Dichapetalaceae

família de plantas da ordem Malpighiales que agrupa arbistos e pequenas árvores dos trópicos

Dichapetalaceae é uma família de plantas com flor, pertencente à ordem Malpighiales, que inclui cerca de 170 espécies repartidas por 3 géneros.[3][4] Os membros desta família são pequenas árvores, arbustos e lianas com distribuição natural do tipo pantropical pelas zonas tropicais e subtropicais de todos os continentes. Algumas espécies estão adaptadas à aridez apresentando marcada xerofilia.[5]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaDichapetalaceae
Dichapetalum cymosum (conhecida por gifblaar ou ratbane pela sua toxicidade).
Dichapetalum cymosum (conhecida por gifblaar ou ratbane pela sua toxicidade).
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
(sem classif.) fabídeas
Ordem: Malpighiales
Família: Dichapetalaceae
Baill.[1]
Géneros
Sinónimos[2]
Inflorescência de Dichapetalum gelonioides.
Flores de Dichapetalum gelonioides.
Folhagem e frutos de Dichapetalum gelonioides.

Descrição editar

As espécies da família Dichapetalaceae são plantas lenhosas: árvores, arbustos (incluindo arbustos cespitosos) e lianas. Apresentam as características típicas das plantas das regiões tropicais, mas algumas desenvolveram xerofilia e ocorrem nas regiões subtropicais do sul da Ásia e do sul e leste da África, geralmente em regiões secas.

Morfologia editar

Os membros da família Dichapetalaceae são plantas lenhosas, hermafroditas, com hábito que varia desde as árvores aos arbustos e às lianas e trepadeiras. Algumas espécies são polígamas ou dioicas.

As folhas são alternas, simples, inteiras, pinatinérveas, com estípulas geralmente caducas.[6]

As flores ocorrem em inflorescências cimoso-corimbosas ou subcapitadas, com as flores fasciculadas, axilares ou frequentemente adnatas ao pecíolo. As flores são pequenas, actinomorfas a ligeiramente zigomorfas, com pedicelos frequentemente articulados, As sépalas são 5, imbricadas, livres ou conatas na base. As pétalas são 5 (flores pentâmeras), livres, imbricadas e quase iguais, ou fundidas num tubo, com os lóbulos marcadamente desiguais (no género Tapura. Em ambos os casos os lóbulos são geralmente bífidos no ápice e frequentemente bicuculados ou inflexos, frequentemente unguiculados na base. Os estames são 5, todos férteis ou com dois estéreis, livres ou adnatos ao tubo da corola. Em geral existem filamentos, mas em algumas espécies as anteras são sésseis. As anteras são biloculares e com deiscência longitudinal. Apresentam um disco nectarífero formado por 5 glândulas iguais ou desiguais, hipóginas e alternas com os estames, mas em algumas espécies o disco nectarífero é formado por glândulas conatas. O ovário é súpero, livre, bi- ou trilocular, com óvulos anátropos, pêndulos, em pares placentados na parte superior de cada lóculo, com 2-3 estiletes livres ou mais frequentemente conatos quase até ao ápice, frequentemente recurvados, com estigma capitado ou simples.[6]

O fruto é uma drupa seca ou raramente carnosa, com o epicarpo quase sempre pubescente. O mesocarpo é delgado e o endocarpo duro, 1, 2 (3)-locular, os lóculos geralmente desenvolvido numa única semente. As sementes são pêndulas, sem endosperma e com embrião grande e erecto.[6]

O número cromossómico básico é n = 10 ou n = 12.

Distribuição editar

Com excepção da Micronésia e Polinésia, as Dichapetalaceae são comuns nas planícies de todas as áreas tropicais dos Hemisférios Norte e Sul. Na África e no Subcontinente Indiano, algumas espécies desta família também ocorrem em regiões subtropicais, algumas delas com adaptação a habitats áridos.

Usos editar

A espécie Dichapetalum cymosum, do sul da África, é muito venenosa devido ao elevado teor de fluoroacetato de sódio nos seus tecidos, sendo usada como fonte de um rodenticida tradicional.

Filogenia e sistemática editar

Filogenia editar

Um estudo de filogenética molecular, realizado em 2012, usou dados resultantes da análise de um número alargado de genes e por essa via obteve uma árvore filogenética com maior resolução que a disponível nos estudos anteriormente realizados.[7] Nesse estudo foram analisados 82 genes de plastídeos de 58 espécies (a problemática família Rafflesiaceae não foi incluída), usando partições identificadas a posteriori pela aplicação de um modelo de mistura com recurso a inferência bayesiana. Esse estudo identificou 12 clados adicionais e 3 clados basais de maior significância.[7][8] A posição da família Dichapetalaceae no contexto da ordem Malpighiales é a que consta do seguinte cladograma:

Oxalidales (grupo externo)

Malpighiales
euphorbioides

Peraceae

  

Rafflesiaceae

  

Euphorbiaceae

phyllanthoides

Picrodendraceae

Phyllanthaceae

linoides

Linaceae

Ixonanthaceae

clado parietal 
salicoides

Salicaceae

Scyphostegiaceae

Samydaceae

Lacistemataceae

Passifloraceae

Turneraceae

Malesherbiaceae

Violaceae

Goupiaceae

Achariaceae

Humiriaceae

clusioides

Hypericaceae

Podostemaceae

Calophyllaceae

Clusiaceae

Bonnetiaceae

ochnoides

Ochnaceae

Quiinaceae

Medusagynaceae

Rhizophoraceae

Erythroxylaceae

Ctenolophonaceae

Pandaceae

Irvingiaceae

chrysobalanoides

Chrysobalanaceae

Euphroniaceae

Dichapetalaceae

Trigoniaceae

Balanopaceae

malpighioides

Malpighiaceae

Elatinaceae

Centroplacaceae

Caryocaraceae

putranjivoides

Putranjivaceae

Lophopyxidaceae

A família Dichapetalaceae é o grupo irmão da família Trigoniaceae, com a qual partilha diversas características morfológicas.

Sistemática editar

A família Dichapetalaceae foi proposta em 1886 por Henri Ernest Baillon, com o nome de Dichapetaleae, na sua obra Flora Brasiliensis, 12 (1), p. 365. O género tipo é Dichapetalum, um táxon descrito em 1806 por Louis Marie Aubert Du Petit-Thouars. Entre os sinónimos taxonómicos de Dichapetalaceae Baill. contam-se: Chailletiaceae R.Br. e Hirtellaceae Horan.

Na sua presente circunscrição taxonómica a família Dichapetalaceae contém apenas 3 géneros[9] e entre 170 e 240 espécies:

Géneros editar

A família Dichapetalaceae, na sua presente circunscrição taxonómica, inclui os seguintes géneros:

Referências editar

  1. Angiosperm Phylogeny Group (2009). «An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III». Botanical Journal of the Linnean Society. 161 (2): 105–121. doi:10.1111/j.1095-8339.2009.00996.x 
  2. PlantBio: Dichapetalaceae.
  3. Stephens, P.F. (2001 onwards). Angiosperm Phylogeny Website. Version 9, June 2008. http://www.mobot.org/MOBOT/Research/APweb/
  4. Christenhusz, M. J. M.; Byng, J. W. (2016). «The number of known plants species in the world and its annual increase». Phytotaxa. 261 (3): 201–217. doi:10.11646/phytotaxa.261.3.1 
  5. Franciscus Jozef Breteler, The African Dichapetalaceae : a taxonomical revision ; this first instalment contains the treatment of the species a-b in Dichapetalum ; a provisional key to the continent African species is added, Wageningen Veenman, 1973.
  6. a b c «Dichapetalaceae». Tropicos.org. Missouri Botanical Garden: Flora de Nicaragua. Consultado em 17 de fevereiro de 2010 
  7. a b Xi, Z.; Ruhfel, B. R.; Schaefer, H.; Amorim, A. M.; Sugumaran, M.; Wurdack, K. J.; Endress, P. K.; Matthews, M. L.; Stevens, P. F.; Mathews, S.; Davis, C. C. (2012). «Phylogenomics and a posteriori data partitioning resolve the Cretaceous angiosperm radiation Malpighiales». Proceedings of the National Academy of Sciences. 109 (43). 17519 páginas. PMC 3491498 . PMID 23045684. doi:10.1073/pnas.1205818109 
  8. Catalogue of Organisms: Malpighiales: A Glorious Mess of Flowering Plants
  9. «Dichapetalaceae». Agricultural Research Service (ARS), United States Department of Agriculture (USDA). Germplasm Resources Information Network (GRIN) 
  10. a b David John Mabberley: Mabberley’s Plant-Book. A portable dictionary of plants, their classification and uses. 3. ed. Cambridge University Press 2008. ISBN 978-0-521-82071-4

Bibliografia editar

Galeria editar

Ver também editar

Ligações externas editar

 
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