Clonímero da Sérvia

Clonímero ou Clonímiro (em grego medieval: Κλονίμηρος; romaniz.:Klonímeros; em latim: Clonimerus; em latim: Клонимир), conhecido também como Clonímero Filho de Estrímero (em sérvio: Клонимир Стројимировић; romaniz.:Klonimir Strojimirović) e mais raramente como Clonímero Filho de Blastímero (em sérvio: Клонимир Властимировић; romaniz.:Klonimir Vlastimirović), foi o príncipe da Sérvia da dinastia de Blastímero, e pretendente ao trono da Sérvia. Seu pai e tio, os copríncipes Estrímero e Ginico, foram exilados à Bulgária com suas famílias após o irmãos mais velho deles Mutímero expulsá-los e tomar o trono. Clonímero casou-se com uma nobre búlgara escolhida pelo Bóris I (r. 852–889), e sua esposa deu-lhe um filho chamado Tzéstlabo.

Clonímero da Sérvia
Pretendente da Sérvia
Reinado ca. 896/898[a]
Antecessor(a) Pedro
Sucessor(a) Pedro
Descendência Tzéstlabo
Dinastia Blastímero
Pai Estrímero
Religião Ortodoxia oriental

Os descendentes dos três ramos da Casa de Blastímero continuaram a disputar o trono ao longo do século, e Clonímero retornou à Sérvia em ca. 896 e tentou tomar o país de seu primo Pedro, que governava desde 891. Ele conseguiu capturar a cidade de Destínico, mas o muito mais poderoso Pedro derrotou-o e presume-se que Clonímero morreu em batalha. Seu filho Tzéstlabo mais tarde tornou-se o membro mais poderoso da dinastia, como príncipe da Sérvia de 927 a 960, unificando várias tribos na região.

Árvore genealógica da Casa de Blastímero

Nome editar

No Sobre a Administração Imperial, seu nome é registrado como Clonímero (em grego medieval: Κλονίμηρος),[1][2] renderizado como Klonimir em sérvio (Клонимир). Seu nome foi transcrito em latim como Clonimerus e Clonimer.[3] Seu nome é historiograficamente escrito como Klonimir Strojimirović[4][5] e raramente como Klonimir Vlastimirović (Клонимир Властимировић).[6] O nome Clonímero deriva do modo imperativo eslavo (verbo) kloniti, e o comum mir.[7]

Vida editar

 
Territórios sérvios no século IX
 
Selo de Simeão I (r. 893–927)

A história do Principado da Sérvia e dinastia de Blastímero (610–960) é registrada na obra Sobre a Administração Imperial, compilada pelo imperador Constantino VII (r. 913–959). Blastímero, fundador epônimo da dinastia e príncipe sérvio (arconte)[8] ca. 830–851,[9] foi aliado bizantino e conseguiu devastar os búlgaros numa guerra de três anos (r. 839–842), e expandiu muito o Estado sérvio para oeste.[10] Com sua morte, o governo foi herdado por seus três filhos, Mutímero, Estrímero e Ginico, embora o governo supremo ficou com Mutímero.[11] Os irmãos combateram um ataque búlgaro em 853/854 (pouco após a morte de Blastímero), quando capturaram 12 grandes boilados (altos dignitários) e Vladimir, filho do Bóris I (r. 852–889). Os búlgaros procuraram se vingar da derrota de seu cã anterior, Presiano (r. 836–852).[12][13] Os sérvios e búlgaros então fizeram a paz, e possivelmente formaram uma aliança.[14]

Uma disputa eclodiu entre os irmãos. Mutímero quis a liderança e Estrímero e Ginico resistiram, mas foram capturados e exilados à Bulgária,[15] onde foram mantidos como reféns na corte de Plisca após 855/856.[16] Segundo V. Ćorović, Bóris quis ganhar influência sobre a Sérvia e ajudou aqueles que podiam ficar ao lado dos búlgaros em vez dos bizantinos, e assim graciosamente recebeu-os, mantendo-os como armas para suas necessidades. Evidência disso está na escolha por Bóris de uma nobre búlgara para casar com Clonímero, filho de Estrímero.[1][15] Parece que as famílias exiladas foram bem tratadas, com respeito a seu estatuto.[16] Mutímero não exilou todos os seus familiares, mantendo seu sobrinho Pedro, filho de Ginico, na corte sérvia por razões políticas,[11] embora Pedro mais tarde temeu o destino de seu pai e escapou à Croácia.[15] Os descendentes dos filhos de Blastímero continuaram a luta pelo trono.[14] Um evento importante foi a cristianização dos sérvios que começou em 870, seguido por forte influência política e cultural do Império Bizantino.[17]

Com a morte de Mutímero em 890/891, o governo da Sérvia foi herdado por seus três filhos Pribéstlabo, Brano e Estêvão, chefiados pelo mais mais velho, Pribéstlabo. Contudo, o reinado de Pribéstlabo durou menos de um ano, terminando quando seu primo Pedro retornou a Sérvia da Croácia e ganhou uma batalha contra ele. Pedro adquiriu o trono sérvio em ca. 892.[14] Os filhos de Mutímero deixaram a Sérvia rumo a Croácia, onde procuraram refúgio e ajuda. Em ca. 894, Brano tentou derrubar Pedro com ajuda croácia, mas foi mal sucedido; ele foi capturado e cegado (à bizantina).[15] Em ca. 896,[a] Clonímero deixou a Bulgária e marchou com um exército à Sérvia, entrando na cidade de Destínico (em grego: Δεστινίκον), com a intenção de tomar o trono.[2] A localização exata da cidade é incerta, pois o Sobre a Administração Imperial apenas lista-a como uma das 8 cidades fortificadas (castros) da Sérvia batizada (não contando aqueles dos principados sérvios marítimos). Clonímero foi provavelmente apoiado pelos búlgaros,[4][18] que mostra que Pedro teve relações com a Bulgária.[19] Contudo, Clonímero foi mal-sucedido, e Pedro matou-o.[15][2][20] Um pouco depois,[19] Pedro foi reconhecido como governante da Sérvia pelo czar Simeão I (r. 893–927), resultando numa paz e aliança de 20 anos.[14]

Rescaldo editar

 
Fólis de Leão VI

Pedro governou em paz com os búlgaros, embora provavelmente não estava feliz com sua posição subordinada, e pode ter sonhado e readquirir sua independência. Sua situação e as guerras de sucessão dos três ramos da dinastia foi jogado como um parte chave da vindoura guerra bizantino-búlgara. Contudo, segundo Sobre a Administração Imperial, Pedro governaria sob a suserania do imperador Leão VI, (r. 886–912). O filho de Clonímero, Tzéstlabo, foi enviado com ajuda búlgara para conquistar a Sérvia em 924. Os búlgaros enganaram-o e anexaram a Sérvia, ocupando-a até Tzéstlabo retornar do exílio em 927 após a morte de Simeão e conseguir controle do país numa aliança bizantina.[21]

Notas editar

[a] ^ Segundo o Sobre a Administração Imperial, a conquista falha de Clonímero ocorreu dois anos após o ataque de Brano.[2] T. Živković,[16] J. v. A. Fine,[4] V. Ćorović,[15] K. Jireček,[22] S. M. Ćirković e J. Lelewel, datam-a em 896, enquanto Č. Popov, F. Šišić,[5] J. Jireček e P. J. Šafárik[23] datam-a em 897 e F. Curta[20] e B. Ferjančić datam-a em 897 ou 898.

Referências

  1. a b Lilie 2013.
  2. a b c d Constantino VII 1993, p. 156; 299.
  3. Banduri 1729, p. 60.
  4. a b c Fine 1991, p. 154.
  5. a b Šišić 1917, p. 119–124.
  6. Strizović 2004.
  7. Šimundić 1988, p. 175.
  8. Stephenson 2000, p. 41.
  9. Živković 2006, p. 12–13.
  10. Fine 1991, p. 108, 110.
  11. a b Đekić 2009.
  12. Runciman 1930, p. 93.
  13. Constantino VII 1993, p. 154.
  14. a b c d Fine 1991, p. 141.
  15. a b c d e f Ćorović 2001, ch. 2, V.
  16. a b c Živković 2007, p. 28.
  17. Ćirković 1995.
  18. Novaković 1981, p. 61–63.
  19. a b Kovačević 2002, p. 180.
  20. a b Curta 2006, p. 211.
  21. Fine 1991, p. 159.
  22. Jireček 1967.
  23. Šafárik 1863, p. 268.

Bibliografia editar

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