El Niño

Fenômeno climático erráticamente ciclíco que ocorre no Oceano Pacífico Sul

Os fenômenos El Niño são alterações significativas na distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, com grandes alterações no clima.[1] Estes eventos modificam um sistema de temperaturas do oceano Oscilação Sul e, por essa razão, são referidos muitas vezes como ENOS (El Niño Oscilação Sul). Seu papel no aquecimento global é uma área de intensa pesquisa, ainda sem um consenso.

Anomalia da temperatura do Oceano Pacífico em dezembro de 1997, sob influência de um El Niño de forte intensidade (manchas vermelhas e brancas indicam maior temperatura).

Etimologia editar

O El Niño foi originalmente reconhecido por pescadores da costa norte de Peru, observando baixas capturas, à ocorrência de temperaturas mais altas que o normal no mar, normalmente no fim do ano — daí vem a designação, que significa “O Menino”, referindo-se ao “Menino Jesus”, relacionado com o Natal.[1]

Definição editar

Durante um ano “normal”, ou seja, sem a existência do fenômeno El Niño, os ventos alísios sopram no sentido leste-oeste através do Oceano Pacífico tropical, originando um excesso de água no Pacífico oriental, de tal modo que a superfície do mar é cerca de meio metro mais alta nas costa leste da Ásia e Austrália que na costa oeste da América do Sul. Isto provoca a ressurgência de águas profundas, mais frias e carregadas de nutrientes na costa ocidental da América do Sul, que alimentam o ecossistema marinho, promovendo imensas populações de peixes — a pescaria de anchoveta no Chile e Peru já foi a maior do mundo, com uma captura superior a 12 milhões de toneladas por ano. Estes peixes, por sua vez, também servem de sustento aos pássaros marinhos abundantes, cujas fezes depositadas em terra, o guano, servem de matéria prima para a indústria de fertilizantes.

Quando acontece um El Niño, que ocorre irregularmente em intervalos de 2 a 7 anos, com uma média de 3 a 4 anos, os ventos sopram com menos força ou mesmo invertem a direção em todo o centro do Oceano Pacífico, resultando numa diminuição da ressurgência de águas profundas e na acumulação de água mais quente que o normal na costa oeste da América do Sul e, consequentemente, na diminuição da produtividade primária e das populações de peixe.

Os ventos alísios ao soprar no sentido leste-oeste, resfriam a superfície do mar próxima ao litoral do Peru e, de certa forma, “empurram” as águas mais quentes na direção contrária, caracterizando uma diferença de temperatura entre as duas regiões. Então, na região de águas mais quentes ocorre a evaporação mais rápida da água e a formação de nuvens. Para isso, ou seja, para formar as nuvens, o ar quente sobe ao mesmo tempo em que o ar mais frio desce na região oposta, formando o fenômeno que os meteorologistas chamam de “célula de circulação de Walker”. A ocorrência deste outro fenômeno forma outro, conhecido como “ressurgência”, ou, afloramento das águas frias do oceano à superfície, dando continuidade ao ciclo.

Outra consequência de um El Niño é a alteração do clima em todo o Pacífico equatorial: as massas de ar quentes e úmidas acompanham a água mais quente, provocando chuvas excepcionais na costa oeste da América do Sul e secas na Indonésia e Austrália. Pensa-se que este fenômeno é acompanhado pelo deslocamento de massas de ar pelo globo, provocando alterações do clima em todo o mundo. Por exemplo, durante um ano com El Niño, o inverno é mais quente que a média nos estados centrais dos Estados Unidos, enquanto que nos do sul há mais chuva; por outro lado, os estados do noroeste do Pacífico (Oregon, Washington, Colúmbia Britânica) têm um inverno mais seco. Os verões excepcionalmente quentes na Europa e as secas em África parecem estar igualmente relacionadas com o aparecimento do El Niño.

O nome “El Niño” foi escolhido pelo fato do fenômeno de aquecimento das águas na costa do Peru acontecer em dezembro, próximo ao Natal, e faz referência ao “Menino Jesus” ou, em espanhol “Niño Jesus”. O fenômeno já era conhecido entre os pescadores da região por causar diminuição na oferta de pescados nesse período, mas, só ganhou fama mundial após o período de 1997 a 1998 quando alcançou seu período de maiores efeitos.

La Niña é o fenômeno inverso, caracterizado por temperaturas anormalmente frias, também no fim do ano, na região equatorial do Oceano Pacifico, muitas vezes (mas não sempre) seguindo-se a um El Niño.[2] Também já foi denominado como “El Viejo” (“O Velho”, ou seja, a antítese do “menino”) ou ainda o “Anti-El Niño”.

ENOS (El Niño Oscilação Sul) editar

 Ver artigo principal: El Niño-Oscilação do Sul

A Oscilação Sul é a flutuação interanual da pressão atmosférica ao nível do mar no Oceano Pacífico, devida a variações na circulação atmosférica. Normalmente, os ventos alísios sopram para sudoeste (no hemisfério sul), levando a água da superfície do mar aquecida na região do equador para a costa da Indonésia e Austrália e, com ela, massas de ar também aquecidas. No entanto, a força dos ventos varia de um ano para outro, provocando diferenças na temperatura e pluviosidade nos vários continentes que ladeiam aquele oceano.

Aparentemente, estas variações também se registam nos outros oceanos, mas ficaram mais conhecidas pelas anomalias conhecidas pelo nome “El Niño”, que foram descobertas no Oceano Pacífico. Por essa razão, as anomalias passaram a ser estudadas em termos de prever a ocorrência daquele evento e muitas vezes usa-se a expressão ENOS (El Niño Oscilação Sul ou ENSO, da expressão em inglês) como sinónimo do El Niño ou da Oscilação Sul e aplica-se a anomalias do clima e da circulação marinha em qualquer oceano — os eventos ENOS do Oceano Atlântico ocorrem 6–15 meses depois de ocorrerem no Pacífico.

A Oscilação Sul é verificada através do Índice de Oscilação Sul (IOS ou SOI, em inglês), que é a diferença normalizada entre a pressão atmosférica medida no Tahiti (na Polinésia Francesa) e em Darwin, na Austrália. Um valor alto do IOS (grande diferença de pressões) significa ventos mais fortes que a média e normalmente está associado a uma situação de “La Niña”, ou seja, água com temperatura superficial mais fria que a média na costa ocidental da América do Sul, e vice-versa.

Uma vez que estes eventos têm uma grande influência no clima, provocando secas ou cheias e, portanto, afectando a agricultura e, em geral, a economia dos países, o estudo da Oscilação Sul e das suas anomalias ou ENOS, tem uma grande importância, não só para a economia mundial, mas também para a compreensão dos fenómenos climáticos.

Efeitos do El Niño no Brasil editar

No Brasil a variação no volume de chuvas depende de cada região e da intensidade do fenômeno. Um El Niño pode ter os seguintes efeitos:.

Eventos editar

Registro de El Niño, desde o início da medição de temperatura do Oceano Pacífico Equatorial.

  • 1877–1878 — Forte intensidade
  • 1888-1889 — Intensidade moderada
  • 1896–1897 — Forte intensidade
  • 1899 — Forte intensidade
  • 1902–1903 — Forte intensidade
  • 1905–1906 — Forte intensidade
  • 1911–1912 — Forte intensidade
  • 1913–1914 — Intensidade moderada
  • 1918–1919 — Forte intensidade
  • 1923 — Intensidade moderada
  • 1925–1926 — Forte intensidade
  • 1932 — Intensidade moderada
  • 1939–1941 — Forte intensidade
  • 1946–1947 — Intensidade moderada
  • 1951 — Fraca intensidade
  • 1953 — Fraca intensidade
  • 1957–1959 — Forte intensidade
  • 1963 — Fraca intensidade
  • 1965–1966 — Intensidade moderada
  • 1968-1970 — Intensidade moderada
  • 1972–1973 — Forte intensidade
  • 1976–1977 — Fraca intensidade
  • 1977–1978 — Fraca intensidade
  • 1979–1980 — Fraca intensidade
  • 1982–1983 — Forte intensidade
  • 1986–1988 — Intensidade moderada
  • 1990–1993 — Forte intensidade
  • 1994–1995 — Intensidade moderada
  • 1997–1998 — Forte intensidade
  • 2002–2003 — Intensidade moderada
  • 2004–2005 — Fraca intensidade
  • 2006–2007 — Forte intensidade
  • 2009–2010 — Intensidade moderada
  • 2014–2016 — Forte intensidade
  • 2018-2019 — Fraca intensidade
  • 2023–2024

Efeitos do El Niño para os pescadores editar

O El Niño traz problemas para os pescadores peruanos, tendo em vista que o aquecimento das águas do Pacífico reflete na diminuição da piscosidade oriunda da corrente de Humboldt, que influencia diretamente a costa do Peru e do Chile.

Ver também editar

Referências

  1. a b «El Niño». CPTEC INPE. Consultado em 26 de agosto de 2015 
  2. «La Niña». CPTEC INPE. Consultado em 26 de agosto de 2015 

Ligações externas editar

 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre El Niño