Na França pós-revolucionária, a nobreza ci-devant era composta pelos nobres que se recusaram a ser reabilitados dentro da nova ordem social ou a aceitar qualquer uma das mudanças políticas, culturais e sociais trazidas ao país após a Revolução Francesa. Frequentemente eles eram distinguidos por suas visões políticas e maneiras, leais às atitudes e aos valores da França pré-revolucionária.

Placa Ci-devant no Hôtel de Nesmond em Paris.

O termo ci-devant, por si mesmo pejorativo, vem do francês, significando "de antes" e aplicado aos membros da nobreza da França do Antigo Regime (i.é, da sociedade francesa pré-revolucionária) após terem perdido seus títulos e privilégios durante a Revolução Francesa. Apesar da abolição formal dos títulos de nobreza pela Primeira República Francesa, a maior parte dos aristocratas jamais aceitou a legalidade dessa decisão e ainda há muitas famílias na França na atualidade esposando títulos aristocráticos. O termo ci-devant pode ser comparado ao prefixo "ex-" ou ao termo "finado", este último expressando a morte figurativa da nobreza causada pela Revolução. Antes desta, ci-devant tinha outra conotação: descrevia aristocratas que caíram em ruína financeira ou social.[1]

Durante a era revolucionária, o termo tornou-se pejorativo, uma vez que era tipicamente usado por pessoas contrárias à nobreza. Por exemplo, dizia-se "le ci-devant comte" ("o conde de antes") sobre alguém que fora conde durante o Antigo Regime, mas agora, de acordo com a Revolução, passara a ser um mero cidadão. O termo também podia ser usado para se referir a áreas conhecidas por seus altos níveis de simpatia à monarquia ou por suas comunidades aristocráticas - tais como os les ci-devants de Coblence, com Coblence (Coblença) sendo a cidade para a qual muitos aristocratas exilados fugiram durante os dois primeiros anos da revolução e onde muitos de seus planos iniciais para restaurar a monarquia foram criados. Centenas de milhares de homens e mulheres franceses não aristocráticos, que se opuseram à revolução por razões políticas, culturais e religiosas, também emigraram entre 1789 e 1794, também vieram a receber tal denominação, indicativo de que sua política e seus valores eram "de antes."

Como na língua francesa o termo possui conotação negativa, aqueles simpáticos aos objetivos históricos da contrarrevolução ou que não desejam usar um termo com tantos significados e julgamentos contraditórios optam pelo uso da expressão Vieille Noblesse ("Velha Nobreza") para se referir à aristocracia existente antes de 1789 - ou a quem na atualidade traça suas linhagens familiares até antes da Revolução. Mas em inglês, o uso de ci-devant é menos claro: alguém que se refira à nobreza ci-devant nobility pode usá-lo apenas para distingui-la das nobrezas posteriores criadas por Napoleão Bonaparte sob o Primeiro Império Francês ou por Luís XVIII e Carlos X sob a Restauração dos Bourbon.

Culturalmente, houve algumas descrições dos ci-devant. Por exemplo, no romance Pimpinela Escarlate, de 1905, a aristocrata Baronesa Orczy refere-se aos "condes, marqueses, até mesmo duques ci-devant, que queriam fugir da França e alcançar a Inglaterra ou outro país igualmente maldito, e ali tentar despertar o sentimento estrangeiro contra a gloriosa Revolução ou levantar um exército para libertar os desventurados prisioneiros no Templo, que se denominavam soberanos da França."[2] Da mesma forma, Joseph Conrad em The Rover (publicado em 1923, cuja história se passa durante a Revolução Francesa e o Período Napoleônico) escreveu sobre um "caçador dos ci-devants e dos padres, fornecedor para a guilhotina: em resumo um sedento de sangue."[3]

Referências

  1. Ci-devant on les.guillotines.free.fr, accessed 16 April 2006.
  2. Baroness Orczy, The Scarlet Pimpernel (1905).
  3. Joseph Conrad, The Rover (1923), Chapter III, accessed online 16 April 2006.