O Cinema Falado: diferenças entre revisões

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'''''Cinema falado''''' é um filme de cinema de [[ficçãodocumentário]] dirigido pelo [[cantor]] e [[compositor]] [[Caetano Veloso]] em [[1986]], com interpretações de grandes nomes como [[Júlio Bressane]], [[Regina Casé]], [[Dorival Caymmi]] e [[Maurício Mattar]].
 
Tendo iniciado a carreira como crítico de cinema do jornal soteropolitano [[A Tarde]], [[Caetano Veloso]] dedicou-se à música, sempre fazendo amizade, escrevendo ou opinando sobre filmes, especialmente os de [[Glauber Rocha]], cineasta que o chamou para participar do referido jornal nos [[anos 50]].
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Em companhia de um outro cineasta de vanguarda - [[Carlos Frederico]], 40 anos, amazonense realizador de dois filmes tão vanguardistas quanto inéditos, [[Possuída por mil demônios]] (1970) e [[Lerfa mu]] (1980), sobre o grafismo nos muros e paredes do [[Rio de Janeiro]], no início dos anos 80 -, [[Arthur Omar]] estendia suas críticas, referindo-se violentamente à ''mediocridade do filme de [[Caetano]]'' e acusando-o - junto a [[Guilherme Araújo]], seu produtor e empresário - de ''"repetir aquilo que os criadores de um cinema de invenção já faziam há 10 anos"''. A [[Embrafilme]] também entrava nas críticas, pois, segundo Omar, teria adiantado recursos para [[Caetano Veloso]] finalizar este filme, por certo devido à fama de seu realizador como compositor, "Mas nunca como cineasta".
 
telColérico, [[Arthur Omar]] entrou no bar do Hotel Nacional, enquanto [[Caetano]], naturalmente, desaparecia num mar de abraços da tietagem que independente da hora - já eram quase 4 horas da madrugada - delirava pelo porre verborrágico em seu filme. A [[Arthur Omar]], lamentando que "os reais realizadores de vanguarda jamais tivessem tido uma chance de exibição de seus filmes como esta, em sessão "hors concours", à meia-noite, no sábado, no [[FestRio]]".
Colérico, [[Arthur Omar]] entrou no bar do Ho
tel Nacional, enquanto [[Caetano]], naturalmente, desaparecia num mar de abraços da tietagem que independente da hora - já eram quase 4 horas da madrugada - delirava pelo porre verborrágico em seu filme. A [[Arthur Omar]], lamentando que "os reais realizadores de vanguarda jamais tivessem tido uma chance de exibição de seus filmes como esta, em sessão "hors concours", à meia-noite, no sábado, no [[FestRio]]".
 
O filme começa com uma festa num apartamento, ouve (vê) até [[Elza Soares]] num rápido "take" cantando "Língua". Depois há longas intervenções, de gente mais (ou menos) conhecida, falando em português, inglês, e até alemão (devidamente legendado) sobre vida, morte, [[sexo]], [[homossexualidade]], cinema de [[Wim Wenders]], [[Júlio Bressane]], [[Godard]], [[Rogério Sganzerla]], Artes plásticas, Teatro, [[Guimarães Rosa]], [[Heidegger]], [[filosofia alemã]] e brasileira etc. Ele chega a citar, para definir o [[rock inglês]] o termo esnobismo de massas, citado no artigo Cultura e Política de [[Roberto Schwarz]] para a própria tropicália que [[Caetano Veloso]] ajudou a criar.
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Rompedor de estruturas convencionais, [[O cinema falado]], um longa-metragem em que [[Caetano Veloso]] levou para a tela suas múltiplas pretensões (e preocupações) cinematográficas é um filme para ser debatido, criticado, odiado e, naturalmente, amado. A fotografia de [[Pedro Farkas]] é lindíssima - "bem cuidada, acadêmica para um filme que pretende ser inovador", como dizia o cineasta [[Carlos Frederico]]. Na trilha sonora há, em "off", a voz de [[João Gilberto]], emocionante em "Águas de Março" ([[Antônio Carlos Jobim]]), enquanto na cena vê-se um crioulo dançando; a mãe de Caetano aparece, terna, mostrando sua bela voz.
 
O próprio Caetano assovia temas de "A Estrada" e "Il Vitelloni", de [[Nino Rotta]], no único momento em que aparece - na Praça de [[Santo Amaro]], Bahia, à noite ( a mais bela seqüência do filme) - lembrando seu passado de cinéfilo.
 
[[Caetano Veloso]], ao lançar em DVD esse filme, dezessete anos depois, afirmou que espera que o Brasil mantenha aspirações de altas realizações, atacou (o pensamento acadêmico que condena ao ceticismo e portanto ao imobilismo; o espírito de corpo dos cineastas nacionais) e contra-atacou os que depreciaram seu filme, em especial a [[Folha de S.Paulo]]. "Burrice agressiva contra o que me interessa eu não perdôo nunca". "O Cinema Falado" é, na definição de seu autor, "quase 100% composto de falações ou teóricas ou poéticas ou poético-teóricas, mas ditas em meio a uma ação relativamente indefinida e mais ou menos indiferente ao que o texto está dizendo".
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Ele acha que a rejeição ao filme (não apenas por parcela do ambiente intelectual brasileiro, mas também pela crítica da época) reflete a intolerância a talentos artísticos plurais, resumida na máxima "cada macaco no seu galho". "Porque sou músico, então sou obrigado a ser músico. Não posso ter liberdade", diz.
 
Comparando "[[O Cinema Falado]]" a outros filmes, Caetano reivindica a superioridade do seu: "Tem muito longa que passa aí que está muito abaixo desse meu e que foi até saudado pela crítica. Você acha que sou bobo? Fui crítico de cinema aos 18 anos. Você acha que vou ler gente da USP escrevendo na [[Folha de S.Paulo]] que 'Cronicamente Inviável' [[Sérgio Bianchi, 1998]] é um grande filme e vou engolir isso? Aquele abacaxi de caroço? Isso aqui [aponta para imagens de 'O Cinema Falado' projetadas atrás de si] é muito melhor. Do que 'A Grande Arte' [[Walter Salles, 1991]] é muito melhor. Uma porcaria, um filme amador, malfeito, ruim. E ninguém tinha coragem de dizer isso. Agora, do meu filme, até xingar minha mãe xingaram. Literalmente."
 
O DVD de "O Cinema Falado" contém quase três horas de extras, incluindo dois clipes dirigidos por Caetano ("Não Tem Tradução", "Don't Think Twice"). Nas filmagens, o diretor usou como método filmar apenas um take de cada sequência. Além dos já citados, participam do longa atores, parentes e amigos de [[Caetano]], como [[Chico Diaz]] e [[Hamilton Vaz Pereira]] (recitando trecho de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa), [[Regina Case]] (falando de sua visita a Cuba e do lado teatral do estadista cubano [[Fidel Castro]]) e [[Paula Lavigne]] (analisando a nudez feminina e a sexualidade no cinema, sob o prisma de que "a curva da grande interrogação sobre o sexo passa necessariamente pelo homossexualismo masculino").