Ceuta Portuguesa
Ceuta foi uma possessão portuguesa entre 1415 e 1640. Conquistada ao Reino de Fez pelo rei D. João I, passou para a posse de Espanha aquando da Restauração da Independência Portuguesa.
Ceuta Cidade de Ceuta | |||||
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Continente | África | ||||
Capital | Ceuta | ||||
Língua oficial | Português | ||||
Governo | Monarquia Absoluta | ||||
Rei | |||||
• 1415- | D. João I | ||||
• 1640 | D. João IV | ||||
História | |||||
• 1415 | Fundação | ||||
• 1640 | Dissolução |
História
editarA 21 de agosto de 1415 tropas portuguesas comandadas pelo rei D. João I acompanhado pelos seus filhos Duarte, Pedro e Henrique desembarcaram no que são atualmente as praias de Santo Amaro e conquistam a cidade para Portugal. Diante das disputas de vários capitães para ficarem com o governo da cidade depois da conquista, Pedro de Meneses apresentou-se ao rei com um pau chamado "aleo", usado num jogo popular na época, e quando D. João lhe perguntou se era suficientemente forte para tomar a seu cargo a responsabilidade do governo de Ceuta terá respondido: «Senhor, este pau basta-me para defender Ceuta de todos os seus inimigos». Pedro de Meneses foi então nomeado primeiro governador e capitão-geral de Ceuta. O pau (Aleo) ainda hoje se encontra no santuário de Nossa Senhora de África e passou de mão em mão por todos os governadores que estiveram no comando da praça jurando defender a cidade tal como o fez Pedro de Meneses.
“ | Ceuta, cidade no estreito Hercúleo, em frente de Gibraltar, foi uma das principais cidades no tempo dos mouros, tanto em edifícios como em riqueza de mercadorias, que daqui partiam para toda a terra do Sertão. E estava em tanta prosperidade que quantos navios passassem pelo dito estreito, quer do Levante quer do Poente, tinham que amainar as velas, porque toda a nau que isto não fizesse, as galés dos mouros as seguiam e as tomavam. | ” |
— Descrição de Ceuta no início do século XVI por Valentim Fernandes, 1507.
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O rei ordenou que quase 3 000 homens ficassem para trás como guarnição.[1] Incluía 300 escudeiros da casa real, 300 escudeiros da casa do príncipe-herdeiro D. Duarte, 250 escudeiros da casa do Infante D. Pedro, 300 escudeiros da casa do Infante D. Henrique, 600 besteiros a pé e a cavalo, um número inédito de escudeiros das cidades de Évora e Beja e vários nobres com os seus seguidores.[2] Muitos ressentiam-se profundamente com a ideia de viver numa cidade fronteiriça isolada, rodeada por potências muçulmanas hostis, ávidas por vingança contra os cristãos e, temendo morte certa ou cativeiro, imploraram para serem levados de regresso a Portugal, subornaram funcionários para os levarem de volta aos navios ou fingiram doenças.[3] Alguns se estabeleceram voluntariamente na cidade como milicianos, como os artesãos.[3] Outros abraçaram de bom grado a vida de fronteiros.[3] Provavelmente muitos eram nobres e seus vassalos, buscando riqueza e glória no serviço no exterior, como Rui de Sousa, que ficou para trás com 40 vassalos.[2] Tais nobres poderiam ter-se tornado um sério factor de desestabilização e conflito interno finda a paz com Castela em 1411.[4]
Ceuta foi sitiada pelo sultão de Fez e pelo emir de Granada em 1418 e novamente em 1419. Porém de ambas as vezes os muçulmanos foram rechaçados.[5][6]
Num tratado assinado com o rei de Fez, este reconheceu Ceuta como portuguesa. No mundo cristão, a cidade foi reconhecida como possessão portuguesa nos tratados das Alcáçovas (1479) e de Tordesilhas (1494).
A seu tempo, Ceuta veio a tornar-se uma formidável base militar e um dos principais refúgios para corsários cristãos no ocidente Mediterrâneo, a principal base a partir da qual os navios portugueses atacavam navios muçulmanos hostis, de Salé a Granada e Tunes, actividade que rendeu ao capitão de Ceuta D. Pedro de Meneses e a D. João I valiosos rendimentos.[7][8] A navegação cristã no Estreito de Gibraltar também se tornou mais segura.[9] Os ataques portugueses causaram o abandono da costa marroquina por número considerável de residentes, que fugiram para o interior, ao passo que o comércio externo marroquino definhou gradualmente.[7] Ceuta era frequentada por aventureiros de diversas nacionalidades, entre castelhanos, aragoneses, flamengos, Alemães e até mesmo polacos, que buscavam de riqueza e glória.[10]
Ceuta tornou-se diocese em 1417 por bula do Papa Martinho V.
Durante o reinado de D. Duarte, a fortaleza de Ceuta rapidamente se tornou um peso nas finanças régias. As caravanas trans-saarianas mudaram de percurso para Tânger e o permanente estado de guerra comprometia o cultivo dos campos em redor e a produção de cereais. A situação agravou-se em função das elevadas despesas militares necessárias à manutenção da praça africana. Os membros da corte chegaram a cogitar o abandono da cidade. O Infante D. Pedro, em carta ao seu irmão, afirmava mais tarde:
“ | Ceuta é um grande sorvedouro de gente de nossa terra, de armas e de dinheiro. | ” |
Em 1437 Henrique e Fernando persuadiram o rei a lançar um novo ataque ao sultanato Marinida. O ataque a Tânger liderado pelo infante D. Henrique, foi um desastre. O Infante D. Fernando foi entregue aos merínidas como refém e prometida a entrega Ceuta para que o exército português pudesse partir a salvo. D. Fernando faleceu no cativeiro e a cidade continuou portuguesa (1443).
A posse de Ceuta levaria indirectamente a mais expansão portuguesa. A principal área de expansão portuguesa, nesta altura, era a costa de Marrocos, onde havia cereais, gado, açúcar e têxteis, bem como peixe, peles, cera e mel.[11]
Ceuta teve que se aguentar sozinha, durante 43 anos, até que a posição da cidade ser consolidada com a tomada de Alcácer Seguer (1458), Arzila e Tânger (1471).
A cidade foi reconhecida pelos castelhanos como possessão portuguesa pelo Tratado de Alcáçovas (1479) e pelo Tratado de Tordesilhas (1494).
No contexto da Dinastia Filipina, que se seguiu à morte de D. Sebastião em 1580, Ceuta manteve a administração portuguesa, tal como Tânger e Mazagão. Todavia, quando da Restauração Portuguesa em 1640 não aclamou o Duque de Bragança como rei de Portugal, ficando sob domínio espanhol. A situação foi oficializada em 1668 com o Tratado de Lisboa, assinado entre os dois países e que pôs fim à guerra da Restauração, no entanto, a cidade decidiu manter a sua bandeira que é composta por gomos brancos e pretos, à semelhança da bandeira da cidade de Lisboa, ostentando ao centro o escudo português.[12]
Ver também
editarReferências
- ↑ Ignacio da Costa Quintella: Annaes da Marinha Portugueza, Typographia da Academia Real das Sciencias, 1839, pp. 57–70.
- ↑ a b Nuno Silva Campos: GUERRA E CORSO EM CEUTA DURANTE A CAPITANIA DE D. PEDRO DE MENESES (1415–1437) in ACTAS XIV SIMPÓSIO DE HISTÓRIA MARÍTIMA: CEUTA E A EXPANSÃO PORTUGUESA, 2015, p. 337.
- ↑ a b c Nuno Silva Campos: D. Pedro de Meneses e a construção da Casa de Vila Real (1415–1437), Publicações do Cidehus, 2018, p. 43.
- ↑ Campos, 2015, p. 354.
- ↑ Isabel, M. R. Mendes Drumond Braga; Paulo Drumond Braga: Ceuta Portuguesa (1415-1656), Instituto de Estudos Ceutíes, 1998, p. 33.
- ↑ Affonso de Dornellas: De Ceuta a Alcacer Kibir em 1923, Casa Portugueza, 1925, pp. 90-92.
- ↑ a b Filipe Themudo Barata: Ceuta: Da Organização De Uma Máquina de Guerra À Eficácia de Um Instrumento de Política Externa in XVII Jornadas de História de Ceuta: Portugal Y El Norte de Africa, Histórias D'Aquem E D'Além-Mar, Instituto de Estudius Ceutíes, Ceuta, 2016, pp. 65–73.
- ↑ Filipe Themudo Barata : O CORSO E A PIRATARIA A PARTIR DE CEUTA: INSTRUMENTO POLÍTICO E NEGÓCIO POPULAR in ACTAS XIV SIMPÓSIO DE HISTÓRIA MARÍTIMA: CEUTA E A EXPANSÃO PORTUGUESA, 2015, p. 336.
- ↑ Campos, 2015, p. 354.
- ↑ Campos, 2015, p. 352.
- ↑ Payne, Stanley G., A History of Spain and Portugal, Vol. 1, Chap. 10 "The Expansion"
- ↑ «Historia de Ceuta por épocas». www.ceuta.es (em espanhol). Portal do Governo Autonómico de Ceuta. 2005. Consultado em 27 de julho de 2012. Arquivado do original em 14 de maio de 2011