Conservadorismo progressista

O conservadorismo progressista é uma ideologia política que combina políticas conservadoras e progressistas. As origens iniciais do progressismo vêm da Europa Ocidental durante o século XIX e da Era do Iluminismo, quando se acreditava que a reforma social e a progressão em áreas como ciência, economia, educação, tecnologia e medicina eram necessárias para melhorar as condições de vida humana.[1] No entanto, durante o século XIX, o primeiro ministro britânico Benjamin Disraeli defendeu uma forma alternativa de política progressista conhecida como conservadorismo progressivo sob seu governo conservador de uma nação.[2]

Definição histórica editar

 
Benjamin Disraeli, um dos expoentes máximos do conservadorismo progressista.

Testemunhando os impactos negativos que as condições de trabalho tiveram sobre as pessoas durante o seu tempo e o crescente fosso entre ricos e pobres, provocadas principalmente pela Revolução Industrial, Disraeli começou a acreditar que mudanças na sociedade eram necessárias para melhorar as condições humanas e ambientais. No entanto, esse progresso precisava ser feito por meio de políticas e pensamento conservadores, a saber, que o governo pode fazer o bem e deve se envolver, mas apenas quando for necessário e dentro de seus próprios meios, sendo um governo limitado, mas obrigatório.[3] A ideia defende que é necessária uma rede de segurança social, mas apenas de forma mínima. A democracia cristã e a Doutrina Social da Igreja promovem alguma forma de conservadorismo progressista, derivado do texto de Rerum novarum. Os conservadores progressistas também acreditam que a mudança instantânea nem sempre é a melhor e às vezes pode ser prejudicial à sociedade; portanto, é necessária uma mudança cautelosa que se encaixa nas tradições políticas e sociais das nações.[4] Assim, o conservadorismo progressista acredita que a intervenção estatal, a estimulação do sentimento comunitário, a ênfase nas normas e valores tradicionais e o paternalismo são o equilíbrio tradicional entre o indivíduo (pessoa) e a comunidade. A elite tradicional e a nova elite (a nobreza e a burguesia emergente, respectivamente) desempenharam um papel importante na defesa de si mesmas como guardiãs do dever tradicional de cuidar dos menos favorecidos (noblesse oblige).[5]

Pelo mundo editar

No Reino Unido, políticos descritos como conservadores progressistas incluem: os primeiros ministros Disraeli, Stanley Baldwin, Neville Chamberlain, Winston Churchill, Harold Macmillan, David Cameron,[6] que lançou o Projeto Conservador Progressista em 2009, e Theresa May. Outros líderes europeus, como Angela Merkel, têm se alinhado à política progressista de centro com uma postura conservadora.[7]

Nos Estados Unidos, Theodore Roosevelt foi a principal figura do conservadorismo progressista, assim como William Howard Taft[8] e Dwight D. Eisenhower.[9]

Na Alemanha, o chanceler Leo von Caprivi promoveu um enfoque conservador progressista denominado Neuer Kurs ("Novo Rumo").[10] Mais recentemente, Angela Merkel tem se alinhado à política progressista de centro com uma postura conservadora.[11]

No Canadá, o principal movimento conservador progressista foi o Partido Progressista Conservador do Canadá desde 1942 até 2003[12] Os primeiros ministros Arthur Meighen, R. B. Bennett, John Diefenbaker, Joe Clark, Brian Mulroney e Kim Campbell lideraram governos de ideologia conservadora progresista.

Em Itália, a experiência do liberal Giovanni Giolitti ainda é hoje considerada parte integrante do movimento conservador progressista, tanto pelas aberturas sinceras dos católicos (Pacto Gentiloni) e nacionalistas com a guerra colonial na Líbia quanto pela atenção prestada aos socialistas, que buscavam atrair em órbita do governo a fim de remover as massas trabalhadoras das ideologias revolucionárias do maximalismo.[13][14][15][16] Mais recentemente, Luigi Di Maio, do Movimento 5 Estrelas, tem se alinhado à política conservadora progressista por suas posições sobre direitos civis e políticas sociais.

Situação no espetro ideológico editar

O conservadorismo progressista ocupa o flanco esquerdo do conservadorismo. De muitas maneiras, a ideologia está em desacordo com o neoliberalismo dos conservadores modernos, preferindo apelar ao comunitarismo, paternalismo e luta por uma rede de segurança social e solidariedade. A busca constante por um equilíbrio entre o indivíduo e a comunidade, progresso e desejo de manter interesses do empregador, e interesses do empregado, faz do conservadorismo progressivo uma ideologia típica do centro político.

Ver também editar

Referências

  1. «What is progressivism?». GotQuestions.org (em inglês). Consultado em 5 de julho de 2020 
  2. Patrick Dunleavy, Paul Joseph Kelly, Michael Moran. British Political Science: Fifty Years of Political Studies. Oxford, England, UK; Malden, Massachusetts, USA: Wiley-Blackwell, 2000. Pp. 107–108.
  3. «A Royal example for progressive Conservatism». TRG (em inglês). 13 de julho de 2010. Consultado em 5 de julho de 2020 
  4. «What Progressive Conservatism Looks Like». Ordinary Times (em inglês). 11 de setembro de 2012. Consultado em 5 de julho de 2020 
  5. Disraeli, Benjamin (1 de fev de 2003). Sybil, Or, The Two Nations. [S.l.: s.n.] 
  6. https://www.newstatesman.com/uk-politics/2009/02/progressive-conservatism
  7. Europe, Rick NoackcloseRick NoackForeign affairs reporter focusing on; securityEmailEmailBioBioFollowFollow, international. «Analysis | Why Angela Merkel, known for embracing liberal values, voted against same-sex marriage». Washington Post (em inglês). Consultado em 5 de julho de 2020 
  8. Jonathan Lurie (2012). William Howard Taft: The Travails of a Progressive Conservative. [S.l.]: Cambridge University Press. 196 páginas 
  9. Günter Bischof. Eisenhower, the Judiciary, and Desegregation. [S.l.: s.n.] 98 páginas 
  10. Neuer Kurs.
  11. https://www.washingtonpost.com/news/worldviews/wp/2017/06/30/why-angela-merkel-known-for-embracing-liberal-values-voted-against-same-sex-marriage/
  12. Hugh Segal (2011). The Right Balance. [S.l.]: Douglas & McIntyre. pp. 113–148 
  13. «Alcuni aspetti della politica di Giolitti: tra liberalismo e democrazia». Diritto.it (em italiano). 3 de junho de 2010. Consultado em 5 de julho de 2020 
  14. «CONSERVATORE ILLUMINATO - la Repubblica.it». Archivio - la Repubblica.it (em italiano). Consultado em 5 de julho de 2020 
  15. «Corriere della Sera - La storia del liberalismo italiano». www.corriere.it. Consultado em 5 de julho de 2020 
  16. «Il metodo giolitti spiegato alla figlia - la Repubblica.it». Archivio - la Repubblica.it (em italiano). Consultado em 5 de julho de 2020