Dynastes paschoali

espécie de inseto
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O besouro-hércules-da-mata-atlântica[1] é um inseto da ordem Coleoptera e da família Scarabaeidae, subfamília Dynastinae, cientificamente denominado Dynastes paschoali e outrora considerado uma subespécie do besouro-hérculesː Dynastes hercules paschoali;[2][3][4] um tipo de escaravelho, besouro-de-chifre[5][6][7] ou besouro-rinoceronte[5] cujo habitat atual é endêmico das áreas de clima tropical da Mata Atlântica do Brasil e tornando-se uma espécie independente de Dynastes hercules (Linnaeus, 1758), em sua distribuição geográfica, graças a um estudo publicado em 2017 por J.P. Huangː The Hercules beetles (subgenus Dynastes, genus Dynastes, Dynastidae): a revisionary study based on the integration of molecular, morphological, ecological, and geographic analyses.[3] A espécie fora descrita por Grossi & Arnaud, em 1993,[4] sendo também questionado o seu estatuto taxonômico como subespécie de D. hercules já em 2008.[7] O significado da palavra Hércules, usado em sua nomenclatura vernácula, em latim, foi dado em homenagem ao herói da mitologia grega e derivado da espécie tipo descrita por Lineu, sendo este o filho de Júpiter.[8]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaBesouro-hércules-da-mata-atlântica[1]
Dynastes paschoali
Ilustração de um macho (acima) e de uma fêmea (abaixo) de um besouro do gênero Dynastes, retirada de um livro alemão de 1876.
Ilustração de um macho (acima) e de uma fêmea (abaixo) de um besouro do gênero Dynastes, retirada de um livro alemão de 1876.
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Coleoptera
Subordem: Polyphaga
Superfamília: Scarabaeoidea
Família: Scarabaeidae
Subfamília: Dynastinae
Tribo: Dynastini
Género: Dynastes[2]
Espécie: D. paschoali
Nome binomial
Dynastes paschoali
Grossi & Arnaud, 1993[3]
Distribuição geográfica
O besouro-hércules-da-mata-atlântica (D. paschoali) é encontrado na região neotropical e endêmico das áreas de clima tropical da Mata Atlântica do Brasil.
O besouro-hércules-da-mata-atlântica (D. paschoali) é encontrado na região neotropical e endêmico das áreas de clima tropical da Mata Atlântica do Brasil.
Sinónimos
Dynastes hercules paschoali Grossi & Arnaud, 1993[4]

Distribuição geográfica e conservação editar

Na região neotropical, Dynastes paschoali tinha maior distribuição geográfica pela região nordeste e sudeste do Brasil, já sendo ilustrada por viajantes holandeses durante o século XVII, muito provavelmente vindos para Pernambuco, existindo também evidências que espécimes eram coletados ao redor da cidade do Rio de Janeiro durante o século XIX; se tornando agora restrita a poucas localidades do sul da Bahia e Espírito Santo, em áreas abaixo dos 150 metros de altitude.[7] Em 2018 foi relatada como espécie quase ameaçada (NT) no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado pelo ICMBio;[6] em 2017 como espécie vulnerável (VU) na Lista Oficial das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado da Bahia;[9] outrora classificada como criticamente em perigo (CR) na Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção no Espírito Santo, em 2005.[10]

O gênero Dynastes editar

Antes do ano de 2017 o besouro-hércules possuía diversas subespécies que foram divididas em espécies diferentes por J.P. Huangː Dynastes moroni Nagai, 2005; Dynastes bleuzeni Silvestre and Dechambre, 1995; Dynastes ecuatorianus Ohaus, 1913; Dynastes lichyi Lachaume, 1985; Dynastes morishimai Nagai, 2002; Dynastes occidentalis Lachaume, 1985; Dynastes paschoali Grossi and Arnaud, 1993; Dynastes reidi Chalumeau, 1977; Dynastes septentrionalis Lachaume, 1985; Dynastes trinidadensis Chalumeau and Reid, 1995.[3] Estudo este corroborado pelo iNaturalist (Taxonomic Split 74575).[11] Seus taxa são predominantes nas florestas tropicais montanhosas e de planície do lado Pacífico da cordilheira dos Andes até a bacia do rio Amazonas,[12] sendo Dynastes paschoali a espécie continental mais isolada das demais.[7]

Descrição editar

Este gênero se encontra dentre os maiores besouros extantes, podendo chegar até pouco mais de 18 centímetros de comprimento,[12][13] sendo mais da metade desta medição alcançada pelos descomunais cornos, em forma de pinças curvas e pubescentes, principalmente a superior, que os machos carregam na parte frontal do protórax e no topo de suas cabeças; apresentando dimorfismo sexual aparente, com suas fêmeas mais discretas, castanhas e desprovidas de tais projeções.[14][15][16] O macho é capaz de mudar de cor com a umidade; na baixa umidade os seus élitros são amarelos ou verde-oliva, mas em alta umidade são negros, devido à alteração na refração da luz que neles incide.[12][13][15]

Biologia editar

Os adultos voam ao crepúsculo ou durante a noite e o pico de sua atividade ocorre pouco antes do amanhecer, podendo ser atraídos pela luz;[13] embora seu voo não seja tão eficiente quanto o de outros insetos.[12] As larvas de Dynastes residem na madeira em decomposição, da qual se alimentam, sendo esta fornecida pelas árvores caídas ao solo; enquanto os indivíduos adultos são vistos escondidos na vegetação e no solo da floresta, sob a cobertura de folhas úmidas, sendo predominantemente frugívoros. São solitários e seus machos são territoriais e combativos durante a época de acasalamento, afastando os outros machos de suas fêmeas; os levantando entre os cornos cefálico e protorácico o mais alto possível e jogando-os abaixo;[12][17] com estudos sugerindo que eles possam levantar mais de 850 vezes o seu próprio peso corporal.[18] Também possuem a capacidade de produção de um som estridulatório e de um odor desagradável para dissipar ameaças de predação.[12][19]

Uso humano editar

Além de sua popularidade como animal de criação doméstica, no caso do adulto,[13] com um ciclo de vida total de cerca de três anos,[12] as larvas de espécies de Dynastes foram indicadas como sendo apreciadas por povos ameríndios como alimento; fato descrito por Johann Moritz Rugendas, no início do século XIX, quando esteve no Brasil.[16]

Referências

  1. a b Krov, Marcel (1 de junho de 2023). «Besouro-Hércules-da-Mata-Atlântica (Dynastes paschoali (em inglês). BioDiversity4All. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023. Camacan - State of Bahia, Brazil 
  2. a b Cotinis; Harpootlian, Phillip; Quinn, Mike; Belov, V. «Genus Dynastes - Hercules Beetles» (em inglês). BugGuide. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  3. a b c d Huang, Jen Pan (15 de setembro de 2017). «The Hercules beetles (subgenus Dynastes, genus Dynastes, Dynastidae): a revisionary study based on the integration of molecular, morphological, ecological, and geographic analyses» (em inglês). University of Michigan Library. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  4. a b c «Dynastes hercules paschoali» (em inglês). NCBI. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  5. a b HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva. p. 439. 2922 páginas. ISBN 85-7302-383-X 
  6. a b ICMBio (2018). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume I (PDF). Brasília, DF: ICMBio/MMA. p. 404. 492 páginas. ISBN 978-85-61842-79-6. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  7. a b c d Grossi, Everardo José; Vaz-de-Mello, Fernando Zagury ; Grossi, Paschoal Coelho (2008). «Dynastes hercules paschoali» (em inglês). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (ResearchGate). pp. 361–362. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  8. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (Op. cit., p. 1518.).
  9. LISTA OFICIAL DAS ESPÉCIES DA FAUNA AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO DO ESTADO DA BAHIA (PDF). Bahia: [s.n.] 2017. p. 9. 14 páginas. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  10. Governo do Estado do Espírito Santo (2005). LISTA DE ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO NO ESPÍRITO SANTO. Espírito Santo: [s.n.] p. 1. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  11. Bobby23 (6 de abril de 2020). «Alterações Taxonômicas Táxon: Dynastes hercules (Inativo)». iNaturalist. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  12. a b c d e f g Toussaint, Anna (2015). «Dynastes hercules (Hercules Beetle)» (PDF) (em inglês). The Online Guide to the Animals of Trinidad and Tobago. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  13. a b c d «Hercules beetle» (em inglês). Featured Creatures - Entomology and Nematology Department (UF/IFAS). 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  14. «Vestibular (UNICAMP - 2018 - 2ª FASE)». UNICAMP. 2018. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  15. a b Miguel "Siu" (17 de julho de 2015). «Hercules Beetle - male» (em inglês). Flickr. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  16. a b GODINHO JR., Celso L. (2011). Besouros e Seu Mundo. Com 1400 ilustrações em cores desenhadas pelo autor 1ª ed. Rio de Janeiro, Brasil: Technical Books. p. 257-258. 478 páginas. ISBN 978-85-61368-16-6 
  17. Huang, Jen-Pan (13 de dezembro de 2013). «Hercules beetle fight» (em inglês). YouTube. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  18. Turner, Lucy (25 de junho de 2020). «The Hercules Beetle (Dynastes hercules (em inglês). AmazingLife.Bio. 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  19. Jarman, G. M.; Hinton, H. E. (novembro de 1974). «Some defence mechanisms of the Hercules beetle, Dynastes hercules» (em inglês). Physiological Entomology Volume 49, Issue 1 (Royal Entomological Society - Wiley Online Library). 1 páginas. Consultado em 13 de setembro de 2023 
 
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