Conservacionismo (movimento)

O movimento conservacionista, também chamado movimento de conservação da natureza, é um movimento político, ambiental e social que se interessa pela conservação da natureza.[2][3]
Para alguns, trata-se de uma parte do movimento mais amplo e diverso intitulado ambientalismo, enquanto outros afirmam tratarem-se movimento distintos, haja vista possuírem fundamentações ideológicas e abordagens práticas marcadamente diferentes. Nos Estados Unidos, particularmente, ambos movimentos são considerados distintos.[2] Além disso, originalmente o termo conservacionismo designava uma corrente específica do movimento de conservação na natureza, e que se contrapunha à corrente preservacionista do mesmo. Com o passar do tempo, contudo, o termo passou a designar o conjunto de correntes do movimento de conservação na natureza, tornando-se sinônimo do mesmo.[4]
HistóriaEditar
AntecedentesEditar
Em uma perspectiva distante, o movimento conservacionista pode ser traçado até John Evelyn e seu trabalho Sylva, apresentado à Royal Society em 1662. Publicado como livro dois anos depois, esse foi um dos mais influentes trabalhos sobre gestão florestal jamais publicado.[5] Recursos madeireiros estavam tornando-se perigosamente raros na Inglaterra dessa época, e Evelyn argumentava em sua obra sobre a importância de se conservar florestas, através da gestão dos volumes de madeira retirados das florestas, que deveriam manter-se dentro da sua capacidade de regeneração.
Esse campo desenvolveu-se profundamente ao longo do século XVIII, especialmente na Prússia e na França, e métodos científicos cada vez mais avançados foram sendo desenvolvidos. Mais tarde, no século XIX, diversos outros países europeus criariam as primeiras reservas de gestão florestal em suas colônias, e o Reino Unido utilizaria amplamente esses métodos na Índia, onde a produção de erva de chá exigiria um controle mais apurado da exploração florestal.
Origens do movimento conservacionistaEditar
O debate entre conservacionistas e preservacionistas atingiu seu pico durante a questão da Barragem de Hitch Hetchy, no Parque de Yosemite, que era proposta com o objetivo de suprir água à cidade de São Francisco. Muir, liderando o Sierra Club, declarava que o vale de Hetch Hetchy deveria ser protegido por conta de sua beleza, pois "nenhum templo mais sagrado foi jamais consagrado pelo coração do homem". Apesar de mais romântica do que prática, o deslumbramento de Muir com a natureza serviu e continua a servir de inspiração a sucessivas gerações de conservacionistas, e sua visão de como a conservação deveria ser feita estava em linha, na época, com o que os britânicos, alemães, belgas e franceses faziam em diversas de suas colônias, principalmente na África. Não por acaso, o preservacionismo teria grande influência em todo o mundo.
A politização da questão da conservação, no entanto, deve muito a Roosevelt, que foi quem efetivamente colocou a questão na agenda política americana, e quem posteriormente deu importantes contribuições para que ela se difundisse em outros países.
Sozinho, Roosevelt destinou mais terras à criação de áreas protegidas do que todos seus predecessores combinados. Além disso, criou o Serviço Florestal dos Estados Unidos, reforçou a legislação dos parques nacionais, e promulgou o Antiquities Act de 1906. Também criou 51 reservas de avifauna, quatro preserves de fauna selvagem, e 150 florestas nacionais. Em seu governo, a superfície coberta por áreas protegidas atingiu cerca de 930.000 km2.
Em 1903 Roosevelt visitou o Yosemite Valley com John Muir, mesmo tendo uma visão de conservação muito diferente da dele. Através da pressão exercida pelo Sierra Club, Muit consegui em 1905 que o Congresso americano transferisse o Mariposa Grove e o Yosemite Valley ao governo federal.[11]
Em 1908, Roosevelt organizou a Conference of Governors na Casa Branca, com foco nos recursos naturais e em seu uso eficiente. Seu discurso marcou época e consagrou a conservação como tema político: "A conservação como um dever nacional". Além disso, comunicou-se intensamente com outros chefes de Estado e buscou influencia-los a conservar seu patrimônio natural.
Desde os anos 1970Editar
Ao longo do século XX outras figuras importantes ajudaram a moldar o movimento conservacionista de nossos dias, destacando-se Aldo Leopold e Julian Huxley. A partir dos anos 1970 o conservacionismo ganhou um novo significado e uma nova dimensão, principalmente em razão da crise ambiental a que se tem assistido. A partir dos anos 1970 a qualidade do meio ambiente deixa de ser assunto tratado em mesas de políticos e em escritórios de ONG, para se tratar um assunto de toda a sociedade. Isso teve profundo impacto no conservacionismo, que tem buscado adaptar-se à necessidade do desenvolvimento sustentável.[4]
Grandes documentos das políticas públicas de conservaçãoEditar
Enquanto movimento estruturado e com significativa representação política, uma série de documentos políticos vêm sendo elaborados, notadamente após os anos 1960, com o objetivo definir e difundir conceitos e os objetivos relacionados à conservação da natureza. Esses documentos apresentam os consensos técnicos e políticos de cada época, e têm a conservação da natureza como tema central ou transversal, como no caso de documentos relacionados ao desenvolvimento sustentável.
Dentre esses documentos destacam-se principalmente a Declaração final da Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente humano de Estocolomo 1972, o relatório Nosso Futuro Comum de 1987, o Relatório final da Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento de Rio de Janeiro 1992, o Relatório da Cúpula Mundial sobre o desenvolvimento sustentável de Joanesburgo 2002, o Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável, e a série de relatórios do Congresso Mundial de Parques da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Referências
- ↑ «History» (em inglês). Yale School of Forestry & Environmental Studies. Consultado em 29 de novembro de 2017
- ↑ a b c d Callicott, J. Baird; Frodeman, Robert (2009). Encyclopedia of Environmental Ethics and Philosophy (em inglês). Detroit: Macmillan. ISBN 0028661370
- ↑ Snow, Donald (Ed.) (1992). Voices from the Environmental Movement: Perspectives for a New Era (em inglês). Washington, Covelo: Island Press. 249 páginas. ISBN 9781559631334
- ↑ a b c McCormick, John (1995). Reclaiming paradise: The global environmental movement (em inglês) 2 ed. Chichester: Wiley. ISBN 9780471949404
- ↑ Evelyn, John (1908). Sylva, Or A Discourse of Forest Trees ... with an Essay on the Life and Works of the Author by John Nisbet (em inglês). I 4 ed. London: Doubleday & Co. p. lxv
- ↑ «Conservation Movement». New Hampshire Public Television (em inglês). Wildlife Journal Junior. Consultado em 7 de julho de 2017
- ↑ Rawat, Ajay Singh (1993). Man and forests: the Khatta and Gujjar settlements of sub-Himalayan Tarai (em inglês). New Delhi: Indus Pub. Co. ISBN 8185182973
- ↑ Hays, Samuel P. (1999). Conservation and the gospel of efficiency : the progressive conservation movement, 1890-1920 (em inglês). Pittsburgh: University of Pittsburgh Press. ISBN 0585043914
- ↑ Taylor, Dorceta E. (2016). The rise of the American conservation movement : power, privilege, and environmental protection (em inglês). Durham: Duke University Press. ISBN 9780822361817
- ↑ Redekop, Benjamin W. (2014). «Embodying the Story: Theodore Roosevelt's Conservation Leadership». Leadership (em inglês). 12 (2): 159-185
- ↑ "U.S. Statutes at Large, Vol. 26, Chap. 1263, pp. 650-52.
- ↑ Pinchot, Gifford; Miller, Char; Sample, V. Alaric (1998). Breaking new ground (em inglês) comemorativa ed. Washington: Island Press. p. 32. ISBN 1559636696