e contadora de estórias, actividade iniciada em liceus e escolas de Boston, Massachussets, nos Estados Unidos, desde 1990, quando também lançou o LP "Estória, Estória... No Arquipélago das Maravilhas" que contou com a colaboração de Paulino Vieira.[11][5]

Em 1998, o disco "Harpejos e Gorjeios", ela canta em crioulo e português e contou com a direcção musical de Zé Afonso. Nele, interpreta a morna "Bejo de Sodade", da autoria de B. Leza, com o fadista Carlos Zel.

Colaborou com Martinho da Vila no tema "Nutridinha do Sal" do disco "Lusofonia", de 2000 e com o italiano Mariano Deidda no disco Deidda Interpreta Pessoa, de 2001, só com poesia de Fernando Pessoa.[8]

Em 2003, Celina foi condecorada com a Medalha de Ordem ao Mérito no grau Comendadora pelo presidente português, Jorge Sampaio, pelo seu trabalho na área da educação e da cultura cabo-verdiana.[12]

Participou em inúmeros espectáculos ao vivo. Entre Mornas e Fados, realizado no Cinema São Jorge, em 2009, foi uma expressão da sua vontade de diálogo cultural permanente entre as culturas musicais populares cabo-verdiana e portuguesa.[13] Em 2014, foi homenageada com o Prémio Carreira na 4.ª edição do Cabo Verde Music Awards (CVMA).[14]

Lançado em 2017, seu disco "Areias Mornas de Bubista" homenageia poetas e compositores da sua terra natal, a ilha da Boa Vista, como Luís Rendall em 12 temas - 11 mornas e uma coladeira. [15]

Celina também é conhecida por seu trabalho como autora e escreveu três títulos de áudio-livros multilingues, que vêm servindo os programas de educação Intercultural, com destaque para "Estória Estória... do Tambor a Blimundo".[16][17] Publicou, em 2018, “A Sereia Mánina e os seus sapatos vermelhos" um livro infantil de histórias cabo-verdianas em formato impresso e audiobook em português, cabo-verdiano e em braille.[18]

Aos 80 anos, Celina morreu em Lisboa, a 17 de Dezembro de 2020, vítima de doença, curiosamente no mesmo dia e mês de outra grande cantora de seu país, Cesária Évora, que morreu em 2011.[12][19][4]

Prêmios e Reconhecimentos editar

Obra editar

Discografia [25] editar

  • 1979 - Bubista, Nha Terra / Oh, Boy! ‎(Monte Cara)
  • 1986 - Força de cretcheu (Lp, Dacapo)
  • 1990 - Estória, Estória...No Arquipélago das Maravilhas
  • 1994 - Nos Tradição (Sonovox) [26]
  • 1998 - Harpejos e Gorgeios (Sonovox)
  • 1998 - Estória, estória... no arquipélago das maravilhas vol. 1 (Movieplay)[27]
  • Estória, estória... no arquipélago das maravilhas vol. 1 (audiolivro, Editora Independente)
  • 2017 - Areias Mornas de Bubista [28]

Bibliografia editar

  • 2004 - Estória, estória... do tambor a Blimundo vol.2 (audiolivro, Tabanka Onlus) [29][30]
  • 2014 - Contos tradicionais da CPLP, ISBN: 978-989-97178-7-9 [31]
  • 2018 - A Sereia Mánina e Seus Sapatos Vermelhos / Serêa Mánina e Sís Sapóte Burmêdje, ISBN:9789898825100 [32][33]

Referências

  1. «Morreu a cantora cabo-verdiana Celina Pereira». TVI24. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  2. PÚBLICO, Lusa. «"A morna já é Património da Humanidade", anuncia ministro da Cultura cabo-verdiano». PÚBLICO. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  3. «Morna chora a morte de Celina Pereira». www.cmjornal.pt. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  4. a b «Morreu a cantora cabo-verdiana Celina Pereira». Mundo ao Minuto. 17 de dezembro de 2020. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  5. a b «Biografia, cidade natal de Celina Pereira». Last.fm. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  6. «Com a voz morna de Cabo Verde - DN». www.dn.pt. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  7. «Celina Pereira». Discogs 
  8. a b PÚBLICO, Lusa e. «Morreu a cantora cabo-verdiana Celina Pereira». PÚBLICO. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  9. «Morre Celina Pereira, uma das maiores cantoras cabo-verdianas». VOA. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  10. «Morreu a cantora cabo-verdiana Celina Pereira». Jornal Expresso. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  11. «Celina Pereira - "Estória, Estória" ...». Discogs (em inglês). Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  12. a b Lusa, Agência. «Morreu a cantora cabo-verdiana Celina Pereira». Observador. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  13. a b AbrilAbril. «Morreu Celina Pereira, cantora e «verdadeira embaixadora» de Cabo Verde». AbrilAbril. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  14. a b Lusa, Agência. «Morreu a cantora cabo-verdiana Celina Pereira». Observador. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  15. «Celina Pereira homenageia poetas e compositores da sua ″Bubista″ em novo disco - DN». www.dn.pt. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  16. «Celina Pereira | Wook». www.wook.pt. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  17. «Celina Pereira | Bertrand Livreiros - livraria Online». www.bertrand.pt. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  18. «Celina Pereira tem novo livro». Expresso das Ilhas. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  19. «Morreu a cantora cabo-verdiana Celina Pereira - JN». www.jn.pt. Consultado em 17 de dezembro de 2020 
  20. Renascença (17 de dezembro de 2020). «Morreu a cantora cabo-verdiana Celina Pereira - Renascença». Rádio Renascença. Consultado em 22 de dezembro de 2020 
  21. «ORDEM DO MÉRITO - Página Oficial das Ordens Honoríficas Portuguesas». www.ordens.presidencia.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  22. Portugal, Rádio e Televisão de. «Embaixada em Lisboa condecora Dani Silva, Celina Pereira,Titina e três investigadores lusos». Embaixada em Lisboa condecora Dani Silva, Celina Pereira,Titina e três investigadores lusos. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  23. a b c «Morreu Celina Pereira | UCCLA». www.uccla.pt. Consultado em 1 de maio de 2021 
  24. «SCMA homenageia Celina Pereira». www.scma.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  25. «Fonoteca Municipal - Catálogo». fonoteca.cm-lisboa.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  26. «Fonoteca Municipal - Catálogo - Detalhe do Registo». fonoteca.cm-lisboa.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  27. «Fonoteca Municipal - Catálogo - Detalhe do Registo». fonoteca.cm-lisboa.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  28. «Celina Pereira homenageia poetas e compositores da sua ″Bubista″ em novo disco - DN». www.dn.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  29. «Fonoteca Municipal - Catálogo - Detalhe do Registo». fonoteca.cm-lisboa.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  30. «Estória, estória ...do tambor a Blimundo». catalogo.bnportugal.pt. Biblioteca Nacional de Portugal. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  31. «Contos tradicionais da CPLP». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  32. «A Sereia Mánina e Seus Sapatos Vermelhos / Serêa Mánina e Sís Sapóte Burmêdje (Vermêlhe) - Livro - WOOK». www.wook.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  33. «A sereia Mánina e seus sapatos vermelhos = Serêa Mánina e sís sapóte burmêdje (vermêlhe)». catalogo.bnportugal.pt. Consultado em 12 de janeiro de 2021 

Ligações externas editar


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