Coronavírus

Os coronavírus são um grupo de vírus de genoma de RNA simples de sentido positivo (serve diretamente para a síntese proteica), conhecidos desde meados dos anos 1960. Pertencem à subfamília taxonómica Orthocoronavirinae da família Coronaviridae, da ordem Nidovirales.[1][2]
Coronavírus | |||||||||
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Classificação científica | |||||||||
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A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida. Eles são uma causa comum de infecções respiratórias brandas a moderadas de curta duração. Entre os coronavírus encontra-se o vírus causador da forma de pneumonia atípica grave conhecida por SARS,[3][4][5] e o vírus causador da COVID-19, responsável pela pandemia em 2020 e 2021.
Taxonomia editar
Os coronavírus da subfamília Orthocoronaviridae se dividem em quatro gêneros: Alphacoronavirus, Betacoronavirus, Gammacoronavirus e Deltacoronavirus. De todos esses gêneros, há seis espécies que causam infecção em humanos.
No gênero Alphacoronavirus há os coronavírus humanos das espécies HCoV-229E e HCoV-NL63, que causam infecções leves a moderadas comuns.[6] Neste gênero também se encontra o CCoV, o coronavírus canino, que causa gastroenterite em cães e pode ser prevenido com vacina.[7][8]
No gênero Betacoronavirus há os coronavírus humanos das espécies HCoV-OC43, HCoV-HKU1, SARSr-CoV e MERS-CoV.
HCoV-OC43 e HCoV-HKU1 causam infecções leves a moderadas comuns. MERS-CoV causa a doença MERS (Síndrome respiratória do Médio Oriente).[6]
A espécie SARSr-CoV se divide nas cepas SARS-CoV, que causa a doença SARS (Síndrome respiratória aguda grave), e SARS-CoV-2, que causa a doença Covid-19 (COrona VIrus Disease 2019).
O SARS-CoV-2, causador da COVID-19, foi identificado em 2020, tem "parentesco" com o vírus da SARS-CoV. Causa febre, tosse e falta de ar e dificuldade para respirar (pneumonia).[9][10]
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Existem sete cepas conhecidas de coronavírus humanos, e todas elas evoluíram de coronavírus de outros animais.[11]
June Almeida descobriu o primeiro coronavírus humano no St Thomas' Hospital em Londres em 1964.[12]
Nome da cepa | Descoberta | Origem evolutiva | Doença causada |
HCoV-229E | 1960[13] | O coronavírus humano 229E divergiu do coronavírus da alpaca antes de 1960[14] | Resfriado comum. |
SARS-CoV | 2002[13] | O coronavírus humano SARS divergiu do coronavírus de morcego em 1986[15] | Doença SARS. |
HCoV-OC43 | 2004[16] | O coronavírus humano OC43 divergiu do coronavírus bovino em 1890[17] | Resfriado comum. |
HCoV-NL63 | 2004[13] | O coronavírus humano NL63 divergiu do coronavírus de morcego 822 anos atrás[18] | Resfriado comum. |
HCoV-HKU1 | 2005[19] | O coronavírus humano HKU1 divergiu do coronavírus de morcego[20] | Resfriado comum. |
MERS-CoV | 2012[13] | O coronavírus humano MERS divergiu do coronavírus de morcego antes dos anos 90 e transmitido aos humanos pelos camelos[21] | Doença MERS. |
SARS-CoV-2 | 2019[9] | 1 - Estudos publicados em 22 de janeiro de 2020 sugeriram que o SARS-CoV-2 tenha divergido do coronavírus de cobras.[22] Porém, posteriormente cientistas questionaram a possível origem e novas investigações continuaram sendo feitas.[23] 2 - Estudos publicados em 30 de janeiro de 2020 sugeriram que o vírus tenha divergido da versão que parasita morcegos[24] e transmitido aos humanos por um animal ainda desconhecido. Estudos posteriores indicaram que o vírus tenha divergido da versão que parasita pangolins[25] por possuir material genético 99% igual ao do vírus encontrado neste animal. 3 - Estudos publicados em 14 de maio de 2020 afirmam que, embora o vírus do pangolim esteja geneticamente relacionado ao SARS-CoV-2, bem como a um grupo de coronavírus de morcego, os dados obtidos nas análises moleculares e filogenéticas não suportam que o vírus tenha surgido deste animal.[26] |
Doença Covid-19. |
Foram descobertos em 2020, seis novos coronavírus em morcegos em Mianmar, mas esses vírus não estão relacionados ao Síndrome Respiratório Agudo Grave de Coronavírus (SARS CoV-1), Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) ou COVID-19.[27]
Sinais e sintomas editar
Diferentes coronavírus afetam diferentes espécies causando diferentes doenças. Os principais sintomas da COVID-19 são febre, tosse e fadiga.[28]
Transmissão editar
A transmissão do vírus pode se dar:[6]
- Por meio de tosse ou espirro;
- Contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão;
- Contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido então de contato com a boca, nariz ou olhos.
Entre os grupos de risco estão qualquer pessoa que cuidou do paciente, incluindo profissionais de saúde ou familiares, que tenha tido contato físico com o paciente ou que tenha permanecido no mesmo local que o paciente doente.[3]
Em 2020, análises indicaram que o SARS-CoV-2 (anteriormente 2019-nCoV) pode ter passado de um animal para o ser humano.[9]
Epidemiologia editar
Pandemia de 2019–2022 editar
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Em meados de janeiro a imprensa começou a reportar casos sobre um "misterioso vírus que causava problemas respiratórios", tendo este vírus depois sido classificado como um coronavírus e chamado numa primeira fase de 2019-nCoV. Inicialmente, 800 pessoas foram infectadas e houve 259 mortes na China, mas houve casos também no Japão, Tailândia, Coreia do Sul, França e Estados Unidos, todos associados a pessoas que haviam viajado para a China recentemente. Em 20 de janeiro a OMS estimava que o número de casos poderia estar próximo de dois mil.[9][29][30]
A 11 de março de 2020, o surto foi declarado uma pandemia, sendo que o numero de casos confirmados a nível mundial atingiu mais de 121 000, sendo em 120 diferentes territórios, dos quais mais de 80 000 na China. O número de mortes ascende a 4 300, havendo mais de 1 200 mortes fora da China.[31][32]
Surto de 2015 na Coreia do Sul editar
Um surto de MERS foi associado a um viajante que havia retornado do Oriente Médio. Quase 200 pessoas foram infectadas e houve 36 mortes.[6][33][34]
Surto de 2012 no Oriente Médio editar
Em 2012 foi isolado outro novo coronavírus, distinto do SARS-CoV. Esse novo coronavírus, desconhecido até então, foi inicialmente identificado na Arábia Saudita e, posteriormente, em outros países do Oriente Médio, na Europa e na África. Todos os casos identificados fora da Península Arábica tinham histórico de viagem ou contato recente com viajantes procedentes de países do Oriente Médio – Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Jordânia. Pela localização dos casos, a doença passou a ser designada como síndrome respiratória do Oriente Médio, cuja sigla é MERS, do inglês “Middle East Respiratory Syndrome”. O novo vírus foi nomeado coronavírus associado à MERS (MERS-CoV).[3][6]
Surto de 2002 na China editar
Os primeiros casos da síndrome respiratória aguda grave (SARS - Severe Acute Respiratory Syndrome), causada pelo SARS-CoV, aconteceram na China em 2002, tendo o vírus se espalhado rapidamente para mais de doze (12) países na América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia. Entre 2002 e 2003, mais de oito mil (8.000) pessoas foram infectadas e cerca de oitocentas (800) morreram, no que foi chamado uma "epidemia global". (SARS-CoV).[3][9]
Referências
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