Culinária japonesa no Brasil

A culinária japonesa no Brasil é uma adaptação da culinária do Japão criada no Brasil para se adequar às necessidades dos imigrantes japoneses radicados neste país e atualmente para se harmonizar ao paladar brasileiro nos restaurantes que servem alimentos típicos do Japão.

Bar tipo izakaya em Curitiba.

História editar

Chegada editar

 Ver artigo principal: Imigração japonesa no Brasil
 
Kasato Maru

Em 1907 foi assinado um contrato entre o governo de São Paulo e a Empire Emigration Company, para introdução do braço japonês na lavoura cafeeira.[1]

 
Vista de uma das ruas do bairro da Liberdade.

Os primeiros japoneses que vieram para o Brasil o fizeram a bordo do navio Kasato Maru, desembarcando no porto de Santos, seguindo para a Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo[1] com objetivo de trabalhar nos cafezais.[2] Na década de 1920, muitos trocaram os cafezais pelas atividades hortifrutigranjeiras.[1]

Adaptação editar

Um dos problemas dos japoneses foi a diferença na alimentação. A primeira refeição em solo brasileiro foi o arroz e feijão. Mesmo conhecendo ambos, a consistência do arroz não era como estavam acostumados e o feijão era consumido por eles como doce. Outra característica peculiar dos brasileiros da época era usar gordura de porco, farinha de milho, farinha de mandioca e alho, o que ocasionou bastante estranheza ao paladar japonês. Naquela época era difícil encontrar peixes, verduras e legumes, pois não faziam parte da dieta local.[3]

 
Bandeja com sushi
 
Temaki

Por algum tempo a alimentação dos japoneses foi arroz e bacalhau por ser o mais próximo do que estavam acostumados. Como não sabiam dessalgar o bacalhau, inicialmente somente o passavam na brasa [4]. O arroz era cozido em água quente e servido pela manhã, no café. Com o passar do tempo, devido ao alto valor do arroz, o consumo foi reduzido e ele foi substituído por bolinhos de fubá, farinha de mandioca, de milho, os quais misturavam ao café. As conservas, também fundamentais na culinária japonesa, não existiam no Brasil naquela época. Assim, os japoneses tiveram que fazer adaptações, como picles de mamão.[4] Mais tarde começaram a fabricar o missô (pasta salgada de soja) e o shoyu (molho de soja).[5]

Difusão editar

Quando os japoneses mudaram das fazendas de café para a capital concentraram-se no bairro da Liberdade. Mais especificamente na rua Conde de Sarzedas, por possuir aluguéis mais baratos e ser próximo do centro. Algumas residencias possuíam porões totalmente independentes do resto da casa, assim, foram nestes locais que surgiram casas de comidas japonesas.[2]

Os japoneses trouxeram para o Brasil frutas, legumes e vegetais que não existiam na culinária brasileira. Criaram cinturões verdes, cultivaram áreas antes consideradas inférteis e provocaram uma mudança dos hábitos alimentares brasileiros.[6]

A culinária japonesa tornou popular no Brasil a partir da década de 1980, principalmente na capital paulista, onde vive mais de 300 mil japoneses e descendentes.[5] No entanto, foi apenas na década de 1990 que houve uma grande adesão pelos brasileiros à culinária japonesa, principalmente por se tratar de uma comida saudável, equilibrada e saborosa.[5] O sushi ficou tão conhecido que pode ser encontrado em buffets por kilo, churrascarias, supermercados e sacolões. A abertura de inúmeros rodízios japoneses pela cidade de São Paulo mostra a demanda por este tipo de alimentação.[5] Dados coletados da Abresi (Associação Brasileira de Gastronomia, Hospedagem e Turismo) em 2013, mostravam que em São Paulo havia 600 restaurantes japoneses contra 500 churrascarias, chegando a produzir 400 mil sushis por dia[7].

Atualidade editar

 
Restaurante japonês na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Apesar das diferenças culturais e alimentares a culinária japonesa ganhou adeptos entre os brasileiros. Os restaurantes que oferecem comidas de outros países tendem a fazer alterações e adaptações as comidas, podendo inclusive criar novas versões para determinados pratos preservando algumas características originais[8]. Exemplos destas modificações são o hot roll, o sushi empanado e frito.[9]

Com a difusão foram abertos buffets livres, também chamados de rodízios nos quais a culinária japonesa é mais acessível. O primeiro restaurante inaugurado com este sistema foi no início da década de 1990, em Ipanema, Rio de Janeiro, com o nome de Mariko. Em 1997, surgiu o Aoyama em São Paulo no bairro de Itaim Bibi. No Japão não existe o serviço de rodízio, o mais próximo desse modelo é o tabehôdai, no qual se cobra um preço fixo.[5] Também não existem as temakerias no Japão, um serviço de fast-food que oferece o temaki: Sushi enrolado em cone de alga e com recheios diversos. A primeira temakeria foi aberta na cidade de São Paulo na Vila Olímpia em 2003, o Temaki Express.[5]

Bibliografia editar

  • MOTTA, A. C. S., SILVESTRE, D. M. & BROTHERHOOD, R.M. Gastronomia e culinária japonesa: das tradições às proposições atuais (inclusivas). Revista Cesumar, Ciências Humanas Aplicadas, v. 11, n n.1, jan/jun 2006.

Referências

  1. a b c Carlos Manoel Almeida Ribeiro; Luciana Paolucci (julho de 2006). «Gastronomia, Interação cultural e Turismo: estudo sobre a dispersão da culinária nipônica na Cidade de São Paulo – 100 anos da imigração japonesa no Brasil» (PDF). IV SeminTUR – Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL. Consultado em 14 de outubro de 2014. Cópia arquivada (PDF) em 14 de outubro de 2014 
  2. a b BOCCI, D. S. Bairro da liberdade e a imigração japonesa: a ideia do Bairro Japonês. Revista Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade, n. 2, jan./jun. 2009.
  3. BASAGLIA, M.M. & P´PECE, O. M. C. Percepção do consumo da culinária oriental no Brasil por descendentes nipônicos. Fonte: [1] Arquivado em 19 de outubro de 2014, no Wayback Machine. acessado em: 30/08/2014
  4. a b NOGUEIRA, A. R. Imigração japonesa na história contemporânea do Brasil. Centro de estudos nipo-brasileiros. Massao Ohno Editor: 1984. 1ª edição.
  5. a b c d e f CWIERTKA, K. J. Moderna cozinha japonesa: comida, poder e identidade nacional. Editora Senac. Tradução Cristina Cupertino; apresentação à edição brasileira Arnaldo Lorençato. São Paulo: 2008.
  6. YASUMOTO, S. Cozinha regional japonesa. Editora Kojiro. Sao Paulo 2009.
  7. Afonso Ferreira (28 de junho de 2013). «SP tem mais sushi do que churrasco; veja franquias de comida oriental». UOL Economia. Consultado em 21 de outubro de 2014 
  8. PROENÇA, R. P. da C. Alimentação e globalização: algumas reflexões. Ciência e Cultura, v.62, n.4, Out/2010, São Paulo.
  9. WATANABE, C. Entrevista concedida a Gabriela Aguiar. 2009.