Ermida (Castro Daire): diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m
texto repetido em Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Ermida) : este artigo já tem o link para esse artigo
Linha 25:
*[[Igreja de Nossa Senhora da Conceição, matriz de Ermida]]
MOSTEIRO DA ERMIDA
 
 
 
Numa pequena localidade, com o nome Ermida do Paiva, situada a 6 km de Castro Daire, com acesso pela estrada nacional 225, existe um magnífico Mosteiro (ver anexos – foto 1), que é monumento nacional, DEC. nº 2303, DG 60 de 29 de Março 1916. Este mosteiro, conhecido por Mosteiro da Ermida, Igreja de Nossa Senhora da Conceição e “Igreja das Siglas” (Lacerda, 1919). É um formoso monumento da 2ª metade do séc. XII, a sua fundação é dada como tendo acontecido na Era de César de 1178, fundado por D. Roberto, monge francês, da Ordem Premonstratense de S. Agostinho, numa herdade da coroa, sendo D. Afonso III o próprio patrono. Em 1312 foi dissolvido o mosteiro. Em 1514, conversão das terras do convento em couto, foral passado por D. Manuel ao couto da Ermida, são citados vários lugares que pertenceram ao convento: S. Joaninho, Codeçais, Ester, Carvalhosa, Sobrado e Cujó. Em 1517/1520, D. Manuel converte as terras em Comenda da Ordem de Cristo. No século XVI, D. Manuel I faz doação a D. Pedro de Meneses, conde de Vila Real, do padroado do mosteiro de Ermida, a que foi anexado o mosteiro de Baltar.
É um monumento espantoso, a fachada está voltada para poente, segundo a orientação litúrgica clássica, mas não com o alinhamento exacto Este/Oeste. A porta principal (ver anexos – Foto 2) é em arco quebrado encimado por arquivoltas que assentam em três delicadas colunas e não menos esmerados capitéis a servir-lhes de topo. Logo por cima das pedras que constituem o arco sobressai uma faixa axadrezada, qual fímbria de renda a rematar um trabalho em cujo acabamento o artista pôs todo o seu empenho e zelo. No tímpano, qual brasão de casa fidalga a identificar a linhagem do proprietário, uma cruz . No topo da empena outra cruz diferente da anterior. Esta é uma cruz florenciada, uma cruz de forma igual àquela que Mário Nunes atribui ao século XIII e diz existir no Museu Grão Vasco de Viseu, proveniente da Ermida, descrevendo-a: “uma cruz de cobre dourado com extremos em forma de flor de liz”. (Nunes, 1991).
Contornando o templo pelo lado sul, temos a porta lateral, também de arco quebrado, e no tímpano, os restos de uma legenda, na qual se consegue ler o seguinte: “E.MCC2II”.
No painel lateral-sul da capela-mor, está inscrita uma legenda para eternizar, o nome e a data do homem que terá reunido à sua volta a comunidade religiosa a quem se deve, naturalmente, a existência do único monumento medieval arquitectónico. Nessa pedra pode ler-se a seguinte legenda: “ERA MC 2R VIII CVANDO OBIIT PATER RUBERT MENSE OTUBER”, que quer dizer, “Era de 1198 quando faleceu o Padre Roberto, mês de Outubro”. (ver anexos – foto 3)
É um daqueles monumentos pesados que nos anais da arte arquitectónica está classificado como pertencendo ao estilo românico, ainda que na massa do edifício figurem elementos caracterizadamente góticos. Paredes grossas acompanhadas, até à cornija, de contrafortes prismáticos, escoras seguras a garantir o êxito do responsável pelo risco e pela execução, cachorros lavrados, onde, grosseiramente e numa autêntica anarquia, estão esculpidas, figuras humanas, carrancas, cordas, frutos, argolas, flores e elementos geométricos de vária ordem.
Aarão de Lacerda, classificou este templo de estilo românico, não deixou de dizer o que sentiu logo que lhe pôs os olhos em cima: “no primeiro dia da minha peregrinação, à beleza antiga plasticizada na simplicidade de um monumento românico, em transição para o estilo mais alado e nervoso das catedrais, eu senti a suavíssima letargia monástica na escuridão da noite bonançosa…” (Lacerda, 1919).
No lado norte, existe uma pia granítica, rectangular, colada à parede da capela-mor, colada ao caminho* os estudiosos afirmam ser a campa de um dos fundadores do mosteiro, mas não existe qualquer referência a outro fundador, para além do Padre Roberto.
No interior do templo, o templo é escuro e frio. De uma só nave, coberta com uma abóbada de arco quebrado, mais parecendo quilha de barco voltado do que berço ou meio canhão, pode dizer-se que a solução encontrada para a cobertura não foi puramente românica, nem gótica, tal como na capela-mor. Esta, separada daquela por um arco cruzeiro.
Nos dois lados do arco cruzeiro, encostam-se os dois únicos altares da nave. Um é do Coração de Jesus e o outro da Senhora do Rosário, com retábulos de talha. A imagem da Senhora do Rosário com o menino, de madeira policromada, segue os cânones da imaginária setecentista.
As janelas do corpo principal, tipo seteiras, abertas lá bem no alto em arco redondo, perto da cornija, deixam passar para o interior uma luz mortiça, criando um ambiente interno de recolhimento e oração.
Um ponto que se deve destacar neste mosteiro, são as siglas, (ver anexos – foto 4) que ainda hoje se interrogam qual o seu significado propriamente, fala-se que sejam sinais do registo histórico, da mentalidade de uma época, traduzindo a relação do homem com o universo e a vida. No mosteiro, algumas pedras apresentam três siglas acopladas, mas muitas têm uma só sigla, bastantes duas e outras até nenhuma. Pensa-se que, a explicação das três assinaturas decorre, certamente, da postura trinitária que impregnava o pensar e o agir de tempos idos ligados a saberes ocultos como sejam os constantes na Cabala onde a cada palavra e a cada frase são atribuídos nada menos que três sentidos diferentes. Em síntese, e para melhor se reflectir sobre as marcas deixadas nas pedras do mosteiro pelos canteiros que ajudaram a construir o edifício, podemos dizer:
1. Havia quem pensasse que os monges da Ermida tinham alguma relação com os Templários e que foram expulsos do mosteiro em 1312.
2. Temos nas paredes do templo (e não só) “o resto de um hieroglifismo que de longe veio até terras ocidentais.”
3. A figura humana esculpida num modilhão bem pode exibir o que algumas siglas escondem, sendo elas próprias o símbolo da fertilidade reduzido à forma mais simples.
As instalações que terão sido os aposentos dos frades em tempos remotos e, em tempos mais recentes, moradia de reitores e abades. Hoje são apenas um conjunto de paredes em vias de ruínas. (ver anexos – foto 5)
No dia 15 de Janeiro de 1890, o abade António de Freitas Pinto e Souza, registou marcas do macabro acontecimento, que ali mesmo, ao lado da igreja, ao alcance do cheiro intenso, por baixo da sua morada.
Ficou registado o seguinte: “loja ou corte que está debaixo da varanda cuja entrada tem uma cruz à direita com este formato (desenhou uma cruz) que lavrei por minha própria mão apareceu quase na superfície da terra a caveira e correspondente ossal humano que denotava ser pessoa adulta e por muito desgosto quando mandei cavar a terra da dita loja para a ladrilhar como de facto mandei ladrilhar, cuja ossada estava ao entrar da loja para o lado direito no escuro da loja. Ignora-se de quem fosse ou se até enterraram aquele cadáver para ocultar algum crime aqui cometido. Pela análise a que mandei proceder pelo médico da Camara verificou que eram ossos de dois cadáveres, não so pelos ossos das pernas e braços muito reconhecido por que apareciam dois céus da boca sendo um mais antigo e outro mais moderno, mas pelo juízo que o médico formou aqueles cadáveres foram ali enterrados há mais de 40 ou 50 annos. Aqui fica esta declaração para memória dos que me sucederem…”
Para além de todos os bens móveis e imóveis, o mais importante, é sem dúvida o Báculo, que hoje pertence às colecções de arte do Museu Nacional de Arte Antiga.
O Báculo foi descrito da seguinte forma: “Báculo em cobre dourado da Ermida do Paiva, do século XII, mais conhecido por báculo de Castro Daire. O seu estilo harmoniza-se com o monumento onde servia: o lavor das imagens, os símbolos, os ornatos são cheios desse arcaísmo que inconfundivelmente apresenta a torêutica românica. Tanto o baixo relevo da Virgem, como o do Salvador abençoado guardam aquele hieratismo bizantino que torna as produções pouco naturalistas e mais próximas dos princípios ortodoxos. Depois o bestiário repete-se ali como num modilhão ou num capitel: na parte inferior da crossa vêem-se três lagartixas com as caudas enroladas simbolizando o segredo, e na parte superior a proteger o medalhão, onde se ostenta de um lado o Salvador e do outro a Virgem e o Menino, um cobra significando a vigilância.” (Lacerda, 1919).
Um troço do rio Paiva, conhecido ainda hoje como “Poço dos Frades”, (ver anexos – foto 6) tanto pode indicar que as trutas faziam parte da entrada da ementa desses religiosos, como o sítio do rio onde eles se iriam banhar em tempos de calmaria, ou mesmo até lavar as suas roupas. O nome não se deve só ao facto dos frades irem lá, mas também ao facto de ser, certamente um lugar primitivo de pesca, já que, sendo o rio Paiva, de “pescaria livremente popular sem privilégio algum de particular que o possa limitar, menos porem (…) os dois passos dentro desta freguesia chamados, o Barquinho e o posso da Varzia que estes se particularizam ao Padre Manoel da Mota de Afonseca senhorio útil dos Prazos da Comenda de N. Senhora da Ermida.” (Carvalho, 1995)
Além disso, trata-se de um local de passagem obrigatória, passagem que manter-se-ia pelos tempos fora até aos nossos dias. E disso fala a História*, a Demografia e os informantes conhecedores da realidade local e regional.
Intervenções realizadas no mosteiro: DGEMN: 1955 – consolidação da cobertura e dos madeiramentos, substituição de caixilharias e dos vitrais; 1963 – pequenas obras de limpeza e de conservação; 1975 – reconstrução da cobertura em betão pré-esforçado, cintagem das paredes, limpeza e refechamento dos silhares interiores e exteriores, protecção dos altares e púlpitos, reparação dos vitrais; 1976 – restauro do tecto; 1977 – reparação e reconstrução de janelas e portais, beneficiação da rede eléctrica, fornecimento de algum mobiliário; 1978 – drenagem exterior e interior, regularização do adro, incluindo calcetamento, reparação dos altares; 1982 – consolidação da arcaria exterior; 2004 – restauro do altar.
CONCLUSÃO
 
 
 
Com a elaboração deste trabalho, conclui que o mosteiro é rodeado de um grande mistério e também muita beleza.
As “Siglas” são o maior mistério do monumento e também o que mais interesse desperta, pois estão praticamente em todas as pedras do mosteiro.
Ainda hoje se interrogam acerca do seu significado, tudo o que se diz são apenas especulações. Pensa-se que sejam sinais do registo histórico, da mentalidade de uma época, traduzindo a relação do homem com o universo e a vida, pensa-se que até que seja a assinatura dos pedreiros.
Pensa-se que este mosteiro tem alguns erros de construção, isto segundo alguns estudiosos, mas também a que referir que os “pedreiros” da idade Média não eram tão exigentes como os Gregos do século V a. C., em matéria de perfeição e rigor de execução das plantas ou projectos.
Em jeito de terminar a minha conclusão, gostava de ver elaborado um projecto que permanece na Câmara de Castro Daire, para a reconstrução dos aposentos, que hoje são apenas ruínas.
BIBLIOGRAFIA
 
 
- CARVALHO, Abílio Pereira de, 2001, “Mosteiro da Ermida”, ed. do Autor
 
- CARVALHO, Abílio Pereira de, 1995, “Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura” Ed. C. Municipal de Castro Daire
 
- CORREIA, Alberto, Castro Daire, Roteiro Turístico, Edição da Câmara Municipal de Castro Daire, 1995
 
- LACERDA, Aarão, 1919 “Templo das Siglas”, ed. Do autor
- NUNES, Mário, 1991, “Do templo das siglas…” in B. Municipal de Castro Daire, Dezembro
 
Trabalho elaborado por: Nelson Lemos, estudante de Turismo e Património, Castro D'Aire