Culto equino é uma forma de culto religioso que considera o cavalo ou algo relacionado com ele (a equitação, os ginetes) como divindade ou entidade cultuada. Muito difundido por toda Eurasia, se desenvolveu particularmente a partir da Idade dos Metais, juntamente com a difusão da domestição do cavalo.[2]

Esqueletos de 145 cavalos na tumba de Qí Jǐng Gōng (duque Jing de Qi), China, século V a.C.[1]

Os enterros[3] e sacrifícios equinos[4] foram comuns entre as culturas nômades euro-asiáticas, inicialmente dentre as indo-europeias, e posteriormente (a partir da Alta Idade Média) junto às túrquicas[5] Também há depoimentos de práticas divinatórias e oráculos vinculados a cavalos, tanto em Europa (região de Arkona) como no Extremo Oriente (tumbas da dinastia Ming).

Como outros cultos a animais (zoolatria, totemismo e animismo, por exemplo) ou o culto solar, foi considerado uma manifestação de paganismo e violentamente reprimido pelas religiões abraãmicas.[6]

Cavalo de Lascaux

Pré-historia, Proto-história e Idade Antiga editar

 
Cavalo Branco de Uffington

A representação de cavalos na arte do paleolítico é muito frequente. Sua interpretação como parte de algum tipo de culto é altamente conjectural.

O Cavalo Branco de Uffington, datado de 1400 a 600 a.C., pode ser interpretado como uma mostra de culto equino na Idade do Bronze.

O arqueólogo francês Patrice Méniel demonstrou, após examinar restos equinos de diferentes locais, a ausência de "hipofagia" nos enterros equinos rituais da Gália na Idade do Ferro, ainda se tenha demonstrado o consumo de carne de cavalo em assentamentos da mesma região, cronologicamente anteriores.[7]

O deus grego Poseidon, como outros deuses aquáticos, era associado ou inclusive identificado com a forma do cavalo. Na arte grega, era frequentemente representado conduzindo uma carroça puxada por hipocampos ou por cavalos. O cavalo era a oferenda sacrificial dos marinheiros a Poseidon, para que lhes garantisse uma viagem segura. Os fenícios, partilhando da mesma crença, construíam seus barcos com a proa em forma de cabeça de cavalo, e denominavam-nos "cavalinhos".

Também a deusa Deméter possuía estreita relação com o cavalo. Na Lacônia, os sacerdotes de Deméter era chamados Poloi ("potros"), e na gruta de Phigalia ela era representada, segundo a tradição, com cabeça e crinas de cavalo, possivelmente como lembrança da época em que era um "espírito do cereal" não especializado, antes de assumir seu papel como deusa na religião da Grécia Antiga.
A associação de Deméter e de Poseidon com o cavalo relaciona-se também com frequentes episódios de metamorfoses: Poseidon perseguia Deméter, e esta pretendia se livrar dele transformando-se em égua. Poseidon a reconhece, e transforma-se por sua vez em cavalo, para possuí-la. De sua união nasceu Arion, um cavalo alado imortal capaz de falar.
Em Roma, as equirria eram festas em honra a Marte celebradas com corridas de cavalos Castor, um dos Dióscuros, é representado como domador de cavalos. Apolo deslocava o sol através do firmamento montado em uma carroça puxada por cavalos.
 
Cabeça de um dos cavalos da carroça de Apolo, em frente ao Partenon

Na mitologia nórdica há metamorfoses semelhantes às de Poseidon vinculadas a Loki, que se transformou em égua e deu à luz Sleipnir, "o maior de todos os cavalos". Tácito menciona em Germânia o uso de cavalos brancos entre os povos germanos para a adivinhação. Segundo ele, esses cavalos ficavam livres de qualquer trabalho, sendo deixados crescerem livres em bosques sagrados.

Na Gália e no resto do Ocidente romano, o culto de Epona (deusa celta dos cavalos) era muito difundido.[8]

Idade Média editar

A lenda galesa de Rhiannon e a irlandesa de Macha, ainda que fixadas por escrito em época cristã, indicam cultos equinos. Rhiannon é descrito como de cor branca e é associado a cavalos sagrados presentes em culturas germânicas e a outras similares. Assim, pode-se entender o culto ao cavalo como um fenômeno generalizado entre os povos indo-europeus.[9]

O templo fortificado do Cabo Arkona (na ilha de Rügen, atual Alemanha) foi o centro religioso da tribo eslava ocidental denominada rani. Esse centro era dedicado a Svantevit, e alojava um importante oráculo equino, que decidia a paz ou a guerra. Oráculos similares existiam dentre os lutici (região de Rethra e Estetino).

Entre os anglo-saxões, existem registros de enterro equino (Sutton Hoo) e as figuras míticas de Hengist e Horsa[10] estão associadas aos cavalos. A iconografía do cavalo era uma das mais utilizadas (Sachsenross, Saxon Steed, "cavalo sajón"), e posteriormente converteu-se num motivo heráldico amplamente utilizado.[11]

Referências

  1. Sima Qian.
  2. International Museum of the Horse.
  3. Mallory, J. P.; y Adams, Douglas Q. (1997).
  4. Mallory J. P., y Adams, Douglas Q. (eds.
  5. Amitai, Reuven; Biran, Michal (editors).
  6. "Zoolatry".
  7. Méniel 1992 pp.38-45, 77-78, 131-143
  8. Nantonos & Ceffyl 2005
  9. Hyland p.6
  10. Mallory, fuente citada en en:Hengist and Horsa
  11. Christian Weyers: Das Sachsenroß.