Chelsea Manning

ativista e denunciante americana (nascida em 1987)
(Redirecionado de Chelsea E. Manning)

Chelsea Elizabeth Manning[2][3][4] (nascida Bradley Edward Manning, em Crescent, 17 de dezembro de 1987) é uma política, ativista, denunciante (whistleblower) e militar transgênero do Exército dos Estados Unidos que foi presa e processada por acesso e divulgação de informações sigilosas que resultaram no escândalo conhecido como "Cablegate",[5] referindo-se aos telegramas diplomáticos americanos que começaram a ser publicados em novembro de 2010 por WikiLeaks e cinco grandes jornais. Sua detenção foi realizada em maio de 2010, enquanto servia às tropas norte-americanas no Iraque.

Chelsea Manning
Chelsea Manning
Chelsea Manning em 2022
Nome completo Chelsea Elizabeth Manning[1]
Conhecido(a) por Vazar informações confidenciais ao WikiLeaks
Nascimento 17 de dezembro de 1987 (36 anos)
Crescent, Oklahoma
Nacionalidade norte-americana
Ocupação Política, militar e ativista
Filiação Partido Democrata
Serviço militar
País  Estados Unidos
Serviço Exército dos Estados Unidos
Anos de serviço 2007–2010
Unidades 10ª Divisão de Montanha
Conflitos Guerra ao Terror

Em 17 de janeiro de 2017, o presidente Barack Obama comutou a sentença de Manning para um total de sete anos de confinamento que datam da data da prisão pelas autoridades militares.[6] Manning foi libertada em 17 de maio de 2017.[7]

Carreira e vazamento dos telegramas diplomáticos editar

 
Chelsea, ainda como Bradley, com uniforme do exército dos Estados Unidos, em 2012.

Nascida Bradley Edward Manning, em 1987, em Oklahoma City,[8] filha de Susan Fox, do País de Gales, e Brian Manning, dos Estados Unidos, Chelsea teve uma infância problemática e com pais alcoólatras. Sua família se mudava com frequência (ela morou por muitos anos na Grã-Bretanha), tinha problemas de comportamento e sofria bullying pois seus colegas a viam como um "garoto efeminado". Após se formar, se alistou no exército americano e foi apontada, em 2008, como analista de inteligência e trabalhou no Iraque e no Afeganistão. Agentes do Comando de Investigação Criminal do Exército prenderam-na com base em informações recebidas de autoridades federais, prestadas por Adrian Lamo,[9] um ex-hacker,[10] que, conforme revelado por Andy Greenberg da Forbes,[11] trabalhava como "especialista em segurança" com o Projeto Vigilante, uma instituição de segurança privada que trabalha com o FBI e a NSA. Numa conversa com Lamo, Manning contou-lhe que havia sido responsável pelo vazamento de um vídeo do ataque de um helicóptero a civis em 12 de julho de 2007 em Bagdá. Posteriormente, Lamo entregou Manning às autoridades.[12][13]

O grupo Hackers no Planeta Terra criticou publicamente Lamo por haver traído Manning.[10][14]

Chelsea Manning, semanas depois, foi também acusada de vazar mais de 150 mil documentos ao site WikiLeaks. A acusação inicialmente não foi provada mas com a colaboração de Adrian Lamo provas foram introduzidas contra Manning.[15][16]

Aprisionamento e condenação editar

No início de 2010, Manning deu ao WikiLeaks o vídeo do ataque aéreo em Bagdá de 12 de julho de 2007, mostrando os chamados "danos colaterais". Versão não editada e versão editada[17]

As condições de detenção de Manning na base militar de Quantico (no estado de Virgínia) foram consideradas desumanas e ilegais, tendo sido equiparadas a tortura, pela Anistia Internacional.[18] Relatório publicado pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, emitido após investigação, reafirmou que as condições de detenção eram cruéis e desumanas.[19] Manning foi submetida a privação de sono, nudez forçada e diversas formas de tortura psicológica.[20]

Apesar de ter sido acusada, não lhe foi permitido falar com um juiz; em vez disso, ficou presa, sem qualquer possibilidade de exercer seu direito de impetrar habeas corpus.[21][22][23][24][25]

No dia 21 de agosto de 2013, Chelsea Manning (ainda sob o nome de nascimento "Bradley") foi condenada a 35 anos de prisão por ter vazado em torno de 700.000 documentos secretos ao site WikiLeaks.[26] Um dia após a condenação, revelou ao mundo que é mulher e que quer passar por tratamento hormonal, e pediu para ser reconhecida dali em diante pelo gênero feminino.[2][4][3] Um dos aspectos da defesa de Manning foi justamente o seu transtorno de identidade de gênero, seus advogados tentaram provar evidências da luta contra o transtorno.[1][27]

Julgamento secreto editar

O julgamento de Chelsea Manning aconteceu em 2013, no Fort George G. Meade, Maryland, uma instalação militar que abriga também a NSA e a Escola de Informações do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O público não teve acesso aos documentos e às decisões judiciais até 18 meses depois do fim do processo. Mas a jornalista americana Alexa O'Brien cobriu esse julgamento secreto. Em 27 de dezembro de 2013, no 30º Congresso de Comunicação Chaos (30c3), em Hamburgo, Alemanha, Alexa descreveu o tratamento dado a Manning pelo governo americano, as acusações usadas para justificar a condenação a 35 anos de prisão, as condições do julgamento, do encarceramento e da condenação da acusada.[28]

Em 29 de dezembro de 2013, o Chaos Computer Club realizou o seu 30º Congresso de Comunicação Chaos,[29] durante o qual a jornalista britânica Sarah Harrison, pesquisadora legal e editora do WikiLeaks, abordou o caso de Chelsea E. Manning, explicando a situação a que Manning fora submetida. Na ocasião, Sarah foi ovacionada por seus esforços no sentido de proteger os direitos fundamentais de Manning.[30]

Foi também Sarah Harrison que, em 23 de junho de 2013, acompanhou Edward Snowden no voo de Hong Kong a Moscou, quando Snowden estava sendo perseguido pelo governo dos Estados Unidos.[31][32]

Prêmios editar

Recebeu o EFF Pioneer Award de 2017.[33]

Ver também editar

Referências

  1. a b «Media Makes the Manning Switch». Time. 28 de agosto de 2013. The media has largely accepted Bradley Manning's request that she be identified as a woman named Chelsea 
  2. a b «I am Chelsea: Read Manning's full statement». Today.com. 22 de agosto de 2013. As I transition into this next phase of my life, I want everyone to know the real me. I am Chelsea Manning. I am a female. Given the way that I feel, and have felt since childhood, I want to begin hormone therapy as soon as possible. I hope that you will support me in this transition. I also request that, starting today, you refer to me by my new name and use the feminine pronoun (except in official mail to the confinement facility). I look forward to receiving letters from supporters and having the opportunity to write back. 
  3. a b ««Eu sou Chelsea Manning», diz soldado dos Estados Unidos responsável por vazar documentos». Sul21. 22 de agosto de 2013. Agora que transito para esta nova fase da minha vida, quero que todos saibam quem sou de verdade. Sou Chelsea Manning. Sou uma mulher. Tendo em conta a maneira como me sinto e me tenho sentido desde a minha infância, quero começar um tratamento com hormônios/hormonas logo que possível. Espero que me apoiem durante essa transição. Peço também que, a partir de hoje, se refiram a mim pelo meu novo nome e usando o pronome feminino (exceto em correspondência oficial para o centro de detenção). Anseio por receber cartas de pessoas que me apoiam e quero ter a oportunidade de responder. 
  4. a b «0 Manning quer viver como mulher e chamar-se Chelsea». Público (Portugal). 22 de agosto de 2013 
  5. «Veja os Cabos Diplomáticos - Brasil - Cable Viewer». Consultado em 23 de abril de 2014. Arquivado do original em 27 de dezembro de 2013 
  6. Savage, Charlie (17 de janeiro de 2017). «Obama Commutes Bulk of Chelsea Manning's Sentence». The New York Times. Consultado em 17 de janeiro de 2017 
  7. Libertada Chelsea Manning, soldado que revelou segredos ao Wikileaks. Após sete anos na prisão, a ícone transexual Chelsea Manning, ex-analista militar dos EUA, foi solta por um indulto dado pelo ex-presidente Obama nos últimos dias de seu mandato. Por Joan Faus. El País, 17 de maio de 2017.
  8. «Order Changing Name» (PDF). ChelseaManning.org. Abril de 2014. Arquivado do original (PDF) em 1 de maio de 2014 
  9. Feds say Lamo inspired other hackers
  10. a b EXCLUSIVE: Hacker Adrian Lamo Who Betrayed Wikileaks' Manning Turns Fire on Anonymous
  11. Informante de Wikileaks trabalhava com Firma contratada pelo governo (em inglês) - Stealthy Government Contractor Monitors U.S. Internet Providers, Worked With Wikileaks Informant
  12. US soldier charged over Apache Wikileaks video. 7-7-2010.
  13. 3 Weeks After Arrest, Still No Charges in Wikileaks Probe. Wired. 16-6-2010.
  14. Wired publishes the full Manning-Lamo chat logs - Salon.com
  15. Simpatizantes de líder do WikiLeak promovem retaliação na Web. O Globo/ G1, 8-12-2010.
  16. Informant: Accused Wikileaks Soldier Bradley Manning Had Civilian Help. Arquivado em 22 de fevereiro de 2014, no Wayback Machine. Huffington Post, 31-7-2010.
  17. Open Secrets: WikiLeaks, War and American Diplomacy. The New York Times, 2011.
  18. Bradley Manning's treatment was cruel and inhuman, UN torture chief rules | World news | theguardian.com
  19. Bradley Manning is UK citizen and needs protection, government told | World news | The Guardian
  20. WikiLeaks suspect's treatment 'stupid,' U.S. official says
  21. The inhumane conditions of Bradley Manning's detention Salon 15-11-2010.
  22. Bradley Manning Speaks About His Conditions Firedog Lake blog 23-12-2010.
  23. Bradley Manning e o Wikileaks abriram uma janela na alma política dos EUA. Carta Maior, 29 de janeiro de 2013.
  24. A Typical Day for PFC Bradley Manning Blog dos 'Law Offices of David E. Coombs' 13-12-2010.
  25. Bradley Manning Support Network
  26. «Soldado Manning condenado a 35 anos de prisão pela maior fuga de informação». Público. 21 de Agosto de 2013. Consultado em 24 de Agosto de 2013 
  27. «Soldado Bradley Manning diz que é mulher e pede para ser chamado de Chelsea». IG. 22 de agosto de 2013. Consultado em 26 de agosto de 2013 
  28. Vídeo:Detalhes do Julgamento de Manning em 2013, Fort Meade, sede da NSA, por Alexa O'Brien. Vídeo da palestra, por Alexa O'Brien. Congresso de Comunicação Chaos, do Chaos Computer Club, dezembro 2013 (em inglês)
  29. CCC-TV - Through a PRISM, Darkly
  30. Vídeo: Palestra de Sarah Harrison. CCC-TV. Congresso de Comunicação Chaos Sysadmins of the world, unite!
  31. notícias em Mundo: Conheça Sarah Harrison, militante do WikiLeaks que ajuda Snowden. O Globo
  32. Avião onde viaja Snowden já aterrou em Moscovo Arquivado em 24 de setembro de 2015, no Wayback Machine.. Globo - DN
  33. Pioneer Awards 2017
  34. CBS News: NSA can spy on offline computers wirelessly, says security expert - CBS News NSA tem recursos para espionar em computadores sem conexão à Internet e [Online|offline] - Jacob Apelbaum - Chaos Communication Congress, 28 de Dezembro de 2013, Hamburg, Alemanha

Ligações externas editar

 
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