Manuel Said Ali Ida: diferenças entre revisões

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Manteve ao longo da vida uma intelectualmente frutuosa amizade com o [[linguística|lingüista]] e historiador [[Capistrano de Abreu]]. No virar do século, casou-se com Gertrudes Gierling, de quem ficou viúvo em [[1944]].
 
Manuel Said Ali Ida, “um dos maiores vultos da Filologia Portuguesa de todos os tempos ”, nasceu em Petrópolis (RJ) a 21 de outubro de 1861 e faleceu no Rio de Janeiro a 27 de maio de 1953, com 91 anos. Foi caso com a belga Gertrude Gierling, tendo-se realizado o casamento em 1900 na cidade de Bruxelas.
 
Era filho de Said Ali, de nacionalidade turca, e da alemã Catarina Schiffer. Seu pai fundou em Petrópolis o Hotel Oriental, depois d’Europa. A mãe “chegou ao Brasil ainda menina, na leva de imigrantes alemães que abriram a estrada de que surgiu a cidade serrana .
 
Tinha dois anos de idade quando perdeu o pai. Realizou os primeiros estudos no Colégio Köpke, em Petrópolis. Para prossegui-los no Rio de Janeiro, teve de trabalhar na livraria alemã de Laemmert, que lhe abriu as portas para publicações. Quis estudar pintura, passando a cursar Medicina, que interrompeu no terceiro ano, por dificuldade financeira. Foi professor de Geografia, Alemão, Francês e Inglês em colégios do Rio.
 
Conhecia várias línguas, mas o domínio do alemão é que lhe proporcionou contato com os mestres da Lingüística européia, cujas obras fundamentais só estavam ao alcance dos que sabiam alemão. Eram-lhe familiares as doutrinas de Hermann Paul, Sievers e, principalmente, Delbruck e Brugmann, autores que ele tanto admirou e seguiu.
 
Após concurso brilhante, assumiu em 1890 a cátreda de Alemão no Colégio Pedro II. Com igual êxito, concorrei à cadeira de Alemão da Escola Militar da Praia Vermelha, classificando-se em primeiro lugar. No Internato do Colégio Pedro II, ocupou o cargo de professor substituto de Inglês. “Serviu depois na Escola Preparatória e de Tática do Realengo e na Escola do Estado Maior .
 
A serviço do Brasil, foi em 1895 estudar o ensino secundário na Europa, vindo, mais tarde, a produzir gramáticas expositivas que estavam bem à frente das congêneres em língua portuguesa. Exemplo disso é a Gramática Secundária da Língua Portuguesa.
 
Nos meios lingüísticos e filológicos do Brasil, todos sabem da competência de Said Ali, mestre que incluiu entre suas preocupações o elemento psicológico no estudo da língua. E para comprovar que ele foi de grande expressão no nosso mundo lingüístico, é melhor ler alguns pareceres que penetram o contrúdo de seus trabalhos.
 
Diz Antenor Nascentes ( 1886-1972):
 
Em 1908 aparece um dos mais notáveis trabalhos filológicos jamais publicados no Brasil: Dificuldades da Língua Portuguesa, de Manuel Said Ali. Trabalho de fôlego, original de ponta a ponta, constitui uma série de estudos que resolve de modo cabal muitas questões que andava, em discussão: a do infinito pessoal, a do se sujeito, a dos nomes geográficos, etc .
Para Serafim da Siva Neto (1917-1960):
 
Said Ali é um dos mais admiráveis expoentes da Cultura Brasileira, pois numa época em que ainda não possuímos Faculdades de Filosofia soube apreender a Ciência nos livros e escrever uma obra filológica que pede meças no Brasil e pode comparar-se ao que de melhor se fez em Portugal. Asua atividade científica foi mais significativa na Sintaxe: que diferença, no que toca ao método e ao material, entre Said Ali e a maioria dos seus contemporâneos!
 
E continua Silva Neto:
O Filólogo português Manuel de Paiva Boléo, conhecido pelo rigor dos seus juízos, concedeu a Said Ali o primeiro lugar entre os estudiosos da Sintaxe, colocando-o acima dos próprios sintacistas portugueses .
 
Obras:
Integram a relação de seus primeiros livros os compêndios gramaticais de francês, inglês e alemão, que ele traduziu e adaptou ao português, tendo sido também o introdutor, entre nós, do médtodo direto do ensino de línguas estrangeiras. São ainda desse período suas antologias de poetas brasileiros, com a preparação de edições de Casimiro de Abreu (1895), de Gonçalves Dias (1896) e de Castro Alves (1898).
Embora se ocupasse oficialmente com o magistério do Alemão no Colégio Pedro II, sua dedicação aos estudo dos textos portugueses conferiu-lhe autoridade para tratar da nossa língua. Foi assim que escreveu:
 
1 – Vocabulário Ortográfico (1905).
 
2 – Dificuldades da Língua Portuguesa (1908).
 
3 – Lexeologia do Português Histórico (1921).
 
4 – Formação de Palavras e Sintaxe do Português Histórico (1923).
 
5 – Gramática Elementar da Língua Portuguesa.
 
6 – Gramática Secundária da Língua Portuguesa.
 
7 – Gramática Histórica da Língua Portuguesa (1931), reunião de obras anteriores: Lexeologia... (1921) e Formação de Palavras... (1923).
 
8 – Meios de Expressão e Alterações Semânticas (1930).
 
9 – Versificação Portuguesa (1948, e não 1949).
 
10 – Acentuação e Versificação Latinas (1957), reunião, pela Organização Simões, de 5 artigos estampados na Revista de Cultura, dirigida pelo Pe. Tomás Fontes.
 
11 – Investigações Filológicas (1976), reunião de esparsos e inéditos devida a Evanildo Bechara, com o título ainda indicado por Said Ali.
 
Pelo seu septuagésimo sétimo aniversário natalício (1938), professores estudiosos da língua organizaram uma publicação:
 
Miscelânea de Estudos em honra de Manuel Said Ali.
Já se disse que, sendo comum em outros países, deve ser a primeira publicação do gênero no Brasil.
 
O filólogo mineiro Aires da Mata Machado Filho (1909-1985) deixou sobre ele a seguinte observação:
 
O caso de Said Ali ilustra uma tradição muito brasileira: profundo conhecedor da nossa língua, em todas as suas fases e todos os seus aspectos, o grande filólogo não era professor de Português. Pelo menos no Colégio Pedro II, o que lecionou foi alemão e francês .
Said Ali e Capistrano de Abreu.
 
Um exame consciencioso das idéias e médtodos lingüísticos do Prof. Said Ali não poderá ser levado a cabo sem que se estudem as influências do saber filológico de Capistrano de Abreu sobre o autor das Dificuldades da língua portuguesa .
 
Para mostrar a cooperação recíproca entre esses vultos eminentes da pesquisa brasileira, partamos de uma de uma declaração de Said Ali:
 
O meu colega Capistrano de Abreu, não lhe bastando pôr à minha disposição os tesouros de sua biblioteca, auxiliou-me ainda na penosa tarefa de rever provas, sugerindo-me o seu saber opulento proveitosos acréscimos e modificações (p. VI da Gramática Histórica). [...]
 
“Um e outro não perderam ocasião para recíprocos agradecimentos.” Para confirmação, segue este trecho de Capistrano:
 
Ao concluir não posso omitir o nome do meu colega M. Said Ali Ida, lente de Alemão do Colégio Pedro II, a cuja intuição luminosa e opulento cabedal recorri sempre com proveito... (rã-txa hu-ni-ku-ĩ, p.3).
 
Sabe-se mesmo que Said Ali colaborou com Capistrano de Abreu no preparo da edição da História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador, tendo-oauxiliado também no famoso estudo sobre a língua dos índios caxinuás.
 
Vejamos, finalmente, como foi decisava a participação de Capistrano de Abreu na produção lingüística de Said Ali:
 
Disse-me o Prof. Said Ali que se não fosse Capistrano jamais teria escrito a série de compêndios sobre a língua portuguesa, pois o nossp veracíssimo historiador quem indicou seu nome para os beneméritos irmãos Weuszflog [da Editora Melhoramentos] como a “única pessoa indicada” para escrever os trabalhos que pretendiam editar.
Formados na escola filológica alemã, os dois se uniram com rigor e critério no trato dos textos, o que ajudaria a fazer de Capistrano o mais lúcido pesquisador da História do Brasil, e transformar Said Ali num dos mais seguros mestres da língua.
 
 
==Obras==