A escrita ge'ez[1][2][3] ou gueês[4][5] (ግዕዝ Gəʿəz), também chamada de etiópica, é uma escrita originalmente desenvolvida para escrever a língua ge'ez, uma língua semítica. Em outras línguas que fazem uso desse alfabeto, como amárico e tigrínia, essa escrita é chamada de Fidäl (ፊደል), que significa escrita.

Escrita ge'ez

Gênesis 29.11–16 em ge'ez.
Tipo Abugida
Línguas Língua ge'ez
Período de tempo
Século I até presente (abjad até Século IV)
Sistemas-pais
Sistemas-filhos
Amárica

A escrita ge'ez foi adaptada na escrita de diversas línguas, a maioria semíticas. As línguas mais difundidas escritas em ge'ez são o amárico na Etiópia e tigrínia na Eritreia e Etiópia. Também é usada na escrita da língua sebatbeit, me'em, e a maioria das línguas da Etiópia. Na Eritreia é usada na escrita da língua tigré, e tradicionalmente usada na língua blin, uma língua cuchítica. Algumas outras línguas do Chifre da África, como o oromo, usaram a escrita ge'ez, mas migraram para uma ortografia baseada no alfabeto latino.

  • Para a representação dos sons, esse artigo usa um sistema que é comum (mas não universal) entre os linguistas que estudam línguas semíticas etiópicas; mas difere um pouco das convenções do Alfabeto Fonético Internacional. Veja os artigos para cada língua individual para informações sobre pronúncia.

História e origens

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As mais antigas escritas em línguas semíticas etiópicas na Etiópia e Eritreia remontam ao século IX a.C. em alfabeto arábico meridional, um alfabeto compartilhado por reinos vizinhos no sul da Arábia. Após os séculos VII e VI a.C., no entanto, variantes da escrita surgiram, evoluindo em direção à escrita ge'ez. Essa evolução pode ser vista mais claramente em evidências de inscrições (principalmente em rochas e cavernas) no distrito de Agame no norte da Etiópia e antiga província de Akkele Guzay na Eritreia.[6] Nos primeiros séculos DC, o que era chamado "velho etiopico" ou o "velho ge'ez" surgiu, um sistema de escrita, escrito da esquerda para a direita (em oposição ao boustrophedon como ESA) com letras basicamente idênticas às formas da primeira ordem do moderno alfabeto vocalizado (e.g. "k" na forma de "kä"). Havia também pequenas diferenças como a da letra "g" voltada para a direita, ao invés da esquerda na escrita ge'ez vocalizada, e um pequeno símbolo voltado para a esquerda "l", como em ESA, ao invés de letras igualmente longas como em ge'ez (lembrando um pouco a letra grega lambda).[7] A vocalização do ge'ez ocorreu no quarto século, e entretanto os primeiros textos vocalizados completos provém das inscrições de Ezana, letras vocalizadas o precederam em alguns anos, como uma letra vocalizada individual que existe na moeda axumita do seu predecessor Uazeba.[8][9] Roger Schneider também mostrou (em um trabalho não publicado no início dos anos 1990) anomalias no que é conhecido como escritas de Ezana que implicam que ele estava conscientemente empregando um estilo arcaico durante seu reinado, indicando que a vocalização pode ter ocorrido muito mais cedo. Como resultado, alguns acreditam que a vocalização pode ter sido adotada a fim de preservar a pronunciação dos textos ge'ez devido ao já moribundo status do ge'ez, e que, naquele tempo a língua comum das pessoas já eram línguas etio-semíticas tardias.[carece de fontes?] os estudiosos Kobishchanov, Daniels, e outros têm sugerido possível influência dos alfasilabários indianos na vocalização, como essas escritas são abugidas (também conhecidos como "alfasilabário"), e Axum foi uma importante parte das maiores rotas de comércio envolvendo a Índia e o mundo greco-romano durante a Antiguidade.[10][11]

De acordo com as crenças religiosas da Igreja Ortodoxa Etíope, a forma consonantal original do ge'ez fidel foi divinamente revelada a Enos "como um instrumento de codificação das leis", e que o atual sistema de vocalização é atribuído a um grupo de estudiosos axumitas liderados por nada menos que Frumêncio (Aba Selama), o mesmo missionário que diz ter convertido o rei Ezana ao cristianismo no século IV.[12]

O ge'ez tem como base dos seus símbolos silábicos 26 consoantes. Comparado ao inventário de 29 consoantes no alfabeto arábico meridional, a continuidade de ġ, e fricativas inter-dentais , foram perdidas, assim como as arábicas   (a letra ge'ez Sawt ሠ sendo deriveda do arábico meridional  ). Por outro lado P̣ait ጰ, uma inovação ge'ez, é uma modificação de Ṣädai ጸ, enquanto Pesa ፐ é baseado em Tawe ተ.

Assim, há 24 correspondências entre a escrita ge'ez e o alfabeto arábico meridional.

translit. h l m ś (SA s²) r s (SA s¹) b t n
Ge'ez
Arábico meridional                        
translit. ʾ k w ʿ z (SA ḏ) y d g f
Ge'ez
Arabe meridional                        

Muitos dos nomes das letras são cognatos com o proto-cananita, e assim podem ser assumidos em proto-sinaico.

Caracteres para a língua ge'ez

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Caracteres básicos

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Há 26 consoantes que servem de base para os símbolos silábicos:

h, l, ḥ, m, ś, r, s, ḳ, b, t, ḫ, n, ʾ, k, w, ʿ, z, y, d, g, ṭ, p̣, ṣ, ṣ́, f, p
translit. h l m ś r s b t n ʾ
Ge'ez
translit. k w ʿ z y d g ṣ́ f p
Ge'ez

Sílabas

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A escrita ge'ez é um silabário: cada símbolo representa uma sílaba, e os símbolos são organizados em grupos de símbolos similares na base da consoante e vogal.

A escrita ge'ez é escrita da esquerda para a direita.

Em ge'ez, a maior parte das sílabas é uma combinaçãode uma consoante com uma das sete vogais:

ä, u, i, a, e, ə, o

Na tabela abaixo, as linhas mostram as consoantes na ordem tradicional. As colunas mostram as sete vogais, também na ordem tradicional. Uma consoante pode ser descrita, por exemplo, como sendo de quinta ordem, significando que nessa forma é a quinta na ordem tradicional das vogais. Para algumas letras há uma oitava modificação expressando um ditongo. -wa ou -oa, e uma nona expressando -yä.

Para representar uma consoante sem nenhuma vogal acompanhante, por exemplo, no final da sílaba ou em um encontro consonantal, a consoante+ə é usado (o símbolo na sexta coluna).

  ä u i a e ə o wa
Hoy h  
Läwe l  
Ḥäwṭ  
May m
Śäwt ś  
Reʾs r
Sat s  
Ḳaf  
Bet b  
Täwe t  
Ḫarm  
Nähas n  
ʾÄlf ʾ  
  ä u i a e ə o wa
Kaf k  
Wäwe w  
ʿÄyn ʿ  
Zäy z  
Yämän y  
Dänt d  
Gäml g  
Ṭäyt  
P̣ait  
Ṣädäy  
äppä ṣ́  
Äf f
Psa p  

Variantes das letras labiovelares

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Os símbolos para as consoantes velares labializadas são variantes das consoantes velares não labializadas:

Basic sign k g
Variante labializada w w kw gw

Diferente das outras consoantes, essas lábio-velares podem ser combinadas com apenas 5 vogais diferentes:

  ä i a e ə
w
w
  ä i a e ə
kw
gw

Modificação para outras línguas

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Letras adicionais

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Algumas letras possuem variantes que não usadas em outras línguas que não o ge'ez.

Caractere básico b t d
Variante africada v [v] č [ʧ] ǧ [ʤ] č̣ [ʧʼ]
Caractere básico k
Variante africada h [q] x [x]
Variante labializada hw [qʷ] xw [xʷ]
Cractere básico s n z
Variante palatalizada š [ʃ] ñ [ɲ] ž [ʒ]
Caractere básico g w
Variante nasal {{{1}}} [ŋ] {{{1}}} [ŋʷ]

Os símbolos silábicos são mostrados abaixo. Como os outros labiovelares, essas podem ser combinadas com apenas 5 vogais.

  ä u i a e ə o wa
š
h  
hw      
v
č
{{{1}}} [ŋʷ]        
  ä u i a e ə o wa
ñ
x  
xw      
ž
ǧ
{{{1}}} [ŋ]
č̣

Símbolos usados em línguas modernas

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O amárico usa todas as consoantes básicas, mais algumas indicadas abaixo. Algumas das variantes labiovelares também são usadas.

O tigrínia possui todas as consoantes básicas, as variantes labiovelares exceto w (ኈ) mais algumas indicadas abaixo. Algumas das consoantes básicas caíram em desuso na Eritreia.

A língua tigré usa todas as consoantes básicas exceto ś (ሠ), (ኀ) e (ፀ). Também são usadas algumas indicadas abaixo. Não são usadas as variantes labiovelares.

A língua blin possui todas as consoantes básicas exceto ś (ሠ), (ኀ) e (ፀ), mais algumas indicadas abaixo. Algumas das variantes labiovelares também são usadas.

  š h hw v č [ŋʷ] ñ x xw ž ǧ [ŋ] č̣
 
Amárico        
Tigrínia    
Tigré                  
Blin    

Nota: "v" é usado para palavras de origem estrangeira exceto em algumas línguas gurage (e.g. cravat, 'gravata', empréstimo do francês), e "x" é pronunciado "h" em amárico.

Para o ge'ez, amárico, tigrínia e tigré, a ordem padrão é chamada Halehame. Para os símbolos básicos há uma sessão já mostrada nessa página. Onde as variantes labiovelares são usadas, seguem imediatamente os símbolos básicos, seguidos pelas outras variantes. Em tigrínia, por exemplo, os caracteres baseados em ከ seguem nessa ordem: ከ, ኰ, ኸ, ዀ.

Em blin, a ordem dos caracteres é ligeiramente diferente.

Usos após a diáspora

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Muitos rastafaris aprenderam a escrever em ge'ez por causa de sua religião, que tem o ge'ez como língua original e sagrada. Vários músicos de reggae têm usado essa escrita em seus álbuns.

O código africano oficial reconhece o ge'ez como a escrita pan-africana que deve substituir o alfabeto latino que atualmente é usado para escrever a maioria das línguas africanas.

O filme 500 anos depois (፭፻-ዓመታት በኋላ) foi o primeiro documentário ocidental a usar caracteres ge'ez para o título 500 Years Later. Essa escrita também aparece no trailer e material promocional do filme.

Numerais

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Moeda do Imperador Menelique II. Data - ፲፰፻፹፱ (calendário etíope de 1889).

O ge'ez usa um sistema de unidades e dezenas comparável ao hebreu, árabe (abjad) e gregos numerais, mas diferente desses sistemas, mais que dar valores numéricos às letras, separa símbolos numéricos que são derivadas de numerais cópticos:

  1 2 3 4 5 6 7 8 9
× 1
× 10
× 100  
× 10.000  

Unicode

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A escrita ge'ez ou etiópica tem sido representado em Unicode 3.0 em padrões de códigos entre U+1200 e U+137F (decimal 4608–4991), contendo as sílabas básicas para o ge'ez, amárico, e tigrínia, além da pontuação e numerais. Adicionalmente, em Unicode 4.1, há o "Suplemento" variável de U+1380 a U+139F (decimal 4992–5023) contendo sílabas para Sebatbeit e marcadores tonais, e a variação "estendida" entre U+2D80 e U+2DDF (decimal 11648–11743) contendo sinais silábicos necessários para se escrever sebatbeit, me'en e blin.

  0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F
1200  
1210
1220
1230
1240    
1250      
1260
1270
1280    
1290
12A0
12B0      
12C0      
12D0  
12E0  
12F0
  0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F
  0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F
1300
1310    
1320
1330
1340  
1350  
1360
1370  
1380
1390  
2D80
2D90  
2DA0    
2DB0    
2DC0    
2DD0    
  0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A B C D E F

Ver também

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Literatura

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Referências

  1. «"Amárico"». Enciclopédia Barsa 
  2. Boletim da Academia de Ciências de Lisboa. [S.l.]: Academia de Ciências de Lisboa. 1914 
  3. Serafim da Silva Neto (1957). Revista Brasileira de Filologia. [S.l.]: Livraria Acadêmica 
  4. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
  5. «Etíope». Infopédia 
  6. Rodolfo Fattovich, "Akkälä Guzay" in von Uhlig, Siegbert, ed. Encylopaedia Aethiopica: A-C. Weissbaden: Otto Harrassowitz kg, 2003, p.169.
  7. Etienne Bernand, A.J. Drewes, and Roger Schneider, "Recueil des insription de l'Ethiopie des périodes pré-axoumite et axoumite, tome I". Académie des Inscriptions et Belles-Lettres. Paris: Boccard, 1991.
  8. Grover Hudson, Aspects of the history of Ethiopic writing in "Bulletin of the Institute of Ethiopian Studies 25," pp. 1-12.
  9. Stuart Munro-Hay. Aksum: A Civilization of Late Antiquity. Edinburgh: University Press. 1991. ISBN 0-7486-0106-6
  10. Yuri M. Kobishchanov. Axum (Joseph W. Michels, editor; Lorraine T. Kapitanoff, translator). University Park, Pennsylvania: Penn State University Press, 1979. ISBN 0-271-00531-9
  11. Peter T. Daniels, William Bright, "The World's Writing Systems," Oxford University Press. Oxford: 1996.
  12. «Official Website of the Ethiopian Orthodox Tewahido Church». Consultado em 11 de fevereiro de 2008. Arquivado do original em 25 de junho de 2010 

Ligações externas

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