Crítica da Razão Pura
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A Crítica da Razão Pura (em alemão, Kritik der reinen Vernunft) é a principal obra de teoria do conhecimento do filósofo Immanuel Kant, cuja primeira edição é de 1781, com alterações substanciais feitas pelo autor em determinadas seções para a segunda edição, publicada em 1787. A obra é considerada como um dos mais influentes trabalhos na história da filosofia, e dá início ao chamado idealismo alemão. Kant escreveu a CRP como a primeira de três "Críticas", seguida pela Crítica da Razão Prática (1788) e a Crítica do Juízo (1790).
Crítica da Razão Pura | |
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Folha de rosto da edição de 1781 | |
Autor(es) | Immanuel Kant |
Idioma | alemão |
País | Prússia |
Assunto | Filosofia |
Tradutor | Valério Rohden e Udo Moosburger; Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão; Fernando Costa Mattos; J. Rodrigues de Merege |
Lançamento | 1781 |
Prefácio
editarNo prefácio à primeira edição Kant explicita o que ele quer dizer por crítica da razão pura: "Eu entendo aqui, contudo, não uma crítica dos livros e sistemas, mas sim da faculdade da razão em geral, com vistas a todos os conhecimentos que ela pode tentar atingir independentemente de toda a experiência" (A XII).
Neste livro Kant tenta responder a primeira das três questões fundamentais da filosofia: "Que podemos saber? Que devemos fazer? Que nos é lícito esperar?"
Ele distingue duas formas de saber: O conhecimento empírico, que tem a ver com as percepções dos sentidos, isto é, posteriores à experiência. E o conhecimento puro, aquele que não depende dos sentidos, independente da experiência, ou seja, a priori, universal, e necessário. O conhecimento verdadeiro só é possível pela conjunção entre matéria, proveniente dos sentidos, e forma, que são as categorias do entendimento.
Sinopse
editarNo começo do livro Kant esclarece a diferença, fundamental para seu sistema, entre os "juízos sintéticos" e "juízos analíticos", sendo o primeiro aquele que, através da junção de informações distintas chega a uma nova informação. O segundo refere-se a dividir um mesmo objeto em seus constituintes, de modo que suas partes se tornem mais claras, mas que nada mais surja, a não ser aquilo que previamente já estava contido no próprio objeto. Com relação aos "juízos sintéticos" e "analíticos" a posteriori, Kant não coloca qualquer problema. Mas afirma que os pensamentos filosóficos correntes se utilizavam de "juízos analíticos" a priori, isto é, apenas andavam em círculos sobre algum conhecimento, reproduzindo-o com palavras diferentes, chegando a conclusões que em nada diferiam daquilo que já estava contido no primeiro pensamento, sem produzir, assim, qualquer novo conhecimento a respeito das questões sobre as quais eram formuladas. Porém o que chamou a atenção de Kant foi a possibilidade de juízos a priori na matemática e na física proporcionarem conhecimento novo, diferente dos sofismas redundantes filosóficos. Assim, Kant percebeu que estas duas ciências eram capazes de elaborar "juízos sintéticos" a priori, por tratarem justamente das leis que regem o conhecimento, dispensando, assim, qualquer experiência para validar seus achados. A partir daí Kant se pergunta se é possível realizar também juízos sintéticos a priori na metafísica, que estava enfraquecida pela obscuridão dos idealistas e praticamente destruída pela perspicácia dos empiristas.
Kant principia sua reflexão crítica já na dissertação de 1770, mas, após 11 anos de silêncio bibliográfico, ele lança a Crítica da Razão Pura, contendo uma reflexão sobre a possibilidade de todo conhecimento, dando uma resposta aos empiristas, especialmente David Hume, que foi uma de suas inspirações (Kant disse "Hume me acordou dos meu profundo sono dogmático"), e aos racionalistas alemães, Leibniz e Wolff.
Kant aceita a premissa de que todo conhecimento humano começa a partir da experiência, mas destaca que os empiristas, particularmente Locke, negligenciaram o papel da atividade do entendimento para a origem do conhecimento.
Assim, Kant mostra ao longo de sua crítica quais são as condições para qualquer experiência possível, na "Estética Transcendental", analisando quais são as condições a priori para que um dado fenômeno possa ser dado na intuição, chegando às condições de "espaço", para as intuições externas, e "espaço" e "tempo" para as intuições internas.
Após a Estética, Kant prossegue para a análise da forma pela qual aquilo que é dado na experiência é organizado em relações que constituem conhecimento. Estas são as categorias do entendimento, determinadas pela razão pura e que, sendo preenchidas pela matéria proveniente da experiência, podem formar um conhecimento. Ambas as análises são feitas na chamada "Analítica Transcendental".
Em seguida ele parte para a "Dialética Transcendental", parte do livro na qual ele usa esse pensamento elaborado na analítica para mostrar erros de raciocínio impregnados no modo de pensar filosófico de então.
Visão geral da estrutura da "Crítica da Razão Pura"
editarDedicatória | ||||||||||||
Prefácio à 2ª edição | ||||||||||||
Introdução (B1-29) | I. Da distinção entre conhecimento puro e empírico (B1-3) | |||||||||||
II. Somos possuidores de certos conhecimentos a priori e mesmo o entendimento comum jamais está desprovido deles (B3-6) | ||||||||||||
III. A filosofia precisa de uma ciência que determine a possibilidade, os princípios e o âmbito de todo conhecimento a priori (B6-10) | ||||||||||||
IV. Da distinção entre juízos analíticos e sintéticos (B10-4) | ||||||||||||
V. Em todas as ciências teóricas da razão estão contidos, como princípios, juízos sintéticos a priori (B14-8) | ||||||||||||
VI. Problema geral da razão pura (B19-24) | ||||||||||||
VII. Ideia e divisão de uma ciência especial sob o nome de uma Crítica da razão pura (B24-9) | ||||||||||||
I. Doutrina Transcendental dos Elementos (B31-732) | Parte Primeira. Estética Transcendental (B33-72) | 1. Seção: do Espaço (B37-45) | ||||||||||
2. Seção: do Tempo (B46-58) | ||||||||||||
Considerações gerais sobre a Estética Transcendental (B59-72) | ||||||||||||
Conclusão da estética transcendental (B72) | ||||||||||||
Parte Segunda. Lógica Transcendental (B74-349) | Introdução. Ideia de uma lógica transcendental (B74-88) | |||||||||||
Divisão Primeira. Analítica transcendental (B89-349) | Livro Primeiro. Analítica dos conceitos (B90-169) | CAP. I. Do fio condutor para a descoberta de todos os conceitos puros do entendimento (B91-116) | ||||||||||
CAP. II. Da dedução dos conceitos puros do entendimento (B116-69) | ||||||||||||
Livro Segundo. Analítica dos princípios (B169-349) | Introdução. Da capacidade transcendental de julgar em geral (B171-5) | |||||||||||
CAP. I. Do esquematismo dos conceitos puros do entendimento (B176-87) | ||||||||||||
CAP. II. Sistema de todos os princípios do entendimento puro (B187-294): Axiomas da intuição, Antecipações da percepção, Analogias da experiência, Postulados do pensamento empírico em geral. | ||||||||||||
CAP. III. Do fundamento da distinção de todos os objetos em geral em phaenomena e noumena (B294-324) | ||||||||||||
Nota à anfibiologia dos conceitos de reflexão (B324-49) | ||||||||||||
Divisão Segunda. Dialética transcendental (B349-732) | ||||||||||||
Introdução (B349-66) | I. Da ilusão transcendental (B349-55) | |||||||||||
II. Da razão pura como sede da ilusão transcendental (B355-66) | ||||||||||||
Livro Primeiro. Dos conceitos da razão pura (B366-96) | ||||||||||||
Livro Segundo. Das inferências dialéticas da razão pura (B396-732) | CAP. I. Dos paralogismos da razão pura (B399-428), sobre a psicologia racional | |||||||||||
Nota geral sobre a transição da psicologia racional à cosmologia (B428-32) | ||||||||||||
CAP. II. A antinomia da razão pura (B432-595), sobre a cosmologia racional | ||||||||||||
CAP. III. O ideal da razão pura (B595-670), sobre a teologia racional | ||||||||||||
Apêndice à dialética transcendental (B670-732) | Do uso regulado das ideias da razão pura (670-96) | |||||||||||
Do projeto final da dialética natural da razão humana (B697-732) | ||||||||||||
II. Doutrina Transcendental do Método (B733-884) | Introdução (B735-6) | |||||||||||
CAP. I. A disciplina da razão pura (B736-822) | ||||||||||||
CAP. II. O cânone da razão pura (B823-59) | ||||||||||||
CAP. III. A arquitetônica da razão pura (B860-79) | ||||||||||||
CAP. IV. A história da razão pura (B880-4) |
Traduções em português
editarExistem, em língua portuguesa, as seguintes traduções de Crítica da Razão Pura:
- KANT, Immanuel (1983). Crítica da razão pura. Col: Os pensadores. Tradução Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger 2. ed. São Paulo: Abril Cultural. 421 páginas
- KANT, Immanuel (2001). Crítica da razão pura (PDF). Col: Textos clássicos. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 680 páginas. ISBN 978-972-31-0623-7. OCLC 817980161. OL 26376206M. Consultado em 19 de setembro de 2017. Arquivado do original (PDF) em 16 de maio de 2015
- KANT, Immanuel (2013). Crítica da razão pura. Col: Pensamento humano. Tradução e notas de Fernando Costa Mattos 2. ed. Petrópolis: Vozes. 621 páginas. ISBN 978-85-326-4324-7. OCLC 889979846. OL 26379712M
Bibliografia
editar- CAYGILL, Howard. Dicionário Kant. Zahar, 2000.
- DELEUZE, Gilles. Para ler Kant. Francisco Alves, 1976.
- GIL, Fernando (Coord.). Recepção da Crítica da Razão Pura: Antologia de escritos sobre Kant (1786-1844). Lisboa: Fundação *Calouste Gulbenkian, 1992.
- HEIDEGGER, Martin. O que é uma coisa?. Edições 70, 2002.
- HÖFFE, Otfried. Immanuel Kant. Tradução de Christian Viktor Hamm e Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
- Folhas soltas de Leningrado I: Sobre o Sentido Interno. O que nos faz pensar, nº 3, Setembro de 1990.
- PASCAL, Georges. O Pensamento de Kant. Vozes, 1977.
- SCRUTON, Roger. Kant. Tradução de Denise Bottmann. Coleção "L&PM Pocket Encyclopaedia". Porto Alegre: L&PM, 2011.
- WOOD, Allen W. Kant. Tradução de Delamar José Volpato Dutra. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Ligações externas
editarReferências