Espaço métrico

conjunto equipado com uma métrica (função distância)

Em matemática, um espaço métrico é um conjunto onde a distância entre quaisquer dois de seus elementos é definida por uma função chamada métrica.[1] A métrica permite que a noção de continuidade seja estendida para funções entre espaços métricos. Os espaços métricos são exemplos de uma classe mais abrangente de espaços, chamados espaços topológicos.

Um conjunto munido de uma métrica é um espaço métrico; entre as muitas métricas possíveis encontra-se a métrica de Manhattan.

O espaço métrico mais familiar é o espaço euclidiano. Na verdade, a métrica é uma generalização das quatro propriedades conhecidas da distância euclidiana. A métrica euclidiana define a distância entre dois pontos como o comprimento do segmento de reta que os conecta.

Existem outros espaços métricos, por exemplo, na geometria elíptica. Mesmo no espaço euclidiano, podemos adotar uma medida diferente de distância, como a métrica de Manhattan.

Definição

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Seja   um conjunto qualquer. Uma métrica definida sobre   é uma função   que associa um par   ao número  , chamado de distância entre   e  , de modo que para quaisquer   valem:

  1.  ;
  2. Se  , então,   (positividade);
  3.   (simetria);
  4.   (desigualdade triangular).

Um par   em que   é um conjunto e   é uma métrica é chamado de espaço métrico.[2]

De forma intuitiva, pode-se pensar no conjunto   como um conjunto de locais ligados por um sistema de estradas. A distância entre dois pontos pode ser definida como o comprimento da rota mais curta que liga dois desses locais. Deste modo, a simetria significa que neste sistema de estradas não deve haver estradas de mão única e a desigualdade do triângulo expressa o fato de que os desvios não são atalhos.

Exemplos de Espaços Métricos

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  • O conjunto   dos números reais é o exemplo mais importante de espaço métrico com respeito à métrica  
  •  , onde  , é o espaço de dimensão   com a distância usual (espaço vetorial euclidiano).
  •  , onde   observe que com esse exemplo, olhar para um mesmo conjunto   com métricas diferentes. Isso provoca uma mudança na topologia do conjunto.
  •  , onde   é denominado de espaço métrico discreto.
  • Qualquer subconjunto  de um espaço métrico   é um espaço métrico, basta considerar a restrição  .
  • Seja V o conjunto das funções contínuas de domínio   e contradomínio real. Então   torna V um espaço métrico (a condição de continuidade é importante para garantir que essa métrica seja definida).

Espaços vetoriais normados

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Qualquer Espaço vetorial munido de uma norma   é um espaço métrico. Seja   um espaço vetorial. Uma norma em   é uma função | |:      , que associa cada vetor       o número real || || chamada a norma de  , de modo a serem cumpridas as condições abaixo para quaisquer  ,       e   escalar[3]:

  1. Se     0 então || ||   0 ;
  2. ||    || = | |  || || ;
  3. ||   +   ||   || || + || ||

Todo espaço vetorial normado ( , |  | ) torna-se um espaço métrico por meio da definição  . Esta métrica diz-se proveniente da norma | | . As propriedades 1 a 4 das distâncias são válidas para distâncias(métricas) que provém de normas. Essas propriedades resultam imediatamente das propriedades da norma. [4]

  1.  
  2. Se   então   pois     e  
  3.  
  4.   [5]

Topologia de um espaço métrico

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Definição. Sejam   um espaço métrico e   um subconjunto, diz-se que   é um subconjunto aberto de   quando para todo elemento   existe algum   tal que   sempre que  .

Uma classe importante de conjuntos abertos são as chamadas bolas abertas, para um ponto   e um número real  , chama-se bola aberta de centro  e raio   o subconjunto  . Pode-se mostrar que toda bola aberta é um subconjunto aberto e que todo subconjunto aberto pode ser escrito como a reunião de uma família (enumerável ou não) de bolas abertas.

A classe dos conjuntos abertos gozam das seguintes propriedades:

  1. O conjunto vazio   e   são subconjuntos abertos de  ;
  2. Se   é uma família indexada de subconjuntos abertos de  , então a reunião   é também um subconjunto aberto de  ;
  3. Se  são subconjuntos abertos de  , então a interseção   é também um subconjunto aberto de  .

As propriedades 1, 2 e 3 acima caracterizam a classe   dos subconjuntos abertos de   como uma topologia, chamada de topologia induzida pela métrica  , de modo que o par   é um espaço topológico.[2]

Conjuntos fechados

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Definição. Um ponto   que pertence a um subconjunto   de um espaço métrico   é dito um ponto aderente de   quando, para todo  , podemos encontrar   tal que   .

O fecho(ou aderência) de um conjunto   num espaço métrico   é o conjunto   dos pontos de   que são aderentes a  . Portanto, escrever   é o mesmo que afirmar que o ponto   é aderente a   em  .[6]

Diz-se que um conjunto   é fechado no espaço métrico   quando seu complementar   é aberto em  . Podemos também definir um conjunto fechado como sendo um conjunto   tal que  . Pode-se mostrar que essas definições são equivalentes.[7]

Os subconjuntos fechados de um espaço métrico   gozam das seguintes propriedades:

  1. O conjunto vazio   e o espaço inteiro   são fechados;
  2. A reunião   de um número finito de subconjuntos fechados   é um subconjunto fechado de  .
  3. A interseção   de uma família qualquer   (finita ou infinita) de subconjuntos fechados   é um subconjunto fechado de  .[8]

Funções Contínuas

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Definição. Sejam   espaços métricos. Diz-se que a aplicação   é contínua no ponto   quando, para todo   dado, é possível obter   tal que   implica   .

Diz-se que   é contínua quando ela é contínua em todos os pontos   .

Equivalentemente,   é contínua no ponto   quando, dada qualquer bola   de centro  , pode-se encontrar uma bola   , de centro  , tal que  .[9]

Exemplos.

  1. Dada  , suponhamos que exista uma constante   (chamada constante de Lipschitz) tal que   para quaisquer que sejam os  . Dizemos então que   é uma aplicação lipschitziana. Neste caso,   é contínua. Com efeito, dado  , tomemos  . Então   .[10]
  2. Dado um   que seja ponto isolado de   (isto é, um elemento   de   tal que existe   tal que  ) , então toda aplicação   é contínua no ponto  . Com efeito, dado  , basta tomar   tal que  . Assim,  .[11]
  3. Uma aplicação   chama-se uma imersão isométrica quando   para quaisquer  . Neste caso, diz-se também que   preserva distâncias.[12] Note que dado   e   qualquer, se   com   então  , implicando que   é contínua.

Homeomorfismos

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Sejam   espaços métricos. Um homeomorfismo de   sobre   é uma bijeção contínua   cuja inversa   também é uma bijeção contínua. Neste caso, diz-se que   e   são homeomorfos. Ás vezes se usa a expressão "equivalência topológica" em vez de "homeomorfismo". Dois espaços métricos homeomorfos são indistinguíveis do ponto de vista da Topologia. Uma propriedade de que goza um espaço   é chamada de uma propriedade topológica quando todo espaço homeomorfo a   também goza de tal propriedade. As propriedades topológicas se distinguem das propriedades métricas de   que são preservadas pelas isométricas [13].

Exemplos:

  1. Seja   um espaço vetorial normado. Para todo   e para todo número real  , a translação   e a homotetia  , definidas por   e   são homeomorfismos de   . De fato, sabemos que   e   são contínuas. Além disso, possuem inversas:   e   (onde  ), as quais também são contínuas.
  2. Duas bolas abertas   e   em   são homeomorfas. Mais precisamente, a composta   define um homeomorfismo  . Em especial, o homeomorfismo   é tal que  .[14]

Convergência

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Diz-se que sequência   com elementos num espaço métrico   converge para um elemento   se para qualquer   existe um número natural   tal que   para todo   tal que  . Nessa ocasião,   é o único elemento do espaço métrico com esta propriedade, e é chamado de limite da sequência, e escreve-se   ou  .

Uma sequência   com elementos num espaço métrico   é de Cauchy ou satisfaz o critério de Cauchy quando para todo   pode-se encontrar um número natural   de modo que   para quaisquer números naturais  . Pode se mostrar que toda sequência convergente é de Cauchy, e um espaço métrico em que critério de Cauchy é suficiente para convergência é chamado de espaço métrico completo. Exemplos de espaços métricos completos incluem   e qualquer Espaço vetorial normado de dimensão finita[15].

Referências

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  • Lima, Elon Lages (2013). Espaços métricos. Col: Coleção Projeto Euclides 5ª ed. [S.l.]: IMPA. 299 páginas. ISBN 978-85-244-0158-9 
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  1. LIMA, Elon Lages (1983). Espaços métricos. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e Aplicada 
  2. a b Munkres, James R. (2000). Topology. Massachusetts: Prentice Hall. p. 76, 175. ISBN 0-13-181629-2 
  3. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 4 
  4. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. [S.l.]: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 5 
  5. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. [S.l.]: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 5 
  6. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 73 
  7. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 74 
  8. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 76 
  9. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. [S.l.]: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 29 
  10. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métrios ed.3. [S.l.]: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 31 
  11. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. [S.l.]: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 32 
  12. Lima, Elon Langes (1993). Espaços métricos ed.3. [S.l.]: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 19 
  13. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. [S.l.]: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 38 
  14. Lima, Elon Langes (1993). Espaços Métricos ed.3. [S.l.]: Instituto de Matemática Pura e Aplicada. p. 39 
  15. Kreyszig, Erwin (julho de 1979). «Introductory Functional Analysis with Applications (Erwin Kreyszig)». John Wiley & Sons (3): 412–413. ISSN 0036-1445. doi:10.1137/1021075. Consultado em 29 de dezembro de 2024