Da Juventude e da Velhice, Da Vida e da Morte, Do Fôlego

Da Juventude e da Velhice, Da Vida e da Morte, Do Fôlego (em grego, Περὶ νεότητος καὶ γήρως, καὶ ζωῆς καὶ θανάτου, καὶ ἀναπνοῆς; em latim, De Juventute et Senectute, De Vita et Morte, De Respiratione) é um dos tratados breves que constituem a Parva Naturalia de Aristóteles.

Francesco Hayez

Estrutura e conteúdo editar

Posição no Parva Naturalia editar

Comparado aos cinco primeiros tratados do Parva Naturalia, este e Da longevidade e brevidade da vida, enquanto tratam com o fenômeno natural envolvendo corpo e alma, são "mais biológicos que psicológicos"[1]. Foram omitidos do comentário sobre o Parva Naturalia feito por Sofonias.

Título e divisões do tratado editar

Edições modernas dividem o tratado em vinte e sete capítulos. A edição Bekker dos trabalhos de Aristóteles distinguiu dois trabalhos, De Senectude et Juventude (capítulos 1-6), e De Respiratione (capítulos 7-27, por esta razão citado às vezes como De Respiratione, capítulos 1-21). Contudo, os manuscritos não dão base para tal distinção, e os conteúdos não são corretamente descritos por tais rótulos; juventude e velhice apenas ganham atenção como "parte da explicação da vida como um todo" no capítulo 24. O trabalho pode, ao contrário, ser considerado como um único tratado sobre a vida, a morte e as funções necessárias à vida: nutrição e respiração[2]. O título Da Juventude, da Velhice, Da Vida, da Morte e do Fôlego, utilizado em manuscritos medievais, deriva das palavras de abertura do tratado: "Devemos agora tratar da juventude e da velhice e da vida e da morte. Nós devemos também, ao mesmo temmpo, formular as causas da respiração também, posto que em alguns casos o viver e o não viver dependem disso[3]. Esta sentença explica como a respiração é uma parte do assunto mais geral sobre a vida e a morte. Enquanto De Vita et Morte pode, então, parecer um título mais satisfatório para o trabalho (Ptolomeu Queno se refere ao tratado completo desta forma), juventude e velhice são aspectos importantes do assunto, porque a concepção de Aristótele "não é de uma vida constante e invariável, mas de um círculo natural de desenvolvimento e decadência"[2].

O coração como órgão primário da alma editar

Aristóteles começa levantando a questão do lugar da alma no corpo ("Enquanto é claro que a realidade essencial da alma não pode ser corpórea, ainda assim, ela deve manifestamente existir em alguma parte do corpo que deve ser aquela que tem o controle dos membros") e chega à resposta do coração como órgão primário da alma, e o órgão central da nutrição e sensação (com que os órgãos dos cinco sentidos se comunicam)[4]. O motivo desta "decepcionante característica da fisiologia Aristotélica" é matéria de conjecturas; a importância do cérebro havia sido sugerida antes de Aristóteles por Alcmeão de Crotona (baseado "no fato de que os órgãos finais de cheiro e visão estavam ligados ao cérebro", com que Aristóteles estava familiarizado[5]) e havia sido aceita por Diógenes de Apolônia, Demócrito de Abdera e Platão[4].

Coração, pulmões e respiração editar

As observações de Aristóteles sobre o coração dá uma das indicações mais claras de que ele era familiriaziado com as teorias médicas de algumas partes dos Tratados hipocráticos. Entre outras dívidas, "sua comparação do sistema pulmão-coração a um fole duplo (capítulo 26, 480a20-23) é claramente emprestada do tratado mais breve 'De Victu'"[4]. Isto é, o coração ("substância quente" em animais) está dentro dos pulmões ("o órgão primário de resfriamento", função também realizada pelas guelras); o coração expande sob a influência do calor, forçando os pulmões a expandir sob a mesma influência, causando inalação, e esta introdução de ar frio de fora causa contração e exalação. Neste processo contínuo, "respiração e vida são inseparáveis"[6].

O ciclo da vida editar

O capítulo vinte e quatro dá várias definições que resumem a teoria de Aristóteles[6]:

geração (nascimento) a participação inicial da alma nutritiva, mediada pela substância quente (em animais, o coração, a que a alma nutritiva está incorporada)
vida a manutenção desta participação
juventude o período de crescimento do órgão primário de refrigeração (os pulmões)
o auge da vida o tempo entre o crescimento e a decadência do órgão primário de refrigeração
velhice decadência do órgão primário de refrigeração
morte violenta ou dissolução a extinção ou exaustão do calor vital
morte natural a exaustão do calor devido à passagem do tempo, e ocorrendo ao fim da vida
morte na velhice a exaustão devido à inabilidade na parte do órgão, por velhice, de produzir refrigeração

Referências

  1. W. D. Ross, Aristotle: Parva Naturalia, Oxford, 1955, p. 52
  2. a b R.A.H. King, Aristotle on Life and Death, London: Duckworth, 2001, p. 38-40
  3. "Περὶ δὲ νεότητος καὶ γήρως καὶ περὶ ζωῆς καὶ θανάτου λεκτέον νῦν· ἅμα δὲ καὶ περὶ ἀναπνοῆς ἀναγκαῖον ἴσως τὰς αἰτίας εἰπεῖν· ἐνίοις γὰρ τῶν ζῴων διὰ τοῦτο συμβαίνει τὸ ζῆν καὶ τὸ μὴ ζῆν." - em grego clássico no Greco Interattivo Arquivado em 9 de fevereiro de 2012, no Wayback Machine.
  4. a b c W. D. Ross, Aristotle: Parva Naturalia, Oxford, 1955, p.55 e seguintes
  5. Da Sensação e do Sensível, 438b25-30, 444a9
  6. a b W. D. Ross, Aristotle: Parva Naturalia, Oxford, 1955. p. 60 e seguintes

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