O Centro Dom Vital (CDV) é uma associação brasileira de católicos leigos de caráter nacional, sediada na cidade do Rio de Janeiro. No âmbito intelectual, constitui-se numa das mais influentes agremiações culturais brasileiras do século XX. Entre seus mais famosos e atuantes membros históricos estiveram Jackson de Figueiredo, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e Heráclito Sobral Pinto.

Criado em 1922 sob a liderança de Jackson de Figueiredo[1][2], liderou a intelectualidade leiga católica brasileira até o início da década de 60. Quando de sua fundação, foi instituição pioneira na adoção de um modelo de organização católica leiga não estritamente ligada a uma ordem ou congregação particular da Igreja, e diverso das tradicionais confrarias (ordens terceiras e irmandades). Seus propósitos principais são o apostolado e a formação entre leigos, bem como a intervenção na esfera cultural secular, e não mais, como para as confrarias, algum culto ou devoção particulares.

Entre seus princípios estatutários encontra-se a "comunhão e estrita observância da orientação doutrinária do magistério da Igreja." A eleição de seu presidente e diretoria realiza-se periodicamente entre os associados, sendo a seguir submetida à chancela do Arcebispo do Rio de Janeiro.

O CDV dedica-se ainda hoje, depois de muitas renovações, à difusão da fé e à evangelização da cultura no Brasil, assim como à promoção de debates culturais e religiosos. Edita a revista A Ordem, onde escreveram personalidades brasileiras. Promove periodicamente palestras, ciclos de conferências, cursos de variados gêneros e organiza um cineclube próprio. Possui acervo e biblioteca, com publicações, documentos, fotos e materiais diversos, relacionados à história e às atividades do Centro.

Embora em seu início a instituição tenha se prestado a campanhas fascistas e até antissemitas de seu fundador Jackson de Figueiredo,[3] a partir da década de 1940 ganhou um caráter mais "progressista" ao se aproximar da Ação Católica.[4]

História

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O Centro Dom Vital foi fundado em 1922 por Jackson de Figueiredo, seu grande idealizador e primeiro presidente, Hamilton Nogueira, Durval de Moraes, Jonatas Serrano, Vilhena de Morais, Perilo Gomes e José Vicente de Souza. Em primeiro lugar, buscou o CDV reunir a intelectualidade leiga católica nacional, tendo em vista a expansão e intensificação do apostolado realizado pelos próprios leigos. Outros objetivos essenciais relacionados eram o aprofundamento dos leigos na formação cristã e a intervenção de maior peso nos debates da esfera pública nacional na ainda recente República.

 
Carta do Cardeal Leme ao Centro Dom Vital, 1931

A revista A Ordem, criada também por Jackson, um ano antes (1921), foi logo incorporada ao CDV como órgão de divulgação principal do Centro. Nos primeiros tempos foi marcante e decisiva a estreita interlocução e colaboração com o então Cardeal Sebastião Leme, Arcebispo do Rio de Janeiro, grande entusiasta da instituição. O Centro foi ainda aconselhado pelo Padre Leonel Franca, jesuíta, nomeado seu assistente eclesial, e acompanhado de perto pelos monges do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, que era frequentado por muitos de seus membros, e vivia um de seus momentos-auge, sob a regência do Abade Dom Tomás Keller.

Após a morte de Jackson em trágico acidente em 1928, o Centro passa às mãos de Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), ele mesmo recém-convertido por Jackson através de correspondência epistolar. Sob a liderança de Alceu, alinhado à época com o pensamento neotomista em voga, o Centro Dom Vital expandiu ainda mais a sua influência durante as décadas de 30, 40 e 50.

 
Reunião do Centro Dom Vital. Presentes Sobral Pinto (ext. esq.) e Alceu (de pé, ext. dir.).

Neste período de apogeu, chegou a contar com representações de sociedades locais em Recife, São Paulo, São João del-Rei, Belo Horizonte, Aracaju, Fortaleza, Porto Alegre, Salvador, Juiz de Fora, Itajubá, Ouro Preto, Uberaba, Campos, São Luiz do Maranhão, Diamantina, Manaus, Florianópolis, Pelotas e Pesqueira. Até mesmo a Ação Católica Brasileira, fundada em 1935 pelo Cardeal Leme e entregue à direção de Alceu, esteve, em seus primeiros anos, quanto ao comando de sua atuação fundamentalmente sintonizado com o pensamento dos intelectuais do Centro. O Centro exerceu ainda importante influência na fundação da PUC-RIO, capitaneada pelo Padre Leonel Franca, com decisiva colaboração de Alceu.[5]

Gustavo Corção, escritor e articulista de renome, esteve entre os mais atuantes membros do Centro, destacando-se no comando da revista A Ordem, que exerceu de 1942 até seu desligamento da instituição, em 1963, após reiterados desentendimento com Alceu. A ruptura marcou profundamente a instituição, que sofreu o desfalque de muitos membros próximos a Corção.

No âmbito católico brasileiro, a crescente polarização entre Corção e Alceu espelhava o momento particularmente delicado, vivido pelo mundo católico com as renovações propostas pelo Concílio Vaticano II e suas mais diversas interpretações. Até a morte em 1978 de Corção, Alceu e ele, ambos ainda importantes formadores de opinião nas décadas de 60 e 70, mantiveram posições opostas quanto a temas como a legitimidade do regime militar brasileiro, a visão católica em matéria social e o valor das reformas propostas pelo Vaticano II. Durante este período, Corção, que neste interim passara rapidamente pela TFP e fundara a associação Permanência em 1968, atraindo muitos membros egressos do CDV, manteve-se em todos esses debates mais à direita, enquanto Alceu inclinava-se nitidamente mais à esquerda.

Alceu deixava a presidência do Centro em 1967, sendo sucedido por Eduardo Prado de Mendonça.

Outra grande cabeça da entidade, desde a década de 30, foi o ilustre advogado e jurista Sobral Pinto, que assumiu a sua presidência em 1971, sucedendo Prado de Mendonça e conduzindo-o até o seu falecimento em 1991.

Mais recentemente, ocuparam ainda a sua presidência as figuras ilustres do filósofo Tarcísio Padilha (de 1991 a 2011) e do jornalista Luiz Paulo Horta (de 2011 a 2013), ambos também membros da Academia Brasileira de Letras. O atual presidente é o professor de Filosofia, doutor Carlos Frederico Calvet da Silveira.

Ver também

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Referências

  1. Wiazovski, Taciana. O mito do complô judaico-comunista no Brasil: gênese, difusão e desdobramentos (1907-1954). Humanitas, 2008, p. 138.
  2. Fleichman, Julio. «A Crise é de Fé». O Indivíduo. Permanência.org.br. Consultado em 8 de abril de 2009 
  3. Renato Amado Peixoto (2017). «Da Liga Eleitoral Católica à Reação Nacionalista: o percurso do Catolicismo brasileiro rumo à colusão com o Fascismo». Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano X, n. 29. Consultado em 27 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 26 de novembro de 2020 
  4. Frei Betto (26 de fevereiro de 2015). «Igreja Católica e sociedade brasileira». O Globo. Consultado em 27 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 19 de julho de 2015 
  5. Salem, Tânia (1982). «Do Centro Dom Vital à Universidade Católica». Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Consultado em 21 de julho de 2014 

Bibliografia

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Ligações externas

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