Equação diferencial ordinária de primeira ordem

Uma equação diferencial ordinária de primeira ordem é uma equação diferencial ordinária da seguinte forma:

onde é dada e a incógnita é a função . O domínio pode ser um intervalo ou a reta real inteira.

Quando a função não depende explicitamente sobre a variável independente e o problema pode ser escrito na seguinte forma:

então diz-se que se trata de um sistema autônomo de primeira ordem.

Exemplos editar

Equação Solução Domínio
     
     
     
     

Em todos os casos a constante de integração   é arbitrária

O problema de valor inicial editar

O problema de valor inicial para a equação diferencial ordinária de primeira ordem consiste em encontrar a função   que satisfaz a equação diferencial dada e assume a condição inicial no ponto inicial do intervalo:

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Exemplo editar

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A (única) solução desta equação diferencial é dada por

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O teorema de Picard-Lindelöf editar

 Ver artigo principal: Teorema de Picard-Lindelöf

O teorema de Picard-Lindelöf estabelece a existência e unicidade de soluções em uma vizinhança de   para o problema de valor inicial:

 

onde   é uma função contínua na variável   e Lipschitz contínua na variável  .

O problema de valores contorno editar

O problema de valores de contorno para a equação diferencial ordinária de primeira ordem consiste em encontrar a função   que satisfaz a equação diferencial dada em um intervalo   e cujos valores nos extremos   e   satisfazem uma condição dada:

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Exemplo editar

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A (única) solução desta equação diferencial é dada por

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Equação linear editar

O caso linear acontece quando a função   é da seguinte forma:

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A equação fica, então:

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Esta equação pode ser resolvida multiplicando pelo fator integrante:

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então, integrando, temos:

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ou, equivalentemente:

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Equações de variáveis separáveis editar

Uma equação é designada de variáveis separáveis, se puder ser escrita na forma: [1]

 

Para resolver este tipo de equação primeiro observemos que a primitiva da função   pode ser calculada da seguinte forma

 

A equação diferencial pode ser escrita como

 

e a primitiva em ordem a   do lado esquerdo é igual à primitiva em ordem a   de   como acabamos de ver

 

As equações do tipo

 

onde   e   são constantes, não são equações de variáveis separáveis, mas podem ser reduzidas a elas por meio da seguinte substituição[1]

 

Equações exatas editar

Qualquer equação de primeira ordem pode ser escrita em forma diferencial:[1]

 

esta forma é semelhante à expressão da diferencial de uma função de duas variáveis

 

Esta equação sugere-nos admitir que existe uma função   cujas derivadas parciais são iguais a   e  .[1] No entanto, a segunda derivada parcial de   seria

 

Assim, para que a conjetura da existência da função   seja consistente, é necessário que as funções   e   verifiquem a seguinte condição

 

nesse caso diz-se que a equação é uma equação exata e pode ser escrita como

 

sendo a sua solução geral

 

A função   calcula-se encontrando a função cujas derivadas parciais sejam iguais a   e  .[1]

Equações homogêneas editar

Uma equação de primeira ordem diz-se homogénea se tiver a seguinte forma geral[1]

 

para resolver este tipo de equação usa-se a substituição

 

a qual transforma a equação numa equação de variáveis separáveis. Para reconhecer facilmente se uma função racional é da forma   observam-se os expoentes de cada termo no numerador e denominador (soma do expoente de   mais o expoente de  ) os quais deverão ser iguais. Por exemplo das duas funções seguintes a primeira tem a forma   mas a segunda não

 

Existem outras equações que podem ser reduzidas a equações homogêneas. Um exemplo típico é a equação

 

onde   e   são constantes dadas.[1] Se as constantes   e   fossem nulas, a equação seria homogênea; definimos um novo sistema de coordenadas   para substituir  , de forma a obter

 

ou de forma equivalente

 

a solução deste sistema de equações lineares pode ser obtido por meio da regra de Cramer

 

como os lados direitos da equação e da equação são constantes, também temos que  ,   e a equação diferencial transforma-se numa equação homogênea

 

Não-unicidade de soluções editar

Algumas equações diferenciais ordinárias de primeira ordem admitem duas soluções distintas que satisfazem a mesma condição inicial. Um exemplo simples de um equação que apresenta esse fenômeno é seguinte:

 

Esta admite como solução qualquer função da seguinte forma:

 

aqui   é uma constante positiva qualquer.

Divergência em tempo finito editar

Algumas equações diferenciais ordinárias de primeira ordem apresentam uma solução que diverge em tempo finito. Um exemplo é a seguinte equação:

 

Esta admite como solução qualquer função da seguinte forma:

 

Referências

  1. a b c d e f g Villate, Jaime E. (2011). Equações Diferenciais e Equações de Diferenças (PDF). Porto: [s.n.] 120 páginas. Consultado em 13 de julho de 2013 

Ver também editar

Ligações externas editar