Comarca do Rio de São Francisco

antiga comarca do fim do Reino do Brasil e depois do Império do Brasil

A Comarca do Rio de São Francisco foi uma comarca inicialmente do Império Português instituída por alvará régio de D. João VI em 3 de junho de 1820, desmembrada a partir da comarca do Sertão de Pernambuco. Corresponde, hoje, aos 183 mil quilômetros quadrados da região do Oeste Baiano compreendida entre a margem ocidental do Rio São Francisco e as divisas da Bahia com os estados de Goiás, Minas Gerais e Piauí, no Brasil. À época do Império do Brasil, mais precisamente em 1845, a população foi estimada em 20 mil habitantes.[2]

Comarca do Rio de São Francisco
  Comarca histórica brasileira  
Território da Antiga Comarca do Rio São Francisco
Território da Antiga Comarca do Rio São Francisco
Território da Antiga Comarca do Rio São Francisco
Localização
Em vermelho, representação aproximada do território da comarca de São Francisco
Em vermelho, representação aproximada do território da comarca de São Francisco
Em vermelho, representação aproximada do território da comarca de São Francisco
País Brasil
Região Nordeste
História
Criado 3 de junho de 1820
Anexada à província de Minas Gerais 7 de julho de 1824
Anexada à província da Bahia 15 de outubro de 1827
Administração
Sede Barra
Ouvidor João Carlos Leitão
Características geográficas
Área total [1] 183 000 km²
População total (1845) [2] 20 000 hab.
Densidade 0,1 hab./km²

Criação editar

A origem da comarca do Rio de São Francisco remete ao desmembramento da Comarca do Sertão de Pernambuco, sediada na Vila de Flores, então capitania de Pernambuco.[3][4] Essa divisão visava atender a reivindicações da população de Vila da Barra, já que a distância entre a vila e a sede da comarca tornava a correição impraticável devido à inacessibilidade do ouvidor, acarretando o acúmulo de presos por falta de medidas judiciais.[3]

A comarca abrangia as regiões das vilas de Pilão Arcado, Campo Largo (atual Cotegipe) e Carinhanha, tendo por sede a Vila da Barra, conforme texto extraído do primeiro artigo do alvará:[4][5]

Haverá huma nova Comarca desmembrada da do Sertão de Pernambuco, que se hade denominar Comarca do Rio de São Francisco, e comprehenderá a Villa de São Francisco das Chagas, vulgarmente chamada de Barra, a de Pilão Arcado, e as povoações de Campo Largo, Carinhanha, com seus respectivos Termos, sendo a cabeça da Comarca a Villa de São Francisco da Barra. Todas as mais villas e povoações, que se acham referidas no dito Alvará, de quinze de janeiro de mil oitocentos e dez, e que não vão neste indicadas, ficarão pertencendo à Comarca do Sertão de Pernambuco.

Após a criação da comarca, foi nomeado em 20 de novembro de 1820 para o cargo de ouvidor o português e bacharel João Carlos Leitão, onde tomou posse na Vila da Barra em 18 de novembro de 1821 e atuou nas vilas da comarca até 1823, devido ao contexto do processo da Independência do Brasil.[3][6] Em 18 de fevereiro de 1823, o juiz João de Araújo Costa foi nomeado como novo ouvidor interino da comarca.[7]

Cessão editar

Esta região pertenceu à província de Pernambuco até meados de 1824. Devido ao movimento separatista da Confederação do Equador, D. Pedro I a desligou do território pernambucano como punição e para evitar a irradiação das ideias republicanas do movimento.[3] A comarca foi transferida para a província de Minas Gerais, de acordo com o decreto de 7 de julho de 1824:[5][8]

Hei por bem, com o favor de Meu Conselho d’Estado, Ordenar, como por este Condeno que a dita comarca do Rio São Francisco seja desligada da Província de Pernambuco e fique desde a publicação deste Decreto em diante pertencendo à Província de Minas Geraes, de cujo Presidente, receberão autoridades respectivas as ordens necessárias para o seu governo e administração, provisoriamente, e enquanto a Assembleia próxima a installar-se não organizar um plano geral de divisão conveniente. Ficará, porém, a dita comarca sujeita, como até aqui em seus recursos judiciaes, à relação da Província da Bahia.

Este foi o último território desmembrado de Pernambuco, impondo àquele estado uma grande redução da extensão territorial, de 250 mil quilômetros quadrados para os 98 311 quilômetros quadrados atuais. Após três anos sob administração mineira, a região foi anexada à Bahia em 15 de outubro de 1827 por outro decreto real:[9][10][1][11]

Tendo resolvido a Assembléa Geral Legislativa que a comarca do Rio de S. Francisco, que se acha provisoriamente encorporada à Provincia de Minas Geraes em virtude do decreto de 7 de Julho de 1824, fique provisoriamente encorporada á Provincia da Bahia, até que se faça a organização das provincias do Imperio: Hei por bem, sanccionando a referida resolução, que ella se observe, e tenha o seu devido cumprimento.

Embora o decreto tenha especificado a incorporação provisória da comarca, o território da antiga comarca permanece como parte do Estado da Bahia até a atualidade.[10][12] Este caráter inicialmente provisório tem sido um dos vetores para movimentos que pleiteiam a criação do Estado do Rio São Francisco, chegando a haver propostas protocoladas no Congresso para desmembrar do território baiano e transformá-lo em um novo estado, sem sucesso todavia.[13]

Referências

  1. a b Brandão, Paulo Roberto Baqueiro (julho de 2010). «A formação territorial do Oeste Baiano: a constituição do "Além São Francisco" (1827-1985)». GeoTextos. 6 (1). doi:10.9771/1984-5537geo.v6i1.4304 
  2. a b Saint-Adolphe, J. C. R. Milliet de (1845). Diccionario geographico, historico e descriptivo do Imperio do Brazil. Paris: J. P. Aillaud. p. 432 
  3. a b c d Toledo Martins, Herbert (2010). «A Retaliação de Pernambuco: o caso da comarca do Rio de São Francisco.». Clio - Revista de Pesquisa Histórica. 28 (2). ISSN 0102-9487. Consultado em 23 de abril de 2015 
  4. a b BRASIL, Alvará - de 3 de junho de 1820 nº S/N, de 3 de junho de 1820. Crêa a nova Comarca do Rio de S. Francisco, desmembrada da do Sertão de Pernambuco, e erige em villa a povoação de Campo Largo. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, p. 39-40.
  5. a b «Jornal de Recife (PE) - Terça-feira 14 de julho de 1896». Jornal do Recife. Coleção Digital de Jornais e Revistas da Biblioteca Nacional. 14 de julho de 1896. Consultado em 29 de fevereiro de 2020 
  6.   Memoria justificativa do desembargador da relação da Bahia (hoje do Porto) João Carlos Leitão no Wikisource.
  7. Estadual, Pernambuco (Brazil) Arquivo Público (1950). Documentos do arquivo. Brasil: [s.n.] 
  8. BRASIL, Decreto - de 7 de julho de 1824 nº S/N, de 7 de julho de 1824. Desliga provisoriamente da Provincia de Pernambuco e incorpora à de Minas Geraes a comarca do R. de São Francisco. Impensa Nacional, Rio de Janeiro, p. 42-43.
  9. «Confederação do Equador». Britannica Escola. Consultado em 6 de junho de 2015. Cópia arquivada em 22 de junho de 2021 
  10. a b «Comarca do São Francisco». PE-AZ. Consultado em 6 de junho de 2015. Cópia arquivada em 8 de outubro de 2021 
  11. BRASIL, Decreto - de 15 de outubro de 1827 nº S/N, de 15 de outubro de 1827. Manda encorporar provisoriamene a comarca do Rio de S. Francisco á Provincia da Bahia. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, p. 66-66.
  12. Costa, F. A. Pereira da (Francisco Augusto Pereira da) (1896). «Em prol da integridade do território de Pernambuco». Biblioteca Digital do Senado Federal. Consultado em 29 de fevereiro de 2020 
  13. Sica, Hugo Capel (2019). «A criação do Estado do Rio São Francisco como solução geopolítica para o desenvolvimento da região do Oeste da Bahia». Revista de Geopolítica. 10 (2): 87–99. ISSN 2177-3246. Consultado em 23 de março de 2021